É sabido que tudo o que é oculto desperta curiosidade e interesse. Nestas crônicas quinzenais, sempre que conto um episódio esotérico, chamemos assim os acontecimentos que ocorrem sem comprovação, recebo dos leitores mensagens de crença e descrença, provando que não se passa por esse tema com indiferença.
Em maio, numa crônica neste espaço, levantei a questão do “assim é se lhe parece”, e foram muitas as manifestações, ora apoiando, ora negando a existência de fenômenos inexplicáveis.
Por essa razão, eu e alguns amigos do Café Severino criamos uma espécie de jogo em que todos contam fatos vividos ou sabidos em que a veracidade não pode ser provada. Você acredita ou não. Fizemos isso na última semana. Nossa querida Carla cuidou de gravar o que cada um contou, transcrevendo para o papel o que foi dito. Devido ao espaço de que disponho aqui, passo a vocês, hoje, as duas que considerei mais intrigantes, mas prometo que no decorrer do ano irei inserindo nas minhas crônicas uma ou outra das muitas histórias que ouvi naquela tarde. A pedido deles, não direi quem contou isso ou aquilo. Querem o anonimato. Que seja assim.
Na véspera de casar-se, uma jovem recebeu uma dúzia de rosas brancas, acompanhadas de um cartão no qual se lia apenas: “Seja muito feliz”. Sem saber o autor ou autora do presente, mas admirada com a beleza e o frescor das flores, deixou-as num vaso na mesinha que tinha no quarto. Surpreendentemente, a jovem não acordou na manhã seguinte. Estava morta quando foram chamá-la para o café. E as rosas brancas amanheceram rosas vermelhas, rubras como sangue, o que ninguém conseguiu explicar.
Um homem sonhou com um número de cinco algarismos: 47 296. Acordou do sonho, anotou o número num papel e voltou a dormir. Na manhã seguinte, antes que ele contasse à mulher, ela lhe disse que sonhara com o mesmo número e que também o havia anotado. Ficaram pasmos com a coincidência, na certeza de que era um aceno da fortuna e do fim dos problemas financeiros que viviam. Era a sorte batendo finalmente à porta. Correram à rua e entraram na primeira casa lotérica que encontraram. Só havia um bilhete à venda. Precisamente o de número 47 296. Ah, pensaram com mais certeza, a fortuna estava garantida. Na hora do sorteio, que era transmitido pelo rádio, aguardaram — muito seguros, mas ansiosos — as bolinhas numeradas revelarem o 5º, 4º, 3º e 2º prêmios, até finalmente chegarem ao 1º. E o bilhete sorteado foi 69 274. Portanto, o número sonhado, porém invertido. Podem imaginar a decepção de marido e mulher. Consideraram o acontecimento uma gozação do destino. Alguns dias depois, falando sobre o assunto, lembraram que, por causa de uma goteira na cabeceira da cama, os dois estavam dormindo havia mais de um mês com a cabeça virada para os pés. Invertidos, portanto.
Há quem jure que essas histórias são verdadeiras. Há quem as negue e até ria de quem as conta e de quem as ouve. Não me surpreendo com nenhuma das duas reações. É a verdade de cada um.