Pensar em soluções positivas aciona partes
racionais da mente, diminuindo poder dos temores.
racionais da mente, diminuindo poder dos temores.
Poucos vilões de filmes de terror tiraram o sono de tanta gente quanto Freddy Krueger, o protagonista de A hora do pesadelo. Isso porque, além de unhas afiadas e rosto desfigurado, Krueger tinha o mais cruel de todos os poderes: trazer à tona os medos inconscientes de suas vítimas, entrando em seus sonhos.
Um livro recentemente lançado no Brasil, porém, defende que é a hora de fechar os olhos e entregar-se a Krueger. Que arma levar a esse encontro? O conhecimento do próprio cérebro.
Um livro recentemente lançado no Brasil, porém, defende que é a hora de fechar os olhos e entregar-se a Krueger. Que arma levar a esse encontro? O conhecimento do próprio cérebro.
“As pessoas chegam às clínicas com crises de ansiedade, depressão, transtornos do pânico. Mas, quando mergulhamos fundo nesses males, encontramos sempre o medo.
Hoje, ele é o mais central dos fatores que impedem as pessoas de viver plenamente”, defende o psicoterapeuta americano Srinivasan Pillay, professor da Universidade de Harvard e autor de Livre para viver: 7 lições para vencer o medo, o estresse e a ansiedade (Editora Fontanar).
Hoje, ele é o mais central dos fatores que impedem as pessoas de viver plenamente”, defende o psicoterapeuta americano Srinivasan Pillay, professor da Universidade de Harvard e autor de Livre para viver: 7 lições para vencer o medo, o estresse e a ansiedade (Editora Fontanar).
Pillay estrutura sua obra em torno de uma convicção: a neurociência deu às pessoas a chave para compreender como os temores operam no inconsciente e, como consequência, algumas receitas de como ser mais feliz. “Não é mágica nem superstição. Há atitudes que podemos tomar para mudar nossa vida.”
Pode-se dizer que uma das principais características do inconsciente é ser rápido, muito rápido. Um estudo realizado por pesquisadores de Harvard exemplifica como isso influencia a captação do medo. O experimento consistia em fazer com que voluntários observassem por longos períodos uma máscara exibida na tela de um computador.
Sem que essas pessoas soubessem, em determinados momentos, a imagem de um rosto atemorizado era mostrada na tela por um tempo extremamente curto (na casa dos milissegundos). Isso fazia com que os participantes sentissem um pequeno temor, mesmo jurando nunca ter visto a face assustada.
No exato “milimomento” em que essa figura era exibida, o sangue fluía com mais intensidade em uma região do cérebro que os cientistas batizaram de amígdala cerebral (não confundir com a da garganta).
Sem que essas pessoas soubessem, em determinados momentos, a imagem de um rosto atemorizado era mostrada na tela por um tempo extremamente curto (na casa dos milissegundos). Isso fazia com que os participantes sentissem um pequeno temor, mesmo jurando nunca ter visto a face assustada.
No exato “milimomento” em que essa figura era exibida, o sangue fluía com mais intensidade em uma região do cérebro que os cientistas batizaram de amígdala cerebral (não confundir com a da garganta).
Evolução O cérebro dos seres humanos evoluiu de criaturas muito menos inteligentes. Para adquirir a habilidade de raciocinar, o homem desenvolveu uma maravilhosa camada externa chamada córtex. É ali, especialmente, que habita o consciente. Pillay explica em seu livro que o cérebro animal, no entanto, não foi eliminado e continua a operar.
É ele que dá uma série de respostas automáticas que garantem a sobrevivência da espécie. A amígdala cerebral faz parte dessa estrutura e é nela, principalmente, que opera o medo inconsciente, conforme comprovou a pesquisa de Harvard.
É ele que dá uma série de respostas automáticas que garantem a sobrevivência da espécie. A amígdala cerebral faz parte dessa estrutura e é nela, principalmente, que opera o medo inconsciente, conforme comprovou a pesquisa de Harvard.
No que essa descoberta afeta as pessoas?
“Ela nos diz algo muito profundo a respeito do papel do medo em nossas vidas: você e eu podemos ignorar totalmente diversas coisas que nos provocam temores, embora elas produzam impulsos que fluem através de nossos cérebros”, conclui Pillay. Resumindo: até mesmo algo visto de relance na rua pode ficar registrado no inconsciente e perturbar a mente de um indivíduo.
“Ela nos diz algo muito profundo a respeito do papel do medo em nossas vidas: você e eu podemos ignorar totalmente diversas coisas que nos provocam temores, embora elas produzam impulsos que fluem através de nossos cérebros”, conclui Pillay. Resumindo: até mesmo algo visto de relance na rua pode ficar registrado no inconsciente e perturbar a mente de um indivíduo.
O mesmo vale para a maioria dos sentidos. Em 10 milissegundos, qualquer exposição a algo amedrontador pode entrar no cérebro. Entre 10 e 30 milissegundos, o inconsciente processa essa emoção e provoca respostas no corpo todo (como tremor e suor).
É a amígdala cerebral atuando como uma espécie de freio da mente e “brecando” o indivíduo diante de possíveis ameaças. Só então o consciente (córtex) é avisado do que está ocorrendo e pode questionar-se se, de fato, há razão para temer.
Mas a amígdala cerebral é teimosa e, às vezes, não obedece às ordens da parte racional do cérebro. Cria-se, então, um impasse em que uma parte da mente manda a pessoa ter medo e a outra ordena que prossiga tranquilamente.
É a amígdala cerebral atuando como uma espécie de freio da mente e “brecando” o indivíduo diante de possíveis ameaças. Só então o consciente (córtex) é avisado do que está ocorrendo e pode questionar-se se, de fato, há razão para temer.
Mas a amígdala cerebral é teimosa e, às vezes, não obedece às ordens da parte racional do cérebro. Cria-se, então, um impasse em que uma parte da mente manda a pessoa ter medo e a outra ordena que prossiga tranquilamente.
Isso não ocorre apenas com estímulos bobos do dia a dia, como gritos ou rostos assustados. Há pessoas que constroem toda a vida ao redor de medos inconscientes de todas as espécies. “Isso impede muita gente de ir mais longe.
Elas fogem de seu ‘eu melhorado’ porque se conectar com o próprio potencial as enche de temores: elas receiam frustrar as expectativas alheias, frustrar a si mesmas, têm medo de que, se sonharem muito alto, a queda será maior”, explica Pillay. E, muitas vezes, nem se dão conta disso.
Elas fogem de seu ‘eu melhorado’ porque se conectar com o próprio potencial as enche de temores: elas receiam frustrar as expectativas alheias, frustrar a si mesmas, têm medo de que, se sonharem muito alto, a queda será maior”, explica Pillay. E, muitas vezes, nem se dão conta disso.
Órgão social A explicação parece excessivamente mecanicista à primeira vista, mas é um engano pensar na neurociência como uma área puramente racional e fria. “O cérebro é um órgão social e deve ser analisado como tal. A neurociência nos leva a humanizar o cérebro, pensando nas emoções e nas relações com os outros.
usa métodos científicos, sim, mas também envolve antropólogos e sociólogos, é uma área interdisciplinar”, opina Marco Callegaro, presidente do Instituto Brasileiro de Terapias Cognitivas.
usa métodos científicos, sim, mas também envolve antropólogos e sociólogos, é uma área interdisciplinar”, opina Marco Callegaro, presidente do Instituto Brasileiro de Terapias Cognitivas.
Como uma ciência do humano, ela também busca soluções. Em seu livro, Pillay sugere algumas estratégias para colocar o córtex no controle. “Se você se sente paralisado por alguma situação, incapaz de tomar uma decisão, em vez de repetir a si mesmo que está preso naquele problema, tente pensar em como se mover.
Estudos mostraram que mudar o foco e pensar em soluções ativa as partes racionais da mente. A interação entre o cérebro pensante e o inconsciente faz com que o medo inconsciente perca poder dentro de você”, aconselha o psicoterapeuta.
Estudos mostraram que mudar o foco e pensar em soluções ativa as partes racionais da mente. A interação entre o cérebro pensante e o inconsciente faz com que o medo inconsciente perca poder dentro de você”, aconselha o psicoterapeuta.
Resolver primeiro aqueles problemas que parecem mais simples é um bom auxiliar. Quanto menos questões estiverem pendentes, menor será a atividade do centro cerebral responsável pela captação de conflitos, o córtex pré-frontal medial (CPFm). Pesquisas provaram que desligar completamente a preocupação não é eficiente.
A melhor estratégia é alternar momentos de tensão com situações de relaxamento, como ler algo prazeroso em intervalos no trabalho, o que revigora o cérebro.
E, ao contrário do que dizem os superotimistas, não basta ficar repetindo que a vida é perfeita. “Nenhuma vida é impecável e ninguém se sente completo. Em vez de enganar-se assim, dedique de 15 a 20 minutos do seu dia a pensar nos melhores aspectos dessa vida imperfeita. Isso muda o foco cerebral”, acrescenta Pillay. E vale lembrar: nem Freddy Krueger pode mexer com medos bem resolvidos.
A melhor estratégia é alternar momentos de tensão com situações de relaxamento, como ler algo prazeroso em intervalos no trabalho, o que revigora o cérebro.
E, ao contrário do que dizem os superotimistas, não basta ficar repetindo que a vida é perfeita. “Nenhuma vida é impecável e ninguém se sente completo. Em vez de enganar-se assim, dedique de 15 a 20 minutos do seu dia a pensar nos melhores aspectos dessa vida imperfeita. Isso muda o foco cerebral”, acrescenta Pillay. E vale lembrar: nem Freddy Krueger pode mexer com medos bem resolvidos.
Nana Queiroz