Ainda
não me refiz da primeira vez que vi um GPS funcionando. GPS, já
sabia todo o mundo menos eu, quer dizer Sistema de Posicionamento
Global, em inglês. É um aparelho que mostra onde estamos numa
telinha e diz como chegar onde queremos ir. Diz, literalmente. O
danado do aparelho não apenas fala como é poliglota: você pode
escolher a língua com a qual será guiado. Durante a Copa do Mundo
na Alemanha, que foi quando conheci o engenho mágico, éramos
orientados por uma simpática portuguesa que não nos deixava
confundir ingang com aufgang, chamava rotatória de “rotunda” e
nunca nos falhou.
Nem comecei a tentar compreender como a visão de
um satélite estacionado sobre nossas cabeças chegava no carro e se
transformava em voz com sotaque português. Eu ainda não sei bem
como funciona grampeador.
Mas
posso imaginar como será o futuro do GPS. É provável que um dia
ele assuma o volante e dispense o motorista, eliminando uma etapa no
processo de dar direções e só usando sua voz para gritar com as
crianças no banco de trás. E não é impossível que, com o tempo,
surja uma espécie de GPS moral, um sistema de orientação não para
veículos mas para gente, que mostre o caminho a ser seguido, os
desvios éticos a serem evitados e a melhor saída para qualquer
“rotunda” de incertezas que possa nos comprometer.
O aparelho não
seria maior do que um celular que cada um carregaria no bolso ou na
bolsa.
Porque
a verdade é que todos os nossos antigos sistemas de orientação –
o religioso, o familiar, o jurídico, o filosófico – falharam,
somos uma geração à deriva, sem giroscópio.
Com o aperfeiçoamento
do GPS seríamos guiados por uma entidade superior que tudo vê e
tudo sabe, um satélite estacionário sem nenhuma dúvida sobre o que
é certo e o que é errado e o que nos convém. Bastaria levar o
aparelho ao ouvido e escutar seus
conselhos.
Na voz que escolheríamos.