Para o cérebro, não importa se o bom resultado de uma ação
foi causado por você ou por outra pessoa.
Em ambos os casos, o sistema de recompensa é ativado e nos traz satisfação
Que culpa e gratidão são emoções ninguém duvida: quando as sentimos, o coração bate diferente, o corpo muda daquele jeito subjetivo e ainda indescritível, mas que nos deixa com a certeza de que tem algo digno de nota acontecendo. Mais do que mera “coloração” à vida, as emoções de forma geral são hoje reconhecidas como marcadores fundamentais que atribuem valor positivo ou negativo a pessoas, coisas, lugares e acontecimentos – e é em função desse valor que tomaremos nossas próximas decisões.
Felicidade, medo, raiva, nojo e surpresa são emoções “básicas”, automáticas e que não requerem nenhum tipo de avaliação racional ou de envolvimento pessoal. Mas e as emoções morais, aquelas que dependem de julgamento de intenções alheias? Estas, segundo os neurocientistas Jordan Grafman e Jorge Moll, deveriam depender de uma interação entre as partes do cérebro que processam as emoções básicas e outras que fazem o julgamento moral: aquele que, partindo da avaliação das intenções e das ações alheias, nos faz decidir se algo é certo ou errado.
Apoiados na filosofia de David Hume, Grafman, Moll e seus colaboradores supõem que emoções morais dependam da noção de agência, ou seja, de responsabilidade pessoal pelos acontecimentos. Quando algo ruim acontece por conta dos outros, sentimos raiva; mas quando o infortúnio é percebido como resultado das nossas ações (mesmo que não seja!), sentimos culpa, pois nos enxergamos como a causa do problema. Da mesma forma, quando algo de bom ocorre como resultado das nossas ações, ficamos orgulhosos; mas quando algo de bom acontece por ação alheia, ficamos... gratos.
O que acontece no cérebro enquanto isso? Os pesquisadores descobriram que a diferença entre culpa e raiva, orgulho e gratidão de fato depende de partes do cérebro que processam o envolvimento pessoal. No caso das emoções morais positivas, contudo, um achado é particularmente interessante: não importa se a causa do bom resultado é você mesmo ou outra pessoa; em ambos os casos há ativação do sistema de recompensa do cérebro, que nos deixa instantaneamente felizes e satisfeitos. Pensar em algo de bom que nos fizeram é, portanto, uma maneira tão eficaz de nos deixar felizes como fazer algo de bom nós mesmos. A gratidão, portanto, leva à felicidade.
Esta não é uma descoberta exclusiva da neurociência. O monge beneditino David Steindl-Rast vem há anos divulgando uma mensagem de gratidão. Em uma palestra de pouco mais de 14 minutos divulgada recentemente no site TED.com, e sem qualquer apoio audiovisual, o monge nos lembra que todos nós, de qualquer cultura, etnia, credo ou profissão, temos algo profundo em comum: o desejo de ser feliz. E ousa dar uma receita: o caminho mais fácil e imediato para a felicidade é... a gratidão.
É uma mensagem simples e poderosa – e a neurociência assina embaixo. David nos lembra o que é dar graças: é parar por um instante para olhar ao redor e reconhecer as oportunidades que temos, e lembrar que, mesmo se algo dá errado, a vida nos dá a seguir a oportunidade de tentar de novo. Na pior das hipóteses, podemos ser gratos só por essa oportunidade de seguir adiante.
Parar para olhar ao redor e agradecer pelas coisas boas da vida é, portanto, oferecer ao cérebro uma oportunidade de lembrar de tudo o que tem dado certo e ficar genuinamente feliz com tudo isso que não depende de nós. Assim, a gratidão é, por definição, um sentimento de felicidade – mas um que podemos escolher ter a cada instante. É só fazer uma pausa, dar graças (à vida, aos céus, a Deus, ao acaso, às pessoas boas que você conhece, não importa) – e instantaneamente seu cérebro encontrará um momento de felicidade.