Acompanhei as matérias sobre Londres feitas pelos jornalistas que Zero Hora enviou à capital britânica para cobrir a Olimpíada, e me chamou a atenção um relato feito pelo meu amigo Tulio Milman, que descreveu o fascínio de perder-se pelas ruas de uma cidade estrangeira. Não é a primeira vez que vejo uma pessoa inteligente sair em defesa da desorientação, o que me deixa inquieta, pois me considero uma viajante audaz, mas, pelo visto, sem muito tutano: nunca gostei de me perder.
Claro que possuo o hábito de flanar pelos bairros, que entro em praças e parques que não conheço, que viro à esquerda numa rua sem saber onde ela vai dar, mas tenho uma boa ideia sobre as possibilidades que a redondeza oferece e posso apostar que a caminhada vai resultar proveitosa, mesmo sem destino determinado. Se não resulta, me sinto uma songamonga.
Uma vez me perdi além do tolerável nas ruelas de Veneza e, sinceramente, a experiência não me trouxe nada além de cansaço e desassossego – fui parar onde os doges perderam as botas.
O fato é que todos nós estamos caminhando para algum lugar, mesmo sem saber para onde. Há os que têm um propósito, sabem aonde querem chegar: se não possuem um mapa, possuem ao menos um desejo, e desejos costumam ser guias confiáveis. Já fiz parte do primeiro grupo, mas, de repente, me percebo instalada no segundo: não tenho a menor noção de para onde estou indo, e admito que isso embaralha meu senso de direção – mas tampouco quero voltar para o ponto de partida.
Isso me faz lembrar pessoas que, quando você pergunta se está tudo bem, respondem: “Tudo indo”. Tudo indo pra onde? Ribanceira abaixo? De mal a pior? Seguidamente cruzo com uma moça com quem simpatizo, e, a cada vez que pergunto a ela se está tudo bem, ela me responde “tudo indo” com um jeito de quem vai cair em prantos.
Há um ano que está tudo indo pra ela. E eu fico torcendo para que esteja tudo indo às mil maravilhas, que esteja tudo indo de vento em popa, que esteja indo melhor do que o esperado. Mas não é nada disso que sugere seu olhar sorumbático.
Todos nós estamos indo, que é melhor do que estarmos parados. Estamos indo rumo a novas eleições, indo rumo à primavera, indo rumo a pessoas que ainda não conhecemos, indo rumo a dias melhores, a dias piores e, encaremos: indo rumo ao fim dos dias, se me permite ser uma desmancha-prazeres. É duro, mas a outra opção é estacionar, não ir a lugar algum. Prefiro ir, seja para onde for.
Se eu continuar sem inspiração como hoje, o único rumo que vou tomar é o do departamento de RH para acertar minhas contas. Como você pode comprovar, aqui, nesta coluna, tudo indo. No momento em que escrevo, sem ideia sobre as possibilidades que a redondeza oferece e sem saber se a caminhada vai resultar proveitosa, mas indo. Espero que chegue logo a parte divertida, Tulio.