O NOVO GERENTE DO HOTEL – Edmir Silveira

Depois de anos de sacrifícios, finalmente a grande chance estava bem a sua frente. Falava 5 idiomas, havia estagiado e trabalhado em praticamente todas as funções nas melhores redes de hotéis do país. Estava pronto. Havia quatro anos que, mesmo sendo o sub, era ele quem realmente conduzia aquele hotel. Conhecia cada apto, cada canto, cada funcionário. E todos gostavam dele. Tinha foco e ambição, mas era profundamente humano. Um bom colega e amigo. Todos achavam que seria um ótimo gerente para todos. Os funcionários estavam satisfeitos com a novidade. Confiavam nele.

Durante dias, toda vez que cruzava com algum funcionário mais expansivo, a pergunta era sempre a mesma:
  • E aí patrão...já virou presidente?
  • Não...vamos aguardar...
  • Tô esperando pra comemorar.
  • Obrigado... dizia com a ansiedade redobrada.
E realmente, estava demorando mais do que ele havia calculado. Já havia sido convidado, aceitara, haviam fechado as condições de remuneração e a única coisa que faltava era o Sr. Amaury se aposentar para que tudo se realizasse.

Nesse dia, a ansiedade ficou quase insuportável quando viu, ao chegar ao hotel, o Sr. Amaury se despedindo dos funcionários.
  • É hoje! Pensou.
Ao se aproximar dele o Sr. Amary, sempre tão simpático e um dos grandes responsáveis pela indicação dele para o cargo, limitou-se a dar-lhe um aperto de mão muito furreca e sequer olhou-lhe nos olhos. Achou estranho.

Foi direto para sua sala pensando que alguma coisa estava estranha. A manhã acabou, chegou a hora do almoço e ele não fora chamado por ninguém. Nem as reclamações diárias aconteciam. Porque não o chamavam logo para que ele pudesse assumir. Ligou para a mulher para aliviar um pouco a tensão. Quando ela atendeu, ele também a achou estranha.
  • Alô, oi amor?
  • Oi...já leu o jornal né?
  • Que jornal...li o quê?
  • Calma amor, não é tão ruim assim...mantém a calma pra não perder a cabeça.
  • Fala logo mulher...não li o quê?
  • Sabe aquele político condenado pelo mensalão...que vai cumprir pena em regime semiaberto mas é obrigado a trabalhar para poder sair?
  • Sim...o que eu tenho a ver com isso?
  • Pois é, ele vai pagar a pena sendo o novo gerente do SEU hotel...e ganhando o dobro do que te ofereceram.
Ele desligou o telefone.

*Qualquer semelhança é de propósito.

CULT MUSIC - FLUMINENSE FM GRAV. ORIGINAL - Nascente - Conto de Fadas - 1984


Fotos da rádio nos anos 80
(expandir player p/ imagens)


Nascente:
Edmir Silveira - Guillermo Diaz (Mito) - Pedro Noleto - 
Bruno Wanderley - Guilherme Vianna - 
Vânia Wanderley


TEMPOS DE RADICAIS - Pedro Dória

O diálogo político se tornou impossível.
Ninguém mais busca o meio termo. 
E parte da culpa é da internet.

O incômodo é visível. Em sua coluna na Folha de S. Paulo, o veterano jornalista Luiz Caversan anunciou que pretendia tirar férias de Facebook. O radicalismo das pessoas na rede está intolerável. Em um artigo recente, Frei Betto foi outro a se queixar dos radicais à esquerda e à direita. Cá no GLOBO, ontem, Ricardo Noblat desdenhou do país onde, on-line, “se torce apenas pelo cordão vermelho ou pelo cordão azul”. Míriam Leitão foi uma das primeiras, uns domingos atrás.

Os radicais, em sua opinião, pioram a qualidade do debate. A polarização política é um fenômeno muito mais nocivo do que parece. Não é um fenômeno apenas brasileiro. E, não à toa, coincide com a popularização da internet. A tendência, aliás, é de que piore.

Em Israel, a esquerda foi sufocada e o governo de direita se radicalizou como nunca na história do país. Na Espanha, da virada do século para cá, o espaço de diálogo entre eleitores do socialista PSOE e do PP praticamente se extinguiu. Idem nos EUA, onde republicanos e democratas não se entendem desde o dolorido embate eleitoral que culminou com a questionável eleição de George W. Bush, em 2000. Este período, entre finais dos anos 1990 e o início da década seguinte é marcado pelo surgimento dos blogs e, com eles, as caixas de comentários.

A partir daí, o crescimento das redes sociais. Não há coincidência.

Polarização não ocorre apenas quando o centro desaparece. A coisa é mais complexa. É natural que todos tenhamos paixões por certos temas. Pode ser o casamento gay para um, educação para outro, política econômica na cabeça do terceiro. Duas ou três questões costumam nos ser caras. Para as outras, na maioria das vezes somos ambivalentes, no máximo simpáticos a uma opção.

Quando o ambiente se polariza, porém, as pessoas se alinham a um ou outro grupo ideológico. Sentem-se na obrigação de defender até aquilo que não lhes é caro. O resultado é que as possibilidades de diálogo desaparecem. Afinal, quando tudo é muito importante, ninguém cede. Acordos tornam-se inviáveis.

Jogue “polarização política” no Google, porém, e poucos artigos científicos aparecerão. O tema mais definidor da política brasileira no momento é pouco estudado. Talvez porque, polarizadas, as pessoas que se interessam por política andam mais preocupadas em derrotar o outro lado do que dar um passo atrás e perceber que há algo de errado.
Nos EUA, onde o número de cientistas é inacreditável e tudo se estuda, já há pistas fartas. A primeira é que, para a maioria das pessoas, nada mudou. A população continua onde sempre esteve, não se radicalizou. Quem se radicalizou foi o pequeno grupo de eleitores que mais acompanha política. Como é para este grupo que políticos costuram seus discursos, também eles tornam-se mais radicais. Um estudo do professor Markus Prior, da Universidade de Princeton, avaliou se houve mudança na imprensa nas últimas décadas.

Não a descobriu na imprensa tradicional: a cobertura dos fatos, nos EUA, se dá por um ponto de vista de centro. Nas páginas editoriais há uma tendência ligeira à esquerda, mas pouca. Não é assim, lá, para a imprensa que surgiu mais recentemente: canais a cabo de notícias, por exemplo, além de sites e blogs. Aí é tudo extremo, à direita ou à esquerda.

A internet cria o que o ativista Eli Pariser, autor do livro The Filter Bubble, chama de bolha. Lá, as pessoas procuram apenas aqueles sites onde lerão o que reitera suas crenças. Quando comentam em comunidades nas quais todos concordam, só há uma maneira de se destacar. Ou seja, sendo mais puro ideologicamente.

Na opinião de Pariser, aquela que já é uma tendência humana é amplificada pela maneira como a internet contemporânea funciona. Facebook e Google aprendem com aquilo que curtimos, clicamos, lemos, comentamos. Como querem nos ajudar a encontrar o que nos interessa, mostram mais do mesmo. E mais do mesmo é a reiteração da bolha. Lemos tanta gente com quem concordamos que o diálogo com os outros vai ficando mais difícil.

É uma febre. Depende de cada um escolher alimentá-la ou buscar o diálogo com quem discorda.

A VERDADEIRA VIDA - Arnaldo Jabor

A primeira vez que eu vi Rimbaud, senti que havia uma outra vida para além das paredes cinzentas de meu quarto.

Eu com 17 anos de idade, sem amor nem sexo, não li Rimbaud apenas; eu o vi, diante de mim, “como um gracioso filho de Pan — em torno a sua fronte coroada de flores, seus olhos, duas órbitas preciosas, giravam. Seu peito parecia uma cítara e acordes ressoavam em seus braços louros e seu coração batia em seu ventre onde dormia um sexo duplo”. Nesse dia, vi que ele morava em outra vida, “la vraie vie, (a verdadeira vida), como ele a chamava.

Não havia internet naquele tempo e a literatura era tudo; a poesia era a promessa de outra realidade, impalpável. Li depois, em Artaud, uma profunda definição de arte: “A arte não é a imitação da vida; a vida é que é a imitação de alguma coisa transcendental com que a arte nos põe em contato”. Se é que arte tem definição, entendi que aquele era o campo de Rimbaud, quando li seus poemas com o coração disparado. “Eu a reencontrei. O quê? A eternidade. É o mar alado partindo com o sol”. Minha vida mudou. Rimbaud abria a consciência como uma droga. Anos mais tarde tomei LSD e vi que a experiência de Rimbaud era lisérgica. Jim Morrison, Kurt Cobain eram Rimbaud.

Eu vivia em vertigem. Não sabia o que queria, mas não queria a vida de meus pais, escurecida por uma infelicidade que não percebiam. Minhas conversas com meu amigo “Broca” beiravam a loucura. Delirávamos à beira mar, nos paredões da Urca, nas noites daquele tempo. Onde andará Broca, o gênio que gritava para as pedras, onde fervilhavam caranguejos e guaiamuns:“Oisive jeunesse à tout asservie, par delicatesse j’ai perdu ma vie!” E eu contracantava: “Temos de ser absolutamente modernos!!” E os guaiamuns agitavam as antenas, espantados.

“Temos de conseguir o desregramento de todos os sentidos”, nos ensinava Rimbaud, com sua cara de linda bicha louca, no quadro de Fantin-Latour. Partimos então para os puteiros — nossa ideia de desregrar sentidos. Não havia drogas ainda, nem uma reles maconha ao alcance de burguesinhos como nós. Enchíamos a cara de Cuba Libre, (Coca-Cola com rum) e íamos para os bordéis, que pareciam salas de visitas de classe média, com “meninas” sentadas em volta, discretas, num silencio de velório, e indo conosco para a cama emburradas como para um sacrifício — homenagem à virtude perdida. As putas tinham uma aura de transgressão, de loucura de que nos orgulhávamos, os dois corajosos lutadores contra a caretice. Naquele tempo a verdade era inatingível.

Hoje, a “verdade” se proclama visível. O Google tem todos os sentimentos catalogados, mas falta-nos sentir o gosto de alguma coisa vaga que nunca se atinge. Qual seria a emoção de um “gamer” ao ler:“Enquanto os fundos públicos são desperdiçados em caridade, um sino de fogo róseo soa entre as nuvens”. O jovem teria um tédio infinito. Ninguém quer atingir mais nada. Está tudo aí, classificado.
A realidade era nosso delírio. Olhávamos com desprezo os comuns ou então elevávamos os mais vulgares vagabundos à condição de seres tocados por uma aura imerecida. Até que um dia o Broca se apaixonou. Se enamorou de uma colegial sóbria e virgem, claro. Todas eram virgens. Começou a rarear seu amor ao “desregramento”; ia de mãos dadas ao cinema e já olhava com uma ponta de desdém a minha “maldição”. Eu o desprezei naquele namoro, muito mais para Lamartine que para nosso deus maldito. Mas aquele amor me tocou. “Minha vida era um festim aberto a todos os corações”, murmurava.

Um dia, chegou a minha vez. Não sei como fui capturado pelas duas Terezinhas. Uma era magrela e feiosa e a outra era gorda. Sei que moravam juntas e tinham amantes, mas não eram prostitutas, não. Preferi a Terezinha gorda, rosto bonito, muito gorda, mas dividida por uma cintura finíssima e formas sólidas. Deitado em seu corpo nu, parecia estar em um colchão macio, farto, onde me aconchegava como num grande berço protetor. Eu sentia que ela estava encantada com aquele garoto extasiado. Ela tinha algo de vaca e de mãe.

Só pensava nela. Saía do colégio de uniforme, corria para seu apartamento conjugado no Lido e me jogava em seus braços, com um fervor que aos poucos foi entediando Terezinha gorda — percebi eu, algumas vezes, durante meus delírios poéticos: “Por vezes vejo no céu praias infinitas cobertas por brancas nações em júbilo”, frases do “além”, segundo ela, que era espírita, médium e também funcionária publica que — dizia triste — tinha de contar com a ajuda de um senhor que era seu chefe de seção. Mesmo assim, eu via em Terezinha uma Vênus primitiva, com ancas fecundas, os seios escapando do sutiã negro, com uma luz de grandeza inatingível e misteriosa. No entanto, ela estava diferente, eu via, e já forjava uma admiração por meu “gênio” traída por um desinteresse crescente.

Até que um dia ela disse que não dava mais para eu vir ali, que seu protetor estava voltando de viagem e que eu tinha de arranjar uma moça da minha idade. Ficou com o rosto impassível mesmo quando comecei a chorar, sentindo-me um poeta abandonado, pois, “quando se tem fome e sede, alguém nos expulsa!”. Foi quando a outra Terezinha feia gritou da janela: “Ih, o Peçanha está chegando” — e saiu correndo porta afora. A gorda amada me empurrou para o hall, coberto de lágrimas, no momento exato em que um sujeito forte e careca cruzou por mim na escada e meteu o pé na porta, dando para ouvir seu berro de “quem é esse merdinha aí?”. Eu descia correndo, mas voltei, ao ouvir uns gritos lá dentro, olhei pelo olho mágico e vi, como numa luneta convexa, o sujeito arrancando a roupa de minha gorda metafísica e cobrindo-a de bofetadas, que ela recebia com as faces coradas de alegria e um fio de sangue escorrendo-lhe da boca, enquanto lambia o peito cabeludo do sujeito, também banhada em lágrimas. Ali, no olho mágico eu vi então a “la vraie vie” (a verdadeira vida) que Rimbaud deve ter visto quando Verlaine tentou matá-lo com dois tiros.
Quando saí, a rua estava diferente.

EMOÇÃO X ADRENALINA - Martha Medeiros

Ainda não estive com o livro nas mãos, mas já ouvi algo a respeito e me parece que deve ser uma leitura não só interessante como necessária. Chama-se O culto da emoção, do filósofo francês Michel Lacroix, em que ele defende que a busca irrefreável por emoções fortes, tendência dos dias de hoje, é, no fundo, um sintoma da nossa insensibilidade. "É de lirismo verdadeiro que precisamos, não de adrenalina", diz o autor. Ou seja, andamos muito trepidantes e frenéticos, mas pouco contemplativos.

Generalizando, dá pra dizer que todos nós estamos meio robotizados e só conseguimos nos emocionar se formos estimulados pela velocidade e pelo risco: só se houver perigo, só se for radical, só se for inédito, só se causar impacto. Não que isso deva ser contra-indicado. Creio que uma dose de enfrentamento com o desconhecido faz bem para qualquer pessoa. Testar os próprios limites pode ser não só prazeroso como educativo, desde que você se responsabilize pelo que faz e não arraste forçosamente aqueles que nada têm a ver com suas ambições aventureiras. Vá você e que Deus lhe acompanhe.

O que não dá é para se viciar em novidades e perder a capacidade de comover-se com o banal, pela simples razão que emoção nenhuma é banal se for autêntica. Só as emoções obrigatórias é que são ordinárias. Nascimentos, casamentos e mortes emocionam apenas os que estão realmente envolvidos, senão é teatro - aquele teatrinho básico que se pratica em sociedade.

Lembro como se fosse ontem, mas aconteceu há exatos vinte anos. Eu estava sozinha - não havia um único rosto conhecido a menos de um oceano de distância - sentada na beira de um lago. Fiquei um tempão olhando pra água, num recanto especialmente bonito. Foi então que me bateu uma felicidade sem razão e sem tamanho. Deve ser o que chamam de plenitude. Não havia acontecido nada, eu apenas havia atingido uma conexão absoluta comigo mesma. Não há como contar isso sem ser piegas. Aliás, não há como contar, ponto. Não foi algo pensado, teorizado, arquitetado: foi apenas um sentimento, essa coisa tão rara.

De lá pra cá, nem hino nacional, nem gol, nem parabéns a você me tocam de fato. Isso são alegrias encomendadas e, mesmo quando bem-vindas, ainda assim são apenas alegrias, que é diferente de comoção. O que me cala profundamente é perceber uma verdade que escapou dos lábios de alguém, um gesto que era pra ser invisível mas eu vi, um olhar que disse tudo, uma demonstração sincera de amizade, um cenário esplendoroso, um silêncio que se basta. E também sensações íntimas e indivisíveis: você conquistou, você conseguiu, você superou. Quem, além de você, vai alcançar a dimensão das suas pequenas vitórias particulares?

A GENTILEZA NOSSA DE CADA DIA - Raquel Carvalho

“Porque você é linda, porque você é meiga
e sobretudo porque você é uma menina com uma flor”
(Vinícius de Morais em “Para uma menina com uma flor”)

Belo Horizonte tornou-se uma cidade turística por muitas coisas. Pelas montanhas ao redor, pelo Circuito Cultural da Praça da Liberdade, pela proximidade com Inhotim, pelos botecos, pelo Mercado Central, pelo pão de queijo e… pelas mulheres bonitas. Muitas. Centenas. Simpáticas, bonitas e boa parte delas… solteiras. Como me disse um paulista recentemente: Belo Horizonte está para os homens assim como a Avenida Paulista está para as mulheres. Ok, entendi.

Há quem diga que, por isso, os esforços masculinos andam tão reduzidos nessas paragens. Fico pensando se essa é mais uma das generalizações burras que mulheres adoramos fazer para sobrevivência da espécie. Ou se realmente é algo localizado geograficamente na capital mineira. Ou se não estamos diante de uma característica hoje em dia presente em determinadas gerações (por exemplo, 25 a 55 anos). Ou, pior, se esse movimento já não superou idade e território, não importando onde você mora ou o ano em que nasceu.
Olhando para o lado, percebo a falta de delicadeza. Maridos não compram nem um cartão na papelaria da esquina no aniversário, natal ou comemoração de 10 anos de união. Noivos passam dias sem um telefonema para dar notícia ou dizer carinhosamente “pensei em você agora”. Namorados não levam nem uma flor roubada do jardim do prédio, depois de anos praticamente morando e dormindo na casa dela. Solteiros não ligam para agradecer o jantar da noite anterior, nem na semana seguinte, apavorados com o risco da mulher começar a ouvir sinos da igreja. A falta de delicadeza chegou a níveis intoleráveis, para meus femininos padrões.

Não venham me dizer que os homens estão apavorados ou são todos uns cafajestes egoístas, nem que as mulheres são umas mercenárias interesseiras. Respostinha fácil demais e, como a maioria dessa categoria, errada em boa parte dos casos. Os exemplos que dei acima, só para constar, são de mulheres que se lixam para grana ou para o valor do presente. Nenhuma delas espera ser sustentada pelo companheiro, nem coberta de joias a cada aniversário. Acham justo dividir a conta, querem caminhar em cima das próprias pernas e são boas em apoiar quem está ao lado. Fazem um jantarzinho gostoso de vez em quando, baixam as músicas preferidas dele para colocar no som do carro e evitam reclamar demais (desafio e tanto). Isso não significa que não esperam, de vez em quando, ter alguém em que se apoiar, nem que dispensam um mínimo de carinho e consideração. Até porque são mulheres carinhosas que sabem direitinho trocar afeto.

Vamos concretizar ideias vagas como “apoio”, “carinho” e “afeto”. Pedir a sogra ou a vizinha para ficar com os filhos e surpreender sua mulher, no aniversário dela ou de casamento de vocês, com uma saída especial que termine de um jeito especial não é tão difícil assim. Mandar um torpedo para sua noiva dizendo que “é por ‘isso’ (adeque o ‘isso’ a ela) que quero passar o resto da vida ao seu lado” é medida de baixo custo e eficiente. Levar uma flor ou um bombom no meio do expediente da sua namorada, uma vez no ano, é demonstração de afeto inesquecível. E ligar para agradecer o jantar, dois dias depois, é o mínimo que a educação admite, mesmo que tenha descoberto da pior forma um baita chulé na noite que passaram juntos.

Você pode até morar numa cidade que tenha dez mulheres para um homem, com metade delas belíssimas, disponíveis para qualquer tipo de mau tratamento. Mas é melhor não matar a galinha dos ovos de ouro. Baixa autoestima tem cura. Um comportamento generalizado de grosseria e/ou descaso masculino pode fazer surgir um movimento de intolerância à falta de gentileza. Tem umas mulheres bem estranhas por aí que, depois de várias tentativas com conversas, incentivos e dicas de mudanças possíveis, estão desistindo de relações que não lhes fazem felizes. Sem estandarlhaço, com um bocado de sofrimento e frustrações, estão colocando pontos finais, recomeçando, se descobrindo, buscando e encontrando novos amores. O requisito fundamental das novas paixões? Delicadeza. Elas querem, acima de tudo, homens generosos no amor cotidiano.

Daqui, fico pensando que um mínimo de cuidado dispensaria um bocado de sofrimento. A vida seria menos turbulenta. Talvez até melhor pra todo mundo.
Então tenho uma novidade para os rapazes: essa pode ser uma boa hora para trocar o dinheiro do cafezinho por uma flor. Iniciativa, queridos. A sensação de que “o serviço está feito e o resultado garantido” é falsa, acreditem. Minha sugestão é: levantem dessas cadeiras, desliguem o computador e marchem em direção ao Don Juan que há dentro de vocês. Para os da capital mineira, toda sexta-feira tem Feira de Flores em frente o Colégio Arnaldo. Abaixo tem uma citação linda disponível. No Google, outras milhares. Satisfação garantida ou sua reclamação nos comentários de volta.

“E, sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca mais me deixe sozinho, como nesse último mês em Paris; fica tudo uma rua silenciosa e escura que não vai dar em lugar nenhum; os móveis ficam parados me olhando com pena; é um vazio tão grande que as mulheres nem ousam me amar porque dariam tudo para ter um poeta penando assim por elas, a mão no queixo, a perna cruzada triste e aquele olhar que não vê. E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, eu escrevi uma canção tão bonita para você, ‘Minha namorada’, a fim de que, quando eu morrer, você, se por acaso não morrer também, fique deitadinha abraçada com Nounouse cantando sem voz aquele pedaço que eu digo que você tem de ser a estrela derradeira, minha amiga e companheira, no infinito de nós dois.”
(Vinícius de Morais em “Para uma menina com uma flor”)

O FIM, O INÍCIO E O MEIO - Nelson Motta

Somos amigos há muitos anos, e um dia ela me disse 
em tom de piada gentil: ‘Quando eu crescer quero ser você.’ 
Nanda querida, a sério, quando envelhecer quero ser você

Como diria Nelson Rodrigues, fiquei besta. O primeiro livro de Fernanda Torres, “Fim”, é o início brilhante de uma carreira de escritora e já a coloca entre os melhores da sua geração literária. Sim, ela mesma, que há tanto tempo brilha nos palcos e nas telas, que corta cana toda semana no Projac para divertir o público de “Tapas e beijos”, a Nanda que alegra os amigos com sua inteligência e seu humor.

Atriz consagrada em 35 anos de carreira, Nanda começou a dar pinta de outros talentos em suas crônicas na “Folha de S.Paulo” e na “Veja Rio”, conquistando leitores, exercitando seus instrumentos de expressão e se fortalecendo para o voo mais alto e arriscado de um romance. E que romance! Tão audacioso que seu tema é a morte de cinco velhos de Copacabana que formavam uma turma na juventude, mas narrada na primeira pessoa por cada personagem, formando um tecido de suas memórias, sentimentos e delírios, em que várias verdades se entrelaçam para contar o mais importante da vida de cada um: seu fim.

O tema seria pesado e indigesto, os velhos chatos, ranzinzas, neuróticos, doentes, devassos, vulgares e banais, mas nas mãos de Nanda se transformam em personagens ricos e fascinantes em sua grandeza e pequenez, que nos fazem rir e chorar com suas memórias de vida e, sim, de morte. Numa sucessão vertiginosa de dramas e comédias sem fronteiras, uma história puxa outra num fluxo narrativo em que os velhos e suas mulheres e amantes se alternam como narradores e personagens, como afetos e desafetos, como jovens e velhos.

Nelson aconselhava os jovens a envelhecerem rapidamente. Mas de onde Nanda tirou tanta sabedoria, experiência e velhice para escrever essas histórias? E com um estilo tão seco e elegante, tão econômico e contundente, de frases curtas e precisas, sem gastar uma palavra em vão, com um timing de comédia e um ritmo que hipnotiza o leitor. É o melhor livro brasileiro que li desde “Pornopopeia”, de Reinaldo Moraes.

Somos amigos há muitos anos, e um dia ela me disse em tom de piada gentil: quando eu crescer quero ser você. Nanda querida, a sério, quando eu envelhecer quero ser você.

MINHA VIDA - Octavio Paz

Quando deixei aquele mar, uma onda se adiantou entre todas. Era esbelta e ligeira. Apesar dos gritos das outras, que a seguravam pelo vestido flutuante, pendurou-se em meu braço e foi-se embora comigo pulando. Não quis dizer-lhe nada, porque me dava pena envergonhá-la diante das colegas. Além disso, os olhares de cólera das ondas maiores me paralisaram.

Quando chegamos à cidade, expliquei-lhe que não podia ser, que a vida ali não era o que ela pensava na sua ingenuidade de onda que nunca tinha saído do mar. Olhou para mim com seriedade: "Sua decisão estava tomada. Não podia voltar”. Tentei doçura, dureza, ironia. Ela chorou, gritou, acariciou, ameaçou. Tive que pedir-lhe perdão. No dia seguinte começaram meus problemas. Como subir no trem sem que nos vissem o condutor, os passageiros, a polícia? É verdade que os regulamentos não falam nada sobre o transporte de ondas nos trens, mas era justamente essa ressalva um indício da severidade com que se julgaria nossa atitude.

Depois de pensar muito, cheguei à estação uma hora antes da partida, ocupei meu assento e, quando ninguém olhava, esvaziei o depósito de água para os passageiros; em seguida, cuidadosamente, verti nele minha amiga.

O primeiro incidente aconteceu quando as crianças de um casal vizinho declararam sua ruidosa sede. Adiantei-me para prometer-lhes refrescos e limonadas. Justamente no momento em que iam aceitar, aproximou-se outra sedenta. Quis convidá-la também, mas o olhar de seu acompanhante me conteve. A senhora pegou um copinho de papel, aproximou-se do depósito e abriu a torneira. Tinha apenas enchido metade do copo quando, de um salto, me interpus entre ela e minha amiga. A senhora olhou para mim com assombro. Enquanto pedia desculpas, um dos garotos voltou a abrir o depósito. Fechei-o com violência.

A senhora levou o copo aos lábios:

Ai, a água está salgada! — O menino fez eco. — Vários passageiros se levantaram. O marido chamou o condutor:

Este indivíduo jogou sal na água? — O condutor chamou o inspetor:

O senhor jogou substâncias na água? — O inspetor chamou o policial de plantão:

O senhor jogou veneno na água? — O policial de plantão chamou o capitão:

O senhor é o envenenador? — O capitão chamou três agentes. Os agentes me levaram para um vagão vazio, entre olhares e cochichos dos passageiros. Na primeira estação empurraram-me para fora do trem e arrastaram-me até a cadeia. Durante dias ninguém falou comigo, exceto durante os longos interrogatórios. Quando contava meu caso, ninguém acreditava, nem sequer o carcereiro, que mexia a cabeça, dizendo: "O assunto é grave, verdadeiramente grave. Não tinha tentado o senhor envenenar umas crianças?" Uma tarde, levaram-me ao procurador.

O assunto é difícil — repetiu. — Vou remetê-la ao juiz criminal. Assim passou-se um ano. Finalmente me julgaram. Como não houve vítimas, minha punição foi leve. Pouco tempo depois, chegou o dia de minha liberdade. O chefe da prisão me chamou:

Bom, já está livre. Teve sorte, graças a não terem acontecido desgraças. Mas que não volte a repetir-se, pois da próxima vez lhe custará caro... — E olhou para mim com a mesma expressão séria com que todos me olhavam.

Nessa mesma tarde peguei o trem e depois de algumas horas de incômoda viagem cheguei ao México. Peguei um táxi para minha casa. Ao chegar à porta do meu apartamento, ouvi risos e cantos. Senti uma dor no peito, como o golpe da onda da surpresa quando a surpresa nos golpeia em cheio no peito: minha amiga estava lá, cantando e rindo como sempre.

Como você voltou?

Muito fácil: no trem. Alguém, depois de certificar-se de que eu era apenas água salgada, me jogou na locomotiva. Foi uma viagem agitada: de repente era um tufo branco de vapor, de repente caía uma chuva fina sobre a máquina. Emagreci muito. Perdi muitas gotas.

Sua presença mudou minha vida. A casa de corredores escuros e móveis empoeirados se encheu de ar, de sol, de rumores e reflexos verdes e azuis, povoado de numerosos ecos e felizes reverberações.

Quantas ondas é uma onda ou como pode fazer praia ou rocha ou quebra-mar um muro, um peito, uma testa que coroa com espumas! Até os cantos abandonados, os abjetos cantos de poeira e os detritos foram tocados por suas mãos leves. Tudo começou a sorrir e por toda parte brilhavam dentes brancos, O sol entrava com gosto nos velhos quartos e ficava na casa por horas, quando já fazia muito tempo que havia abandonado as outras casas, o bairro, a cidade, o país. E várias noites, já bem tarde, as escandalizadas estrelas o viram sair de minha casa, escondido. O amor era um jogo, uma criação perpétua. Tudo era praia, areia, leito de lençóis sempre frescos. Se eu a abraçava, ela se erguia, incrivelmente esbelta, como talo líquido de um álamo; e de repente essa esbelteza florescia num jorro de penas brancas, num penacho de risos que caíam sobre minha cabeça e minhas costas e me cobriam de brancuras. Ou então estendia-se diante de mim, infinita como o horizonte, até que eu também me fazia horizonte e silêncio. Plena e sinuosa, envolvia-me como uma música ou uns lábios imensos. Sua presença era um ir-e-vir de carícias, de rumores, de beijos. Entrava em suas águas, quase me afogava e num fechar de olhos encontrava-me acima, no alto da vertigem, misteriosamente suspenso, para cair depois como uma pedra, e me sentir suavemente depositado no seco, como uma pena. Nada é comparável ao dormir embalado nas águas, a não ser acordar com os golpes de mil alegres chicotes ligeiros, por arremetidas que se retiram rindo.

Mas jamais cheguei ao centro de seu ser. Nunca toquei o nó do ai e da morte. Quiçá nas ondas não exista esse lugar secreto que faz a mulher vulnerável e mortal, esse pequeno botão elétrico onde tudo se enlaça, se crispa e se ergue, para logo desfalecer. Sua sensibilidade, como a das mulheres, se propagava em ondas, só que não eram ondas concêntricas, senão excêntricas, que se estendiam cada vez mais longe, até tocar outros astros. Amá-la era prolongar-se em contatos remotos, vibrar com estrelas distantes de que nem suspeitamos. Mas seu centro... não, não tinha centro, senão um vazio parecido com o dos torvelinhos, que me sugava e me asfixiava.

Estendidos um ao lado do outro, trocávamos confidências, cochichos, risadas. Feito um novelo, caía sobre meu peito e ali se desenrolava como uma vegetação de rumores. Cantava ao meu ouvido, caracol. Fazia-se humilde e transparente, jogada aos meus pés como um animalzinho, água mansa. Era tão límpida que podia ler todos os seus pensamentos. Certas noites sua pele se cobria de fosforescências e abraçá-la era abraçar um pedaço de noite tatuada de fogo. Mas também se fazia negra e amarga. Nas mais inesperadas horas mugia, suspirava, se contorcia. Seus gemidos acordavam os vizinhos. Quando a ouvia, o vento do mar arranhava a porta da casa ou delirava em voz alta pelos terraços. Os dias nublados a irritavam; quebrava móveis; falava palavrões, cobria-me de insultos e de uma espuma cinza e esverdeada. Cuspia, chorava, blasfemava, profetizava. Sujeita à lua, às estrelas, ao influxo da luz de outros mundos, mudava de humor e de fisionomia de uma maneira que me parecia fantástica, mas que era tal qual a maré.

Começou a queixar-se de solidão. Enchi a casa de caracóis e conchas, pequenos barcos veleiros, que em seus dias de fúria ela fazia naufragar (junto com os outros, carregados de imagens, que todas as noites saíam de minha frente e afundavam nos seus ferozes ou graciosos remoinhos). Quantos pequenos tesouros se perderam naquele tempo! Porém não eram suficientes meus barcos, nem o canto silencioso dos caracóis. Confesso que não sem ciúmes os via nadar na minha amiga, acariciar seus peitos, dormir entre suas pernas, enfeitar seu cabelo com leves relâmpagos de cores. Entre todos aqueles peixes havia uns particularmente repulsivos e ferozes, uns pequenos tigres de aquário, grandes olhos fixos e bocas fendidas e carnívoras. Não sei por que aberração minha amiga tinha prazer de brincar com eles, demonstrando por eles sem rubor uma preferência cujo significado prefiro ignorar. Passava longas horas fechada com aquelas horríveis criaturas.

Um dia não pude mais; derrubei a porta e me joguei sobre eles. Ágeis e fantasmagóricos, escapavam-se entre minhas mãos enquanto ela ria e me batia até me derrubar, Senti que me afogava. E quando estava a ponto de morrer, arroxeado, me depositou na beira e começou a beijar-me, humilhado. E ao mesmo tempo a voluptuosidade me fez fechar os olhos. Porque sua voz era doce e me falava da morte deliciosa dos afogados.

Quando voltei a mim, comecei a temê-la e a odiá-la. Tinha descuidado dos meus assuntos. Voltei a freqüentar os amigos e reatei velhas e queridas relações. Encontrei uma amiga da juventude. Pedindo-lhe que jurasse guardar segredo, contei-lhe minha vida com a onda. Nada comove tanto as mulheres quanto a possibilidade de salvar um homem. Minha redentora usou todas as suas artes, mas o que podia uma mulher, dona de um número limitado de almas e corpos, diante de minha amiga, sempre mutante - e sempre idêntica a si mesma na sua metamorfose incessante? Chegou o inverno. O céu se tornou cinza. O nevoeiro cobriu a cidade. Caía um chuvisco gelado. Minha amiga gritava todas as noites. Durante o dia isolava-se, quieta e sinistra, murmurando uma sílaba só, como uma velha rabugenta que reclama num canto. Ficou fria; dormir com ela era perder a noite e sentir como se gelasse paulatinamente o sangue, os ossos, os pensamentos. Tornou-se impenetrável, revolta. Eu saía com freqüência e minhas ausências eram cada vez mais prolongadas. Ela, no seu canto, uivava longamente. Com os dentes afiados e a língua corrosiva, roia os muros, desmoronava as paredes. Passava as noites acordada, queixando-se de mim. Tinha pesadelos, delirava com o sol, com um grande pedaço de gelo, navegando sob os céus negros nas compridas noites que pareciam meses. Injuriava-me. Amaldiçoava e ria; enchia a casa de gargalhadas e fantasmas. Chamava os monstros das profundidades, cegos, rápidos e obtusos. Carregada de eletricidade, carbonizava tudo o que a roçava. Seus doces braços se tornaram cordas ásperas que me estrangulavam. E seu corpo esverdeado e elástico era um chicote implacável, que batia, batia, batia.

Fugi. Os horríveis peixes riam com risadas ferozes. Lá nas montanhas, entre os altos pinheiros e os despenhadeiros, respirei o ar frio e fino como um pensamento de liberdade. Depois de um mês regressei. Estava decidido. Tinha feito tanto frio que encontrei sobre o mármore da lareira, junto do fogo extinto, uma estátua de gelo. Não me comoveu sua abominável beleza. Joguei-a num grande saco de lona e saí à rua, com a adormecida nas costas. Num restaurante da periferia vendi-a para um garçom amigo, que imediatamente a quebrou em pequenos pedaços, que depositou cuidadosamente nos baldes onde se esfriam as garrafas.

CASA TOMADA - JULIO CORTÁZAR

Gostávamos da casa porque, além de ser espaçosa e antiga (as casas antigas de hoje sucumbem às mais vantajosas liquidações dos seus materiais), guardava as lembranças de nossos bisavós, do avô paterno, de nossos pais e de toda a nossa infância.

Acostumamo-nos Irene e eu a persistir sozinhos nela, o que era uma loucura, pois nessa casa poderiam viver oito pessoas sem se estorvarem. Fazíamos a limpeza pela manhã, levantando-nos às sete horas, e, por volta das onze horas, eu deixava para Irene os últimos quartos para repassar e ia para a cozinha. O almoço era ao meio-dia, sempre pontualmente; já que nada ficava por fazer, a não ser alguns pratos sujos. Gostávamos de almoçar pensando na casa profunda e silenciosa e em como conseguíamos mantê-la limpa. Às vezes chegávamos a pensar que fora ela a que não nos deixou casar. Irene dispensou dois pretendentes sem motivos maiores, eu perdi Maria Esther pouco antes do nosso noivado. Entramos na casa dos quarenta anos com a inexpressada idéia de que o nosso simples e silencioso casamento de irmãos era uma necessária clausura da genealogia assentada por nossos bisavós na nossa casa. Ali morreríamos algum dia, preguiçosos e toscos primos ficariam com a casa e a mandariam derrubar para enriquecer com o terreno e os tijolos; ou melhor, nós mesmos a derrubaríamos com toda justiça, antes que fosse tarde demais.

Irene era uma jovem nascida para não incomodar ninguém. Fora sua atividade matinal, ela passava o resto do dia tricotando no sofá do seu quarto. Não sei por que tricotava tanto, eu penso que as mulheres tricotam quando consideram que essa tarefa é um pretexto para não fazerem nada. Irene não era assim, tricotava coisas sempre necessárias, casacos para o inverno, meias para mim, xales e coletes para ela. Às vezes tricotava um colete e depois o desfazia num instante porque alguma coisa lhe desagradava; era engraçado ver na cestinha aquele monte de lã encrespada resistindo a perder sua forma anterior. Aos sábados eu ia ao centro para comprar lã; Irene confiava no meu bom gosto, sentia prazer com as cores e jamais tive que devolver as madeixas. Eu aproveitava essas saídas para dar uma volta pelas livrarias e perguntar em vão se havia novidades de literatura francesa. Desde 1939 não chegava nada valioso na Argentina. Mas é da casa que me interessa falar, da casa e de Irene, porque eu não tenho nenhuma importância. Pergunto-me o que teria feito Irene sem o tricô. A gente pode reler um livro, mas quando um casaco está terminado não se pode repetir sem escândalo. Certo dia encontrei numa gaveta da cômoda xales brancos, verdes, lilases, cobertos de naftalina, empilhados como num armarinho; não tive coragem de lhe perguntar o que pensava fazer com eles. Não precisávamos ganhar a vida, todos os meses chegava dinheiro dos campos que ia sempre aumentando. Mas era só o tricô que distraía Irene, ela mostrava uma destreza maravilhosa e eu passava horas olhando suas mãos como puas prateadas, agulhas indo e vindo, e uma ou duas cestinhas no chão onde se agitavam constantemente os novelos. Era muito bonito.

Como não me lembrar da distribuição da casa! A sala de jantar, lima sala com gobelins, a biblioteca e três quartos grandes ficavam na parte mais afastada, a que dá para a rua Rodríguez Pena. Somente um corredor com sua maciça porta de mogno isolava essa parte da ala dianteira onde havia um banheiro, a cozinha, nossos quartos e o salão central, com o qual se comunicavam os quartos e o corredor. Entrava-se na casa por um corredor de azulejos de Maiorca, e a porta cancela ficava na entrada do salão. De forma que as pessoas entravam pelo corredor, abriam a cancela e passavam para o salão; havia aos lados as portas dos nossos quartos, e na frente o corredor que levava para a parte mais afastada; avançando pelo corredor atravessava-se a porta de mogno e um pouco mais além começava o outro lado da casa, também se podia girar à esquerda justamente antes da porta e seguir pelo corredor mais estreito que levava para a cozinha e para o banheiro. Quando a porta estava aberta, as pessoas percebiam que a casa era muito grande; porque, do contrário, dava a impressão de ser um apartamento dos que agora estão construindo, mal dá para mexer-se; Irene e eu vivíamos sempre nessa parte da casa, quase nunca chegávamos além da porta de mogno, a não ser para fazer a limpeza, pois é incrível como se junta pó nos móveis. Buenos Aires pode ser uma cidade limpa; mas isso é graças aos seus habitantes e não a outra coisa. Há poeira demais no ar, mal sopra uma brisa e já se apalpa o pó nos mármores dos consoles e entre os losangos das toalhas de macramê; dá trabalho tirá-lo bem com o espanador, ele voa e fica suspenso no ar um momento e depois se deposita novamente nos móveis e nos pianos.

Lembrarei sempre com toda a clareza porque foi muito simples e sem circunstâncias inúteis. Irene estava tricotando no seu quarto, por volta das oito da noite, e de repente tive a idéia de colocar no fogo a chaleira para o chimarrão. Andei pelo corredor até ficar de frente à porta de mogno entreaberta, e fazia a curva que levava para a cozinha quando ouvi alguma coisa na sala de jantar ou na biblioteca. O som chegava impreciso e surdo, como uma cadeira caindo no tapete ou um abafado sussurro de conversa. Também o ouvi, ao mesmo tempo ou um segundo depois, no fundo do corredor que levava daqueles quartos até a porta. Joguei-me contra a parede antes que fosse tarde demais, fechei-a de um golpe, apoiando meu corpo; felizmente a chave estava colocada do nosso lado e também passei o grande fecho para mais segurança.

Entrei na cozinha, esquentei a chaleira e, quando voltei com a bandeja do chimarrão, falei para Irene:

Tive que fechar a porta do corredor. Tomaram a parte dos fundos.

Ela deixou cair o tricô e olhou para mim com seus graves e cansados olhos.

Tem certeza?

Assenti.

Então — falou pegando as agulhas — teremos que viver deste lado.

Eu preparava o chimarrão com muito cuidado, mas ela demorou um instante para retornar à sua tarefa. Lembro-me de que ela estava tricotando um colete cinza; eu gostava desse colete.

Os primeiros dias pareceram-nos penosos, porque ambos havíamos deixado na parte tomada muitas coisas de que gostávamos. Meus livros de literatura francesa, por exemplo, estavam todos na biblioteca. Irene pensou numa garrafa de Hesperidina de muitos anos. Freqüentemente (mas isso aconteceu somente nos primeiros dias) fechávamos alguma gaveta das cômodas e nos olhávamos com tristeza.

Não está aqui.

E era mais uma coisa que tínhamos perdido do outro lado da casa.

Porém também tivemos algumas vantagens. A limpeza simplificou-se tanto que, embora levantássemos bem mais tarde, às nove e meia por exemplo, antes das onze horas já estávamos de braços cruzados. Irene foi se acostumando a ir junto comigo à cozinha para me ajudar a preparar o almoço. Depois de pensar muito, decidimos isto: enquanto eu preparava o almoço, Irene cozinharia os pratos para comermos frios à noite. Ficamos felizes, pois era sempre incômodo ter que abandonar os quartos à tardinha para cozinhar. Agora bastava pôr a mesa no quarto de Irene e as travessas de comida fria.

Irene estava contente porque sobrava mais tempo para tricotar. Eu andava um pouco perdido por causa dos livros, mas, para não afligir minha irmã, resolvi rever a coleção de selos do papai, e isso me serviu para matar o tempo. Divertia-nos muito, cada um com suas coisas, quase sempre juntos no quarto de Irene que era o mais confortável. Às vezes Irene falava:

Olha esse ponto que acabei de inventar. Parece um desenho de um trevo?

Um instante depois era eu que colocava na frente dos seus olhos um quadradinho de papel para que olhasse o mérito de algum selo de Eupen e Malmédy. Estávamos muito bem, e pouco a pouco começamos a não pensar. Pode-se viver sem pensar.

(Quando Irene sonhava em voz alta eu perdia o sono. Nunca pude me acostumar a essa voz de estátua ou papagaio, voz que vem dos sonhos e não da garganta. Irene falava que meus sonhos consistiam em grandes sacudidas que às vezes faziam cair o cobertor ao chão. Nossos quartos tinham o salão no meio, mas à noite ouvia-se qualquer coisa na casa. Ouvíamos nossa respiração, a tosse, pressentíamos os gestos que aproximavam a mão do interruptor da lâmpada, as mútuas e freqüentes insônias.

Fora isso tudo estava calado na casa. Durante o dia eram os rumores domésticos, o roçar metálico das agulhas de tricô, um rangido ao passar as folhas do álbum filatélico. A porta de mogno, creio já tê-lo dito, era maciça. Na cozinha e no banheiro, que ficavam encostados na parte tomada, falávamos em voz mais alta ou Irene cantava canções de ninar. Numa cozinha há bastante barulho da louça e vidros para que outros sons irrompam nela. Muito poucas vezes permitia-se o silêncio, mas, quando voltávamos para os quartos e para o salão, a casa ficava calada e com pouca luz, até pisávamos devagar para não incomodar-nos. Creio que era por isso que, à noite, quando Irene começava a sonhar em voz alta, eu ficava logo sem sono.)

É quase repetir a mesma coisa menos as conseqüências. Pela noite sinto sede, e antes de ir para a cama eu disse a Irene que ia até a cozinha pegar um copo d'água. Da porta do quarto (ela tricotava) ouvi barulho na cozinha ou talvez no banheiro, porque a curva do corredor abafava o som. Chamou a atenção de Irene minha maneira brusca de deter-me, e veio ao meu lado sem falar nada. Ficamos ouvindo os ruídos, sentindo claramente que eram deste lado da porta de mogno, na cozinha e no banheiro, ou no corredor mesmo onde começava a curva, quase ao nosso lado.

Sequer nos olhamos. Apertei o braço de Irene e a fiz correr comigo até a porta cancela, sem olhar para trás. Os ruídos se ouviam cada vez mais fortes, porém surdos, nas nossas costas. Fechei de um golpe a cancela e ficamos no corredor. Agora não se ouvia nada.

Tomaram esta parte — falou Irene. O tricô pendia das suas mãos e os fios chegavam até a cancela e se perdiam embaixo da porta. Quando viu que os novelos tinham ficado do outro lado, soltou o tricô sem olhar para ele.

Você teve tempo para pegar alguma coisa? — perguntei-lhe inutilmente.

Não, nada.

Estávamos com a roupa do corpo. Lembrei-me dos quinze mil pesos no armário do quarto. Agora já era tarde.

Como ainda ficara com o relógio de pulso, vi que eram onze da noite. Enlacei com meu braço a cintura de Irene (acho que ela estava chorando) e saímos assim à rua. Antes de partir senti pena, fechei bem a porta da entrada e joguei a chave no ralo da calçada. Não fosse algum pobre-diabo ter a idéia de roubar e entrar na casa, a essa hora e com a casa tomada.

O FUTURO DO GPS - Luiz Fernando Verissimo (escrito em 2009)

Ainda não me refiz da primeira vez que vi um GPS funcionando. GPS, já sabia todo o mundo menos eu, quer dizer Sistema de Posicionamento Global, em inglês. É um aparelho que mostra onde estamos numa telinha e diz como chegar onde queremos ir. Diz, literalmente. O danado do aparelho não apenas fala como é poliglota: você pode escolher a língua com a qual será guiado. Durante a Copa do Mundo na Alemanha, que foi quando conheci o engenho mágico, éramos orientados por uma simpática portuguesa que não nos deixava confundir ingang com aufgang, chamava rotatória de “rotunda” e nunca nos falhou. 

Nem comecei a tentar compreender como a visão de um satélite estacionado sobre nossas cabeças chegava no carro e se transformava em voz com sotaque português. Eu ainda não sei bem como funciona grampeador.

Mas posso imaginar como será o futuro do GPS. É provável que um dia ele assuma o volante e dispense o motorista, eliminando uma etapa no processo de dar direções e só usando sua voz para gritar com as crianças no banco de trás. E não é impossível que, com o tempo, surja uma espécie de GPS moral, um sistema de orientação não para veículos mas para gente, que mostre o caminho a ser seguido, os desvios éticos a serem evitados e a melhor saída para qualquer “rotunda” de incertezas que possa nos comprometer. 

O aparelho não seria maior do que um celular que cada um carregaria no bolso ou na bolsa.

Porque a verdade é que todos os nossos antigos sistemas de orientação – o religioso, o familiar, o jurídico, o filosófico – falharam, somos uma geração à deriva, sem giroscópio. 

Com o aperfeiçoamento do GPS seríamos guiados por uma entidade superior que tudo vê e tudo sabe, um satélite estacionário sem nenhuma dúvida sobre o que é certo e o que é errado e o que nos convém. Bastaria levar o aparelho ao ouvido e escutar seus conselhos. 
Na voz que escolheríamos.

PÉROLAS - Manoel Carlos

Aonde quer que eu vá, descubro que um poeta esteve lá antes de mim.” Essa frase é atribuída a Freud e pode ser encontrada entre as pérolas mais cultivadas da internet, ainda que não conste em que espaço ela está inserida na obra do criador da psicanálise.

— Freud é o máximo — declarou distraidamente o Raul numa mesa do Café Severino.

— Esse máximo não quer dizer rigorosamente nada — provocou a Carla.

— Por que só você quer dizer alguma coisa fundamental quando diz qualquer bobagem? Por que eu não tenho o mesmo direito? Porque sou homem?

— Por falar em Freud — cortei eu —, li num dos livros de Bioy Casares que uma vez, numa palestra na Sociedade de Psicanálise, em Buenos Aires, quando alguém falou em eleição, muitos entenderam ereção.

— Muito apropriado — disse o Otávio, rindo.

Era a deixa certa para a nossa amiga Carla voltar ao ataque:

— Nada faz rir os homens mais do que uma piada de fundo sexual.

— Não é o que também acontece nas reuniões entre mulheres?

— Não — respondeu Clara. — O que mais nos faz rir é a ignorância de vocês quando falam de nós.

— É que vocês são muito profundas — cutucou o Gabriel, marido da nossa bela amiga.

— Profundas como um pires — completou Otávio.

E todos riram da velha piada.

E passamos a uma brincadeira que sempre nos diverte, que é a citação de pérolas e de episódios edificantes da história. Reais ou inventados. E o Gabriel, mais falante naquela tarde, contou que Beethoven, por já estar completamente surdo quando compôs suas últimas obras, sem conseguir, assim, ouvir a música que criava no piano, mandou encurtar as pernas do instrumento para poder abraçá-lo com todo o corpo. Com isso ele “ouvia” a música que compunha com o coração encostado no piano!

— Isso é verdade ou é inventado?

— Li como verdade — afirmou Gabriel.

— Que interessa saber se é verdade? É uma linda história, e isso é que interessa — completou o Otávio.

— Onde é que você leu isso? — perguntou Carla ao marido.

— Não tenho certeza, mas acho que foi num livro do Jorge Luis Borges.

— Meu Deus, que revelação! Somos casados e eu nunca vi você com um livro do Borges nas mãos.

— Ah, e você acha que sabe tudo a meu respeito?

— Pelo menos o essencial eu pensei que soubesse.

Antes que começassem as alfinetadas entre marido e mulher, voltei a Bioy Casares, que citou um editor americano que comparou um livro ao iogurte:

— Um livro não deve ficar mais do que quinze dias na estante. Perde a validade.

Foi quando o Otávio perguntou:

— Já pensaram que um dia, em meio a escavações feitas na Inglaterra, alguém possa encontrar um diário atribuído a Shakespeare, datado dos anos 1600, em que se leia em uma de suas páginas o seguinte registro: “O teatro às vezes me cansa. Tomara que inventem logo o cinema!”?

— Já pensaram nessa possibilidade?

— Santa idiotice! — exclamou Carla.

E, antes que a conversa enveredasse totalmente pelo caminho do absurdo, pagamos a conta e nos dispersamos na primavera do Leblon.

A NECESSIDADE DO OUTRO - Roberto DaMatta

Aos 11 anos, quando entrei no ginásio e ganhei do meu pai uma caneta Parker com meu nome gravado, senti que algo muito sério havia ocorrido comigo. Virei ginasiano , dizia o pai que, criado em Manaus, foi um orgulhoso aluno do Ginásio Amazonense Pedro II. Naquele tempo, era comum o uso do paletó e no seu inútil bolsinho de fora usava-se um lenço combinando com a gravata e, no canto do bolso, como enfeite e sinalizador social, enfiava-se uma caneta! Éramos um país de analfabetos antes de sermos um país de subletrados e de burros doutores ideologicamente pautados. A caneta de ouro compondo a figura do doutor (substituto do aristocrata) sugeria que o sujeito assinava o nome.

Compreendi o significado da caneta demarcadora de minha passagem para o curso secundário quando, já universitário e querendo ser revolucionário, um colega politizado relacionou a nossa geração aos privilégios e a contrastou com os oprimidos sem escola que escreviam de modo hesitante, desenhando as letras, traçando-as no papel ao contrário do que manda a caligrafia clássica.

Escrever à tinta , como se dizia, era algo ritualizado que ia da escolha do papel para o que se ia dizer, pois a caneta-tinteiro borrava e sua escrita não era facilmente apagada.

Escrever com a minha Parker preta listrada de dourado era fazer a passagem do transitório e barato lápis, cujas pontas gastavam e quebravam e cuja escrita não resistia a uma banal borracha, para o definitivo: para a escrita à tinta . Que responsabilidade eu tinha quando pegava essa caneta para escrever e foi com ela que tracei as sempre mal traçadas linhas da minha primeira carta de amor. Um amor a ser tão eterno quanto a tinta e que não durava mais do que um long-play de Frank Sinatra.

Ali eu vivi um inexorável sentimento de passagem do tempo. Estava ficando velho. E velho fui ficando quando alguma passagem ocorria na minha vida. Todas as primeiras e últimas vezes foram marcadas e eu só tive consciência delas porque algo ou alguém as assinalava.

A sensação de transitar por várias etapas críticas do meu ciclo existencial que começou com o nascimento e o batismo; seguiu para a infância do time de futebol e da primeira comunhão; prosseguiu para puberdade dos bailes, do primeiro namoro e beijo; desembocou no casamento; foi agraciado com a paternidade e um dia virá com a morte - o evento mais crítico de todos o qual, infelizmente, será o único que eu não vou poder compartilhar com vocês, meus queridos leitores - foram todos construídos por outras pessoas.

Foram todos urdidos de fora para dentro, por meio de conversas, presentes, admoestações, rituais, aprovações, elogios e reparos feitos por um outro. Acentuo esse outro porque, sem ele, eu não seria capaz de saber que tento ser simultaneamente um individuo autônomo e livre; e uma pessoa devedora de muitas pessoas e relações as quais despertaram os vários eus que convivem dentro de mim.

O individualismo do anglo-eurocentrismo, adotado com a santa ignorância de tudo o que chega de fora no Brasil, pensa que pode ficar preso ao velho e inconsciente solipsismo do só eu sei o que sei passou comigo e portanto ninguém melhor do que eu para falar da minha vida , como revelou com o viés dos censores o rei Roberto Carlos, numa entrevista recente. Mas o holismo que sustenta e legitima o individualismo e pretende proteger a vida pessoal dos que vivem se expondo por meio de seus talentos criativos diz que nós só sabemos quem somos quando ganhamos de presente uma caneta; quando um amigo nos corrige; ou quando somos atingidos por uma opinião cuja maior virtude é mostrar algo não visto ou oculto de nós mesmos.

Por isso as autobiografias são tão fantasiosas quanto as biografias. Pois elas só existem como artefatos construídos e qualquer compromisso com a liberdade de falar do outro com liberdade - como argumentou um mestre do gênero, Ruy Castro, na Folha de S.Paulo do dia 1º do corrente - não é só um dado básico da visão de fora (o ponto de vista do outro), mas da própria vida social que, em todas as suas dimensões, requer e precisa do outro. Seja como um aliado, seja como um advogado, seja como um contrário e, mais que isso, como um alternativo. Aquele que passou pelo que passamos e que, com os mesmos eventos e experiências, construiu um quadro diverso do nosso. Tentar controlar e reduzir a visão de fora é uma violência porque é um ato de negação do outro. Esse outro que é o sal e, como dizia Sartre, o inferno da vida.

Não fossem esses atos externos eu não mudaria de ideia e de hábitos. Jamais saberia que tenho sido muitos. Mas mesmo na dúvida e no sofrimento da revelação das minhas limitações ou da minha pusilanimidade eu sei que o outro é básico na produção da minha vida. Se eu fosse um cantor, eu saberia pela prática que é esse outro (o chamado público) quem me consagra e me dá como um dom a incrível relação chamada sucesso.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

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