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A HISTÓRIA QUE TANTO DESPREZAMOS - Marcelo Rubens Paiva

Toda mudança de regime precede a desqualificação do anterior. Enquanto reis e czares são decapitados, fuzilados e exilados, a máquina de propaganda dos novos governantes reescreve a história, satiriza antigos governantes e cria um novo álbum de ícones.

De Lucrécia Bórgia, ficou a fama de uma bastarda incestuosa, manipuladora e descontrolada. Maria Antonieta virou a deslumbrada palaciana, que fez o povo passar fome para suprir seus caprichos. Os Romanovs estavam hipnotizados pela barba e magia negra de Rasputin, enquanto o império ruía estepe abaixo.

A monarquia brasileira sofreu na mão da historiografia republicana. De Pedro I, ficou a fama de um mulherengo incorrigível. Teria proclamado a Independência numa mula, depois de uma parada para se aliviar, vítima de uma diarreia, a caminho de um prostíbulo às margens do Ipiranga. Pedro II, tímido, infeliz e solitário, manipulado pela oligarquia agrária, era um exótico rei num continente de novas repúblicas.

A República resgatou da Inconfidência Mineira o herói de que precisava, Tiradentes. O Golpe de 64 não teve como usar a iconografia do movimento que clamava liberdade. Deu sorte, porque estava em campo a geração Pelé, e foi buscar na ignorada família real lacunas que legitimassem o projeto de soberania nacional - numa grande operação, no sesquicentenário da Independência, os despojos de Pedro I foram trasladados do panteão de São Vicente de Fora para a cripta do Monumento à Independência, no Museu do Ipiranga.

O regime militar também financiou através da estatal Embrafilme o primeiro épico do cinema nacional, Independência ou Morte, de 1972, que foi proclamada por Tarcísio Meira desembainhando uma espada sobre um cavalo ao estilo da tela de Pedro Américo. Glória Menezes era Marquesa de Santos, retratada não como uma pulada de cerca que escandalizou os súditos, mas como o amor impossível do príncipe aprisionado por suas obrigações. Não foram mostrados outros affaires.

Carlota Joaquina, filme que representa a retomada do cinema nacional, depois do desmantelamento do entulho militar, é uma gozação sem dó da vinda da família real e de seus membros. Fez um baita sucesso entre nós, republicanos que anos antes votamos no plebiscito que decidiu se o País seria monarquista ou republicano controlado por um sistema presidencialista ou parlamentarista.

Laurentino Gomes traça um perfil menos tendencioso da Casa de Bragança do Brasil. Mostra em 1889 que Pedro II, alto e loiro, "Pedro da Mala", como Eça de Queiroz o chamou, pois nunca largava uma valise, não era a figura apagada e inerte que a República pintou. Conseguiu manter o Brasil unido e o Exército sob controle civil, enquanto os vizinhos se implodiam em repúblicas. Esteve no front de batalha da Guerra do Paraguai, gastava pouco, falava várias línguas, inclusive tupi, lia sem parar, usava adornos indígenas na roupa imperial, era amigo de Victor Hugo, Graham Bell, dispensava protocolos, nada rancoroso e vingativo, admirador dos positivistas que o derrubaram, foi tratado como estrela na viagem aos EUA em 1876 e pedia a jornalistas estrangeiros que o chamassem de Pedro Alcântara. Que avô de FHC propôs ser fuzilado.

A decisão para mudar o governo em 1889 estava tomada. Civis e militares não chegavam a um consenso se o que viria era um golpe contra a monarquia, alimentado pelo descontentamento na caserna, mudança ministerial, deposição ou a República. Em 6 de novembro, um grupo de revoltosos se reuniu na casa de Benjamin Constant, entre eles, o alferes Joaquim Inácio Batista Cardoso, do 9.º Regimento de Cavalaria em São Cristóvão.

Sem o apoio do descontente Deodoro da Fonseca, não dariam um passo. Planejaram agitação nos quartéis, estoque de armas. Constant, ex-professor dos filhos do rei, perguntou o que fazer com Pedro II. Joaquim Inácio, com 29 anos, propôs o fuzilamento, caso resistisse.

Joaquim Inácio era avô de um futuro presidente da República proclamada dias depois, o pacato, calmo, sociólogo de fala mansa, agora imortal da Academia Brasileira de Letras, Fernando Henrique Cardoso. Prevaleceu a proposta de Constant. Pedro II partiu para o exílio, onde morreu dois anos depois, aos 66 anos de idade, numa modesta casa em Paris.

Laurentino não se restringiu a uma ordem cronológica. Dividiu os capítulos por temas. E, como nos livros anteriores, 1808 e 1822, mostrou que a história brasileira, desprezada por muitos, foi, sim, feita com atos de heroísmo e derramamento de sangue. Muito sangue, por sinal.

Conseguiu traçar um retrato completo dos bastidores da Corte e da queda do imperador, que, apesar de ser um homem culto e com prestígio internacional, vivia uma contradição insolúvel, um monarca que defendia o republicanismo, num Brasil difícil de entender, que experimentou um período de muita liberdade, inclusive de expressão, sob os garrotes da escravidão, num mundo que se transformava rapidamente com as novas invenções do Século das Luzes, que tinham um entusiasta, o rei do Brasil - navio a vapor, telégrafo, cabos submarinos, eletricidade, fotografia, telefone, trem e carros.

Outra revelação de 1889: a agitada vida fora do casamento de dom Pedro II. Foram 14 amantes catalogadas, entre atrizes, damas de corte, mulheres casadas, paixões platônicas e concretizadas, que se aconchegaram nas barbas do imperador. "Que loucura cometemos na cama de dois travesseiros", escreveu em 1880 para Ana Maria de Albuquerque, condessa de Villeneuve, mulher de Constâncio de Villeneuve, dono do Jornal de Commercio. "Não consigo mais segurar a pena, ardo de desejo de te cobrir de carícias."

Outras: Anne de Baligand, Vera de Haritoff, Eponine Octaviano, ex-mulher do amigo de infância, e a mais notória, a baiana Luísa Margarida Portugal de Barros, condessa de Barral, morena de grandes olhos negros, filha de fazendeiro do Recôncavo, que deixou 300 íntimas cartas de dom Pedro II para ela sem queimá-las, como tinha sido solicitado. "Olho sempre com imensas saudades para o quartinho do anexo do Hotel Leuentorh", escreveu Pedro II em 1876, indicando o lugar em Petrópolis em que se encontravam.

Puxou o pai, mas preservou a imagem de marido fiel. Um come quieto.

PARA QUE SERVEM AS MULHERES - Marcelo Rubens Paiva

Pra que elas sevem? Foi a segunda pergunta que o moleque fez, quando começou a lista de perguntas essenciais sobre o sentido da vida. A primeira? Pra que serve esta bola?

O primeiro indício de que ele não as entendia nasceu da constatação de que a maioria não devolvia as bolas atiradas contra elas. Começava aí o dilema da divisão de papéis. Não entendia por que meninas conversavam com seres inanimados, designados "bonecas", que nomeavam, vestiam, penteavam, alimentavam com comida de mentira, agasalhavam e colocavam para dormir. Não entendia por que meninas reclamavam quando ele arrancava as cabeças de plástico com cílios e cabelos de náilon para ver o que tinha dentro. Não entendia a obsessão delas por cores cítricas e por pôsteres de meninos que cantam em bandas só deles. Não entendia o funcionamento de presilhas para prender cabelos, nem o sentido de esmaltar as unhas. Como não as entendia, passou a ignorá-las.

Até ser matriculado numa escola. Descobriu que uma mulher pilotava muito bem a van, outra, a lanchonete, outra, a classe barulhenta, outra, a própria escola. Aprendeu a ler livrinhos escritos por mulheres e ouvir musiquinhas compostas por elas. Ouviu dizer que países eram governados por elas. Descobriu que apenas as da sua idade eram desinteressantes.

Mas chegou a adolescência. Começou a desconfiar que garotas tinham alguma atribuição na composição social. Especialmente as que tinham irmãs mais velhas. Ele passou a ter uma ideia fixa quando organizaram o campeonato de vôlei feminino no colegial. E contrataram a nova professora de matemática.

Vítima de uma explosão hormonal que o deixou por anos monotemático, descobriu enfim que as mulheres escondiam uma coisa que ele queria muito. Então, descobriu que, entre o objetivo e a conquista, existia planejamento, método, projeto, a corte, algo que faz parte da espécie como o fogo e a flecha, e que os fins justificam os meios.

Passou a amá-las, idealizá-las, compará-las, desejá-las mais que tudo. A trocar jogos com bolas por fantasias solitárias. A sofrer de amor, escrever poemas, cantar, dançar, oferecer mimos, declarar, xavecar.

O xaveco é milenar. O humano conhecido popularmente como Homo sapiens, do grego homem sábio, achou por bem decorar o cantinho de cavernas com pinturas rupestres, exagerar seus feitos em caçadas, oferecer enfeites à base de marfim de mamute, saias de pele de onça e colares com dentes de sabre manipulados para convencer uma pretendente a visitar o escurinho sobre o qual Platão tanto se dedicou e criou um mito. Até o aperfeiçoamento da fala e a invenção da lira, gastou-se muita mímica para simular que o macho não pensava só naquilo, apesar de só pensar naquilo, e que iria mandar um dente decorativo no dia seguinte de algum animal ainda não extinto por ele mesmo.

Pirâmides foram construídas para impressionar amadas. Guerras foram proclamadas, monumentos com colunas, com abóbadas, com ou sem sentido, foram erguidos. Navios enfrentaram tormentas em busca de um amor pleno. Muito papiro, muita tinta, muito blá-blá-blá foi gasto para se conquistar uma mulher.

O moleque namorou, noivou, assinou um pacto e se casou. Descobriu também pra que elas servem na linha evolutiva, ao observar seu grande amor engravidar. Descobriu enfim que, por trás de tanto desejo, admiração, vontade de compartilhar a rotina, existe o corpo de uma mamífera que dá sentido ao tempo perdido em busca da resposta do pra que elas servem: elas procriam!

A cintura arredondada de uma mulher não é apenas para servir de suporte a um biquíni asa delta. Existe ali espaço para caber mais um. E produzir colo. Os peitinhos aumentam, são na verdade mamas. Olha lá, é um design milimetricamente perfeito para alimentar um, até dois, herdeiros. A protuberância chama a embocadura. A aréola circunda o bico para proteger a maciez e criar a ilusão de ótica de que um bebê que enxerga mal precisa. E, surpresa. De dentro, sai alimento na temperatura ideal. É uma pequena fábrica caseira de laticínio mais rico em nutrientes do que tudo que existe.

O ventre é o receptáculo para o acolhimento de genes. Para receber as qualidades do macho alfa, mais forte e capaz. Tem maciez, lubrificação. Para enfiarmos o veículo testado como num túnel de vento da NASA, que transporta informações genéticas que serão selecionadas dentro e escolhidas. Em bilhões, aceitarão um! Que será armazenado, alimentado e protegido com a placenta quimicamente balanceada, num reservatório com tubo personalizado e individual de alimentação, com isolamento acústico e calefação.

Mas o sujeito se pergunta se as mulheres são então apenas umas chocadeiras? Não! A evolução foi brilhante. Como sempre. Deu o quê? Um clitóris. Uma glande em forma de botão com 8 mil terminações nervosas, o dobro da mangueirinha pendurada aí. Que serve para o quê? Para apenas uma coisa. Dar prazer! Não é para "tirar água do joelho", expelir genes, se gabar. É para apenas e tão somente dar prazer, fazê-las gozar, e não uma vez, como um urro, uhhhh, mas muitas vezes, múltiplos. O homem tem uma espingarda de um tiro, um bacamarte, que sai chumbo pra todos os lados. Elas, um rifle de repetição, uma metralhadora, pá-pá-pá!

Elas têm no corpo um órgão que é só para o prazer. Que, se a evolução não nos tivesse dado, talvez elas nunca visitassem o escurinho da caverna que intrigou Platão. Se não fosse o mágico e hipersensível sininho, não haveria procriação, não haveria espécie humana, não haveria Quéops, Troia, Capela Sistina. Nem o sujeito da primeira pergunta, a bola. Nem perguntas haveria.

UM AMOR QUE NÃO ACABOU - Marcelo Rubens Paiva



Paulo Mendes Campos é preciso. E preciso quando descreveu o fim de um amor em O Amor Acaba. Mas impreciso quando atesta que todos têm um fim. Nem todos acabam. Um amor, sim.

Quer um programão para as férias? O cineasta Richard Linklater nos proporciona uma experiência cinematográfica sem precedentes: assistir na sequência aos filmes Antes do Amanhecer (de 1994), Antes do Pôr do Sol (de 2004) e Antes da Meia-Noite (de 2013), todos com os mesmos atores, Ethan Hawke e Julie Delpy, sobre o mesmo casal, o americano Jesse e a francesa Celine.

No primeiro filme, eles se encontram num trem para Viena. Decidem descer e arriscar uma história de amor por uma noite apenas. Passeiam pela cidade, falam sem parar. No segundo, eles se reencontram dez anos depois em Paris, engatam uma história não mais por uma noite. Que é revista na década seguinte na Grécia, no terceiro filme.

Feitos pela mesma equipe, eles têm o mesmo jeitão: planos longos, externas, diálogos intermináveis e um debate arriscado sobre as diferenças de gêneros, americanos e europeus, Dionísio e Apolo. Cada filme se passa num momento da história (guerra da ex-Iugoslávia, o debate ecológico e a decadência financeira do euro), percorre o platonismo dos inconsequentes 20 anos, a busca por um amor sólido aos 30, e a crise dos 40 pautada pelo questionando se ele acaba, sobre ruínas gregas. Passam pelo amor sonhador, o real e o pactuado.

Assim como os atores, o diretor-roteirista cresceu e nos coloca os dilemas de uma jornada com que muitos de nós se identificam. Assim como eles, tivemos 20, 30 e 40, sonhos, arrependimentos, mal-entendidos e amores casuais que poderiam ter rendido. Compre ou alugue, ejete a criançada, chame a patroa e... Boa sorte. Não esqueça dos lencinhos de papel em mão.

*

A escritora Margarita Robayo escreveu sobre seus romances com homens mais velhos: "São como qualquer namorado, só que mais felizes". Oona escreveu sobre o marido 36 anos mais velho: "Gargalhar é um dos maiores presentes que Charlie me deu. Minha infância não foi nada feliz. Ele é meu mundo".

Uma das histórias de amor que derrubam os prognósticos fatalistas e das mais lindas que existiram foi protagonizada por uma das mulheres mais lindas que já existiu, Oona O'Neill, Lady Chaplin, a senhora Charlie Chaplin, filha do maior dramaturgo americano, Eugene O'Neill (Longa Jornada Noite Adentro), Nobel de Literatura de 1936, que a abandonou quando ela tinha 4 anos de idade com a mãe, a escritora Agnes Boultyon, e um irmão mais velho que se matou.

Oona se mudou na adolescência para Nova York. Circulava nos anos 1940 com uniforme da Brearley School (saia plissada xadrez, meia soquete e sapatinho Oxford). Aparecia depois da lição de casa nos bares da boemia intelectualizada com Truman Capote. Era a musa do Stork Club, do tipo em que "pessoas comuns olham celebridades olhando no espelho".

Era fotografada e paparicada como uma celebridade. Ou melhor, filha de uma. Se o pai, que nasceu num pulgueiro da Broadway e se tornou um anarquista radical e bebum, era avesso a badalações, a filha gostava do holofote. A psicanálise de coluna de jornal diria que, sufocada por um complexo de rejeição edipiano, queria chamar a atenção do pai que curava uma ressaca tomando outro porre.

Era dos rostos mais perfeitos em 56 quilos e 1m62 de altura. Viajou pela Califórnia com o casal de amigos Carol Marcus e William Saroyan (de A Comédia Humana). Foram vistos nus pelas praias de São Francisco. Para aonde o pai se mudou.

Já tinha namorado o cartunista da New Yorker, Peter Arno, e o cineasta Orson Welles, quando conheceu aos 16 anos J. D. Salinger.

Salinger encaixava. Era mais velho (25 anos de idade), baladeiro, escritor como o pai (conhecido pelo circuito de revistas literárias) e rico, que entendia como poucos de problemas da adolescência e o sentimento de se sentir à parte. Mas Salinger queria atenção, Oona, chamar a atenção.

Estourou a Segunda Guerra. Salinger, judeu, se sentiu na obrigação de combater Hitler e se alistou. No versão de 1942, Oona foi eleita a Debutante do Ano. Sua foto rodou o país. A repercussão foi tamanha que, pela primeira vez, recebeu uma carta do pai. Eugene não buscava a reconciliação, criticava a sua exposição.

Salinger foi para academia militar. Trocaram longas cartas, algumas com mais de dez páginas. Ele mostrava para os colegas de farda fotos de Oona modelo e se vangloriava: "Essa é minha garota. Me casaria com ela amanhã, se topasse".

Ela fez dois pequenos papéis em peças de teatro, até a mãe a matricular numa escola de artes dramáticas de Hollywood. Orson Welles a ciceroneava. Sua reputação já era conhecida sob o sol da Califórnia. Reclamou com a agente que todos que a entrevistavam queriam ir pra cama com ela. Até a agente descobrir que Chaplin precisava de uma jovem para um papel. Mandou Oona. Chaplin, com 54 anos, não a escalou. Mas escreveu na sua biografia que foi amor à primeira vista.

Ela se encantou pelos olhos azuis do "velhote". Parou de responder às cartas de Salinger sem explicação. Ironia: virou garota-propaganda de uma linha de cosméticos cujo slogan era "fique linda para seu garoto soldado", enquanto o seu soldado não tão garoto partia para guerra.

Oona se casou com Chaplin em 16 de junho de 1943, um mês e dois dias depois de completar 18 anos. Nunca mais atuou. Chaplin escreveu: "No começo fiquei com medo da diferença de idade, mas Oona não ligava". Eugene a deserdou e não permitiu que falassem dela. Salinger soube do noivado pelos jornais e fez o que mais sabia fazer, escreveu longas e sarcásticas cartas. Na biblioteca da Universidade do Texas, pesquisadores têm acesso à pilha de cartas desaforadas que escreveu. Escrevia e desenhava Chaplin como um velho desagradável.

Salinger desembarcou no Dia D na Normandia. Viu o horror no front. Apesar do "escândalo", Oona e Charlie viveram inseparáveis por 35 anos em Beverly Hills e, depois, no exílio na Europa. Tiveram oito filhos. Geraldine é a mais velha. Ficaram juntos até ele morrer.

Ela morreu alcoólica e reclusa em 1991, 14 anos depois do grande amor, de pancreatite aguda. Sempre se recusou a falar de Salinger. Está enterrada na Suíça ao lado de Chaplin. Seu quinto filho se chama Eugene (engenheiro de som que trabalhou com Rolling Stones, David Bowie e Queen), em homenagem ao pai, que nunca mais a viu. Aí está o exemplo de um amor que não acabou, apesar de tudo conspirar contra.

PIORES INVENÇÕES DA HUMANIDADE - Marcelo Rubens Paiva

SL: ou Second Life, ambiente virtual em 3D que simula a vida real. Jogo criado pelo Linden Lab. Foi sensação do mercado publicitário no final dos anos 2000. Graças ao realismo da animação, os usuários (avatares) podem ver e interagir com o outro (avatar). Uma mentirinha convivendo com outras. Até a maioria sacar que está perdendo coisas mais interessantes da FL (First Life), a vida real, enquanto vivem como avatares idealizados na second. Virtualmente já somos simulacros de nós mesmos, imagens redesenhadas para redes sociais. Não precisamos de outro universo, ou melhor "metaverso", para viver. Diante da decadência, o Lab disponibilizou a versão 2.0 em 2010, que dividiu a vida de mentirinha em ilhas como Welcome Island, para novos jogadores, Freebies, ilhas com itens gratuitos, além de ilhas de nudismo, sexo virtual, compras, praias e discotecas. Um metaverso complexo e esquisitão. Perfeito pra quem tem tempo disponível. E parafusos a menos. Ver bonecos (avatares) pelados em praias de mentirinha? Sinistro...

WWIS: Quando se pensa que já inventaram as maiores idiotices da humanidade, sempre tem uma que supera. É a sigla de What Would I Say (O Que Eu Deveria Dizer), aplicativo que trabalha com o utilitário BOT, de "robot", e se espalha como uma praga. WWIS gera automaticamente comentários no Facebook que parecem escritos por você. Tecnicamente falando, usa o modelo BOT, algoritmos e inteligência artificial, para misturar posts anteriores. Você quer ser uma pessoa atuante nas redes, mas não sabe como nem tem tempo. Quer passar uma imagem divertida, antenada. A de um ativista sedutor. Como um robô com seu teclado no colo, o WWIS seleciona frases bacanas e as espalha, para disseminar não suas ideias, mas as ideias que querem que você as tenha ou que você deveria ter. O que eu posso dizer... Coisa de maluco.

Pipoca: É uma tremenda descoberta. A figura do pipoqueiro, então, proustiana. Problema é cair em mãos erradas, como o plutônio. Em salas de cinema. Em sacos maiores que estômagos. Se acontece comigo, acontece com você: em quase todo filme, um esfomeado na fileira de trás passa os créditos, a introdução do longa, o segundo ato, até o ponto de virada, mastigando milho como um cavalo. O drama se intensifica, a irritação também. Pode apostar, é na cena mais intensa da trama que o quadrúpede chacoalha o saco, como se estivesse na Timbalada, para espalhar o sal depositado. Pensei em várias maneiras protestar. A que mais me seduz: usar um turbante e levar um timbal para entrar no ritmo do chocalho, cantando "fui embora, meu amor chorou, eu vou nos beijos de um beija-flor, no tique-taque do meu coração, yo quero te namorar, amor".

Saco de balas: Tenho certeza de que grandes divas, como Fernanda, Tônia e Bibi, pensaram em largar o ofício quando começou a venda de pacotes de balas nos teatros. Cujo glutão, provavelmente parente do animal que passa um filme mastigando milho, não percebe que aquele barulhinho, desembrulhar uma jujuba, um delicado ou uma balinha de hortelã, desconcentra até a camareira que tenta dormir na coxia durante a peripécia que já ouviu centenas de vezes, que antecede a revelação da protagonista, como as representadas por Fernanda, Tônia e Bibi.

Buzina: Primeiro inventaram o automóvel. Depois perceberam que transeuntes e animais não saíam da frente, estupefatos ao ver que aquele veículo com rodas se movia sem tração de quatro patas. Inventaram a buzina com os princípios de uma corneta, que substituiu os gritos de "sai da frente!". Educou a população que não conhecia a novidade. Sofisticou-se. Passou a ser intermitente e ao alcance dos dedos. O que tornou não mais uma ferramenta para a segurança do trânsito, mas objeto de vingança, assédio, grosseria, descontrole emocional, alívio de estresse e forma de pressão, como se o alto índice de decibéis produzido fosse capaz de fazer outros automóveis saírem da frente, criarem espaço livre para o carro da besta que buzina prosseguir.

Cigarro: Dizem que Colombo jogou fora o tabaco com que foi presenteado. Sensato. Mas um marinheiro levou para a Espanha, se gabou pelas ruas mascando aquela planta considerada do "diablo". Em 1561, o embaixador francês em Portugal, Jean Nicot, percebeu que o tabaco aliviava sua enxaqueca. Tinha que ser um francês... Descobriu de onde vem a palavra nicotina? Que depois foi enrolado por uma máquina, encurtou a vida dos nossos avós e se transformou numa epidemia aparentemente inocente e glamorosa. Se você, como eu, foi viciado, sofreu o diabo para largar, dá umas pigarreadas até hoje e escuta de todo médico que consulta, "ex-fumante?", como uma repreensão, como se seus dias estivessem contados, sabe do que falo. Invençãozinha do capeta.

Alarme de carro: Nem preciso me alongar. Talvez seja uma unanimidade: é das mais estúpidas invenções. Porque não reduziu o índice de roubos de carro e só aumentou as noites mal dormidas de milhões de inocentes. Uma pergunta. Depois de escutar repetidamente por minutos, "fué, fué, fué, atenção, este veículo está sendo roubado e é monitorado pela empresa tal, por favor ligue para zero oitocentos xis xis xis, obrigado", alguém ligou?

Atendimento automático pelo telefone: É aquela voz humana reproduzida por um computador do serviço de atendimento ao consumidor. Que não pede para você digitar um para "sim", dois para "não", três para "mais opções" ou nove para "voltar ao menu anterior", mas para você falar o que pretende. O que deixa a família desavisada em pânico, com suspeitas de que chegou o momento da internação: a fase sem volta em que você começou a falar sozinho. Não basta falar claramente e pausadamente. É preciso adivinhar o que deve ser dito para ser atendido, que palavra-chave os programadores escolheram. Por exemplo. Perdi uma conta telefônica antiga e precisava da segunda via. Ao dizer em voz alta "segunda via", a voz computada disse, numa simpatia contagiante: "Entendi, você disse segunda via. Mas você já pagou a sua conta, não necessita da segunda via". Então, tentei: "Perdi a conta e preciso da segunda via". Escutei: "Entendi, você disse segunda via. Mas você já pagou a sua conta, não necessita da segunda via". Levei um tempo me divertindo. Porque parti para a ignorância e passei a falar palavras estranhas, como "rocambole". E porque reconheci a voz do meu amigo e colega de faculdade, um grande piadista por sinal, Paulo Sharlack. Que sucede a voz do meu amigo e colega do colegial, Maurício Pereira, que dá as boas-vindas do SAC. Não resolvi o problema naquela tarde. Mas matei as saudades de ambos.

MARCELO RUBENS PAIVA - Mentiras que o povo escuta

Pelo artigo 20 da Lei 10.406 de 2002, que dá brechas para que biografados e herdeiros consigam na Justiça impedir a circulação de obras não autorizadas, o leitor não pode ler aquilo que não foi aprovado pelos citados.

Se o artigo atravessasse a fronteira do tempo, Aristóteles teria problemas para publicar a Poética. Herdeiros dos autores de tragédias e comédias citadas iriam processá-lo, para repor danos e repartir ganhos da obra impressa até hoje. Parte da obra de Shakespeare estaria embargada por herdeiros de Júlio César, Marco Antônio, Cleópatra, Ricardo II, III, Henrique IV, V, VI, VIII e membros do reino da Dinamarca, acusado de podre. Marx seria censurado por capitalistas ao expor suas contradições. Nietzsche, por zoroástricos e monoteístas, por afirmar que Ele morreu. Aliás, o Novo Testamento poderia ser questionado pelas famílias Iscariotes, Pilatos e Antipas, se a Galileia seguisse as leis brasileiras atuais. Freud enfrentaria um processo dos herdeiros de Sófocles por denegrir a imagem do protagonista da sua peça mais conhecida, Édipo Rei, e utilizar em vão e sem autorização os conflitos dramáticos, com alusões fantasiosas e nada empíricas.

Obras como Guerra e Paz, O Vermelho e o Negro, Os Sertões, O Velho e o Mar não sairiam do papel, já que retratam personagens reais. Autores como Gore Vidal e Tom Wolfe não existiriam. Apenas a absoluta ficção, invenção plena livre de influências e inspiração, sem dados ou conexões com a realidade, seja lá qual for, seria permitida. O problema é que ela não existe.

Cercear a liberdade de expressão, agredida desde a nossa fundação, por regimes monárquicos, republicanos, algumas ditaduras e até um parlamentarismo provisório, é traumático. A instabilidade política é um sintoma do cerceamento.

Proibir a publicação de biografias não autorizadas é, sim, censura. Paternalizamos o leitor, protegemos, como uma frágil criatura. Duvidamos da capacidade de duvidar. Duvidamos da capacidade de discernir a verdade do boato, o fato da infâmia.

A mentira é também parte da democracia. Conviver com ela amadurece um povo. Saber enfrentá-la o torna forte. Desconfiar do que se lê e escuta nos faz cidadãos. E já escutamos cada barbaridade...

Já disseram que Dilma, terrorista, assaltou bancos, atentou contra o patrimônio, para implantar um regime facínora que cometeu mais atrocidades que o nazista. Usava os codinomes Estela, Luísa, Maria Lúcia, Marina, Patrícia e Wanda. O delegado Newton Fernandes afirmava que era uma das molas mestras dos esquemas revolucionários. Um promotor a chamou de "Joana d'Arc da subversão". Foi eleita.

Que Lula, preguiçoso, amputou o próprio dedo numa prensa da Ford, para uma licença médica que deu a oportunidade de se aposentar ainda jovem e se engajar num corrupto movimento sindical que, se aproveitando da crise da indústria automobilística, mobilizou uma massa apolítica. Fundou um partido e governou o País com negociatas, como se estivesse numa saleta do sindicado de São Bernardo. Comprou um Airbus folheado a ouro, cujas fotos rodaram pela internet. Foi eleito e reeleito.

FHC, sedutor incorrigível, teve um filho fora do casamento com uma jornalista da Globo, que o serviço secreto transferiu para Portugal, fato que a imprensa submissa e aliada ao PSDB escondeu durante a campanha para presidência. Foi eleito e reeleito.

Tancredo sofreu um atentado. A jornalista Gloria Maria testemunhou e passou uma temporada na geladeira. Collor de Mello descobriu a infidelidade da mulher, pois ela anunciou estar grávida sem saber que o marido fizera uma vasectomia. Membros do clã Sarney são os maiores plantadores de maconha do Maranhão. Aécio Neves tem problemas com álcool. Luis Eduardo Magalhães tinha com cocaína. Serra não dorme e tem inúmeras contas anônimas nas redes sociais. Passa o dia pedindo a cabeça de jornalistas que o criticam. Todos eleitos e reeleitos pelo voto direto.

Curiosamente, o Projeto de Lei 3378/08, que modifica o artigo da Lei 10.406, é de autoria do deputado Antonio Palocci (PT-SP) e defendido pelo ministro da Justiça, José Eduardo Martins, do partido acusado de planejar bolivarianamente o controle da imprensa.

Quem já não ouviu uma dessas "verdades absolutas", espalhadas por pessoas que dizem ter escutado de uma fonte confiável, de alguém de dentro do sistema? Tem gente que jura de pé junto que o 11 de setembro foi armado e que o homem não pousou na Lua.

Homossexual? Muitos escondem. Raí se mudou para a casa do apresentador Zeca Camargo. Logo logo, assumirão a relação. Adotarão um filho? Aids? Milton Nascimento e Ney Matogrosso têm, segundo uma revista extinta da maior editora do País. Que já afirmou que fui "meio" viciado em cocaína, quando eu apresentava um programa para adolescentes, cujo blogueiro tem certeza de que pertenço à facção criminosa dos Petralhas, apesar de muitos tuiteiros me acusarem de vendido, já que me filiei ao PIG, Partido da Imprensa Governista, para quem trabalho há décadas, o que envergonharia meu pai. Leitores do mesmo blogueiro dizem que na verdade sou um coitado maconheiro que bateu a cabeça numa pedra e, além de paraplégico, fiquei xarope.

Raí nem conhece Zeca Camargo e processa a jornalista que divulgou. O DNA do tal filho de FHC, cuja foto uma revista independente colocou na capa, e se vangloriou de ser o único órgão de imprensa a ter coragem de expor escandalosa revelação, não bateu com o do suposto pai. Dilma nunca participou de uma ação armada. O Aerolula em ouro era na verdade o avião de um magnata do petróleo. Milton e Ney estão vivos e saudáveis. E processaram os que mentiram sobre eles. Elas não sumirão por decreto. Enquanto isso, o Brasil nunca viveu um período de estabilidade política como o de agora.

Não é preciso pôr em dúvida e proibir o exercício literário por causa de alguns. Seria como burocratizar o pensamento, tornar o mundo liso como uma poça de lama. Não é assim que funcionamos. Somos bem mais complexos. Sobrevivemos a mentiras e infâmias. Nos fortalecemos com elas. Melhor deixar a expressão livre, nos ensina a história. Não sobrevivemos é sem liberdade.


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MARCELO RUBENS PAIVA - Dar: o dilema

Peço desculpas ao leitor. Pensei muitas vezes no verbo a ser utilizado no relato abaixo. "Ceder" seria menos ofensivo. Mas "dar" foi exaustivamente utilizado pelas personagens em questão. É com ele que elas costumam pontuar suas aventuras e seus segredos.
Numa mesa de bar com três mulheres: uma carioca, uma mineira e uma paulista. Na faixa dos 30 anos. Profissionais liberais, que moram sozinhas, donas de si. Rodadas. Com alguns matrimônios interrompidos nas costas.

A mineira teorizou. Se você sai com um carinha três vezes, terá que dar na quarta. Seria uma afronta às regras da corte. Afinal, há uma ética no jogo da sedução.
Ela aprendeu com a mãe que é sempre vantajoso para o espelho ter uma legião de admiradores. Mulheres adoram ser paparicadas, lembrou. Se rolar a quarta vez, seu papel de diva a obrigará a ceder aos óbvios interesses masculinos. Se não, perde-se o trono. E, para o horror das mulheres, a maior heresia: será malvista.

A paulista contou. Que no começo do ano saiu com um cara, mas não ficou tão a fim. Não rolou nada. Ele insistiu para que houvesse um outro encontro. Ela dispensou com carinho e educação. Porque sabia que, se desse, ele poderia se apaixonar, e ela não conseguiria encarar tamanho paradoxo. Então, quebrou o encanto já na raiz.

A carioca contou. Que tem filhos, ex-maridos, dois empregos, o que filtra consideravelmente o assédio, para o bem. Se depois de todas as informações, o carinha continua a saga da conquista e ultrapassa as etapas da prova, ela dá. Afinal, um cara como esse merece consideração.

E ela não se preocupará com o grau de paixão do admirador, pois os filhos, os ex-maridos e os dois empregos já trarão muito trabalho pela frente, e será natural o termômetro do amor cair ao nível baixo. Ela dará e se esquecerá naturalmente. E esperará que ele também siga por outra trilha.
As três falavam sem parar o que para elas seguia uma lógica incontestável, comum, apesar do UF de seus documentos serem distintos. Cigarros e mais chopes contribuíam para a enumeração das convicções femininas. Contavam casos esdrúxulos com carinhas sem noção, experiências fracassadas, xavecos tolos, excessos improdutivos.
Enquanto eu, pasmo, só acompanhava em silêncio, com muita pena da minha categoria, dos meus camaradinhas, aprisionada pelas garras da lógica feminina, perdida num mar sem vento. Até a carioca contar a sua última bizarrice:
Foi muito cortejada por um músico que não se dispensa. Daqueles que manipulam as palavras e ideias com capricho, para obter o suspiro incontrolável de uma garota carente, viciada em elogios doces e pensamentos bem encaixados.
Carinha com um tremendo prestígio no meio, idealista, que milita em causas justas. Que se educou no exterior. Cuja produção é sempre bem recebida, premiada, elogiada, invejada. E que fala da alma da mulher, consegue penetrar no desconhecido, seduzir e encantar.

Ela saiu com ele duas vezes. Descobriu, como ela descreveu, que era meio "afeminado", termo incorreto que só utilizamos quando o grau de álcool no sangue beira o nível de ser repreendido numa blitz da Lei Seca. O que foi uma surpresa, já que o currículo do carinha era digno de matéria de capa da revista Vogue. Aliás, ilustrada por algumas de suas conquistas.

Apesar de não corresponder aos elementos da paixão, nem de estar tanto a fim, acabou vencida pela curiosidade. Foi a um motel com o músico-poeta, quando, não mais que de repente, o sangue dele parou de fluir nos dutos do desejo, impedindo a vascularização das veias dorsais e da artéria profunda do seu membro.
O prepúcio não se deslocava, nem a glande se expunha, levando pânico ao córtex cerebral dele, induzindo a uma infeliz, incontestável e categórica broxada!

Dilema da minha amiga. Mesmo não querendo, refletiu diante do fracasso, terei que sair com ele outra vez, não poderei deixar uma mácula no seu inconsciente, sua produção artística será afetada, decairá, seu talento passará a ser questionado, o mercado o considerará o artista promissor que, de repente, do nada, perdeu o eixo.
Ela saiu com ele de novo. Quase por obrigação. Foram ao mesmo motel. Escolheram o mesmo quarto e, no mesmo ambiente, repetiram a coreografia da cobiça. Dessa vez, o chamado corpo cavernoso, ou esponjoso, foi preenchido devidamente pelo pulsar e sangue do macho. Rolou. Ele cumpriu o seu papel. Ela, idem, e disse um penoso adeus, convicta de que a arte não imita a vida.

Neste momento, elas pararam de falar e me olharam indignadas com o meu "não acredito!" Pediram explicações diante da minha exclamação. Queriam minha opinião a respeito do que acabara de ouvir.
Eu disse, sem pestanejar: "Como vocês racionalizam o sexo! Sempre têm explicações, motivos extras. Não é tesão que comanda? Não basta se sentir atraída, ir lá e, como vocês dizem, dar?"

Se seguiu aquele blablablá sonolento das diferenças de gênero, que uma mulher tem que ceder, um homem, apenas penetrar, que uma mulher tem que se abrir, um homem, introduzir, e por aí foi, o mesmo de sempre, apesar de vivermos numa nova era, de a emancipação comandar grandes transformações.
As revoluções não mudaram as explícitas diferenças entre querer e poder. Aliás, qual homem já não escutou "quero, mas não posso", e, em seguida, a promessa de quem sabe numa outra ocasião?

Quantos questionamentos, indecisões, cálculos. O amanhã é muito mais importante para as mulheres do que para nós, machos ligados no aqui e já. Ainda bem que existe a diferença. Se não, esta aliança não teria tanta graça.

Narrei a conversa para uma campineira esclarecida, estudante de filosofia da Unicamp, lésbica, conhecedora do gênero; já foi casada com outra garota.
"Ah, mulher é tão maternal...", justificou. E contou que estava numa festinha de universitários esclarecidos de Barão Geraldo, louca para fumar um baseado. Descobriu que um carinha tinha. Foram até o carro dele, cometer o ato ilícito. No caminho, ela pensava, "terei que dar". Seria uma troca de gentilezas. E foi o que aconteceu. Mulheres... 

MARCELO RUBENS PAIVA - A Arte de Beber

Sim, álcool faz mal, e existe arte no ato de beber. Cada bebida tem o copo apropriado, a temperatura ideal, o ritual a ser cumprido, assinatura do fabricante e história.

Algumas regras devem ser seguidas, para que uma noite de celebração não estrague os sóbrios dias seguintes. Apesar de tentador, evite falar verdades que estão há tempos entaladas no gogó. Risque do mapa as palavras exorcizar, desabafar. Não é preciso, naquele momento em que o pileque começa a agir, ser verdadeiro e sincero. Beba, fique alto, continue sorrindo, fale o mínimo possível e concorde com tudo. Especialmente se o patrão estiver por perto.
Aos carentes: na segunda dose, dê o celular para um amigo guardar, para não mandar mensagens com resoluções definitivas, provas de amor absoluto, arrependimentos tardios. Nem tente telefonar de madrugada para uma paixão desfeita que, a essa altura, assinou em cartório uma declaração de convívio marital com outra pessoa, faz planos de viagens longas para países exóticos e pesquisa em qual escola próxima matricularão a prole que será responsável pela mudança da categoria do veículo familiar de sedam para minivan.

É na adolescência que o primeiro porre é experimentado. No estágio em que abandonamos o luditismo infantil, em que nos apontam as responsabilidades e decisões que virão, descobrimos que o álcool pode nos deixar soltos, inconsequentes, divertidos, sem o domínio do corpo e da mente. Quando não somos mais crianças, talvez bebamos para voltar a ter a irreverência e espontaneidade de uma.
Há milênios que se descobriu que a fermentação de frutas e cereais dá barato. Cerveja e vinho foram inventados antes das tampinhas, rolhas, rótulos e enólogos chatos, que demoram mais tempo cheirando e olhando a bebida contra a luz do que sorvendo. Muito tempo depois, os árabes inventaram os destilados. Nasceu o porre homérico. Que não se sabe se foi relatado na Ilíada ou Odisseia.

Fazemos bebida de tudo: milho, trigo, cevada, cana, uva, alcachofra, batata, arroz, anis, maçã, combustível de carro, lancha e avião.
O vinho talvez seja a bebida mais cultuada. Bíblica, não se deve tomar um porre dela. Melhor apreciar, degustar. Ou você deseja acordar com a língua colada no céu da boca e uma sede que o Delta do Nilo não mataria? Suas variações, champanhe, vinho branco, prosecco, apesar de populares em casamentos, deveriam vir acompanhadas por dipirona sódica em gotas. Dores de cabeça são comuns aos que as ingerem em excesso.

O remédio que se deve tomar um antes e outro depois ajuda a diminuir os efeitos físicos de uma ressaca. Porém, a ressaca moral e a sensação de que até uma ária de um quarteto de cordas de Bach faria a sua cabeça explodir continuam. Já vi Engov como brinde em banheiro de casamento. Poderiam incluir o hidróxido de alumínio, ácido acetilsalicílico e maleato de mepiramina, princípios ativos do remédio, nos bem-casados que costumamos afanar.
Mas o profissional tem uma técnica infalível para beber, continuar bebendo e não dar trabalho: alterna uma taça com um copo de água. Bebe com a disciplina de um jogador de xadrez. Pensa nos próximos lances com bastante antecedência. E ouve muito mais do que fala.

É no Retorno de Saturno, fenômeno astrológico que serve de desculpa para as irresponsabilidades juvenis, que ocorre a cada 28 anos, que se descobre que não bastam, como antes, apenas algumas horas de sono para curar uma ressaca.
Sim, envelhecer é aprimorar o desejo de que a vida imite a arte e, como num filme da Lars Von Trier, um planeta se choque com a Terra, depois de se acordar duma noite daquelas. No segundo Retorno de Saturno, quando a vítima completa 56 anos, só se toma um porre se está em dia com o plano de saúde e próximo a hospitais conveniados.

Cada pessoa tem seu nível de tolerância. Alguns enxugam uma garrafa de uísque e mantêm a irritante lucidez de um comentarista econômico em tempo de crise cambial. Outros tomam dois chopes e se comportam como líderes de uma facção criminosa associada a uma torcida organizada que chefia a bateria de uma escola de samba.
Há mais coisas em comum num pileque do que rege os alertas do Ministério da Saúde. Porre de uísque deixa o bebum inteligente. Acompanhado de muita água, acorda bem se o armazenamento do mesmo durou 12 anos ou mais. A não ser, claro, que tenha sido destilado, engarrafado e envelhecido em toneis paraguaios, produzido pelas águas das nascentes do Chaco.

Não existe melhor porre que o de tequila. É a bebida da alegria. Nos sentimos vibrantes, felizes, como solistas de um grupo mariachi. Sua ressaca, porém, nos remete ao sofrimento dos inimigos dos Maias, cujas cabeças rolavam por suas pirâmides.
O melhor porre não necessariamente implica maior ressaca. Mojito tem a fórmula mágica de juntar as delícias do rum com o frescor tropical da hortelã. Como nossa caipirinha, consegue refrescar e abastecer de vitaminas. O problema é a vontade de dançar salsa sozinho no banheiro.

Caipirinha, símbolo pátrio, é a prova de que nossa miscigenação é ampla: pode ser de saquê do Oriente, vodca eslava ou cachaça nacional; pode ser açucarada, adoçada, light ou diet; qualquer fruta, doce ou amarga, se casa com o sabor do destilado de alto teor alcoólico; e, enfim, vem em cores exuberantes como as do kiwi ou frutas vermelhas, que deixariam um impressionista impressionadíssimo.

Dry Martini é a bebida mais conflituosa, pois não existe uma receita universal. O que mais se escuta em balcões: barman exaltando sua fórmula secreta. A discussão sobre a receita original do Dry Martini é mais polêmica do que a tese de que Lee Harvey Oswald agiu sozinho. Pode vir com a entrada; uma azeitona, ou cebolinha. Seu copo é exclusivo da bebida. É gelado, mas esquenta. Tem um efeito psicotrópico prolongado. Alterna o estado da consciência, sem dar muito trabalho aos amigos.

Em A Cultural History of Alcohol, Iain Gately escreveu que os pileques dos nossos antepassados fariam os de hoje parecerem festinhas em conventos. Desde que se descobriu que o álcool tem ação inibidora sobre neurônios dopaminérgicos do sistema límbico, o porre tem assento cativo na história do mundo ocidental e oriental.

Aliás, foi em 8000 a.C. na China que o primeiro "mé" foi encontrado, um drinque de arroz, mel, uvas e cerejas fermentadas. Os sumérios inventaram a "breja", que a elite bebia com canudinhos de ouro. É sabido que cada peão que erguia as pirâmides do Egito ganhava em média 5 litros de cerveja por dia.
Em qualquer achado arqueológico existem mais garrafas de bebida do que moedas. Tutancâmon, faraó da 18.ª dinastia, foi sepultado com uma bela máscara de ouro e 26 jarras de vinho. Os gregos tinham 60 variedades da bebida. Os romanos passaram a produzir e distribuir em larga escala. Soldados romanos ofereciam vinho "de presente" aos inimigos, para dominá-los na ressaca. Qualquer leitor de Asterix conhece o truque.

Sem fazer proselitismo, sabe-se que o alcoolismo é um grave problema de saúde pública. Mas lembre-se que a bebida já foi considerada remédio, e que a revolução americana foi liderada por um fabricante de uísque, George Washington. Sem contar que a Declaração da Independência foi escrita num boteco da Pensilvânia.

Se você conseguiu chegar até o final deste texto, beba com moderação. E é bom lembrar, se for beber não dirija.

A Casa Encantada & À Frente, O Verso.

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