Conheça os tratamentos já encontrados pela medicina e os
métodos experimentais que prometem prolongar a juventude.
Neste momento, há dezenas de centros de estudos espalhados pelo mundo buscando entender por que envelhecemos e como retardar esse processo. O que se quer é encontrar formas de nos deixar jovens por mais tempo, adiando o tempo em que o corpo vai perdendo gradativamente o vigor e a saúde. Na última semana, dois importantes grupos de pesquisa anunciaram passos decisivos nessa direção. Cada um a seu modo, eles conseguiram promover uma espécie de rejuvenescimento celular, feito fascinante que contribuirá para ajudar a atenuar os desgastes promovidos no organismo pela passagem do tempo.
O primeiro trabalho foi realizado por cientistas da Clínica Mayo, dos Estados Unidos. O foco dos pesquisadores foram as chamadas células senescentes. Uma célula jovem apresenta grande capacidade de se multiplicar. Com o correr dos anos, porém, ela vai perdendo essa habilidade até entrar em uma fase na qual consegue fazer apenas um número limitado de divisões. É uma espécie de limbo, quando ela nem se replica normalmente nem morre. Quando entra nesse período, é batizada de senescente. A etapa antecede a última do ciclo de uma célula, quando ela perde completamente o poder de se dividir e morre.
Há anos a ciência já sabia que essas células estavam envolvidas no surgimento de doenças associadas ao envelhecimento, mesmo estando presentes em pequena quantidade no organismo – estima-se que somem entre 10% e 15% do total de células de um idoso. O que ninguém tinha conseguido até agora era neutralizar seus efeitos. E foi exatamente o que os cientistas americanos fizeram, em cobaias, realizando uma espécie de “limpeza”.
A segunda pesquisa também utilizou células senescentes. Os autores foram os pesquisadores da Universidade de Montpellier, na França. Ao contrário dos colegas americanos, seu objetivo não era destruir essas células, mas rejuvenescê-las. Deixá-las tão jovens a ponto de apresentarem as mesmas características de uma célula-tronco embrionária, a mais versátil de todas, capaz de gerar qualquer tecido do corpo. A façanha, inédita, foi realizada.
A primeira tentativa usou células senescentes extraídas de um homem de 74 anos. À amostra foi adicionado uma espécie de coquetel com seis fatores genéticos (substâncias capazes de interferir na expressão do DNA). O que eles viram foi fascinante. Submetidas a esses compostos, as células senescentes regrediram até o estágio em que readquiriram as características de uma célula-tronco embrionária: recuperaram sua capacidade de renovação e de se diferenciar em diversos tecidos. Ou seja, não apresentaram qualquer vestígio de envelhecimento. A experiência prosseguiu usando como voluntários indivíduos ainda mais velhos – de 92, 94, 96 e de 101 anos. O sucesso do tratamento rejuvenescedor foi o mesmo. “Agora, esperamos que nossa descoberta ajude a retardar o surgimento de doenças associadas ao envelhecimento”, disse à ISTOÉ o pesquisador Jean-Marc Lemaitre, coordenador da experiência.
Todo o investimento feito até hoje para desvendar o processo do envelhecimento já deixou claro que ele é muito mais complexo do que se imaginava. Contempla uma plêiade de fatores que atuam sozinhos ou em combinação a outros. Por isso, a ciência é obrigada a olhar em várias direções em busca de respostas. Hoje, além das células senescentes, outro alvo de grande atenção são os telômeros. Eles consistem na parte final dos cromossomos (conjunto de genes). O problema é que, a cada divisão celular, eles vão perdendo um pedaço. Com o correr dos anos, esse encurtamento pode ser tão importante que prejudica o funcionamento dos genes – fato que contribui para o desencadeamento de várias doenças.
Diversos esforços estão sendo feitos para descobrir formas de impedir o encurtamento. O médico russo Vladimir Khavinson, da Academia Médica de São Petesburgo, na Rússia, apregoa ter encontrado uma maneira. Há pelo menos 15 anos ele coordena no país europeu um experimento no qual utiliza peptídeos (proteínas formadas por menos de dez aminoácidos) extraídos da glândula pineal (envolvida no controle de ciclos vitais do nosso corpo, como o sono). “Em um grupo de idosos, que receberam o remédio durante 12 anos, a mortalidade foi reduzida em 30%”, contou ele à ISTOÉ. Recentemente, o médico esteve no Brasil apresentando resultados como esse. Porém, suas conclusões passam longe do consenso científico. “Muitos pesquisadores são céticos em relação aos estudos dele”, disse à ISTOÉ Helen Skold, chefe do Departamento de Ecologia Marinha da Universidade de Gotemburgo, na Suécia. Lá, ela estuda os telômeros de corais capazes de viver uma centena de anos.
Nos consultórios, uma estratégia chama atenção também pela polêmica que desperta – e pelo número de pessoas que a estão adotando para tentar atrasar o relógio do tempo. Trata-se da modulação hormonal. Aqui, ao contrário da reposição, que administra hormônios quando sua queda já provocou efeitos visíveis na forma de fadiga, mal-estar e outras disfunções, o intuito é estabelecer vigilância para que esses desconfortos nem cheguem a aparecer ou cheguem mais brandos. Por isso, a qualquer sinal de queda, os médicos adeptos desta terapia agem.
De fato, está claro para a medicina que ao longo dos anos há uma acentuada mudança nos padrões hormonais. Isso ocorre tanto com os hormônios sexuais (os femininos estrógeno e progesterona e o masculino testosterona) quanto com outros hormônios. O desequilíbrio nesse sistema fundamental para o bom funcionamento do corpo resulta no aparecimento de vários sintomas. Pode haver mais cansaço, perda de força muscular ou outros desconfortos mais característicos do avanço da idade, além de deixar o indivíduo mais vulnerável a doenças associadas ao envelhecimento.
Um exemplo são as consequências provocadas pelos desequilíbrios na produção da insulina, hormônio que permite a entrada da glicose nas células. Com a passagem do tempo, pode-se começar a apresentar resistência ao seu funcionamento. Ou seja, a insulina está no organismo, mas as células tornam-se menos vulneráveis à sua ação. Como resultado, o pâncreas, responsável por sua produção, aumenta sua fabricação, numa tentativa de superar esse obstáculo. Porém, o resultado pode ser desastroso: pâncreas sobrecarregado e insulina – sem eficiência – sobrando no sangue. “Essa concentração pode aumentar o processo inflamatório em nível intracelular”, afirma o endrocrinologista Fernando Almeida, do Recife, especializado em medicina antienvelhecimento. “As inflamações desgastam a parede de vasos sanguíneos e podem possibilitar o surgimento da maior parte das doenças crônico-degenerativas do envelhecimento como a doença de Parkinson e de Alzheimer” diz.
Baseados nessa premissa, muitos especialistas defendem a aplicação da modulação hormonal. São vários os hormônios utilizados. O do crescimento, para impedir a redução de massa muscular. A testosterona – tanto em homens quanto em mulheres – para aumentar força e vitalidade. O T3, produzido pela tireoide, cuja queda está associada ao aumento do risco de infarto. Usam ainda o dehidroepiandrosterona (DHEA) para o fortalecimento do sistema imunológico e reparo celular, e a pregnenolona, associada ao correto desempenho das funções cerebrais.
Outra integrante da lista é a melatonina, fabricada pela glândula pineal e envolvida na regulação do sono. Estudos mostraram que o hormônio também pode ser produzido em outros pontos do organismo, fortalecendo o sistema imunológico. Isso ficou demonstrado, por exemplo, em um trabalho feito pela Universidade de São Paulo e o Instituto Nacional de Câncer. Publicada no “Journal of Immunology”, a pesquisa mostrou o mecanismo bioquímico pelo qual o hormônio pode modular a morte de células T, glóbulos brancos que atacam células infectadas. Essa morte é importante para o equilíbrio autoimune. Outro artigo, publicado no “Journal of Pineal Research”, fez uma revisão de dez estudos clínicos sobre a melatonina. Conclui-se que o hormônio se mostrou capaz de reduzir em 34% o risco de morte no período de um ano em pacientes com vários tipos de tumores. “A ação da melatonina foi consistente em todos os estudos”, diz Dugald Seely, um dos autores do estudo. No Brasil, a comercialização da melatonina não é liberada. Mas é possível usá-la desde que seja importada.
A evidência da relação entre o desequilíbrio hormonal e o surgimento de doenças associadas ao envelhecimento não é suficiente para convencer toda a comunidade médica da necessidade de interferir nesse processo. Afinal, paira sobre estratégias como a reposição ou modulação hormonal uma série de suspeitas, entre elas a de estar por trás dos chamados tumores hormônio-dependentes, como o câncer de mama, alimentado pelo aumento de estrogênio e progesterona.
Para tentar escapar das controvérsias, os médicos defensores da modulação voltam-se para o uso dos chamados hormônios bioidênticos. Eles têm estrutura molecular idêntica aos hormônios humanos embora alguns deles sejam sintetizados em laboratório. “O uso desses hormônios reduz, em vez de aumentar, os riscos de câncer”, diz Italo Rachid, ginecologista especializado em medicina anti-aging. Nem todos, no entanto, concordam. “Eles visivelmente apresentam menos riscos e mais efeitos benéficos”, afirma o endocrinologista Wilmar Accursio, presidente da Sociedade Brasileira para Estudos do Envelhecimento. “Mas são hormônios como os outros. E, como se sabe, podem alimentar células tumorais”, completa.
O que se pode afirmar com segurança é que esses hormônios não podem ser usados sem que haja pleno controle de suas reações. Também sua metabolização precisa ser monitorada. “Qualquer hormônio pode sobrecarregar os rins e o fígado”, afirma o médico Félix Magalhães, do Ambulatório de Geriatria da Escola Paulista de Medicina, em São Paulo.
Nesse intricado campo, também ganha corpo uma vertente que se propõe a tratar os efeitos provocados pela presença, no organismo, de substâncias que atrapalham a recepção, a produção e a supressão dos hormônios. “Na prática, elas sobrecarregam nosso corpo, já que também são entendidas como hormônios”, explica o endocrinologista Fernando Almeida, do Recife.
Entre as toxinas, estão pesticidas, compostos presentes na poluição e substâncias como Bisfenol-A. De composição química instável, ele se desprende facilmente do plástico quando em contato com o calor. Por essa razão, por exemplo, vários países do mundo, inclusive o Brasil, proibiram a fabricação de mamadeiras de plástico.
Infelizmente, ainda não há mecanismos capazes de eliminar essas substâncias do corpo. O tratamento proposto tem apenas a função de minimizar o efeito dessas toxinas. Para isso, os médicos indicam o recurso da detoxificação. Consiste na ingestão de uma série de compostos. Entre eles, o ômega 3, encontrado na sardinha, no atum, no salmão e nos óleos vegetais, e medicamentos como dietilindolamina, indol-3-carbinol e silimarina.
Também há a indicação de vitaminas que interferem diretamente na produção de hormônios, contrabalançando o ataque feito pelas toxinas. Nesse sentido, a descoberta mais recente diz respeito à ação da vitamina D. “Ela tem uma estrutura molecular bastante parecida com alguns hormônios”, diz o médico Fernando Almeida.
Cilene Pereira, Mônica Tarantino e Monique Oliveira