MESMO QUE você já possua os tais bens materiais que mais ou menos todo mundo quer, existem sempre alguns desejos ainda não realizados. Supondo que você seja uma pessoa tipo normal, que não ambiciona valiosas obras de arte e joias inacreditáveis, quais são as coisas que ainda despertam em você aquela vontade louca de ter e aquele prazer imenso quando consegue? Bem, para começar, é preciso que elas sejam razoavelmente inacessíveis.
Houve um tempo em que quase tudo era uma festa. Lembra da felicidade que era ganhar uma barra de Toblerone? Ter uma camiseta importada era o supremo prazer, e fazer uma viagem, uma emoção indescritível. Tudo era raro, e por isso tão especial. Mas as coisas mudaram; os Toblerones agora são vendidos nos sinais de trânsito e as camisetas de grife, nos camelôs. Teoricamente é ótimo, já que não é mais preciso ir a Paris para poder ter na geladeira dois potes de mostarda; tudo está na prateleira do supermercado, da água Perrier ao salmão defumado.
Houve um tempo em que as aeromoças eram escolhidas pela beleza, todos os passageiros tratados como VIPs e os brindes das companhias aéreas -o estojinho com a máscara, um minividrinho de água de colônia e o barbeador (fora a caixinha com tabletes de chocolates suíços)- eram apenas o máximo.
Lembra da caneta da Varig?
Lembra da caneta da Varig?
Hoje você pode comer os mesmos pratos em qualquer lugar do mundo e comprar exatamente as mesmas coisas no Rio, em São Paulo, Nova York, Tóquio ou Cingapura. E quando é tudo igual, acaba a graça.
Os especialistas sabem na ponta da língua o que foi lançado a semana passada nos centros de moda, e para ter acesso às coisas é só comprar uma revista e ter uma conta bancária razoável. É mais democrático? É. E tem graça? Nenhuma.
Mas ainda existem coisas que só alguns poucos conhecem, endereços guardados preciosamente e só divididos com pessoas nas quais se tem total confiança. São segredos de Estado, praticamente, mas você também pode fazer sua agenda, única e pessoal, personalíssima. Um pequeno restaurante que não faz parte de nenhum guia gastronômico pode ser inesquecível, tanto como descobrir numa pequena cidade do interior da Itália, ou do Nordeste, a bordadeira que faz os mais lindos lençóis, de fazer babar uma princesa belga. Ainda existem no mundo coisas e lugares que mexem com nossos corações. É aquele bistrô bem pequeno que nunca vai abrir uma franquia; é a bordadeira que nunca vai vender suas peças para uma cadeia de lojas porque cada jogo de lençóis leva seis meses para ficar pronto.
Sabe que existem pessoas que saem pelo mundo com as reservas dos restaurantes feitas e que já sabem até o que vão comer? Isso é a maior prova da falta de imaginação, que deveria ser crime previsto no Código Penal. E o acaso? E a aventura? E a maravilha do inesperado?
Qualquer pessoa pode encontrar suas próprias preciosidades. Para isso é preciso ter curiosidade, bom gosto -e um pouco de personalidade sempre ajuda. Dá trabalho, mas vale a pena, pois só assim se escapa do tédio do mundo atual.
Faça a sua parte: pesquise, procure e ache aquele tecido -seja ele o mais modesto algodão ou o mais caro brocado- que é único; ou aquele restaurante modesto, numa rua escondida, onde vai encontrar uma deliciosa empada de camarão que poucos conhecem, pois ainda não foi descoberta pelos que fazem os guias. Na sua memória ela será, sempre, a mais especial, por ter sido descoberta por você. E quando isso acontecer, não conte a ninguém, só a quem merece. Faça isso sempre, todos os dias da vida; é esse o verdadeiro luxo.