Não se pode ligar a TV, abrir um caderno de esportes ou tirar a sorte no periquito sem ouvir ou ler sobre a última façanha de Messi pelo Barcelona. Até o meu amigo Hans Henningsen, o "Marinheiro Sueco", que, como homem forte da Puma nos anos 70, dava ordens em Pelé, Cruyff, Beckenbauer e que tais, me falou outro dia de Messi com o olho rútilo e o lábio trêmulo. OK, também me incluo entre as macacas do argentino. Só acho prematura a insistência em compará-lo a Pelé.
Quero crer que, no tempo de Pelé, o futebol fosse mais difícil. A bola e as chuteiras, por exemplo, eram de couro de verdade e, a cada chute, ecoavam o último mugido do animal de que descendiam. Eram grosseiras e pesadas, e, com a grama molhada, passavam a pesar o dobro do seu peso inicial. As camisas eram de uma malha que acumulava suor e também pesava no corpo do jogador.
Até 1970 (e Pelé começou em 1956), não havia cartão amarelo e vermelho. Os adversários nem precisavam revezar-se para bater nele ou puxar-lhe a camisa - Pelé apanhou tanto que teve de aprender a bater. É irresistível imaginar como seria se, desde o começo, pudesse desfrutar dessa emenda à regra, que tanto beneficiou os artilheiros.
Finalmente, Pelé jogou numa época em que tinha de dividir os (então, poucos) refletores com colegas como Garrincha, Puskás, Di Stéfano, Didi, Eusébio, Bobby Charlton, Evaristo, Kopa, Fontaine, Tostão, Gerson, Rivelino, Jairzinho, Gerd Müller, o próprio Cruyff, muitos mais. E os goleiros e os beques que enfrentava eram Yashin, Dominguez, Banks, Sepp Maier, Mazurkiewicz, Zoff, Mauro, Beckenbauer, Nilton Santos, Breitner, Bobby Cooper, e vá citando.
Messi é mais feliz. Passa boa parte do ano disputando um campeonato, o espanhol, contra o Real Madrid e 18 perebas. E tem todos os refletores para si.