Fala-se muito em Deus, mas pouco em anjos. Acredito
neles, nos zelosos guardadores, não sentados em nuvens tocando trombeta, mas
aqui, no plano terreno. Um pode ser o anjo do outro. Você pode ser meu anjo, e
eu o seu.
Vou compartilhar uma história que aconteceu no final de
fevereiro. Recebi um convite para integrar a equipe de uma instituição
britânica liderada pelo filósofo e escritor Alain de Botton, a The School of
Life, que está introduzindo atividades no Brasil. Topei. No entanto, meu inglês
é precário.
Consigo viajar sem pagar micos, me comunico em hotéis e
restaurantes, mas não tenho fluência para manter uma conversa digna com um
estrangeiro. E isso será fundamental no novo desafio profissional que me
surgiu. Preciso aprender inglês pra ontem. Como? De preferência, estudando
fora, fazendo um curso de imersão. Até então, isso nunca tinha passado de um
sonho da juventude.
Dias depois de a The School of Life me procurar, recebi
outro convite: lançar meus livros em Torres. Passei quase três horas autografando
para veranistas e moradores da cidade. Quando a livraria estava fechando a
porta, um homem insistiu em entrar. Um turista. Ele pediu minha dedicatória, a
última da noite, e me entregou seu cartão. Era, simplesmente, um renomado
gestor de cursos de inglês no Exterior. O procurei na semana seguinte e, para
encurtar a história, estou matriculada em uma das escolas mais sérias da
Inglaterra, já tenho um flat alugado e estou com toda a burocracia resolvida.
De quebra, fiz um novo amigo.
Esse tipo de história é recorrente na minha vida.
Qualquer questão que se apresente, a solução cai do céu em dias, às vezes em
horas, através de alguém que não conheço. O exemplo que dei é elitista, mas já
aconteceram coisas bem mais prosaicas e milagrosas – nunca me apertei. Sempre
um anjo apareceu do nada.
Pode-se chamar isso de ter sorte, ou uma boa estrela.
Dá no mesmo. Estamos falando de receptividade e de doação. Você tem um anjo
porque também já foi o anjo de alguém. E se tudo não passar de baboseira, que
seja. Num mundo rude como o nosso, há que se flertar com o esotérico.
No momento em que você me lê, já estou em Londres.
Amanhã começam minhas aulas e não vai ser moleza: serão seis horas por dia,
afora os temas de casa e alguns compromissos com a The School of Life, a
entidade que deu início a essa minha movimentação. Por isso, ficarei ausente do
jornal durante todo o mês de julho. Prometo retornar em agosto mais inspirada
e, se os anjos ajudarem, reencontrar vocês com saudades. Até breve.