Ter mais dinheiro, viajar mais...
Pesquisa mostra o que os brasileiros
desejam mudar em suas vidas.
Eu te amo:
45% dos brasileiros gostariam de ter dito “eu te amo”.
Tatiane confessa que está precisando muito de dinheiro. “Mas daria tudo que tivesse para ter meu irmão de volta”, revela a jovem de 23 anos, moradora de Iguatu (CE). Ela e o irmão eram muito apegados, desde crianças, mas se distanciaram quando Tatiane se casou. Só se reaproximaram três anos depois, após a separação dela. “Eu criava minha filha, hoje com 6 anos, sozinha. E ele era o meu apoio. Gostaria de ter dito a ele o quanto o amava.” O irmão de Tatiane, Fernando, morreu num acidente de moto há dois anos, deixando uma filha recém-nascida. “Só depois do acidente percebi o quanto ele era importante para mim.”
Assim como Tatiane, 45% dos brasileiros gostariam de ter dito “eu te amo” mais vezes a alguém. Esta descoberta foi feita por Seleções ao receber as respostas de 5.587 pessoas de todo o país numa pesquisa em que perguntamos o que elas gostariam de mudar em sua vida se tivessem essa possibilidade. Os dados revelam um panorama dos anseios dos brasileiros e do que nós acreditamos que pode nos trazer mais felicidade. E uma constatação: se você deseja uma mudança, não está nem de longe sozinho – 96%* de nós também querem mudar algo, seja a aparência física, o emprego, ou mesmo a frequência com que faz sexo.
Ter mais dinheiro:
83% dos brasileiros querem ter mais dinheiro.
Não chega a ser surpresa que 83% dos brasileiros gostariam de ter mais dinheiro no bolso (mas é surpreendente que 17% estejam aparentemente felizes com sua conta bancária). A insatisfação é maior em pessoas com menos de 55 anos. Mas é entre os homens solteiros, de 30 a 34 anos, que se encontra o típico personagem insatisfeito. Para Antônio Carlos Onofre dos Santos, 33, quem diz não precisar de mais dinheiro “só pode ser político”. Funcionário de uma empresa de manutenção predial em Salvador (BA), ele gostaria de ter mais recursos para terminar a casa que constrói há quatro anos. “Ela não está nem na metade”, diz. “Gostaria de mais dinheiro para pagar minhas dívidas também. O salário cobre, mas é bem apertado, viu?”, conta ele, sem perder o bom humor.
Julia Cheiricatii Fonseca, 26 anos, é funcionária da prefeitura de Ribeirão Preto (SP). Como muitos que responderam à pesquisa, ela quer ter mais dinheiro, não para esbanjar, mas para realizar um sonho: comprar uma casa. “Já entrei com um pedido de financiamento e estou aguardando a aprovação. Mas não sei se meu salário vai ser suficiente para arcar com as prestações de uma casa como a que eu e meu marido queremos.”
Viajar e conhecer novos lugares:
58% dos brasileiros querem viajar mais.
“Navegar é preciso! Viver não é preciso!” Jefferson de Souza Bernardes, presidente da Associação Brasileira de Psicologia Social (Abrapso), evoca o antigo general romano Pompeu para explicar um dos resultados mais expressivos da pesquisa: 58% dos brasileiros afirmaram que gostariam de ter viajado mais. “O espírito aventureiro faz parte de nossa herança cultural”, explica Jefferson. A geografia do país também colabora para esse desejo (em pesquisa semelhante no Reino Unido, só 39% manifestaram atração pelas viagens). “Nosso modo de ser criativo impulsiona as pessoas na direção do que desconhecem”, salienta ele.
Correr Riscos:
41% dos entrevistados gostariam de ter corrido mais riscos na vida.
De certa forma, a vocação para a mudança pode explicar outro resultado interessante: 41% dos entrevistados gostariam de ter corrido mais riscos na vida. A pedagoga Maria da Luz Calegari, autora de Temperamento e carreira, lembra que a marca do brasileiro é o “movimento e a inovação”. “Isso explica um certo gosto pelo risco, que nos faz tão bons em automobilismo e nos esportes radicais.” A advogada Sueli Marques dos Santos, de São Paulo, por exemplo, acha que poderia ter arriscado uma carreira artística, vinte anos atrás. “Abandonei a peça de teatro que estava ensaiando por causa do vestibular para Direito. Abri mão de um sonho acreditando que teria mais oportunidades no mercado de trabalho. Mas concluí que em todas as profissões há desafios.” Hoje, aos 46 anos, Sueli vive dilema semelhante com a filha, que quer estudar música. “Apoio e respeito sua vocação.”
Por Dirley Fernandes
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