Acabo de
ler um livro de Eliette Abecassis, uma francesa que eu não conhecia. O nome da
obra, no original, é Un Heureux Événement, que pode ser traduzido para Um Feliz
Acontecimento, mas é um título irônico, pois o livro trata sobre o fator que,
segundo a autora, destrói as relações amorosas: o nascimento de um filho. Num
tom exageradamente desesperado, a personagem narra o fim do seu casamento
depois que dá à luz.
Concordo
que a chegada de uma criança muda muita coisa entre o casal, mas a escritora
carrega nas tintas e cria um quadro de terror para as mães de primeira viagem.
Se o nascimento de um filho é sempre desconcertante, é preciso lembrar que é,
ao mesmo tempo, uma emoção sem tamanho. De minha parte, só tenho bons momentos
a recordar, nada foi dramático.
Mas mesmo
que, por experiência própria, eu não compartilhe com a desolação da autora,
ainda assim ela diz no livro uma frase muito interessante.
Ao
enumerar as diversas mazelas por que passam as criaturas do sexo feminino, ela
me veio com esta: "os homens são as verdadeiras mulheres felizes".
Atente
para a sutileza da frase. O que ela quis dizer? Que os homens saem pela porta
de manhã e vão trabalhar sem pensar se os filhos estão bem agasalhados ou se
fizeram o dever da escola.
Os homens
não menstruam, não têm celulite, não passam por alterações hormonais que
detonam o humor.
Os homens
não se preocupam tanto com o cabelo e não morrem de culpa quando não telefonam
para suas mães. Os homens comem qualquer coisa na rua e o cardápio do jantar
não é da sua conta, a não ser quando decidem cozinhar eles próprios, e isso é
sempre um momento de lazer, nunca um dever.
Os homens
não encasquetam tanto, são mais práticos. Eu, que estou longe de ser uma
feminista e mais longe ainda de ser ranzinza, tenho que reconhecer o
brilhantismo da frase: os homens são mulheres felizes. Eles fazem tudo o que a
gente gostaria de fazer: não se preocupam em demasia com nada.
Porque
nosso mal é este: pensar demais. Nós, as reconhecidas como sensíveis e
afetivas, somos, na verdade, máquinas cerebrais. Alucinadamente cerebrais.
Capazes de surtar com qualquer coisa, desde as mínimas até as muito mínimas.
Somos
mulheres que nunca estão à toa na vida, vendo a banda passar, e sim atoladas em
indagações, tentando solucionar questões intrincadas, de olho sempre na hora
seguinte, no dia seguinte, planejando, estruturando, tentando se desfazer dos
problemas, sempre na ativa, sempre atentas, sempre alertas, escoteiras 24
horas.
Os
homens, mesmo quando muito ocupados, são mais relax. Focam no que têm que fazer
e deixam o resto pra depois, quando chegar a hora, se chegar. Não tentam salvar
o mundo de uma tacada só.
E a
chegada de um filho, ainda que assuste a eles, como assusta a todos, é algo
para se lidar com calma, é um aprendizado, uma curtição, nada de muito caótico.
Eles não precisam dar de mamar de duas em duas horas, não ficam fora de forma,
não enlouquecem. Isso é uma dádiva: os homens raramente enlouquecem.
Nós, nem
preciso dizer. Nascemos doidas. Por isso somos tão interessantes, é verdade,
mas felicíssimas, só de vez em quando, nas horas em que não nos exigimos
desumanamente.
Homens,
portanto, são realmente as verdadeiras mulheres felizes. Que isso sirva de
homenagem aos queridos, e sirva pra rir um pouco de nós mesmas, as que se
agarram com unhas e dentes ao papel de vítimas porque ainda não aprenderam a
ser desencanadas como eles.