Edmir Saint-Clair

POR QUE TEM GENTE QUE SE ACHA VÍTIMA DE TUDO? – Patrícia Saint-Clair

Há pessoas que culpam a tudo e a todos por seus infortúnios. Como se elas não fizessem parte do seu próprio sistema.

Como, se essas pessoas costumam ser sempre o centro de tudo? Não é um paradoxo? Elas têm sempre menos do que merecem e o mundo todo lhes deve algo. São sempre injustiçadas. Enxergam muito pouco ou quase nunca o outro. As dores do outro, as necessidades do outro, a humanidade do outro, as limitações do outro. E não percebem que suas atitudes interferem definitivamente em todo esse sistema. Mas não de forma imediata. Essas pessoas são muito imediatistas e ansiosas. Talvez aí esteja uma das chaves do problema: o imediatismo.

“Mas eu fui tão legal...eu fiz isso, eu fiz aquilo...” e sem saber esperar o tempo próprio das coisas, sem enxergar o outro, o fluxo de outros sistemas que não o seu, brigam, cobram, chutam o balde. E ficam sós...e injustiçadas. Ei! As pessoas vão te decepcionar algumas vezes. Mesmo as que te amam, as que você ama. E muitas vezes não é porque deixaram de te amar. Simplesmente apenas porque são humanas e erram, por egoísmo, sim, porque não pensaram em você...

Mas você não precisa odiá-las pra sempre por isso. Olhar o mundo por várias perspectivas é uma grande sacada da vida. “Eu não sou o umbigo do mundo!!!!” Que aprendizado! E como é bom não sê-lo! Já fui uma dessas pessoas. Posso falar de cadeira.

Como deixei de ser? Não sei, posso enumerar algumas hipóteses, mas principalmente apanhando muito da vida, me revoltando, me sentindo só e injustiçada durante um bom tempo da minha adolescência até sei lá quando da minha vida adulta. Mas fui aprendendo, fazendo muita terapia, me conhecendo, apanhando mais da vida, mas nunca desistindo. E acho que o mais importante: aprendendo com meus erros.

Avaliando as situações que não saíram como eu gostaria, sob várias perspectivas, não só sob a minha. Nem sempre imediatamente, às vezes muito tempo depois. Ninguém é obrigado a nada comigo, muito menos a me amar.

Seja bacana, seja legal, seja leal, olhe pro outro de verdade, se coloque no lugar dele. Plante e espere seu jardim florescer. Mas cuide dele. Podem vir tempestades, intempéries, pragas, mas não desista, cuide dele. Não tem errada. Se você cuidar, ele vai florescer. Mas não culpe a chuva, as pragas, seja lá o que for. Elas existem e não há nada que se possa fazer para evita-las.

Chore, lamente e é só começar de novo, quantas vezes for preciso. Mas pare de culpar o mundo, a vida é sua e o que você faz e como você age têm consequências. Seu mau humor tem consequências, seu bom humor tem consequências, "seu bom dia" tem, "seu não bom dia" tem.

Você não consegue ser invisível e não influenciável como gostaria muitas vezes. Você está interferindo o tempo todo no seu sistema. E por mais que se isole, você faz parte de um sistema. Portanto, cuide do seu sistema, expanda sua rede, cuide da sua imagem. Não no sentido falso, mas seja uma figura agradável, querida, desejável, gentil, sempre que possível.

Pense nos outros que nunca faltará quem pense e cuide de você quando você precisar. Interesse-se verdadeiramente pelo outro, procure alguém só pra saber dele. E não seja imediatista, esse retorno pode levar anos, uma vida inteira. Descubra o prazer, a satisfação, a alegria genuína de fazer bem ao outro, de cuidar do outro. Isso nos nutre muito e nos faz sentir muito bem com a gente mesmo. Isso nos constrói, constrói nossa autoestima.

Saber-se capaz de melhorar a vida do outro, ou pelo menos o dia de alguém. E geralmente nem é preciso muito. Olhar para a dor alheia ajuda muito a nos humanizar e até a enfrentar nossas próprias dores, que não terminam nunca, só com a vida. Aceite isso.