ROSELY SAYÃO - A tentação do álcool

Não sei por que os pais têm facilitado tanto a oferta de bebida 
para jovens que mal saíram da infância.

Tive uma conversa muito interessante com a mãe de uma garota de 15 anos. Ela me contou que a filha é extrovertida, faz sucesso em rede social, sempre é procurada por vários colegas e chamada pelo celular o dia todo.

A menina também tem alguns amigos mais chegados que estão sempre por perto.

Mesmo assim, a filha não sai. É convidada para ir a festas, ao cinema, para dormir na casa de colegas, viajar. Mas ela só sai mesmo para ir à escola. Recusa todos os convites que recebe.

Acredite, caro leitor, isso preocupou essa mãe. Curioso o fato, já que as mães de garotas dessa idade costumam se preocupar pelo motivo oposto: filhas que querem sair sempre.

Assim que o sinal amarelo acendeu para essa mãe, ela tomou uma atitude. Chamou a filha para um lanche, disposta a conversar com ela para saber o motivo da sua reclusão. Parece que é comum as duas conversarem sem muitos rodeios.

Dessa maneira, a mãe logo ficou sabendo que a filha tinha lá suas razões para preferir ficar em casa: "Se eu sair, mãe, vou ter de ficar, beijar, talvez transar; vou precisar beber, vou ter de comprar coisas que eu não sei se quero. Então, eu prefiro ficar em casa por enquanto".

É, não tem sido fácil para muitos jovens atravessar essa fase da vida. As tentações têm sido excessivas para eles. E hoje vou ficar apenas em uma delas: a ingestão de bebidas alcoólicas.

Não sei por que os pais têm facilitado tanto a oferta de bebida para esses jovens que mal saíram da infância.

Já ouvi alguns pais declararem que, apesar de serem contra o consumo de bebida alcoólica nessa idade, ofereceriam essa opção na festa de aniversário dos filhos para garantir a presença dos convidados. Isso significa que festa, para eles, não existe sem a presença de álcool?

Quem é adulto e tem controle sobre a quantidade de bebida que ingere sabe os efeitos que o álcool produz no organismo. As sensações de euforia e de segurança para correr riscos costumam ser os principais motivos que levam a garotada a beber.

É uma tentação poder viver, por alguns momentos, sem muita censura e sem grandes dúvidas a respeito do que fazer, não é? Nessa idade, tal tentação é sedutora.

O problema é que eles bebem demais -demais mesmo-, muito cedo e se esquecem de aprender a viver em grupo sem os efeitos que a bebida provoca. Falta coragem, dá medo, provoca angústia. Talvez por isso alguns adolescentes bebam até cair.

Tem sido bem impressionante a quantidade de adolescentes que passam mal, muito mal, depois de beber. É que eles costumam ser exagerados em tudo o que oferece satisfação imediata. É por isso, entre outros fatores, que perdem a medida.

Diversas mães se assustaram com o que viram nessas férias de inverno. Li o relato de uma delas que levou a filha, de 14 anos, com duas amigas para uns dias em Campos de Jordão. Ficou assustada com o que viu: crianças de 12, 13 anos vomitando em praças, caindo pelas ruas de tão bêbadas que estavam. "Onde estão os pais dessas crianças?" perguntou ela.

Provavelmente por perto, mas sem saber o que fazer.

Quem tem filhos adolescentes não deve ficar impotente, congelado, com receio de ser considerado careta. Aliás, em muitos aspectos, é papel dos pais ser careta.

E é bom saber que isso não impedirá o filho de experimentar muitas coisas. Apenas o ajudará a conhecer melhor seu nível de saciedade com a bebida alcoólica, por exemplo. Para que ela funcione como um mediador social, apenas isso.

Os pais dos adolescentes não conseguirão livrar os filhos de todas as tentações que a vida oferece.
Mas, pelo menos, devem tentar poupá-los de algumas delas. Para o bem deles. Como? Vetar a ingestão de bebida alcoólica nessa idade já é um bom começo.

FREI BETTO‏ - A busca da felicidade

Viver por um projeto, uma causa, uma missão, um ideal 
ou mesmo uma utopia é o que imprime sentido à vida.

Um grupo de amigos conversava sobre o maior bem que um ser humano pode obter e que todos buscam, até mesmo ao praticarem o mal: a felicidade. O que é uma pessoa feliz? O que faz alguém feliz?
Como não se tratava de um grupo de pessoas que considera que a felicidade reside em fama, poder e dinheiro (pois citamos conhecidos que, apesar de terem alcançado esses bens, transparecem profunda infelicidade), decidimos recorrer aos filósofos, sábios guias da razão.
Na Apologia, de Platão, Sócrates interpela um querido amigo: “Não te envergonhas de preocupares com as riquezas para ganhar o mais possível, e com a fama e as honrarias, em vez de te preocupares com a sabedoria, a verdade e a tua alma, de modo a te sentires cada vez mais feliz?”. Se para Epicuro a felicidade consiste na ausência de dor e sofrimento, para Descartes, seria o “perfeito contentamento de espírito e profunda satisfação interior, ter o espírito perfeitamente contente e satisfeito”.

Será que ausência de dor e sofrimento é suficiente para uma pessoa ficar feliz? Descartes vem em socorro a Epicuro ao acrescentar “a profunda satisfação interior”. Leibniz dirá que “é o prazer que a alma sente quando considera a posse de um bem presente ou futuro como garantida.” E Kant, a “satisfação de todas as nossas inclinações”, para, em seguida, enfatizar: “É o contentamento do estado em que nos encontramos, acompanhado da certeza de que é duradouro”.
Sartre dirá que a felicidade é como “uma conduta mágica que tende a realizar, por encantamento, a posse do objeto desejado como totalidade instantânea.”

“Como se observa”, ponderou um dos amigos, “há quem considere a felicidade um estado de espírito, uma decorrência da subjetividade, e quem a atribua à posse de algo – poder, riqueza, saúde, bem-estar.” Concordamos que na sociedade neoliberal em que vivemos o ideal de felicidade está centrado no consumismo e no hedonismo. O que não significa que, de fato, ela resulte, como sugere a publicidade, da posse de bens materiais ou da soma de prazeres.

Lembramos uma lista de celebridades que, malgrado fortuna e sucesso, sofreram uma atribulada vida de infortúnios. Muitos tiveram morte precoce por excesso de medicamentos que tapassem os buracos da alma. Um dos amigos observou que o cristianismo, frente ao sofrimento humano, foi sábio ao deslocar a completa felicidade da Terra para o céu, embora admitindo que aqui nesta vida se possa ter momentos de felicidade. Ao que outro objetou que o céu cristão é apenas uma metáfora da plenitude amorosa. E que Deus é amor e não há nada melhor do que amar e sentir-se amado.

Da felicidade o papo avançou para o amor. O que é amor? Decidimos deixar de lado os filósofos e conferir a partir de nossas experiências. Um dos amigos disse se sentir feliz por ter um matrimônio estável e dois filhos que só lhe davam alegrias. Outro, na via contrária, lamentou não ter encontrado a felicidade em nenhum dos três casamentos que tivera.

Foi então que o mais velho entre nós, e não menos sábio, ponderou que uma das grandes inquietudes do mundo de hoje é que os extraordinários avanços tecnocientíficos promovem uma acentuada atomização dos indivíduos, obrigando-os a perderem seus vínculos de solidariedades (afetivas, religiosas etc.).Esses vínculos são substituídos por outros, burocráticos, administrativos e, sobretudo, anônimos (redes sociais), distantes das antigas relações afetivas entre duas pessoas unidas uma à outra sob o signo da igualdade e da fraternidade, com os mesmos direitos e deveres, independentemente das desigualdades exteriores.

“O que faz uma pessoa feliz – disse ele – não é a posse de um bem ou uma vida confortável. É sobretudo o projeto de vida que ela assume. Todo projeto – conjugal, profissional, artístico, científico, político, religioso – supõe uma trajetória cheia de dificuldades e desafios. Mas é apaixonante. E é a paixão, ou, se quiserem, o amor, que adensa a nossa subjetividade. E todo projeto supõe vínculos comunitários. Se o sonho é pessoal, o projeto é coletivo.
Demos razão a ele. Viver por um projeto, uma causa, uma missão, um ideal ou mesmo uma utopia é o que imprime sentido à vida. E uma vida plena de sentido é, ainda que afetada por dores e sofrimentos, o que nos imprime felicidade.

FERNANDA TORRES - Chame o ladrão

A contar pela quantidade de assaltos a residência, arrastões e paradinhas de sinal de que tenho tido notícia, o efeito colateral das UPPs começa a se fazer sentir nas ruas do Rio de Janeiro.

Talvez as estatísticas provem o contrário. É um parâmetro subjetivo, o de se basear no que se vê ao redor, mas são tantas ocorrências com pessoas próximas que desconfio não estar enganada.

Meu filho gosta de andar de skate na bem-vindíssima pista recém-inaugurada na Lagoa. Por anos, o Gil, professor que dava aulas na quadra improvisada, organizou abaixo-assinados pedindo a construção de uma rampa ao lado do antigo bowl. Hoje, centenas de praticantes lotam o espaço semanalmente. A iniciativa da população e a boa escuta das autoridades funcionaram harmonicamente. Tudo exemplar.
O problema é que o lugar virou um foco de assaltos leves que visam, justamente, a moleques como meu filho.
Um amigo dele já foi abordado tantas vezes que criou técnicas para escapar. Outro dia, mentiu dizendo que havia acabado de entregar tudo a um assaltante. O bandido acreditou e o deixou andar. Até os larápios estão conscientes de que a concorrência anda acirrada. De outra vez, esse mesmo menino se livrou da limpa porque lembrou o pivete de que havia pago um refrigerante a ele dois dias antes. E ainda teve um homem que o mandou deixar o par de tênis atrás da árvore e sair descalço. Esse se autoproclamava o Robin Hood da Rodrigo de Freitas e não deu espaço para conversa.
Tenho um casal de amigos que mora há mais de dez anos em uma casa nas cercanias da Rocinha, em São Conrado. Eles jamais haviam enfrentado invasões até que, um mês atrás, deram de cara com um vulto tentando escalar a palmeira para alcançar o 2º andar. A casa, agora, está cercada por arame farpado, um rottweiler bebê foi agregado à família e um vigia faz a ronda 24 horas por dia.
Não é muito diferente das paliçadas dos portugueses do Brasil Colônia, em pânico com os ataques dos nativos comedores de gente.
Do lado de cá da divisa dos Dois Irmãos, a casa de outro conhecido, no Alto da Gávea, foi a única que só sofreu tentativa de roubo; os dois vizinhos foram amarrados e depenados em duas madrugadas seguidas. Um dos ladrões teria dito que não gostava do que estava fazendo, mas, no momento, não lhe sobrava outra opção.
O fim do lorde da bandidagem, que controlava o território com poderes de rei e coração de carrasco, sofreu um baque considerável. A velha ordem de não criar problema com a vizinhança acabou. Agora, o cada um por si e Deus contra todos virou o lema da contravenção.
São Paulo, ao contrário, enfrenta investidas armadas proporcionais ao seu poderio. São ações organizadas e execuções precisas. Apavorantes. A violência de São Paulo cresceu em estratégia; a do Rio, tudo indica, ficou mais primitiva.
Na Rua Marquês de São Vicente tem um homem atrás de um poste no longo muro da PUC especializado em furtar estudantes que descem a ladeira em direção à zona comercial do bairro. Ele trabalha no local. Como policiar tantas esquinas?
Para espanto meu, um amigo francês afirmou que nenhuma mulher anda sozinha à noite em Paris. Não visito a Cidade Luz há um bom tempo e, se não fosse pelo alerta, certamente me arriscaria a levar facadas no Quartier Latin. O perigo das ruas é a única real frustração que sinto de viver no Brasil. Andar sem medo era um dos grandes prazeres da velha Europa e da rica América. Não mais.
A civilização trouxe a ilusão de que o pavor atávico de fazer parte do cardápio habitual dos grandes carnívoros havia chegado ao fim. Pura ilusão. Hoje, as leis anti-imigração do Primeiro Mundo e os condomínios fechados do Brasil são duros paliativos para a mesma desgraça.
O verso “Chame o ladrão” da canção se referia ao pavor da repressão policial durante a ditadura militar. Diante dela, melhor o ladrão. Quarenta anos depois, o contexto muda, mas os versos continuam oportunos. Com tristeza, dá vontade de chamar o ladrão para organizar o exército de desesperados que se viu obrigado a viver de bico.

DOUTOR MÉDICO E DOUTOR ADVOGADO: ATÉ QUANDO? - Eliane Brum

Por que o uso da palavra “doutor” 
antes do nome de advogados e médicos 
ainda persiste entre nós? 
E o que ela revela do Brasil?

Sei muito bem que a língua, como coisa viva que é, só muda quando mudam as pessoas, as relações entre elas e a forma como lidam com o mundo.

Poucas expressões humanas são tão avessas a imposições por decreto como a língua. Tão indomável que até mesmo nós, mais vezes do que gostaríamos, acabamos deixando escapar palavras que faríamos de tudo para recolher no segundo seguinte. E talvez mais vezes ainda pretendêssemos usar determinado sujeito, verbo, substantivo ou adjetivo e usamos outro bem diferente, que revela muito mais de nossas intenções e sentimentos do que desejaríamos.

Afinal, a psicanálise foi construída com os tijolos de nossos atos falhos. Exerço, porém, um pequeno ato quixotesco no meu uso pessoal da língua: esforço-me para jamais usar a palavra “doutor” antes do nome de um médico ou de um advogado.

Travo minha pequena batalha com a consciência de que a língua nada tem de inocente. Se usamos as palavras para embates profundos no campo das ideias, é também na própria escolha delas, no corpo das palavras em si, que se expressam relações de poder, de abuso e de submissão. 

Cada vocábulo de um idioma carrega uma teia de sentidos que vai se alterando ao longo da História, alterando-se no próprio fazer-se do homem na História. E, no meu modo de ver o mundo, “doutor” é uma praga persistente que fala muito sobre o Brasil.

Como toda palavra, algumas mais do que outras, “doutor” desvela muito do que somos – e é preciso estranhá-lo para conseguirmos escutar o que diz.
Assim, minha recusa ao “doutor” é um ato político. 

Um ato de resistência cotidiana, exercido de forma solitária na esperança de que um dia os bons dicionários digam algo assim, ao final das várias acepções do verbete “doutor”: “arcaísmo: no passado, era usado pelos mais pobres para tratar os mais ricos e também para marcar a superioridade de médicos e advogados, mas, com a queda da desigualdade socioeconômica e a ampliação dos direitos do cidadão, essa acepção caiu em desuso”.

Em minhas aspirações, o sentido da palavra perderia sua força não por proibição, o que seria nada além de um ato tão inútil como arbitrário, na qual às vezes resvalam alguns legisladores, mas porque o Brasil mudou. A língua, obviamente, só muda quando muda a complexa realidade que ela expressa. Só muda quando mudamos nós.

Historicamente, o “doutor” se entranhou na sociedade brasileira como uma forma de tratar os superiores na hierarquia socioeconômica – e também como expressão de racismo. Ou como a forma de os mais pobres tratarem os mais ricos, de os que não puderam estudar tratarem os que puderam, dos que nunca tiveram privilégios tratarem aqueles que sempre os tiveram. 

O “doutor” não se estabeleceu na língua portuguesa como uma palavra inocente, mas como um fosso, ao expressar no idioma uma diferença vivida na concretude do cotidiano que deveria ter nos envergonhado desde sempre.

Lembro-me de, em 1999, entrevistar Adail José da Silva, um carregador de malas do Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, para a coluna semanal de reportagem que eu mantinha aos sábados no jornal Zero Hora, intitulada “A Vida Que Ninguém Vê”. Um trecho de nosso diálogo foi este:
- E como os fregueses o chamam?
- Os doutor me chamam assim, ó: “Ô, negão!” Eu acho até que é carinhoso.
- O senhor chama eles de doutor?
- Pra mim todo mundo é doutor. Pisou no aeroporto é doutor. É ó, doutor, como vai, doutor, é pra já, doutor....
- É esse o segredo do serviço?
- Tem que ter humildade. Não adianta ser arrogante. Porque, se eu fosse um cara importante, não ia tá carregando a mala dos outros, né? Sou pé de chinelo. Então, tenho que me botar no meu lugar.

A forma como Adail via o mundo e o seu lugar no mundo – a partir da forma como os outros viam tanto ele quanto seu lugar no mundo – contam-nos séculos de História do Brasil. Penso, porém, que temos avançado nas últimas décadas – e especialmente nessa última. O “doutor” usado pelo porteiro para tratar o condômino, pela empregada doméstica para tratar o patrão, pelo engraxate para tratar o cliente, pelo negro para tratar o branco não desapareceu – mas pelo menos está arrefecendo.

Se alguém, especialmente nas grandes cidades, chamar hoje o outro de “doutor”, é legítimo desconfiar de que o interlocutor está brincando ou ironizando, porque parte das pessoas já tem noção da camada de ridículo que a forma de tratamento adquiriu ao longo dos anos. Essa mudança, é importante assinalar, reflete também a mudança de um país no qual o presidente mais popular da história recente é chamado pelo nome/apelido. Essa contribuição – mais sutil, mais subjetiva, mais simbólica – que se dá explicitamente pelo nome, contida na eleição de Lula, ainda merece um olhar mais atento, independentemente das críticas que se possa fazer ao ex-presidente e seu legado.

Se o “doutor” genérico, usado para tratar os mais ricos, está perdendo seu prazo de validade, o “doutor” que anuncia médicos e advogados parece se manter tão vigoroso e atual quanto sempre. Por quê? Com tantas mudanças na sociedade brasileira, refletidas também no cinema e na literatura, não era de se esperar um declínio também deste doutor?

Ao pesquisar o uso do “doutor” para escrever esta coluna, deparei-me com artigos de advogados defendendo que, pelo menos com relação à sua própria categoria, o uso do “doutor” seguia legítimo e referendado na lei e na tradição. 

O principal argumento apresentado para defender essa tese estaria num alvará régio no qual D. Maria, de Portugal, mais conhecida como “a louca”, teria outorgado o título de “doutor” aos advogados. Mais tarde, em 1827, o título de “doutor” teria sido assegurado aos bacharéis de Direito por um decreto de Dom Pedro I, ao criar os primeiros cursos de Ciências Jurídicas e Sociais no Brasil. Como o decreto imperial jamais teria sido revogado, ser “doutor” seria parte do “direito” dos advogados. E o título teria sido “naturalmente” estendido para os médicos em décadas posteriores.

Há, porém, controvérsias. Em consulta à própria fonte, o artigo 9 do decreto de D. Pedro I diz o seguinte: “Os que frequentarem os cinco anos de qualquer dos Cursos, com aprovação, conseguirão o grau de Bacharéis formados. Haverá também o grau de Doutor, que será conferido àqueles que se habilitarem com os requisitos que se especificarem nos Estatutos, que devem formar-se, e só os que o obtiverem, poderão ser escolhidos para Lentes”. Tomei a liberdade de atualizar a ortografia, mas o texto original pode ser conferido aqui. “Lente” seria o equivalente hoje à livre-docente.

Mesmo que Dom Pedro I tivesse concedido a bacharéis de Direito o título de “doutor”, o que me causa espanto é o mesmo que, para alguns membros do Direito, garantiria a legitimidade do título: como é que um decreto do Império sobreviveria não só à própria queda do próprio, mas também a tudo o que veio depois?

O fato é que o título de “doutor”, com ou sem decreto imperial, permanece em vigor na vida do país. Existe não por decreto, mas enraizado na vida vivida, o que torna tudo mais sério. 

A resposta para a atualidade do “doutor” pode estar na evidência de que, se a sociedade brasileira mudou bastante, também mudou pouco. A resposta pode ser encontrada na enorme desigualdade que persiste até hoje. E na forma como essas relações desiguais moldam a vida cotidiana.

É no dia a dia das delegacias de polícia, dos corredores do Fórum, dos pequenos julgamentos que o “doutor” se impõe com todo o seu poder sobre o cidadão “comum”. Como repórter, assisti à humilhação e ao desamparo tanto das vítimas quanto dos suspeitos mais pobres à mercê desses doutores, no qual o título era uma expressão importante da desigualdade no acesso à lei. 

No início, ficava estarrecida com o tratamento usado por delegados, advogados, promotores e juízes, falando de si e entre si como “doutor fulano” e “doutor beltrano”. Será que não percebem o quanto se tornam patéticos ao fazer isso?, pensava. Aos poucos, percebi a minha ingenuidade. O “doutor”, nesses espaços, tinha uma função fundamental: a de garantir o reconhecimento entre os pares e assegurar a submissão daqueles que precisavam da Justiça e rapidamente compreendiam que a Justiça ali era encarnada e, mais do que isso, era pessoal, no amplo sentido do termo.

No caso dos médicos, a atualidade e a persistência do título de “doutor” precisam ser compreendidas no contexto de uma sociedade patologizada, na qual as pessoas se definem em grande parte por seu diagnóstico ou por suas patologias. Hoje, são os médicos que dizem o que cada um de nós é: depressivo, hiperativo, bipolar, obeso, anoréxico, bulímico, cardíaco, impotente, etc. Do mesmo modo, numa época histórica em que juventude e potência se tornaram valores – e é o corpo que expressa ambas – faz todo sentido que o poder médico seja enorme. É o médico, como manipulador das drogas legais e das intervenções cirúrgicas, que supostamente pode ampliar tanto potência quanto juventude. E, de novo supostamente, deter o controle sobre a longevidade e a morte. A ponto de alguns profissionais terem começado a defender que a velhice é uma “doença” que poderá ser eliminada com o avanço tecnológico.

O “doutor” médico e o “doutor” advogado, juiz, promotor, delegado têm cada um suas causas e particularidades na história das mentalidades e dos costumes. Em comum, o doutor médico e o doutor advogado, juiz, promotor, delegado têm algo significativo: a autoridade sobre os corpos. Um pela lei, o outro pela medicina, eles normatizam a vida de todos os outros. Não apenas como representantes de um poder que pertence à instituição e não a eles, mas que a transcende para encarnar na própria pessoa que usa o título.

Se olharmos a partir das relações de mercado e de consumo, a medicina e o direito são os únicos espaços em que o cliente, ao entrar pela porta do escritório ou do consultório, em geral já está automaticamente numa posição de submissão. Em ambos os casos, o cliente não tem razão, nem sabe o que é melhor para ele. 

Seja como vítima de uma violação da lei ou como autor de uma violação da lei, o cliente é sujeito passivo diante do advogado, promotor, juiz, delegado. E, como “paciente” diante do médico, como abordei na coluna anterior, deixa de ser pessoa para tornar-se objeto de intervenção.

Num país no qual o acesso à Justiça e o acesso à Saúde são deficientes, como o Brasil, é previsível que tanto o título de “doutor” permaneça atual e vigoroso quanto o que ele representa também como viés de classe. Apesar dos avanços e da própria Constituição, tanto o acesso à Justiça quanto o acesso à Saúde permanecem, na prática, como privilégios dos mais ricos. As fragilidades do SUS, de um lado, e o número insuficiente de defensores públicos de outro são expressões dessa desigualdade. Quando o direito de acesso tanto a um quanto a outro não é assegurado, a situação de desamparo se estabelece, assim como a subordinação do cidadão àquele que pode garantir – ou retirar – tanto um quanto outro no cotidiano. Sem contar que a cidadania ainda é um conceito mais teórico do que concreto na vida brasileira.

Infelizmente, a maioria dos “doutores” médicos e dos “doutores” advogados, juízes, promotores, delegados etc estimulam e até exigem o título no dia a dia. E talvez o exemplo público mais contundente seja o do juiz de Niterói (RJ) que, em 2004, entrou na Justiça para exigir que os empregados do condomínio onde vivia o chamassem de “doutor”. Como consta nos autos, diante da sua exigência, o zelador retrucava: “Fala sério....” Não conheço em profundidade os fatos que motivaram as desavenças no condomínio – mas é muito significativo que, como solução, o juiz tenha buscado a Justiça para exigir um tratamento que começava a lhe faltar no território da vida cotidiana.

É importante reconhecer que há uma pequena parcela de médicos e advogados, juízes, promotores, delegados etc que tem se esforçado para eliminar essa distorção. Estes tratam de avisar logo que devem ser chamados pelo nome. Ou por senhor ou senhora, caso o interlocutor prefira a formalidade – ou o contexto a exija. Sabem que essa mudança tem grande força simbólica na luta por um país mais igualitário e pela ampliação da cidadania e dos direitos. A estes, meu respeito.

Resta ainda o “doutor” como título acadêmico, conquistado por aqueles que fizeram doutorado nas mais diversas áreas. No Brasil, em geral isso significa, entre o mestrado e o doutorado, cerca de seis anos de estudo além da graduação. Para se doutorar, é preciso escrever uma tese e defendê-la diante de uma banca. Neste caso, o título é – ou deveria ser – resultado de muito estudo e da produção de conhecimento em sua área de atuação.

É também requisito para uma carreira acadêmica bem sucedida – e, em muitas universidades, uma exigência para se candidatar ao cargo de professor.

Em geral, o título só é citado nas comunicações por escrito no âmbito acadêmico e nos órgãos de financiamento de pesquisas, no currículo e na publicação de artigos em revistas científicas e/ou especializadas. Em geral, nenhum destes doutores é assim chamado na vida cotidiana, seja na sala de aula ou na padaria. E, pelo menos os que eu conheço, caso o fossem, oscilariam entre o completo constrangimento e um riso descontrolado. Não são estes, com certeza, os doutores que alimentam também na expressão simbólica a abissal desigualdade da sociedade brasileira.

Estou bem longe de esgotar o assunto aqui nesta coluna. Faço apenas uma provocação para que, pelo menos, comecemos a estranhar o que parece soar tão natural, eterno e imutável – mas é resultado do processo histórico e de nossa atuação nele. Estranhar é o verbo que precede o gesto de mudança.

Infelizmente, suspeito de que “doutor fulano” e “doutor beltrano” terão ainda uma longa vida entre nós. Quando partirem desta para o nunca mais, será demasiado tarde. 

Porque já é demasiado tarde – sempre foi. 

NELSON MOTTA - Avenida Brasília

A novela acaba e o mensalão continua, ultrapassando a ficção.
Quem diria que mais vilões seriam condenados e presos 
no mensalão do que na novela?

Por graça do acaso, os dois maiores sucessos populares do ano, a novela Avenida Brasil e o julgamento do mensalão, vão terminar juntos, ou quase. Condenados e absolvidos pelo Supremo vão se misturar com personagens amados e odiados pelo público, vilões e heróis da ficção e da realidade terão seus destinos cruzados na história viva do País.

Nina e Carminha foram capazes das piores vilanias, mas também poderão ser vistas como heroínas. Não por suas obsessões doentias pela vingança e pelo poder, mas como sobreviventes dos lixões da vida, que, movidas pela paixão, são levadas a comportamentos heroicos na luta por seus objetivos conflitantes.

Roberto Jeffersonita e José Dirceu também foram capazes das piores vilanias, mas por suas causas partidárias e objetivos políticos. Movidos por seus instintos mais primitivos, tentam se mostrar heroicos no mensalão, um como mártir da verdade e o outro, de uma conspiração das elites. Dirceu diz que o PT pode ter todos os defeitos, menos a covardia. A "omerti" de Delicio fez dele um herói, mas Dirceu se imolará por Lula?

Mas o grande herói da novela do mensalão é o ministro Joaquim Barbosa, que passou como um tufão sobre a impunidade de políticos, empresários e banqueiros. Sua já famosa foto de costas, com sua capa negra de Batmo justiceiro, virou um ícone que se espalha como um vírus de esperança pela internet, anunciando que a coisa está preta, no bom sentido, para os malfeitores. As redes sociais gritam "Barbosa, guerreiro do povo brasileiro".

A competência, a independência e a integridade do ministro Joaquim e das ministras Cármen Lúcia e Rosa Weber tem feito mais pelo orgulho e progresso de negros e mulheres do Brasil do que todos os discursos e campanhas feministas e racialistas recentes.

A grande diferença é que a novela acaba e o mensalão continua, ultrapassando a ficção. Quem diria que mais vilões seriam condenados e presos no mensalão do que na novela? Cenas dos próximos capítulos: seguindo a jurisprudência do Supremo, os elencos dos mensalões de Minas e de Brasília serão condenados pelos juízes, a opinião pública e a história. Oi oi oi.

CAETANO VELOSO - Descarrego

Quando cheguei ao Rio com Bethânia, no final de 1964, começo de 1965, eu vinha do Méier para a Siqueira Campos, onde ficava o Teatro de Arena, que passou a se chamar Opinião por causa do espetáculo do qual minha irmã tinha sido convidada para participar, e, depois da função, íamos ao Cervantes, ao Zicartola e à Estudantina. A Estudantina Musical, gafieira que deveria ser estudada em close reading pela Liv Sovik (para livrá-la de vez do preconceito racialista), existe desde os anos 1920, hoje na Praça Tiradentes. Toda vez que volto lá entro no mesmo estado de espírito que experimentei pela primeira vez naquela época. Uma alegria da festa (coisa essencial para mim) em situação peculiar. Era como os bailes do Apolo em Santo Amaro — ou os que periodicamente aconteciam na quadra de esporte do ginásio Theodoro Sampaio —, só que com a regularidade diária de um bar e com a cultura da dança ornamental de casal enlaçado desenvolvida ao nível do virtuosismo.

Não que não tentássemos algo disso no Apolo ou no ginásio, mas na Estudantina o desenvolvimento da tradição alimentada no tango (o samba e o tango da voz e da história de Carmen Miranda) é levado ao máximo. Os ornamentos feitos com o corpo que o tango cultivou, adaptados — via maxixe — ao ritmo do samba (e à informalidade brasileira), produzem no ambiente uma felicidade que as casas de tango de Buenos Aires — muito mais sérias e estáveis, respeitáveis e mundialmente reconhecidas — não conhecem. A Estudantina é, por essas e outras muitas razões, um elemento crucial na amarração da cultura carioca. Ela sustenta hábitos, estilos e gostos essenciais para a cultura da Cidade dos Brasileiros (como João Gilberto chama o Rio), em áreas geográficas do seu perímetro urbano (e em áreas mentais de seus habitantes) onde muitas vezes nem seu nome é conhecido.
Pois bem. Dizem-me que a Estudantina está para fechar. Dependendo de um tombamento que passa pela prefeitura. O prefeito Eduardo Paes poderia agir no sentido de, no fim do seu mandato (e no desejo de estendê-lo), ligar seu nome e sua energia a um núcleo da vida carioca. Essas coisas são mais fortes do que macumba ou sessão de descarrego de igreja evangélica: ter seu nome ligado à salvação de algo tão central ao significado do Rio pode dar superpoderes ao atual prefeito, dignificando sua passagem pelo posto, se não garantindo sua reeleição no segundo turno contra Freixo (sim, o Ex-Blog do Cesar Maia explica que isso está por acontecer, embora, é claro, ele não cite Freixo nominalmente).
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Em “À beira do caminho” a visão da geografia brasileira corresponde à profundidade do ator João Miguel. As estradas, as chapadas, as caatingas, os serrados, os rios, as pontes, as entradas das cidades (inclusive, talvez principalmente, a de São Paulo) dizem mais do que paisagens costumam dizer em filmes bem fotografados: vão no fundo da alma e revelam um país que ainda estamos aprendendo a ver. Dira Paes já é uma instituição nacional. E nós a amamos com a atenção exigida não só por seu talento mas também pela sua sensatez. Ludmila Rosa encanta e convence. Mas são as cenas em que João Miguel dialoga com Vinicius Nascimento que refletem a força das locações. Que tenha sido “A distância” a primeira canção de Roberto a ser ouvida no filme me emociona de um modo complexo e que serve para sustentar o sentido de todas as outras (tantas!) intervenções musicais que se dão ao longo da história. Porque para mim, em primeiro lugar, essa canção está fortemente ligada ao grande cinema, já que foi a mesma escolhida por Visconti para a cena crucial de “Violência e paixão”. São conversas internas do cinema consigo mesmo, segredos, que, quando caem em meus ouvidos, me fazem chorar mais do que os lances sentimentais de qualquer trama. As moças choravam quando esses lances surgiam. Mas eu já estava chorando desde bem antes — por essas razões estranhas — e na verdade tinha de parar de chorar para atentar ao drama.

SONO DE CONTO DE FADAS: OS SEGREDOS DAS CAMAS DE HOTÉIS - CORA RONAI


Cora Ronai testa camas de hotéis 
e fala da importância de conjuntos para bons sonhos

Um dia, num reino muito distante, uma moça bateu à porta do castelo numa noite de tempestade. Apresentou-se como princesa real e pediu abrigo, mas estava tão molhada e desarrumada por causa da chuva e do vento que era impossível saber se era mesmo uma princesa. Pelo sim e pelo não, recebeu pousada, mas antes que fosse para o quarto de hóspedes, a rainha mandou arrumar a cama com diversos colchões macios, um sobre o outro e, por baixo de todos eles, botou uma ervilha. No dia seguinte pela manhã, perguntou à moça como tinha passado a noite.
Infelizmente dormi muito mal — respondeu. — Havia uma coisa dura na minha cama, e acordei cheia de manchas roxas pelo corpo...
A rainha ficou radiante com a resposta. Só uma verdadeira princesa poderia ter pele tão sensível e delicada. A princesa casou-se com o filho da rainha e todos foram felizes para sempre. Esta é, em linhas gerais, a história de um dos meus contos de Andersen favoritos, “A princesa e a ervilha”. Gosto do nonsense da situação, e me identifico com a princesa: não chego a perder o sono por causa de uma ervilha, mas sou tão exigente em relação à cama em que durmo que, se tudo não estiver perfeito, passo realmente por maus bocados. Por isso, presto atenção redobrada às camas dos hotéis onde me hospedo.
Não devo ser a única. Nos últimos tempos, as camas de hotel evoluíram e transformaram-se em “conceitos” — leia-se sofisticados conjuntos de colchão, travesseiro, roupa de cama e o que mais seja necessário a uma boa noite de sono. A primeira vez que dormi num conceito foi no Westin San Francis, em São Francisco, onde conheci a paradisíaca “Heavenly bed”. Gostei tanto que, se morasse nos Estados Unidos, teria comprado a coisa toda: o conjunto custava US$ 3,5 mil, precinho salgado mas nada demais para nós, brasileiros, que vivemos no país mais caro do mundo. Algum tempo depois, também na Costa Leste, mas dessa vez em Los Angeles, descobri a “The W Bed”, cama da rede W, igualmente deliciosa, e igualmente à venda para hóspedes empolgados, pela módica quantia de US$ 2,5 mil — uma pechincha para tanto aconchego.

Minha experiência mais recente com camas de sonho — com e sem trocadilho — aconteceu logo ali, no Sofitel Copacabana, onde me hospedei para travar conhecimento com o conceito “MyBed”, a versão da rede para o suprassumo do conforto. Não é fácil para uma cama de hotel superar a minha própria em conforto — durmo num colchão Tempur-Pedic guarnecido de travesseiros e edredom de pluma alemães — mas a “MyBed” conseguiu esse feito.
Qual é o segredo dessa maravilha? A rigor, são vários (embora, a meu ver, o principal seja a vizinhança do Le Pré-Catelan, onde reina o chef Roland Villard, cujas criações são sonhos em forma de comida). Para começar, a cama é mais alta, mais larga e mais comprida do que uma cama comum. Por cima do colchão — que já fica sobre uma base acolchoada — vai um sobrecolchão de plumas de ganso, fazendo dobradinha com o edredom de algodão egípcio, de modo a transformar o hóspede no recheio de um sutil sanduíche de plumas, embrulhado em lençóis e fronhas de 220 fios.
Finalmente, há os travesseiros. Quatro imensos, por cama — mas se alguém não gostar, sem problemas. O hotel tem um menu de travesseiros, com opções para crianças, para adolescentes, para quem dorme de bruços, de lado ou de costas, para quem tem o sono agitado, para quem prefere espuma ou quer dimensões ainda maiores para sonhar...
Em conjunto, essas maravilhas transformam o corriqueiro hábito de dormir numa experiência sensorial cativante. A estrutura do colchão está no ponto certo para garantir aconchego na hora de adormecer e costas inteiras na hora de acordar; o sobrecolchão e o edredom dão um toque de suavidade extra; os lençóis e as fronhas garantem a felicidade no contato com a pele.
Ninguém precisa ficar triste ao deixar o hotel. A “MyBed” está à venda, no todo ou em partes. É possível levar o colchão a R$ 2,6 mil, o edredom a R$ 300, o jogo de lençóis a partir de R$ 250 e assim por diante. Faça a cama exatamente como o hotel e, à noite, decida para que canto do globo os seus sonhos irão levá-lo. Bonne nuit!

MARCIA TIBURI- Sem limites

Critica-se por aí a falta de limite das crianças. Reclama-se dos adolescentes criados sem limites. No quarto escuro do caos, esperamos que a luz do limite venha por a bagunça em ordem. Nem adultos escapam da exigência geral. Impõe-se leis rígidas contra o consumo do álcool, fecham-se as casas de jogo, grita-se contra as drogas. Um submundo de tensões mais clandestinas aqui, menos ali, atrapalha a expectativa de um mundo ordenado. Tudo o que se diz contra os excessos destrutivos é em nome de limites.

De tanto gritar limites ficamos surdos para nossos próprios gritos. Onde foi parar o bom-senso é questão que é preciso retomar. Quem pára pra pensar no porquê de tantas imposições? A rigidez das atitudes é a resposta fácil no desespero. O desespero é o descaminho que se explica pela falta de limites e pela tentativa de criá-los, a cada vez, pela força. É o limite que ficou sem limite. A excessiva proibição nos torna incompetentes para a vida.

Onde estão os limites?

Para muitos basta dar “limites” para realizar uma boa educação. Como se a experiência do limite sozinha pudesse ser a salvação para alguém que se perdeu. Um não dito em tom solene aqui, ou acolá, e estaria feita a mágica. Sabemos que não funciona assim. Professores contam com soluções vindas de casa. Pais desatentos ou ocupados esperam que os limites sejam produzidos na escola como se encontrar o “limite” fosse tarefa da educação formal. Nem uma coisa nem outra. Parece que o limite tornou-se uma palavra mágica a carregar a culpa para o lado oposto onde cada um está. A tarefa de dar limite é uma das tantas que esperamos dos outros. Todos sabemos que ela dá muito trabalho. Muitas vezes nem sabemos, os responsáveis, do que se trata. Mas no fundo, talvez a preguiça de agir demonstre mais do que cansaço ou descaso. Talvez não confiemos na possibilidade de que um limite seja a resposta para nossos problemas na educação, nos relacionamentos, pois nós mesmos não nos damos limites. Somos auto-indulgentes, auto-piedosos, sempre prontos a perdoar as nossas falhas. A revolta contra as leis é sinal de que não vemos vantagem dos limites para nós mesmos. A culpa – e o problema – é dos outros.

Limite para tudo

Os filósofos antigos usavam o termo “peras” para expressar os limites. Tanto nos pré-socráticos, quanto em Platão e Aristóteles, este conceito tinha uma função metafísica, ou seja, servia para explicar como as coisas existiam, porque elas eram o que eram e não diferentes. Por exemplo, Aristóteles dizia que qualquer coisa não existe para além do limite. Tudo o que existe precisava de um limite para existir. Para saber o que algo é e onde está se usa a noção do limite. Limite é sinônimo de forma. Afinal não podemos saber o que é uma casa se não reconhecemos seus limites concretos, arquiteturais, que são, afinal, formais. Até a beleza era entendida como uma espécie de limite. Se pensarmos bem, toda a nossa forma de ver o mundo, de pensar, de entender as coisas, depende deste conceito.

Em termos éticos, aparentemente menos abstratos para a nossa mentalidade atual, os antigos entendiam o limite como auto-domínio, capacidade de controlar as próprias paixões (mais tarde chamadas de pecados), de viver no meio-termo. Limite era tudo que tanto impedia como possibilitaria movimentos. Qualquer ação depende de limites no espaço e no tempo. Mas também dos limites externos ou internos de que agia.

Respeito ilimitado

Todo limite é uma experiência que se formula na relação com o outro. Entre eu e o outro há sempre um espaço imponderável. Neste vazio entre “eu e tu” a melhor coisa a ser colocada é o respeito. Se o limite é a experiência que permite saber até onde se pode chegar e, com sorte, a protetora dor de saber aonde não se deve ir, o respeito é a única de todas as experiência que não pode ter limite. Por que respeito é o modo de olhar para o outro como algo positivo, ver nele sua potência de ser, como alguém que, mesmo me sendo próximo, carrega em si algo que não pode dizer sobre si mesmo para mim, e, por isso mesmo, sempre será intocável.

Nenhum respeito

A total ausência de respeito pelo outro é o que caracteriza a figura do perverso. O perverso é aquele que, por algum motivo que apenas pode ser ponderado caso a caso, rompeu com o limite. Ele vive da crença de que é capaz de submeter o outro. No entanto, mesmo quando destrói o outro, não deixa de enganar a si mesmo. Ele vive da crença de que tomou posse de sua vítima, mas é apenas uma crença e, como tal, não se sustenta na negação de quem não crê. A crença é sustentável apenas enquanto a vítima sustenta a posição do perverso. Em momento algum, no entanto, ele atingirá o âmago da outra pessoa. O perverso é um eterno logrado. Um frustrado que ilude o outro pelo medo. Quem se deixa levar é também iludido. E frustrado porque é impossível atingir o fundo irreconhecível de cada pessoa. Aquilo que justifica que somos seres humanos e que podemos sempre chamar de dignidade. Só esta convicção pode aniquilar um olhar e uma atitude perversas. Limite é, no fundo, o lugar intangível de cada um.

NELSON MOTTA - Imaginem na Copa

A grande desvantagem de sediar uma Copa do Mundo é o privilégio de não disputar as eliminatórias - que é a melhor maneira de preparar um time, jogando contra adversários duros e enfrentando confrontos decisivos, que preparam as táticas e os nervos da equipe para situações de alta pressão na Copa.

No caso do Brasil, que já ganhou cinco vezes o Mundial, na Ásia, nas Américas e na Europa, qual será a grande glória de ser, mais uma vez, campeão? Em casa, que é quase uma obrigação, e, em caso de vitória, pode ser um motivo para depreciar o triunfo, porque conquistado em nosso quintal, com a torcida toda a favor. Mas perder em casa, repetindo como farsa a tragédia de 1950, será doloroso, imperdoável e inesquecível.

Há muito tempo a seleção brasileira de futebol não é mais a pátria de chuteiras de Nelson Rodrigues. Cada vez mais o patriotismo se distancia do legendário "scratch" e o público vê apenas atletas profissionais milionários em uma competição internacional. Quem ainda acredita que a honra nacional está em jogo? Ou que o brasileiro tem um dom divino para jogar bola melhor do que todo mundo?
São ecos distantes de um tempo em que o futebol era um dos nossos raríssimos orgulhos entre tantas vergonhas de um País pobre e atrasado. Hoje, em diversos campos de atividade, inúmeras empresas, equipes e indivíduos brasileiros fazem mais gols e conquistam mais vitórias, prestígio, dinheiro e reconhecimento do que o futebol, 12.º colocado no ranking da Fifa.

Atualmente, além de nunca jogar bem, a seleção só tem contribuído para enfraquecer os melhores times do Campeonato Nacional, tirando os seus melhores jogadores, para nada. Também é inquietante ver como Neymar, Ganso, Lucas e Oscar jogam em seus clubes e na seleção. Começa-se a desconfiar que eles dão show de bola aqui porque enfrentam adversários mais fracos e juízes mais moles.

Não ser o melhor do mundo não é vergonha para ninguém, vergonha é achar que ainda é, mesmo diante de tantas dúvidas e evidências. Se agora o torcedor está cada vez mais apaixonado pelos seus clubes e mais desiludido com a seleção, imaginem na Copa.

DRAUZIO VARELLA - As redes sociais do cérebro

Regiões do cérebro são mais desenvolvidas em quem 
mantém contato com um número maior de pessoas.

A evolução do cérebro humano esteve associada às demandas da complexidade do ambiente social.
Provavelmente válida também para os demais primatas, essa ideia tem sido testada em sistemas experimentais. Nesses trabalhos surgiram evidências de que certas regiões do cérebro são mais desenvolvidas em pessoas que mantêm contato com maior número de parentes, amigos e colegas de trabalho.

Não sabemos, entretanto, se existe relação de causa e efeito entre essas variações anatômicas e a capacidade de estabelecer relacionamentos interpessoais. Em outras palavras, não sabemos se a interação com maior número de personagens cria novos neurônios e conexões que hipertrofiam determinadas partes do cérebro ou se indivíduos nos quais essas áreas são naturalmente hipertrofiadas têm mais habilidade para criar laços sociais.

Dois estudos publicados em 2009 demonstraram que estímulos sensoriais e motores provocam alterações na anatomia do cérebro, mesmo na vida adulta. Por exemplo, aprender a usar uma nova ferramenta aumenta a densidade da massa cinzenta em certas regiões cerebrais dos macacos rhesus.
Massa cinzenta é a camada de 2 mm a 6 mm que envolve a parte mais externa dos hemisférios cerebrais, como se fosse uma casca (daí o nome córtex cerebral). Nela estão localizados os corpos dos neurônios (axônios), enquanto seus prolongamentos (dendritos) penetram a substância branca para conectar-se uns aos outros (sinapses).

A integridade dos neurônios do córtex é essencial para a coordenação do pensamento, dos movimentos voluntários, da linguagem, da percepção e do julgamento.

Em Oxford, Jérôme Sallet e Matthew Rushworth realizaram um experimento com macacos rhesus para testar se o agrupamento altera a concentração de neurônios em estruturas ligadas ao controle de características envolvidas na convivência em sociedade.

O experimento foi feito com 23 macacos (14 machos e nove fêmeas) com 4,3 anos de idade, em média, alojados ao acaso em ambientes com dois a sete indivíduos. Apenas um ficou em local separado.
Depois de passar 15 meses em seu grupo, cada animal foi submetido à ressonância magnética para avaliar a configuração anatômica do cérebro e confrontá-la com as características das interações grupais.
Os macacos em ambientes com maior número de indivíduos apresentaram hipertrofia da massa cinzenta em diversas partes do córtex do lobo temporal, que incluíam o sulco temporal superior. Neurônios desse sulco estão envolvidos no reconhecimento de faces, nos movimentos voluntários e na curiosidade pelo objeto da atenção alheia.

É provável que a hipertrofia cinzenta do sulco temporal superior tenha surgido em resposta à necessidade crescente de decodificar expressões, gestos e movimentos à medida que aumentam o número e a complexidade dos contatos.

No ano passado, o grupo de Geraint Rees, da Universidade de Londres, mostrou que a densidade de massa cinzenta presente nesse mesmo sulco, em humanos, é proporcional ao número de participantes inscritos em suas redes no Facebook.

Nos animais alojados em grupos mais numerosos, a ressonância também revelou aumento da massa cinzenta na amígdala, estrutura situada na profundidade do lobo temporal, intimamente ligada às emoções.

Sob o comando da amígdala, decidimos para que indivíduos e eventos dirigir a atenção. Numa festa, é ela que nos orienta para evitarmos pessoas desagradáveis e nos aproximarmos das mais simpáticas.
Nos macacos que pertenciam aos grupos maiores, houve ainda hipertrofia do córtex pré-frontal, área ligada à "teoria da mente", isto é, ao reconhecimento de que outros podem ter intenções e valores diferentes dos nossos. O animal com maior volume de massa cinzenta pré-frontal tende a ser dominante.
Estudo publicado no ano passado revelou que a densidade de massa cinzenta na região pré-frontal humana também está associada à hierarquia social.

Embora modificações na configuração das áreas descritas possam não ser a causa, mas simples consequência da complexidade dos relacionamentos interpessoais, está cada vez mais evidente que o cérebro é uma ferramenta social.

NEUROCIÊNCIA PARA DESVENDAR O MEDO

Pensar em soluções positivas aciona partes 
racionais da mente, diminuindo poder dos temores.

Poucos vilões de filmes de terror tiraram o sono de tanta gente quanto Freddy Krueger, o protagonista de A hora do pesadelo. Isso porque, além de unhas afiadas e rosto desfigurado, Krueger tinha o mais cruel de todos os poderes: trazer à tona os medos inconscientes de suas vítimas, entrando em seus sonhos. 

Um livro recentemente lançado no Brasil, porém, defende que é a hora de fechar os olhos e entregar-se a Krueger. Que arma levar a esse encontro? O conhecimento do próprio cérebro.

As pessoas chegam às clínicas com crises de ansiedade, depressão, transtornos do pânico. Mas, quando mergulhamos fundo nesses males, encontramos sempre o medo. 

Hoje, ele é o mais central dos fatores que impedem as pessoas de viver plenamente”, defende o psicoterapeuta americano Srinivasan Pillay, professor da Universidade de Harvard e autor de Livre para viver: 7 lições para vencer o medo, o estresse e a ansiedade (Editora Fontanar).

Pillay estrutura sua obra em torno de uma convicção: a neurociência deu às pessoas a chave para compreender como os temores operam no inconsciente e, como consequência, algumas receitas de como ser mais feliz. “Não é mágica nem superstição. Há atitudes que podemos tomar para mudar nossa vida.”

Pode-se dizer que uma das principais características do inconsciente é ser rápido, muito rápido. Um estudo realizado por pesquisadores de Harvard exemplifica como isso influencia a captação do medo. O experimento consistia em fazer com que voluntários observassem por longos períodos uma máscara exibida na tela de um computador. 

Sem que essas pessoas soubessem, em determinados momentos, a imagem de um rosto atemorizado era mostrada na tela por um tempo extremamente curto (na casa dos milissegundos). Isso fazia com que os participantes sentissem um pequeno temor, mesmo jurando nunca ter visto a face assustada. 

No exato “milimomento” em que essa figura era exibida, o sangue fluía com mais intensidade em uma região do cérebro que os cientistas batizaram de amígdala cerebral (não confundir com a da garganta).

Evolução O cérebro dos seres humanos evoluiu de criaturas muito menos inteligentes. Para adquirir a habilidade de raciocinar, o homem desenvolveu uma maravilhosa camada externa chamada córtex. É ali, especialmente, que habita o consciente. Pillay explica em seu livro que o cérebro animal, no entanto, não foi eliminado e continua a operar. 

É ele que dá uma série de respostas automáticas que garantem a sobrevivência da espécie. A amígdala cerebral faz parte dessa estrutura e é nela, principalmente, que opera o medo inconsciente, conforme comprovou a pesquisa de Harvard.

No que essa descoberta afeta as pessoas? 
“Ela nos diz algo muito profundo a respeito do papel do medo em nossas vidas: você e eu podemos ignorar totalmente diversas coisas que nos provocam temores, embora elas produzam impulsos que fluem através de nossos cérebros”, conclui Pillay. Resumindo: até mesmo algo visto de relance na rua pode ficar registrado no inconsciente e perturbar a mente de um indivíduo.

O mesmo vale para a maioria dos sentidos. Em 10 milissegundos, qualquer exposição a algo amedrontador pode entrar no cérebro. Entre 10 e 30 milissegundos, o inconsciente processa essa emoção e provoca respostas no corpo todo (como tremor e suor). 

É a amígdala cerebral atuando como uma espécie de freio da mente e “brecando” o indivíduo diante de possíveis ameaças. Só então o consciente (córtex) é avisado do que está ocorrendo e pode questionar-se se, de fato, há razão para temer. 

Mas a amígdala cerebral é teimosa e, às vezes, não obedece às ordens da parte racional do cérebro. Cria-se, então, um impasse em que uma parte da mente manda a pessoa ter medo e a outra ordena que prossiga tranquilamente.

Isso não ocorre apenas com estímulos bobos do dia a dia, como gritos ou rostos assustados. Há pessoas que constroem toda a vida ao redor de medos inconscientes de todas as espécies. “Isso impede muita gente de ir mais longe. 

Elas fogem de seu ‘eu melhorado’ porque se conectar com o próprio potencial as enche de temores: elas receiam frustrar as expectativas alheias, frustrar a si mesmas, têm medo de que, se sonharem muito alto, a queda será maior”, explica Pillay. E, muitas vezes, nem se dão conta disso.

Órgão social A explicação parece excessivamente mecanicista à primeira vista, mas é um engano pensar na neurociência como uma área puramente racional e fria. “O cérebro é um órgão social e deve ser analisado como tal. A neurociência nos leva a humanizar o cérebro, pensando nas emoções e nas relações com os outros. 

usa métodos científicos, sim, mas também envolve antropólogos e sociólogos, é uma área interdisciplinar”, opina Marco Callegaro, presidente do Instituto Brasileiro de Terapias Cognitivas.

Como uma ciência do humano, ela também busca soluções. Em seu livro, Pillay sugere algumas estratégias para colocar o córtex no controle. “Se você se sente paralisado por alguma situação, incapaz de tomar uma decisão, em vez de repetir a si mesmo que está preso naquele problema, tente pensar em como se mover. 

Estudos mostraram que mudar o foco e pensar em soluções ativa as partes racionais da mente. A interação entre o cérebro pensante e o inconsciente faz com que o medo inconsciente perca poder dentro de você”, aconselha o psicoterapeuta.

Resolver primeiro aqueles problemas que parecem mais simples é um bom auxiliar. Quanto menos questões estiverem pendentes, menor será a atividade do centro cerebral responsável pela captação de conflitos, o córtex pré-frontal medial (CPFm). Pesquisas provaram que desligar completamente a preocupação não é eficiente. 

A melhor estratégia é alternar momentos de tensão com situações de relaxamento, como ler algo prazeroso em intervalos no trabalho, o que revigora o cérebro. 

E, ao contrário do que dizem os superotimistas, não basta ficar repetindo que a vida é perfeita. “Nenhuma vida é impecável e ninguém se sente completo. Em vez de enganar-se assim, dedique de 15 a 20 minutos do seu dia a pensar nos melhores aspectos dessa vida imperfeita. Isso muda o foco cerebral”, acrescenta Pillay. E vale lembrar: nem Freddy Krueger pode mexer com medos bem resolvidos.
Nana Queiroz

ONDE ESTÁ O FUTURO? - Cacá Diegues

Num encontro internacional no Rio de Janeiro, o Rio Content Market, o professor Jonathan Taplin, da Universidade do Sul da California (USC), especialista em comunicação e entretenimento, declarou do alto de sua autoridade acadêmica que “o próximo centro de explosão de criatividade cultural do planeta será o Brasil”.

Bem, a declaração do professor americano não me surpreende nem me comove, há algumas décadas que eu e muitos outros brasileiros já sabemos disso. Aliás, foi isso mesmo que Stefan Zweig quis dizer, em meados do século passado, quando afirmou que “o Brasil é o país do futuro”. Ao que o poeta francês Paul Claudel, servindo seu país por aqui, acrescentou maldosamente: “et il y restera” (e assim continuará sendo).

Somos o Extremo Ocidente, a Roma Tropical de Darcy Ribeiro, sucessores da civilização grega como origem do que somos, luso-africanos para sermos ainda mais diferentes e modernos. Sim, possuímos equipamentos culturais que podem nos permitir interferir no rumo da civilização planetária num nível de generosidade, fraternidade e tolerância, do qual a humanidade não foi até aqui capaz.

Esse conjunto de elementos forma a indubitável vocação de grandeza do Brasil; pena que o Brasil viva de não realizar as suas vocações. Sobretudo as grandes.

Agora mesmo passamos por um outro momento de expectativa em relação a nosso futuro, uma expectativa compartilhada pelo mundo afora. De “subdesenvolvidos” e “terceiro-mundistas” no passado recente, viramos “emergentes”, um progresso vocabular de respeito. E, como “emergentes”, esperam de nós uma economia triunfante e uma explosão cultural.

Sei que estamos todos preocupados com a corrupção de nossos políticos, com a promiscuidade nas relações deles com o crime e a contravenção. E fazemos bem em nos preocuparmos com isso. Mas o que hoje chamamos de corrupção sempre foi uma característica indelével do que, sob vários disfarces, constituiu nosso estado escravagista e patrimonialista desde o império. Chamá-la hoje de “corrupção” é portanto criminalizar esse mau costume de nossas elites políticas. O que já é demonstração de avanço.

A corrupção é a filha troncha da mesma família cultural, política e institucional que gerou a nossa velha tradição autoritária. Pois entre nós, ainda desde o império, a democracia tem sido uma fantasia que vestimos durante os dias de carnavais periódicos de liberdade, como o que vivemos hoje. Mesmo quando, durante esses períodos, todos os lados juram-lhe amor eterno, a democracia é sempre confundida com nossos próprios interesses ideológicos e materiais, prisioneira de seus limites.

O filósofo contemporâneo Slavoj Zizek se insurge contra o que diz ser uma moda na filosofia pós-moderna, a de se tomar a verdade como algo opressivo que deve ser substituído apenas por opiniões. Mas é uma pena que um certo pós-modernismo, um pouquinho que fosse, não nos tenha chegado às nossas disputas politicas! Quem sabe aprenderíamos que não é democrático possuir a verdade e, em nome dela, desqualificar ou pregar a eliminação de quem não está de acordo conosco.

No Brasil, as concepções de mundo que gerem a política são quase sempre abrangentes, absolutas e totais. E toda ideologia totalizante acaba sempre por gerar uma prática totalitária.

Todas as grandes revoluções modernas de libertação, idealizadas e lideradas por intelectuais e líderes cultos, da Revolução Francesa à Cubana dos anos 1960, da Revolução Soviética aos Aiatolás do Irã, da independência da Argélia à Grande Marcha na China dos anos 1940, terminaram sempre em longas noites de terror, graças à incapacidade que tiveram de mudar sem oprimir, de libertar em liberdade. Não basta ser inteligente e saber das coisas, a “Porta do Inferno” de Rodin era dominada por um pensador.

O historiador Bóris Fausto, no livro “Ócios e negócios”, diz que, no Brasil da segunda metade do século 20, o interesse pela Revolução Francesa (1789) tinha, como contrapartida, o total desinteresse pela Revolução Americana (1776), por parte de professores e alunos universitários. Assim perdiam-se questões sobre o modelo da República, da competência legislativa, da natureza do governo central, da autonomia dos estados, da separação entre os poderes, do papel exercido pela Suprema Corte, que, quando afloradas, eram vistas como filigranas da superestrutura de um país imperialista.

Não é preciso amar a cultura política americana para perceber que, com isso, o processo de construção de instituições democráticas, tema hoje indispensável no mundo todo, era simplesmente ignorado no Brasil. E assim não se falava mais da única revolução que exprimiu seus anseios defendendo o direito de cada cidadão à busca da felicidade. O pavor dos autoritários é sempre o indivíduo, a força de suas circunstâncias e alternativas que lhe escapa à ordem.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

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