Homem viveu há 7 mil anos na Europa;
fenótipo raro foi revelado pela recuperação de seu genoma
Bonito, de pele escura, olhos azuis, barba, cabelo comprido, cerca de 30 anos e intolerante à lactose. Este é o resultado da recriação feita pelo Centro Superior de Investigações Científicas (CSIC) do genoma de um caçador que viveu no período Mesolítico, há 7 mil anos. O desenho feito a partir das informações genéticas e dos ossos do crânio revela as feições do homem e pode ser visto pela primeira vez no Museu de León, na Espanha.
O esqueleto foi encontrado em 2006, mas somente no mês passado foi revelado que se trata do mais antigo genoma de um ser humano já recuperado na Europa.
O seu terceiro molar estava intacto e, dali, os cientistas conseguiram extrair material genético. A partir dessas informações foi possível determinar algumas das características físicas do homem, chamado de Venceslau pelos especialistas que o estudaram e recriaram seu rosto.
De acordo com estudo publicado na “Nature”, o homem apresenta as versões africanas dos genes responsáveis pela pigmentação clara da pele dos europeus atuais e também genes para pele negra. O genoma revelou ainda que ele tinha as variantes genéticas responsáveis pelos olhos azuis - típico dos europeus -, dotando-o de um fenótipo raro.
Os dados mostram que a mudança na cor da pele clara dos europeus não aconteceu no Paleolítico como se acreditava, mas muito tempo depois, provavelmente no Neolítico.
O genoma revelou ainda que o homem era intolerante à lactose - outro traço muito mais comum na África do que na Europa. Atualmente, no Norte da Europa, por exemplo, menos de 5% da população apresentam dificuldade na digestão do açúcar, contra 98% em várias regiões da África.
JOSÉ ANTONIO OTERO