Faz sentido a proposta de criar um índice de felicidade para orientar as ações do poder público. Idealmente, ele substituiria medidas mais grosseiras, como o PIB per capita, e iria além do Índice de Desenvolvimento Humano.
A rigor, a ideia nem é nova. Já no século 4º a.C., Aristóteles afirmou que a "eudaimonía" (felicidade) é o fim de toda ação humana. Jeremy Bentham (1748-1832) não só definiu que a meta das políticas públicas era promover o bem-estar como fez a primeira tentativa de calculá-lo.
Thomas Jefferson (1743-1826) pôs a "busca pela felicidade" entre os direitos inalienáveis elencados na Declaração de Independência dos EUA, ao lado da vida e liberdade.
A grande dificuldade era encontrar meios de medir a felicidade. Isso começou a mudar na segunda metade do século passado, com a proliferação de pesquisas sobre o tema.
Acadêmicos agindo na interseção entre economia, psicologia e sociologia estudaram o impacto de fatores como dinheiro, emprego, liberdade, ambiente e filhos na percepção de bem-estar do indivíduo e chegaram a conclusões interessantes.
O dinheiro é importante, mas só até certo ponto. Depois de determinado valor (US$ 100 mil anuais nos EUA), incrementos na renda não trazem mais felicidade. Ter emprego, liberdade, saúde e relações sociais eleva o bem-estar. Barulho, trânsito e brigas com familiares o reduzem. E, pior, não nos habituamos a essas situações. Contra intuitivamente, ganhar na loteria não traz efeitos duradouros. O felizardo logo se acostuma à nova condição. Já filhos, segundo quatro estudos, trazem infelicidade.
Juntar tudo isso num valor numérico é o desafio. Para tornar tudo mais complicado, o nível de felicidade que cada um experimenta é, em larga medida, hereditário. Outro problema é que o eu autobiográfico, que responde às perguntas, nem sempre concorda com o eu senciente, que experimenta os prazeres e as dores.
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