Em
alguns estados mais puritanos chegam a expor em outdoors
os nomes e
fotos imensas de homens, a maioria casados,
que foram flagrados com
prostitutas
A
nova lei é dura e as multas são pesadas. Cerca de 70% da população
desaprovam, mas a Assembleia Nacional decidiu que trocar sexo por
dinheiro vai ser ilegal na França e o Estado vai punir o que as
mulheres e os homens fazem com seu corpo. Como o flagrante tem que
ser com o ato consumado, e pago, agora falta uma Polícia Sexual.
As
feministas se dividiram entre a liberdade e a dignidade: umas
acreditam que as mulheres só se prostituem à força, que são
escravas sexuais exploradas e degradadas por traficantes de pessoas,
o que é verdade, mas não para todas; outras fazem por livre
vontade, porque gostam, e se consideram benfeitoras dos homens, e
mulheres, por lhes vender prazer e felicidade, o que também é
verdade desde que o mundo é mundo.
Mas
não é novidade. Nos Estados Unidos, à exceção do estado de
Nevada, onde fica Las Vegas, a prostituição é criminalizada em
todo o país, com multas e cadeia para quem compra ou vende sexo. Na
repressão, usam até policiais gatonas que se fingem de prostitutas
para abordar um cidadão na rua e lhe oferecer um programa, e assim
que ele aceita, lhe exibem a carteira da policia e dão voz de
prisão. Sim, a cilada moral é vista como uma ação legal pela
Justiça, mas o resultado não é o aumento da proteção às
mulheres, mas do índice nacional de hipocrisia.
Em
alguns estados mais puritanos chegam a expor em outdoors os nomes e
fotos imensas de homens, a maioria casados, que foram flagrados com
prostitutas. Enquanto isso, milhares de sites oferecem mulheres,
homens e transexuais para qualquer coisa, em qualquer lugar, a
qualquer preço, e profissionais ironizam a concorrência de
amadoras, que trocam sexo por viagens, carros e joias ou por casa,
comida e cartão de crédito, ou um emprego público. Seja no varejo
ou no atacado, julgamentos são inúteis: cada um dá o que tem.
Além
das piadas e da inviabilidade de sua aplicação, tornar ilegal a
prostituição na França é um atentado contra o imaginário
coletivo nacional. O que seria da cultura francesa sem os dramas e
comédias, as óperas e os romances, os filmes, peças e quadros que
elas inspiraram?