Ando surpreso. De uns tempos para cá, as pessoas parecem estar perdendo a noção de fila. Para embarcar no aeroporto, nem se diga! Assim que o vôo é chamado, sempre há um grupo de passageiros que se amontoa em frente à entrada. Crianças, idosos e deficientes têm preferência no embarque. Poucos conseguem chegar na frente. Dia desses, no Aeroporto de Congonhas, ajudei uma senhora com duas crianças a evitar que os pimpolhos fossem atropelados pelos outros passageiros. Ela, que tinha preferência, ficou por último! Detalhe: os lugares são marcados previamente. Por que a pressa?
Até entre os elegantes, reina a confusão! Fui a uma festa. Serviram o jantar em um bufê, com comida farta, de dar água na boca. Os mais educadinhos foram se servindo em fila. Dali a pouco entrou uma perua no meio, estendendo as unhas pintadas:
– Deixa eu pegar só uma saladinha!
Pronto! Outro voou para o prato quente, furando todo mundo. A fila parou. Dois ou três aproveitaram a deixa para se servir, espetando quem estava na frente com os garfos.
– Ah, desculpe... É que eu ia pegar aquela batatinha... – avisou um.
– É só um segundo... Já saio – disse outro, erguendo a faca para garantir espaço.
Quando chego a um restaurante e avisam que tem espera, vou embora. Ninguém respeita ordem de chegada. A começar dos maîtres, que dão preferência a clientes fiéis, conhecidos... seja lá quem for. É justo que um cliente tenha suas vantagens. Mas, então, por que não reservar a mesa com antecedência? Nem vou citar nome de restaurante, já que a maioria é assim. Depois de esperar meia hora, sempre vejo alguém entrar e acomodar-se imediatamente. Se reclamo, a resposta é sempre a mesma:
– Eles já estavam esperando faz tempo, o senhor se enganou.
Que raiva! Até perco o apetite. E olha que para eu perder o apetite não é fácil, não!
Elevador, então, nem se fala. No Shopping Higienópolis, são demoradíssimos. Outro dia, estava subindo quando parou em um andar. Uma jovem com um carrinho de bebê esperava.
– Está lotado – avisaram.
– É o terceiro que passa, e não consigo entrar – reclamou a moça.
Os passageiros ergueram os queixos, como se não fosse com eles. Alguém supunha que ela fosse descer com o carrinho em escada rolante? Ela enfiou o carrinho. Todos se apertaram, incomodados, como se o bebê fosse o estorvo. Fiquei no fundo. Quando cheguei ao meu andar, avisei:
– Preciso descer.
Ninguém se mexeu. Fui até a saída. Pisei no pé de uma mocinha, que gritou ofendida. Dei uma cotovelada em um gorducho que estava parado em frente à porta, sem mexer as banhas. Aliviado, botei o pé para fora! Elevadores, aliás, transformaram-se num purgatório. Não é inferno porque um dia a gente sai. Os espaçosos espremem os mais corteses. Nunca falta quem use um perfume fortíssimo, desses de deixar a cabeça tonta. Tudo seria passável se ao menos fosse possível entrar e sair de um elevador cheio sem passar por cenas de pugilato. Mesmo porque, como nos metrôs, quem vai entrar nunca deixa os outros desembarcar!
É impossível que todo mundo tenha sempre tanta pressa. Minha impressão é que, com o stress da vida moderna, as pessoas andam esquecendo as regras mínimas do bem viver.
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