Uma terapia genética que já cura ratos de sintomas de
depressão pode ser a chave para o tratamento da mesma doença em humanos.
A terapia gênica é um método de tratamento através da
inserção de genes funcionais em células ou tecidos onde há genes mutados ou
“quebrados” que estão causando problemas.
Embora a terapia gênica ainda seja experimental, ela tem tido
sucesso na cura do daltonismo em macacos e em testes iniciais para tratar a
cegueira humana, o câncer e uma rara doença cerebral fatal chamada
adrenoleucodistrofia.
No entanto, a terapia gênica ainda não tinha sido usada no
tratamento de transtornos psiquiátricos humanos. A terapia, que agora está
sendo testado em primatas, pode ser aprovada para testes clínicos em humanos em
menos de dois anos, se tudo correr bem.
O estudo centra-se em uma proteína chamada p11. Esta
proteína é importante para o funcionamento do neurotransmissor serotonina, que,
por sua vez, desempenha um papel na depressão.
Os ratos sem o gene que produz a p11 tendem a ficar
deprimidos. No caso deles, a depressão significa pouquíssimo interesse em
petiscos como água açucarada, e falta de motivação para sair de situações
assustadoras, como ficar preso pela cauda.
Os pesquisadores tentaram descobrir se os ratos agiram desta
forma porque ficar sem o gene na fase de embrião tinha retardado o seu
desenvolvimento, ou se a proteína continuava a ser importante no cérebro
adulto.
O objetivo era primeiro mostrar qual a importância da p11
para a função normal do cérebro adulto e, depois, tentar identificar a parte do
cérebro onde ela é importante.
Para isso, os pesquisadores usaram um vírus inofensivo para
injetar um fragmento de ácido ribonucléico (RNA), similar ao DNA, no cérebro de
ratos normais. O RNA bloqueou a expressão de um gene que é essencial para a
produção de p11, portanto ela parou nas áreas da injeção.
O experimento revelou uma mancha de p11 no cérebro do rato,
em uma região conhecida por desempenhar um papel no prazer e na recompensa. Os
ratos sem produção de p11 nessa região apresentaram todos os sinais de
depressão.
Isso respondeu às perguntas dos pesquisadores sobre se e
quando a p11 era importante. Então eles testaram a terapia gênica. A equipe
usou ratos com deficiência na proteína. Então injetaram um gene p11 que reparou
a produção da proteína em cada rato. O comportamento dos animais foi totalmente
revertido. De repente, eles deixaram de ser depressivos e voltaram a ter um
comportamento normal.
Nos estágios finais do estudo, os pesquisadores procuraram
saber se a p11 desempenhava um papel semelhante em cérebros humanos. Eles compararam
os cérebros de 17 pessoas mortas que tiveram depressão com os cérebros de 17
pessoas mortas que não tiveram depressão. Depois de controlar idade e sexo, os
pesquisadores descobriram que as pessoas deprimidas também tinham níveis mais
baixos da proteína p11.
Isso sugere que a depressão humana está associada a baixos
níveis de p11 no cérebro, e a terapia genética pode ser capaz de reverter essa
condição.
Segundo os pesquisadores, outros genes também têm um papel
na depressão, a p11 é apenas um desses fatores. No entanto, a proteína é um
alvo particularmente atraente para a terapia por causa de seu papel no cérebro.
Ela atua quase como um “rebocador”, trazendo um receptor de serotonina
importante para a superfície da célula, onde ele pode interagir com o neurotransmissor.
Sem a p11, as células do cérebro não respondem adequadamente
à serotonina. Como o papel da p11 é bem especializado, aprimorar os seus níveis
é menos susceptível de provocar resistência ou efeitos secundários observados
em outros tipos de tratamentos.
O estudo aponta um caminho para uma nova terapia para a
depressão, além de fornecer novas evidências de que doenças psiquiátricas como
a depressão não são diferentes de outros tipos de distúrbios neurológicos.
Natasha Romanzoti [LiveScience]