Edmir Saint-Clair

HELOISA SEIXAS - As amigas

 Eram duas amigas – uma feia, outra bonita. Amigas mesmo, desde pequenas. E também, desde pequenas, com aquelas características: uma feia, a outra bonita. Há uma crença de que nas diferentes idades a beleza se alterna com a feiúra (bebê bonito, criança feia, adulto bonito ou, ao contrário, bebê feio, criança bonita, adulto feio), mas no caso delas isso não aconteceu. Houve uma coerência. A feia foi feia sempre. Muito magra, de cabelos pretos, sobrancelhas grossas demais, quase formando um urubu que lhe sobrevoasse os olhos, nariz grande, boca como um traço. E a outra era o oposto. Sempre bonita, desde bebê. Cabelos castanhos claros, com um toque de cobre que cintilava ao sol. O rosto de um oval perfeito. Olhos quase negros contrastando com uma pele clara, sem qualquer sinal, e lábios grossos e vermelhos que pareciam desenhados com lápis de cor.
Brincavam juntas, desde muito pequenas, pois eram vizinhas. Era interessante vê-las de mãos dadas, correndo pela grama, subindo e descendo dos bancos, com seus vestidos rodados, a menina feia e a menina bonita. Numa, o que primeiro chamavam a atenção eram as sobrancelhas cerradas, que lhe pesavam a fisionomia. Na outra, a leveza dos cabelos avermelhados, flutuando.
O tempo passou. Elas cresceram. Sempre assim, uma feia, a outra bonita. E amigas. Sempre amigas. Presentes em todos os acontecimentos importantes da vida de cada uma. Não posso dizer que foram ao casamento de uma e outra porque uma delas, a bonita, nunca se casou. Mas teve grandes paixões. E um filho. A feia se casou duas vezes e teve três filhos, duas meninas e um menino. E o tempo continuou passando.
Até que um dia – de repente, de uma hora para outra – envelheceram. Parece mentira, mas as pessoas envelhecem assim. Principalmente as mulheres. Um dia, você acorda e vê uma nova marca no seu rosto. Não estava ontem, você tem certeza. Mas hoje está. Com elas, não foi diferente.
Uma tarde, tendo ido ao Centro da cidade para fazer compras, as duas amigas decidiram tomar um chá na Confeitaria Colombo. E foi ali, sentadas diante de um daqueles espelhos centenários, que as duas de repente se olharam e viram que tinham envelhecido. Lá estavam. Duas senhoras. E, incrível, na velhice, tinham ficado parecidas. Continuaram se olhando em silêncio por alguns segundos. “A idade nivela tudo, iguala feias e bonitas”, pensou uma delas. E a outra, como se lesse seus pensamentos, completou:
– A velhice é democrática.