Como
garantir que não vamos nos arrepender das nossas escolhas?
Que o
casamento não vai acabar em divórcio?
Que a profissão escolhida no
vestibular é a que vai trazer felicidade?
A verdade é que garantia
não existe, porque o cérebro não consegue prever o futuro. Mas
podemos orientá-lo a decidir de acordo com as nossas expectativas.
Desse jeito, fica mais difícil se frustrar com o resultado.
Tomar
uma decisão envolve uma disputa com 3 participantes - dois deles
(instinto e experiência) cuidam do seu presente, o outro (a razão)
pensa no seu futuro. Por isso, diante de uma encruzilhada, o melhor é
tentar organizar essa briga. Antes de decidir se quer mesmo encarar
uma mudança radical na carreira, talvez você resolva usar a razão.
Ou não - talvez você esteja cansado da profissão que escolheu e
prefira tentar um caminho novo. Tanto faz: em qualquer decisão, o
importante é pensar se aquele problema merece uma consideração
mais racional ou emotiva. E só aí começar a julgar as informações
e os argumentos. Assim, o cérebro começa a movimentar as
engrenagens sabendo qual delas interessa mais. E evita erros.
Sim,
porque até ser racional pode trazer arrependimentos. A razão
compara tudo para encontrar a solução mais lógica, certo? Imagine
um rapaz de olho nas garotas em um bar cheio de morenas. Só duas
loiras, parecidas entre si, estão por lá. São grandes as chances
de o rapaz se interessar por uma das loiras, porque é mais fácil
para o cérebro compará-las do que comparar dezenas de morenas. A
loira menos atraente só serviu de isca: chamou a atenção do
cérebro, louco por comparações, e fez o rapaz concluir que a
melhor alternativa do bar era aquela loira mais bonita. Sem que o
rapaz tivesse reparado nas morenas, talvez mais interessantes. Nessa
hora, o instinto poderia ter ajudado mais. Afinal, escolher um par no
bar pode mudar sua noite, mas não necessariamente seu futuro. E por
que não confiar na experiência, que poderia disparar dopamina ao
ver uma das morenas?
As
emoções, se usadas na hora errada, também podem fazer você tomar
a pior decisão. Se alguém faz piada do seu cabelo naquele mesmo bar
do exemplo de cima, racionalmente o melhor seria ignorar. Mas a
humilhação e a raiva às vezes falam mais alto - e você pode
cometer um desatino como dar um soco ou jogar o drinque na cara do
cidadão. Uma decisão que você, normalmente, não tomaria. A
ciência já provou que isso acontece.
Um
estudo com jovens mostrou que a excitação sexual pode vencer a
razão em alguns casos. Jovens excitados ficam 136% mais dispostos a
se envolver em atividades sexuais que eles próprios consideram
estranhas ou imorais, como sexo com animais. E 25% ficam mais
propensos a dispensar a camisinha. "Todos os participantes
falharam em prever a influência da excitação nas suas preferências
sexuais", diz Dan Ariely, professor de economia comportamental
no MIT, nos EUA, que conduziu o estudo que chegou a essas conclusões.
"Até a mais brilhante e racional das pessoas, no calor da
paixão, parece completamente divorciada da pessoa que ela pensou que
fosse."
A
solução é usar a razão antes desse ataque das emoções, como
abandonar o bar quando a raiva começar a subir ou espalhar
camisinhas pela casa antes de ir para a balada (o que deixa a
alternativa racional bem visível). O mesmo vale para problemas mais
corriqueiros - se quer aguentar a dieta, evite avistar doces quando
tiver fome.
Saber
qual ferramenta você prefere usar para cada dilema ajuda o cérebro
a se focar nas consequências esperadas com a decisão. Assim, a
chance de arrependimento pode diminuir. De qualquer forma, nem sempre
uma decisão certa é 100% racional ou 100% emocional, e sim uma
combinação de razão, instinto e experiência. Ainda que a voz de
uma delas fale mais alto, todas vão contribuir para as suas
decisões. O importante é entender que podemos usar o melhor de
todas essas alternativas. A boa notícia é que o sistema de
recompensas vai anotar tudo se você se arrepender de alguma escolha.
E lançar um alerta da próxima vez que você tentar cometer uma
burrada.
Como
o cérebro interpreta e analisa as maiores decisões da sua vida:
MUDAR
DE CASA
Razão
- Calcula gastos com aluguel, manutenção, transporte e outros que
afetem sua vida para concluir qual o negócio mais vantajoso e
lógico.
Experiência
- Se você tiver crescido em uma casa e passado bons momentos lá,
vai te influenciar a não se mudar para um apartamento.
Instinto
- Você foi conhecer um apartamento vago no 22º andar e sentiu um
desconforto com a altura. É seu instinto querendo preservar sua
segurança.
CASAR
Razão
- Avalia se a pessoa escolhida tem tudo o que você sonhou. Mas em
uma lista objetiva de prós e contras. Ele(a) gosta de viajar? Quer
filhos? Que importância dá à carreira?
Experiência
- Lembrar de bons momentos do namoro vai lançar dopamina quando você
imaginar a vida de casado. E te empurrar para o altar.
Instinto
- Sensações boas ou ruins virão de acordo com cheiros, toque,
forma do rosto, jeito da pessoa. O cérebro recebe essas informações
e interpreta como sentimentos.
TER
FILHOS
Razão
- Lembra que você precisará dos filhos quando envelhecer. Mas
também age na posição contrária, alertando que a decisão pode
ser um fardo financeiro muito grande.
Experiência
- Influencia de acordo com os momentos que você passou com crianças,
como brincadeiras ou sufocos (a lembrança de troca de fralda, de um
bebê chorão.)
Instinto
- Impulsiona a preservar a espécie. E a cuidar da prole,
principalmente para as mulheres.
ESCOLHER
PROFISSÃO
Razão
- Faz perguntas como: o salário nessa carreira é bom? O cenário
econômico favorece esse profissional?
Experiência
- Busca suas lembranças da escola. Se você não aguentava ver
imagens de corpo humano na aula de ciências, vai te dar calafrios
quando você pensar em medicina.
Instinto
- Já ouviu alguém dizer que "nasceu para aquela profissão"?
Aptidões naturais também fazem parte do instinto. Se você tem
talento natural para a música, pode ficar inclinado a fazer disso
sua carreira.
TROCAR
DE CIDADE
Razão
- Trânsito, custo de vida, preço de imóveis, oferta de trabalho.
Dados objetivos que a razão usará para comparar cidades.
Experiência
- Busca as sensações que a possível nova cidade deixou em você,
venham elas de visitas ou de informações que você recebeu de
outros.
Instinto
- Lidamos muito mal com perdas. O instinto lamentará a perda da
família, dos amigos do bairro, do boteco preferido, gerando emoções
negativas. E, possivelmente, te pressionando a não mudar.
MUDAR
DE EMPREGO
Razão
- Procura motivos objetivos para a mudança e compara o emprego atual
ao futuro, usando dados como situação do mercado e benefícios.
Experiência
- Um acúmulo de sentimentos ruins ao pensar no trabalho te dará a
certeza de que é hora de arrumar outro emprego.
Instinto
- Você pode estar se sentindo ameaçado no escritório, desconfiado
de que os colegas estão te deixando para trás. Ou certo de que seu
salário não é justo.
por
Alexandre de Santi