ARTUR DA TÁVOLA - Perdeu seu amor?


Encontro velha amiga com os olhos fundos. 
Passa pelo luto de uma perda amorosa. Não há palavras que consolem.

Chego em casa, vou ao baú e por coincidência encontro velho texto meu, colocado num caderno enviado há anos por anônima leitora. Ele diz: A mulher que perdeu o seu amor é alguém com óculos de ver eclipse na alma.

Fica com olhar de rinoceronte e olho de cambaxirra. Estranho e doloroso esse ar sofrente de que ficam tocadas todas mulheres que perderam o seu amor. É marca que as acompanha como ruga ou expressão, pelo resto da vida.

Marca irreversível, chaga, cicatriz, verruga espiritual. Podem amar de novo, melhor até. Mas jamais deixará de doer a recordação daquele sentimento tornado impossível e daquela esperança fermentada.

 A mulher que perdeu o seu amor sofre mais do que a que (ainda) não pode viver o seu amor. Esta, vive a dor do que não tem. Aquela, a dor de já não ter. Quem não tem e quem ainda não tem sofrem menos do que quem já não tem. O terrível é que a perda do amor, embora fermente, redunda em abertura de caminho para a aventura do conhecer-se. Embora morta-viva, a mulher que perdeu o seu amor é alguém que vai melhorar depois.

Na dor, ela se descobre, abre a cabeça, os músculos, a concepção de vida. Começa a entender as contradições do sentimento, a ficar mais livre, a punir-se menos, a saber que vale algo.

Passado o luto moral, a fase da fossa, a fossa da fase, o fechado pra balanço, o balanço vem. A ferro e fogo, a amargura e desvario, mas vem. E traz uma visão melhor de si mesma e de tudo o que é e representa. Instila-se um saudável egoísmo e muito mais altruísmo, paradoxalmente.

 A mulher que perdeu o seu amor é um paralítico que sai para a luta e nela se cura. Se o amor era a deliciosa cegueira, a perda dele ensina a ver no escuro, a ler nos solavancos do ônibus da vida, a aprender a lição das greves interiores, a entender que é preciso melhorar, mesmo sabendo que nunca mais vai ser igual.

Mas nada disso posso dizer à minha amiga. Ela terá que aprender sozinha.

MÃE - Miguel Falabella

 Tenho recebido mensagens que me encantam.  Os leitores encharcam suas palavras de poesia, de modo que abrir a caixa postal tem sido uma tarefa gratificante, geralmente já de madrugada, quando a cidade está embalada pelos sonhos. Crie um código, fale uma língua e acabam lhe pagando na mesma moeda. Uma irmandade secreta vai se formando nos corações - eu venho aprendendo a lição, nesses meus anos de coluna. Os bandos vão se agrupando, as escolhas vão sendo feitas - a alma escolhe a própria sociedade e depois fecha a porta, já dizia Miss Dickinson, trancada em seu quarto, nos invernos de Amherst.

Tudo isso foi para dizer que eu tenho orgulho de estar reunido a um bando tão talentoso e inspirado! Muito obrigado a todos pelos afetos, palavras, carinhos, amores e esperanças que vocês têm me enviado. Fiquei me banhando no mar de coisa bonita que derramava no meu escritório através das fibras óticas. Muito, muito bom. E quando eu digo bom, não quero dizer elogiosos, mas bem escritos, generosos, poesia do cotidiano, ar renovado, gente que olha para gente – olhares múltiplos sobre um mesmo tema. Os corações urbanos, perdidos no meio do concreto, estabelecendo contato. Gosto muito disso, com certeza.

Estou imprimindo todos e guardando. Desculpem a falta de tempo para responder, mas não acho graça em mandar uma mensagem padrão, porque cada discurso é próprio e tem sua beleza particular. Cada um de nós recebeu sua cota de dons, sejam eles quais forem. Assim sendo, vou tentando driblar o tempo e respondo um aqui, um ali, mas da forma correta.  Indivíduos. Mentes e corações.

O amor, é claro, muda o íntimo de forma irrecuperável. Fiquei numa alegria boa, um sorriso grudado no rosto. Felicidade deveria ser o natural da gente e é bom visitá-la, ainda que de vez em quando. O amor das gentes, que me chegou pela tela do computador, na cadência ritmada da impressora, foi se multiplicando e alterou o meu estado. Por isso, resolvi escrever logo a crônica, que começa agora e que justifica o título:

Tenho sentido saudades de minha mãe, ultimamente. Tenho pensado nela. Tenho nostalgia do perfume daqueles abraços, que foram únicos e inesquecíveis. O braço que pousa sobre o ombro com a graça do amor.

Tenho pensado em mãe, nesses dias que correm. E de saudade em saudade, chego nela, a maior de todas, a bem aventurada Maria, mãe do senhor Jesus - toda a doçura e amor do universo.

Tenho pensado nela, porque um amigo me contou que foi a um suposto encontro religioso e, lá, escutou o seguinte comentário da anfitriã, explicando o seu credo.

- Nossa Senhora não rola!

Enganou-se a mulher. Ela vem rolando pelos céus das nossas consciências desde sempre. Vem rogando por nós e trabalhando pelos nossos corações há tempos imemoriais!

Fiquei triste com o comentário. Fiquei agoniado mesmo, não consegui parar de pensar naquilo, assustado com a violência daquele credo. Estarrecido com o pouco nível de entendimento e o mar de desesperança que há nessas almas. Porque negá-la é negar o amor em toda a sua expressão maior. E eu não procuro outra coisa a não ser entender um pouco o amor dessas gentes.

A história me deixou tão perturbado, que passei o dia falando no assunto, buscando as lembranças dos mantos, dos andores e dos círios nas mãos dos crentes. Revisitei Nova Jerusalém, os olhos intensos de Diva Pacheco, os olhos molhados de Patrícia Pillar com o senhor morto nos braços. Todas as nossas senhoras visitei - as células de amorosa energia que cruzam nossos caminhos, para o alento e o conforto.

Daí, domingo, fui almoçar com Elba Ramalho e ficamos falando dela a tarde toda. Passei o dia com aqueles olhos doces sobre mim, enchendo meu peito de um sentimento sereno, buscando na memória as devoções familiares, as orações cheias de fé, os olhos febris dos êxtases cotidianos.

Nossa Senhora rola muito mais do que podemos supor, muito além desse pequeno conhecimento que amealhamos na passagem. Ela segue nossa trajetória acima das igrejas, templos e seitas.  Voa livre muito acima dos ouros, imagens e poder. Um plano de consciência tão superior que só podemos mesmo respirar fundo e aceitar o fato de que estamos no início da jornada.    

Tudo o que quero é dormir nos braços de Maria. Quero me aninhar no seu peito de amor infinito. Todo o mel do universo, toda a doçura e todo o tempo, que não conseguimos entender, porque primeiro vem o amor, de todas as formas e de qualquer maneira. E, como ainda não conseguimos avançar muito no seu entendimento, explica-se o atraso na viagem.

Quero, enfim, mergulhar nas águas do feminino, nas lágrimas dos teus olhos, na bondade da tua chama. Quero os olhos doces nos meus, maravilhado com a grandeza do perdão, que é outro aprendizado penoso.

Nossa Senhora rola. Roga por nós. Se um filho lhe foi tirado, em troca recebeu todos os filhos da terra. É daquele peito incendiado de amor materno que jorra o sentimento que ainda existe no planeta.

Salve, Rainha!

MANOEL CARLOS - Amizade carioca

Há duas semanas tivemos uma demonstração explícita de bairrismo no encontro habitual do Café Severino, que acabou se transformando numa crônica sobre violência urbana. São Paulo seria mais violenta que o Rio?
Não se chegou a um consenso, mas a discussão, pelo menos, não gerou violência entre nós. Afinal, não estávamos no nosso café para salvar o mundo, o Brasil, uma cidade que fosse, ou mesmo aquele pequeno trecho da Rua Dias Ferreira. Era apenas o encontro habitual entre amigos!
Amigos! Assim, de maneira exclamativa, essa palavra sagrada me traz à memória versos de Camilo Castelo Branco, o escritor português mais conhecido como autor do romance Amor de Perdição. No soneto, Camilo lamenta que, apesar de contar com muitos amigos, foi visitado por apenas um a partir do momento em que ficou cego. E por que essa ausência numa hora tão crucial da sua vida? Os tais amigos justificavam:
“Que vamos nós, diziam, lá fazer? se ele está cego não nos pode ver!”.
Apesar do acento bem-humorado de Camilo, os versos traduzem uma situação dolorosa. Mas voltemos ao Severino. O Fla-Flu (podemos chamar assim?) entre paulistas e cariocas ocupou-se naquela tarde da diferença entre os cidadãos das duas cidades no que toca à manifestação entre as pessoas, que constitui o que chamamos de laços de amizade.
Desta vez foi o Flávio, paulistano que está em visita ao Rio, que proclamou:
— Carioca não é bom amigo, mas apenas boa companhia.
Essa afirmação às vésperas de um bem-vindo verão causou indignação. O Raul, que é um tanto beligerante, reagiu em cima, sem sutileza:
— Para não pular no seu pescoço, vou fingir que não ouvi o que você acaba de dizer.
Flávio não deu trégua:
— Você fala, discorda, sente-se ofendido, enche a boca para dizer que está entre amigos, mas me diga quando é que vocês se visitaram em casa? Quando foi a última vez?
Todos nós trocamos um olhar de incompreensão. Perguntei:
— Não vejo o que tem uma coisa com outra.
— A relação é óbvia — garantiu-me Flávio. — Amigo, amigo verdadeiro, significa também casa, família, presença em festa de aniversário, em enterro, em missa de sétimo dia. Tudo que transpira amor, carinho, solidariedade.
O Raul não se conformava:
— Deixa de ser bobo, rapaz! Nós nos reunimos aqui há muitos anos. Visita doméstica é para as mulheres!
Já viram que o Raul voltava ao seu bairrismo e machismo exibidos na discussão sobre violência de duas semanas atrás. Flávio continuou:
— Amigo de café, de bar, de praia, não é amigo. Pode ser no máximo, repito, uma boa companhia. Em São Paulo as pessoas se visitam, as mulheres dos amigos também se tornam amigas, os filhos de uns e de outros brincam juntos, se relacionam. Tenho certeza de que muitos de vocês nem sequer sabem onde mora cada um desses “grandes” amigos.
— Temos uma visão mais democrática do que seja amizade — garantiu o Raul, meio enfezado.
— Pois a minha visão é radical. Vocês chamam de amigo a quem mal conhecem. Outro dia li uma declaração do escritor inglês E. M. Foster. Ele escreveu: “Nunca tive de escolher entre trair um amigo e trair meu país, mas se isso um dia acontecer, espero ter a coragem de trair meu país!”.
— Deus do céu — exclamei eu —, a declaração é linda e forte. E, literariamente, um luxo.
— Pois é o que eu acho da amizade. Mais importante que a pátria, mais importante que o amor.
E por aí foi a conversa no Café Severino. Depois de nos separarmos na santa paz, fui dirigindo o carro pelo Leblon, familiarizando-me com as obras do metrô. Liguei o rádio e entrou a linda voz de Adriana Calcanhotto cantando a última parte de uma de suas mais inspiradas canções:
“Cariocas nascem bambas
Cariocas nascem craques
Cariocas têm sotaque
Cariocas são alegres
Cariocas são atentos
Cariocas são tão sexy
Cariocas são tão claros
Cariocas não gostam de sinal fechado.”
Pensei: essa gauchinha é danada!
****
Durante o jantar, comentei com a minha mulher:
— O Raul faz aniversário no sábado. O que você acha de a gente ir até lá dar um abraço nele?
— Acho ótimo. Assim fico conhecendo a mulher dele.

DEEPAK CHOPRA - 10 passos para a Plenitude


1. Reconheça que existe um poder superior no universo, 
maior do que a pequena existência humana

Plenitude
Você se torna mais humilde

2. Aproveite as oportunidades de colocar mais amor no mundo

Plenitude
Você se torna mais amável

3. Reserve alguns minutos do dia para refletir 
ou contemplar algo belo

Plenitude
Você se torna mais forte

4. Seja mais receptivo

Plenitude
Você se torna mais gracioso

5. Perdoe alguém que você não perdoaria

Plenitude
Você se torna mais generoso

6. Reconheça seus erros

Plenitude
Você se torna mais responsável

7. Tente enxergar o lado bom dos outros

Plenitude
Você se torna mais positivo

8. Reflita sobre o seu modo de pensar e de agir

Plenitude
Você se torna mais centrado

9. Abençoe o mundo

Plenitude
Você se torna uma bênção

10. Dê o melhor de si em cada relação

Plenitude
Você se torna mais amoroso e próximo de Deus.
Deepak Chopra

FERREIRA GULLAR - Repressão e preconceito



VAMOS FALAR a verdade: a sociedade em que vivemos é pura repressão. Já foi pior, claro, muito pior. Houve tempo em que as mulheres não podiam mostrar nem o pé, quanto mais as coxas ou a barriguinha, como mostram hoje. Naquela época, os homens apenas imaginavam como seria o corpo da mulher com quem iam se casar. Hoje, podem vê-lo inteiro, da barriga às nádegas, com exceção talvez do púbis. Por que a repressão? Por mero preconceito, pelo propósito moralista que tomou conta da sociedade.

Não nascemos nus? Por que então temos de andar cobertos de roupas, que nos escondem o corpo? Disse que hoje as mulheres mostram quase tudo, mas isso na praia, porque, fora de lá, escondem quase tudo. Claro, não como antigamente, quando tinham que se cobrir de saias e mais saias, blusas e corpetes.

E os homens? Esses, coitados, tendo que imitar os hábitos europeus, sufocavam dentro de roupas pesadas, paletós e coletes. O calor insuportável terminou por obrigá-los a aliviar a vestimenta, mas, até hoje, homem que se respeita usa paletó e gravata. Às vezes, alguns tiram a gravata, mas dificilmente tiram o paletó, a camisa, as calças; a cueca, então, nem pensar. Por que não podemos andar nus como os índios? Não nascemos nus? Nos países frios, no inverno, admito, não dá para abandonar as roupas, mas, nos trópicos, as roupas são a expressão dos preconceitos morais e da repressão religiosa. Os únicos que se aventuram a ficar nus em pêlo são os nudistas, mas apenas em certas praias, e não por culpa deles; por culpa, sim, da hipocrisia social que obrigaria a polícia a prendê-los. Por que não se pode entrar nu num banco, já que obscenidades maiores são lá praticadas com permissão da lei?

A verdade é que a repressão está presente em todos os momentos de nossa vida. E de tal modo introjetou-se em nós que, quase automaticamente, vamos impondo-a sobre cada pessoa, mal começa a entender as coisas. Não pode pôr a mão na boca, o dedo no nariz, juntar a chupeta do chão e chupá-la, trepar na cadeira de balanço, aproximar-se do fogão, brincar com faca e tesoura, chupar bola de gude. Não pode nada, nada! Além disso, tem de obedecer aos mais velhos -mesmo os que tenham mais de 30 anos-, aturar as gaiatices dos irmãos, apanhar sem revidar etc. 

Em seguida, vem a fase escolar, que nos obriga a soletrar, decorar, aprender a ler, a escrever, a contar, a dividir, a multiplicar. Ou seja, o sujeitinho que nasce livre é transformado em outra pessoa, metido numa camisa de força, engessado, robotizado. E se se rebela, paga caro; conforme seja, cortam-lhe a mesada; se insiste, termina internado ou preso, vira bandido. E depois reclamam que o cara virou bandido! Se ele gosta de birita, maconha, cocaína, crack ou ecstasy, é problema dele. 

Mas não, pai, mãe, polícia, a sociedade inteira se volta contra ele. E depois ainda se tem o desplante de afirmar que vivemos numa democracia. Como democracia, se o cara tem que se sujeitar às imposições sociais? Por quê? Se o cara cheira, fica doidão e sai assaltando os caretas, é problema dele. O assaltado que se vire. Eu gostaria de saber por que esse preconceito contra quem gosta de drogas. 

Não tem gente que gosta de alpinismo, de asa-delta, de mascar chiclete, comer chocolate, malhar na academia? E então? Cada um nasce com suas manias e preferências, que devem ser respeitadas pelos demais, do contrário não se pode falar que vivemos numa sociedade que respeita os direitos dos cidadãos.

A verdade é que não respeita. Nem o poderia, uma vez que quase nunca as normas sociais coincidem com as necessidades e desejos das pessoas. Por exemplo, se o cara tem preferências sexuais, que escapam ao que se chama de normalidade, está sujeito, conforme o caso, a condenações judiciais ou até linchamento por parte dos fanáticos defensores daquelas normas. Se o sujeito nasceu pedófilo, por que sua preferência sexual é considerada crime? Por que punir alguém que apenas obedece a impulsos inatos que lhe são impostos pela natureza?

Está tudo muito errado. Por razões que ignoro -mas que refuto liminarmente-, os homens escolheram reprimir seus desejos mais genuínos e seu modo espontâneo de vida em função de normas, disciplina, valores que, como observou Nietzsche, só favorecem os fracos e covardes. Só esses necessitam de leis repressoras para compensar a natural superioridade dos fortes.
Agora, se alguém me pergunta se permito que defequem em minha sala e não no vaso do banheiro, respondo que devem fazê-lo no vaso. E que deem a descarga, certo?

ELIANE BRUM - Cadê a pessoa?

Minha amiga B, os russos, a vida pública e um pato de borracha.

“Eu não acho, não acho”. A voz aflita de B no celular me alarma. Há meses eu só uso o aparelho para pegar recados ou ligar para amigos com a mesma operadora. Mas, por esquecimento, ele estava ligado, e o nome dela apareceu na tela, junto com o toque de urgência que me faz detestar celulares. Atendi. E, desta vez, era uma urgência. Passei muito tempo sem ver B, anos, e um dia, neste último fevereiro, nos encontramos em um curso de literatura russa. Isaac Bábel, mais especificamente, nos uniu de novo. “O que você não acha?”, perguntei, com certa precaução na voz. B é talvez mais intensa do que eu e está sempre às voltas com dilemas que não estão nos jornais. “A pessoa”, ela disse. “Eu não acho a pessoa.”
Fui na hora tomada por uma golfada de felicidade. Ela não estava aflita porque perdera o informe do imposto de renda enviado pelo banco, ou seus brincos de pérola, ou um vinil dos Secos & Molhados. Não. B perdera a pessoa.

 “Hum”, fiz eu, em boa performance psicanalítica. B explicou-me então que não sabia quando perdera a pessoa, mas podia localizar o momento exato em que descobrira que a tinha perdido. Ela tomava um chocolate quente e tentava ler as notícias do jornal. O Cachoeira, o Demóstenes, a mulher amantíssima do Cachoeira, a votação das cotas raciais no Supremo, a popularidade da Dilma, o Código Florestal...
 Neste ponto da leitura, B havia corrido ao Twitter para entrar na campanha “Veta Dilma. Veta Tudo”. Engatou alguns diálogos de 140 caracteres com desconhecidos conhecidos, deu alguns cliques e, quando voltou a tomar um gole de chocolate, percebeu que o leite esfriara. Foi nesse instante, me garantiu ela, que descobriu que tinha perdido a pessoa.
B tinha acabado de ler um conto e um romance russos. O famoso “A dama do cachorrinho”, de Tchekhov, e o “Oblómov”, de Ivan Gontcharov. A combinação dos dois fez com que uma lâmpada se acendesse dentro de B – e, de súbito, ela descobriu o que não estava mais lá. A pessoa.
Em “A Dama do Cachorrinho”, Tchekhov nos mostra, através de uma história de amor, que temos duas vidas: uma visível, assumida, às claras; e outra secreta. Uma “evidente”, “cheia de verdades convencionais e de mentiras convencionais”, exatamente igual a de todos; e outra que transcorre nos vãos.
No caso do personagem de Tchekhov, tudo o que era para ele indispensável, relevante e sincero, tudo o que não era engano, se passava no escuro de si. E tudo o que era “sua mentira, sua casca, na qual ele se escondia para encobrir a verdade”, como seu trabalho no banco, as discussões no clube, os compromissos sociais com a esposa, tudo isso era visto e compreendido como se fosse ele – mas era apenas aquilo que o ocultava.
Neste ponto, B começou a chorar. “Não vale a pena ter uma vida em que o mais importante de mim precise respirar nas sombras”, dizia. “Meus eus devem coincidir.” Havia uma nota tão rascante em seu choro, como uma porta enferrujada por anos que começa a se abrir à força.“Você é tudo isso”, eu disse, numa tentativa de consolo. “Inclusive essa máscara social que você usa para que o mundo não te mastigue.”

B apenas chorou mais. “Você não está entendendo. Eu não estou recusando o contraditório de mim. Eu estou recusando essa máscara que me torna alguém plano e palatável. Vale a pena viver escondendo as verdades que mais me importam?” B agora tinha raiva, e apontava essa raiva para mim. Ela continuou: “Se o mundo quiser me mastigar, que mastigue. Mastigará carne, e não um cupcake.” Desta vez, eu apenas disse: “Estou indo praí”.
Encontrei B estatelada no sofá, olhando para o teto. O rosto inchado de choro, mas já com o peito subindo e descendocom regularidade. Eu não havia lido o “Oblómov”, porque nunca encontrei uma tradução para o português que me animasse. Mas sabia que era uma sátira sobre a imobilidade da aristocracia russa em meados do século XIX, diante dos acontecimentos que precederam e anunciaram a revolução de 1917.

Não para B.
Durante mais ou menos 150 páginas de romance, Oblómov não sai do seu sofá. Incapaz de agir e de escolher, o personagem se imobiliza. Como B, no momento em que me conta sobre ele. Oblómov recebe visitas de pessoas que representam diferentes papéis no espectro da sociedade da época. E, quando essas pessoas lhe contam do mundo, lhe contam do mundo por suas ações e pelas ações de outros, Oblómov só faz pensar: “Cadê a pessoa?”.
Pensei que B estava adivinhando sentidos no romance que só faziam sentido em seu estado delirante. Mas, dois dias depois do enigmático telefonema de B, eu me distraía com um livro bastante delicioso chamado “Os possessos – aventuras com os livros russos e seus leitores” (Leya), quando descobri que a autora, Elif Batuman, tinha lido “Oblómov” com um olhar muito semelhante ao de B.

Em seu livro, Batuman, uma americana de origem turca que hoje vive em Istambul, entrelaça os escritores russos e seus protagonistas com os personagens contemporâneos do mundo acadêmico que inventam sentidos para suas vidas a partir da interpretação de suas obras. E o faz com humor, sensibilidade e sarcasmo. Sorri ao pensar que B e eu também cometíamos um pequeno enredo desatinado, às voltas com os russos que nos uniram por acaso depois de tanto tempo.

Batuman afirma, em um dos ensaios do livro: “Vejo agora que o problema da pessoa era a chave da preguiça de Oblómov. Ele é tão avesso a se reduzir a soma das ações que decide sistematicamente não agir– e desse modo revelar mais inteiramente sua verdadeira pessoa, e deleitar-se nela, não adulterado”. Publicado em 1859, “Oblómov” quase coincide, no tempo, com a obra-maravilha do americanoHerman Melville: “Bartleby, o escriturário”, livro que faz parte dos meus amores mais profundos. Como Oblómov, mas diferente dele, Bartleby a tudo apenas dizia: “Prefiro não fazer”.

Assim é descrita uma das visitas recebidas por Oblómov em seu já mítico sofá. “Um antigo colega do serviço público conta a Oblómov da sua recente promoção a chefe de seção, seus novos privilégios e responsabilidades. ‘Com o tempo ele será um figurão e conseguirá um alto posto’, Oblómov pondera. ‘Isso é o que a gente chama de uma carreira! Mas como requer pouco da pessoa: sua mente, seu desejo, suas emoções não são necessárias.’ Esticando os membros, Oblómov sente-se orgulhoso por não ter relatórios a preencher e pelo fato de ali no sofá ‘haver amplo espaço tanto para as suas emoções como para a sua imaginação’. ”

Um século e meio mais tarde, B, no sofá da sala de seu apartamento de classe média paulistana, encarna Oblómov à sua própria maneira: “Cadê a pessoa?”. Ou: “Perdi a pessoa!”. B conta-me que se sente exposta, toda virada pra fora, uma mulher em seu avesso. Nos últimos anos ela se tornara uma personagem das redes sociais. E , desde que nos reencontramos, tenta me convencer a entrar no Facebook. B gosta de viver em rede e está longe de ser uma solitária que achou um jeito de existir na internet. Apenas que ela pensara ter se feito presente ali mais do que em qualquer outra geografia. Mas, de repente, B não mais se reconhece no personagem que criou. “Virei uma prisioneira”, ela diz. “Do quê?”, pergunto eu, a essa altura já bastante perturbada. “Dessa persona pública que me tornei. Todo mundo me conhece, e eu me desconheço.”

B descobrira que era uma pessoa – sem pessoa. “Estou reduzida a ações, a verbos. Virei um noticiário, eu, que nunca acreditei em fatos. Mesmo quando analiso, quando infiro, quando relaciono... são ações. É um eco, só um eco. Não sei mais onde está a voz que o gerou.” Diante dela, eu tentava descobrir a pessoa em mim que poderia resgatar a pessoa de B. Aquilo que me levara a deixar a minha casa no meio de uma manhã de trabalho para ajudá-la a procurar não o passaporte ou o título de eleitor, mas a pessoa que havia se desgarrado dela. Encolhi-me na poltrona, antes de arriscar. “Ninguém te conhece. E você não conhece ninguém”, disse. E minha voz saiu mais aguda do que eu planejara. “São poucos os que podem nos conhecer, o resto é o bando que se alimenta e se protege mutuamente, ferindo quem for preciso para não ter sua posição ameaçada. Você quer ofertar seu corpo verdadeiro para que o canibalizem?”
Eu também estava confusa. “Há uma escuridão, e eu sou essa escuridão”,repetia B. “E lá, em algum ponto desse buraco negro, há uma pessoa que grita, mas ela está presa na nuvem. A conexão se perdeu, eu me perdi.” Percebi que B, minha amiga mais presente, no presente, a mais pública, a mais conectada sentia-se incorpórea. Sentia-se uma pessoa sem pessoa – e também sem corpo.

Quando juntas estudávamos a obra de Isaac Bábel, eu e B havíamos chorado ao tomarmos conhecimento da lista dos pertences encontrados no apartamento do escritor, em Moscou. Bábel fora preso pela polícia de Stálin. Seus manuscritos foram confiscados, seu nome apagado de enciclopédias, dicionários literários e roteiros de cinema, seus óculos quebrados, seu corpo torturado e, até ser executado por um pelotão de fuzilamento, tudo o que ele pedia era: “Deixem-me concluir minha obra”. Os manuscritos de Bábel desapareceram, e ele será sempre um homem inconcluso – como todos nós e, de certo modo, mais que todos. Mas o que fez eu e B nos comovermos para além da brutalidade do regime de Stálin, que executara também as letras de Bábel,foi descobrir no espólio do escritor“um pato de banho”.

Se a pessoa de Bábel estava em algum lugar, pensei, era naquele pato de borracha. Sem saber o que fazer, lançada na claridade pela lucidez excessiva de B, agarrei forte a sua mão. Agarrei para machucar, para que B sentisse as minhas unhas. Eu sabia que, se a “pessoa” de nós estava em algum lugar, era naquele toque que nos impedia de submergir no que o personagem de Tchekhov chamou de “verdades convencionais e mentiras convencionais”.

Não me parece que B seja a única a vagar por aí gritando: “Cadê a pessoa?”. Por isso pedi a ela autorização para contar da sua perda a vocês. B a deu na hora. Mas quando lhe perguntei se poderia colocar seu nome, ela negou com veemência: “Se você revelar meu nome, eu perderei a pessoa para sempre. A pessoa está fora do nome”.

NELSON MOTTA - A política, segundo Tim Maia

Sempre que perguntada, a maioria da população brasileira tem se manifestado contra a liberação do aborto, da maconha e do casamento gay, e a favor da pena de morte e da maioridade penal aos 16 anos. Sem duvida são posições conservadoras, ou “de direita”, como diz o Zé Dirceu, e, no entanto, são esses que elegem os governos e as maiorias parlamentares ditas “de esquerda” hoje no Brasil. Como harmonizar o conservadorismo na vida real com o progressismo na política ?
Talvez Tim Maia tivesse razão quando dizia que, “no Brasil, não só as putas gozam, os cafetões são ciumentos e os traficantes são viciados, os pobres são de direita”. Uma ingratidão com a esquerda que lhes dá o melhor de si e luta pelo seu bem estar. Mas tanto a maioria dos velhos pobres como dos novos, da antiga classe média careta e da nova mais careta ainda, e, claro, as elites, acreditam em Deus, na família e nos valores tradicionais, e rejeitam ideias progressistas. Discutir, apenas discutir as suas crenças, é considerado suicídio eleitoral.
Quando Abraham Lincoln, em 1862, promulgou a Homestead Law, a lei da reforma agrária nos Estados Unidos, assegurando a cada cidadão o direito de requerer uma propriedade de até 4 mil metros quadrados de terra do Estado, pagando 1 dólar e 25 centavos, criou milhões de pequenos proprietários rurais – que deram origem às grandes maiorias conservadoras de hoje, que ganharam sua bolsa-terra e não querem mudar mais nada. Uma ação politicamente progressista gerou milhões de novos reacionários.
Um século e meio depois, no Brasil, a nossa “nova classe média”, que tem casa, carro, crédito, viaja de avião, e é eleitoralmente decisiva, parece ser ainda mais conservadora do que a “velha”. A ascenção social exige segurança e instituições sólidas, quer conservar o que conquistou e reage a mudanças que ameacem suas conquistas. Como Tim Maia, querem sossego. Então por que não param de falar em esquerda e direita como se fosse de futebol e tentam entender o que está acontecendo ?
Como disse o ex - comunista Ferreira Gullar, “ no meu tempo ser de esquerda dava cadeia, hoje dá emprego. “

EPICURO - Nenhum Prazer é um Mal em Si


Nenhum prazer é um mal em si, mas certas coisas capazes de engendrar prazeres trazem consigo maior número de males que de prazeres. Se as coisas que proporcionam prazeres às pessoas dissolutas pudessem livrar-lhe o espírito das angústias que experimentam diante dos fenômenos celestes, da morte e dos sofrimentos, e se, por outro lado, lhes ensinassem o limite dos desejos, nada teríamos de censurar nelas, pois que as cumulariam de prazeres, sem mistura alguma de dor ou pesar, os quais constituem precisamente o mal. 

ALFAZEMA - Miguel Falabella

Chove no sítio. Uma chuva gorda que vai lavando a terra e deixando tudo com um brilho de esmeralda. Uma frase de Dickens chega de mansinho: não devemos ter vergonha de nossas lágrimas, porque elas são como a chuva que lava a poeira dos nossos corações ressecados. Eu adoro Dickens. Era assim que Esther Jablonski dizia, na montagem de “Mephisto”, na adaptação teatral de Ariane Mnouchkine para o livro de Klaus Mann, há já alguns anos. A chuva cai sobre a serra e eu, de nariz colado na vidraça, lembro daquele momento. Wilker dirigiu e éramos um bando no palco. Entrávamos em cena por ordem alfabética e Luís Maçãs colocava-se logo a minha frente, na penumbra da coxia, à espera do terceiro sinal. Nunca fomos muito íntimos, acho mesmo que o meu exagero às vezes o constrangia, mas era um belo ator no palco e eu fiquei triste quando soube que ele finalmente desistiu de esperar pelo terceiro sinal. Isso também já faz algum tempo. 

Estranhamente, porém, hoje eu lembro de sua nuca, parado ali, a minha frente, os colegas sussurrando frases, a música que se fazia ouvir, antes de entrarmos em cena. Percebo os contornos de sua silhueta, por detrás da cortina de água que despenca dos céus. Afasto a imagem com dificuldade e tento focar os projetos de árvores que plantei na frente da casa e que, a despeito dos comentários descrentes, de que não vingariam, resistem às intempéries do tempo com um vigor emocionante.


A macieira, que eu plantei ainda outro dia, já floriu e me ofereceu um fruto, pequeno, sem muito viço ou beleza, mas ainda assim um fruto. Digam o que disserem, é uma maçã. Solitária e de cor indefinida, parece grande demais para o caule recém brotado. Mas é um fruto, resultado do próprio esforço e agradeci do fundo do coração. A figueira, irmã de plantio, recusava-se a brotar e eu, na última vez em que estive lá, dei-lhe dois tapas no caule seco e uns gritos bem dados. A preguiçosa deixou de fazer manha e abaixa as folhas tenras sob a chuva que cai, eu vejo daqui. Brotou finalmente, achou que valia à pena.  O galho de amoreira, fincado na terra, não ouviu nenhum apelo e abriu mão de qualquer possibilidade de verde. Simplesmente, deixou-se morrer. As outras árvores em volta, excitadas com a adolescência de botões e flores, parecem não se incomodar com ela. Sua morte é apenas mais um acontecimento na ciranda dos dias. 

Eu é que fiz um estardalhaço, tentando reanimar a condenada. Tudo em vão. Esqueci daquela máxima que deveria nos nortear a existência: não existem sucessos ou fracassos. O que há são uma fileira de acontecimentos. Depois da chuva, vou arrancá-la da terra e queimá-la na lareira, numa cremação simbólica e rápida. Não há lugar para sentimentalismo na natureza. Tudo é como deveria ser – o pranto fica por conta dos nossos corações apegados e dos céu que, volta e meia, despeja sua mágoa lá de cima.

Mais tarde, quando a lua brincar no meio do breu e a chuva parar, vai ter uma grande quadrilha de tatus no meio do gramado úmido. Eu tenho certeza de que eles se sabem observados, embora eu não faça nenhum ruído, imóvel, na escuridão da casa.  Aos poucos, eles vão chegando, em fila, cruzando a extensão do gramado, indiferentes aos uivos dos cães. Brincam por ali, agradecidos pelas visitas do final de semana (o que determina a prisão noturna dos cachorros) e, depois, com aquele passo miúdo, desaparecem na mata. Vou deixar algumas frutas no meio do gramado, como oferenda. Eles vão entender.

Olhar a chuva que cai é sempre um exercício para a alma. Uma daquelas coisas que sempre vemos nos filmes e que, de vez em quando, é bom fazer. Olhar fixamente para a paisagem, lavada liberta os nós e deixa nossos corações prontos para navegar no mar da lembrança. É uma forma de meditar, eu acho. E cada vez mais eu acredito que meditação é uma coisa importante, fundamental. Gastamos tanto tempo com o corpo - com a aparência que inevitavelmente vai deteriorar-se - e estamos sempre nos esquecendo de exercitar a mente, na subjetividade. Não os exercícios intelectuais de sempre, não o afiar da lâmina, para que a inteligência seja cada vez mais cortante, mas a suavidade da mente que anda livre por aí, aparando as arestas e abrindo outros horizontes, outros estágios de consciência.

Agora mesmo, parado aqui, a respiração embaçando um retângulo da vidraça, eu desfio um rosário de contas de todas as formas e todos os jeitos, as miçangas mais preciosas de minha vida que me fazem sorrir e me emocionam e me conferem a melhor parte de ser humano. 

Olho para o mundo sob a água e percebo outros mundos, além, de tanto que olhei para o mesmo quadro. De repente, a vontade de fazer parte daquilo tudo, enfiar minhas raízes terra adentro e só ficar. Um ponto.

Como tenho convidados em casa, pulo a janela do quarto e fico olhando para o vale, enquanto a água é trazida pelo vento em chicotadas de pingos grossos, milhares deles. Um banho de chuva como há muito tempo eu não tinha. Depois, assim como veio, ela se vai e o céu se rasga ao meio, mostrando o papo amarelo. 

Um cheiro de alfazema entra pelas narinas e há um silêncio de pássaros por toda a parte. De onde virá essa essência, no meio da tarde? Certamente, vem da memória e não da terra encharcada.

Depois é um céu estrelado, um copo de vinho e as janelas abertas durante a madrugada, para que um pensamento voe livre, antes do mergulho do sono: hoje foi um dia de paz.

MARCIA TIBURI - Sobre ser feliz e suas receitas

Você costuma usar receitas para cozinhar? Talvez você já tenha usado e descoberto que não basta seguir o que está escrito. Há algum mistério na execução do que vemos nas revistas e jornais, pois nem todas as pessoas interpretam do mesmo modo as indicações. A compreensão é o que prejudica a execução da tarefa. Os chefs incorporam as receitas ou as criam como um cientista cria seu método de pesquisa ou um artista cria seu estilo.

O que ocorre entre a receita e sua realização é um conflito entre teoria e prática. Decepcionar-se é fácil e perder tempo também quando não conhecemos o método e o significado dos ingredientes. Mas toda frustração, mesmo com um guia para fazer bolo, tem seu ensinamento.

Sobretudo quando se trata de uma receita para ser feliz. Ser feliz seria como realizar a receita sem falhas. Todas as sociedades em todos os tempos apostaram na possibilidade de uma imagem da felicidade com legenda, na qual o que é ser feliz estivesse bem explicadinho. Pingos nos is da felicidade como confeitos em um bolo é tudo o que queríamos da vida. Que a felicidade viesse num pacote e, lá de dentro, não precisássemos nem acionar um botão, nem ligar o fogão.

Ser feliz poderia parecer ou ser fácil. No senso comum, o território das nossas crenças mais imediatas, do que é partilhado por todos em ações e falas, ser feliz é uma promessa sempre revalidada. Guimarães Rosa, o lúcido escritor de Grande Sertão: Veredas, dizia, ao contrário, que “viver é muito perigoso”. 

Aristóteles, que também defendia a felicidade, foi autor da bela frase: “o ser se diz de diversos modos” que podemos interpretar como “a vida pode ser vivida de diversas maneiras.” A felicidade não tem um único rosto.
Immanuel Kant no século das Luzes dizia que só podemos almejar a felicidade, nos tornarmos dignos dela, mas não podemos possuí-la. Com isso ele colocava a felicidade no lugar dos ideais que só podemos imaginar e supor, esperar que nos orientem, mas jamais realizar. Uma receita para ser feliz seria, desta perspectiva, um absurdo.
 
Se a pergunta pela felicidade, com a complexa resposta que ela exige, já não serve por seus tons abstratos, podemos ficar com a questão bem mais prática do bem viver. Da vida nada parece mais fácil do que simplesmente vivê-la: contemplar o que há, amar quem vive perto de nós, alegrar-se com as conquistas, aceitar as frustrações inevitáveis, lutar pelo próprio desejo, transformar o que nos desagrada buscando o melhor modo possível de pensar e agir. O modo mais ético e mais justo de se viver é o que todos, em princípio, queremos. Um desejo básico que nos une e que, ao ser construído, carrega a promessa paradisíaca da felicidade comum, do bem estar geral. Se procurarmos conselhos e fórmulas para o bem viver não será difícil fazer uma lista de tons e cores que podemos imprimir aos nossos gestos e atos. E ainda que o receituário seja impreciso, é válido.

O meio tom entre inteligência e emoção, entre razão e sensibilidade é a mais inexata das promessas e a mais complexa das conquistas que um ser humano pode almejar para si mesmo. Vale também como uma receita, a receita de um manjar desconhecido. Ela só existe porque podemos fazer do melhor modo possível, usando-a como inspiração. Cada um só precisa saber que cada manjar é diferente do outro. Cada um tem que aprender a realizar, com método próprio, sua própria alquimia. Somos seres gregários, sua receita servirá de inspiração a outros. 

DANUZA LEÃO - Mulher tem memória

 Você é medrosa? E quem não é? E de que você tem medo? 
Bem, existem os medos básicos: 
de barata, de rato, de cobra, da escuridão.
Mas existem outros, nos quais quase não se pensa, mas dos quais se tem pânico -e esses são os piores.
São os medos subjetivos, quando se faz algo que não se deveria, de ser punida; por um pai imaginário, por Deus, por um alguém que não faz outra coisa a não ser olhar atentamente para tudo que você faz, para premiar ou castigar. De preferência, castigar.
Existem outros medos nos quais não se pensa mas que são permanentes: medo de ficar doente, de ficar velha e sozinha, de morrer. Quando se pensa em todos esses medos, chega a surpreender como podemos, às vezes, passar horas falando bobagem e dando risada.
Quando criança, você teve medo de seu pai? Se teve, vai passar a vida inteira tendo medo do marido e do patrão, símbolos da autoridade masculina.
E o medo da maldade? E do olho grande?
Medo tem a ver com culpa, e quem é culpada vive sempre com medo do castigo.
Existem as pessoas que não são culpadas de nada, e as que são culpadas de tudo. As primeiras passam pela vida felizes, felizes; já as outras acham que, se no lugar de terem comprado aquele batom tivessem mandado o dinheiro para os necessitados da África, teriam pelo menos feito sua parte. Como é difícil viver.
Mas é preciso não confundir o medo com a covardia, e às vezes -aliás, o tempo todo- é preciso se posicionar, sem medo. Se posicionar, no caso, é apenas organizar seus pensamentos e ter suas opiniões, o que, se para alguns é simples, para outros é quase impossível.
Por que será? Serão essas pessoas tão reprimidas que isso as impede não apenas de dar sua opinião mas até de terem uma? Ou será medo?
Existem alguns medos bem concretos: da reação daquele homem quando você anuncia que está indo embora. Com todas as conquistas que as mulheres conseguiram, nessa hora o medo é físico -afinal, os homens costumam ser agressivos, mais fortes que nós (fisicamente), e às vezes, quando feridos, passam dos limites. Outro medo é quando, já com o novo, você cruza pela primeira vez com o que foi abandonado.
Mas os homens também têm seus medos, sobretudo quando são eles que abandonam. As mulheres -mais emocionais e menos civilizadas- são capazes de tudo, quando deixadas; mulher não esquece -nem perdoa.
Aconteceu com um casal de velhinhos -bem velhinhos mesmo- que estava visitando a filha, num domingo. Falavam sobre o passado, e num determinado momento ela perguntou -afinal, já havia tanto tempo- se ele havia tido um caso com uma determinada mulher, décadas atrás, o que na época ele negou com firmeza.
A conversa estava tão amena, a paz tão grande, com a família toda reunida, que ele disse que sim, era verdade. Ela avançou no pescoço dele e foi preciso a filha e o genro para separá-los. Apesar de já terem passado dos 80, ela passou meses sem falar com ele.
E é bom que os homens também tenham medo, pois uma mulher com raiva é muito mais perigosa do que um homem com um revólver na mão.

VÍDEO: CORREDOR SE NEGA A VENCER CORRIDA EM QUE O LÍDER ERRA A CHEGADA.

Aconteceu em  2012, 
mas ver uma cena como essa 
nos enche de otimismo e  esperança 
em qualquer momento que se assista. 
Faz bem à nossa alma ver coisas assim.

O atleta queniano, Abel Mutai, medalha de ouro nos 3000m com obstáculos em Londres 2012, estava prestes a ganhar a corrida quando, ao entrar em uma pista onde acreditava que o final tinha chegado, relaxou o ritmo e começou a cumprimentar o público, acreditando que tinha vencido a prova. O segundo colocado, logo atrás, Ivan Fernandez Anaya, vendo que ele estava errado e parava a 10 metros antes da bandeira da chegada, não quis aproveitar a oportunidade para acelerar e vencer.
Ele permaneceu às suas costas, e gesticulando para que o queniano compreendesse a situação e quase empurrando-o levou-o até o fim, deixando-o vencer a prova como iria acontecer se ele não tivesse se engado sobre o percurso.

Ivan Fernandez Anaya, um jovem corredor de 24 anos que é considerado um atleta de muito futuro (campeão da Espanha nos 5.000 metros, na categoria há dois anos) ao terminar a prova, disse: "Ainda que tivesse me dito que ganharia uma vaga na Seleção espanhola para disputar o Campeonato Europeu, eu não teria me aproveitado. Acho que é melhor o que eu fiz do que se tivesse vencido nessas circunstâncias. E isso é muito importante, porque hoje, como estão as coisas em toda sociedade, no futebol, no sociedade, na política, onde parece que vale tudo, um gesto de honestidade vai muito bem. "

MEDITAÇÃO FREQUENTE FAZ O CÉREBRO FUNCIONAR MELHOR E SE DESGASTAR MENOS

Estudo mostra que adeptos da prática usam menos áreas do cérebro
para desempenhar mesmas tarefas que pessoas que não meditam.
A Técnica “economiza” neurônios porque mantém o foco em exercícios de atenção.

A pesquisadora Elisa Kozasa, do Instituto do Cérebro do Hospital Israelita Albert Einstein, é bióloga com pós-doutorado em Psicobiologia pela Unifesp e descobriu que a prática regular de meditação “economiza” neurônios porque mantém o foco em exercícios de atenção. Praticante de aikido há 32 anos, ela acredita que o grande trunfo seja relaxar em momentos de estresse.

De acordo com sua pesquisa, pessoas que meditam usam menos neurônios para executar as mesmas tarefas. É como se estas pessoas “economizassem” o cérebro?
Sim, entre aspas seria isso sim. Essas pessoas recrutam menos áreas cerebrais para executar as mesmas tarefas de atenção. É como se as pessoas que meditassem regularmente tivessem um cérebro mais eficiente para desempenhar estas tarefas.

Como isso acontece?
As práticas de meditação geralmente desenvolvem treinamento de foco de atenção, uma atenção sustentada. A gente interpreta que pessoas que praticam meditação com regularidade têm essa habilidade mais desenvolvida, fica mais fácil manter a atenção sustentada durante a tarefa de atenção.
O estudo usou ressonância magnética funcional por imagem para avaliar diferenças no cérebro de 20 meditadores e 19 não meditadores combinados por idade, sexo e nível de escolaridade. Os não meditadores mostraram maior atividade cerebral (giro frontal medial direito, giro médio temporal, giros pré e pós central, núcleo lentiforme) durante a execução das tarefas.

Qualquer pessoa consegue chegar a esse nível?
Nossa amostra era de gente como a gente. Havia duas pessoas com vida monástica, mas os meditadores da amostra tinham no mínimo três anos de prática constante: por 30 minutos, três vezes por semana, numa média de oito anos de tempo de meditação. E essa amostra foi suficiente para ver essa diferença entre meditadores e não meditadores. Esse artigo ficou como o mais baixado da revista “Neuroimage” por quase cinco meses. Ficamos bastante felizes e um tanto surpresos com o fato de um artigo sobre meditação despertar tanto interesse.

O estudo usou alguma técnica específica de meditação?
Fizemos o teste com pessoas de diferentes técnicas que meditavam regularmente. Acreditamos que exista um mecanismo similar entre as práticas — é claro que há diferenças entre elas também, mas mais específicas — que, em termos de atenção, funcionam de maneira similar. No estudo havia pessoas de meditação zen, de diferentes tradições budistas, praticantes de ioga que faziam práticas meditativas também, de mindfulness, que é uma técnica de atenção plena que está bastante na moda. No outro grupo havia pessoas que nunca tiveram regularidade na prática de meditação.

Em que áreas os resultados do estudo podem ser aplicados?
O teste que usamos envolve atenção e controle de impulsos (Stroop Word-Colour Task — SWCT), em que aparece uma palavra verde pintada de vermelho, e a pessoa tem que escolher a cor vermelha, por exemplo. É um teste que exige manter atenção e inibir a tendência de ler a palavra em vez de escolher a cor. Observamos um potencial de atenção sustentada em quem pratica meditação. Hoje se fala muito em déficit de atenção, imaginamos que a prática de meditação pode ajudar as pessoas em vários setores da vida profissional, pode ser útil para atletas. O controle de impulsos é importante para regulação emocional, na área de saúde mental as práticas meditativas são bastante estudadas e podem ser úteis.

As áreas do cérebro relacionadas no estudo têm a ver com atenção, controle e comportamento. É possível que a meditação seja uma solução no tratamento de ansiedade ou vício em drogas, problemas ligados a esse controle do cérebro?
Essa experiência mostra sim, que se pode regular impulsos porque o SWCT é um teste de atenção e controle de impulsos. Já existe atualmente um protocolo de prevenção a recaídas para usuários de drogas que envolve meditação junto com terapias cognitivas.

Os resultados desse trabalho têm muito a ver com uma forma de tratamento para a vida que estamos levando atualmente, com tantos estímulos...
O grande problema é que somos bombardeados constantemente por estímulos, e isso faz com que tenhamos dificuldade de focar numa tarefa, iniciá-la e cumpri-la, tendo em vista a quantidade de estimulações que a gente recebe durante o dia. Esse treinamento de atenção da meditação não é aquela atenção com tensão física, é uma atenção relaxada. Aliás, um dos pontos importantes da meditação é a prática informal. A prática formal é quando a pessoa senta para praticar a meditação, em uma determinada postura, usando uma determinada técnica. Mas o mais importante é que a pessoa consiga resgatar esse momento durante o dia, no que faz, no que fala, na maneira de se alimentar, tudo no sentido de procurar ter uma vida melhor, isso é o mais importante.

A senhora acha que a chamada Geração Y, criada a partir de tantos estímulos, lida com isso de uma forma diferente?
Eu não trabalho com essa área de desenvolvimento, mas imagino — mais opinião que algo que eu tenha estudado, porque não é a minha área — que possam existir diferenças entre pessoas que já cresceram num ambiente de alto nível de estimulação, e pessoas que tiveram outro tipo de vida, mas seria necessário fazer um estudo longitudinal, acompanhando desde a infância o que pode estar acontecendo com o cérebro dessas pessoas para comprovar essa tese.

Como surgiu seu interesse pela meditação?
Eu tive o primeiro contato quando comecei a praticar aikido, a arte marcial japonesa com ênfase nos estados mais meditativos. No aikido o praticante se utiliza desses estados para realizar movimentos. Comecei a praticar com 12 anos e hoje, com 44 anos, sou instrutora, ou seja, tenho mais tempo treinando aikido que não treinando. Sem dúvida, observei isso em mim e em grandes mestres de artes marciais que têm essa habilidade meditativa de conseguir relaxar sob ataque, sob estresse. Isso diferencia um bom artista marcial de um mediano.

A senhora acha que no futuro a meditação estará mais presente no nosso cotidiano?
Já está. Em São Paulo, até as unidades públicas de saúde oferecem práticas de ioga, meditação e tai chi chuan, por exemplo. Hoje não há um clube ou academia que não ofereça aula de ioga, que também envolve práticas meditativas. Isso já faz parte do cotidiano de boa parte da população, e o interesse é cada vez maior, infelizmente, por questões de estresse tão comuns em centros urbanos. Um estudo recente apontou que 30% das pessoas da megalópole de São Paulo atingiram critérios de diagnóstico de transtorno mental.
Viviane Nogueira – O Globo

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