Aumenta a procura por cirurgia plástica para
melhorar a aparência nas redes sociais.
O que isso significa?
O que isso significa?
Num mundo em que as aparências contam mais que a essência, todos querem ficar bem na foto. Interessante essa expressão. Ficar bem na foto não significa apenas ser fotogênico. Significa se sair bem nas mais diversas situações. Manejar as adversidades com destreza e construir relações amistosas com quase todo mundo. Construir uma boa imagem pessoal em qualquer ambiente.
Usamos essa expressão quando queremos nos referir ao comportamento ou à estratégia de alguém. Nem sempre é um comentário positivo. Muitas vezes a frase é um veneninho ensopado de inveja, desses comuns no mundo corporativo. “Putz, não é que o cara ficou bem na foto?”.
Mesmo quando o assunto é o comportamento, recorremos a palavras que denotam a extrema valorização da aparência física. Por mais cruel e escandaloso que seja, exibir uma boa estampa tornou-se mais ou menos tudo. Principalmente em redes sociais como o Facebook, uma ilha da fantasia onde prosperam os belos, os felizes, os legais e os bem-sucedidos.
Não pretendo aqui fazer um discurso moralista. Cada um é livre para criar o personagem que quiser. O que me parece perigoso é acreditar nele a ponto de se submeter a intervenções cirúrgicas. Profissionais da área relatam que, nos últimos meses, aumentou o número de pessoas interessadas em fazer cirurgia plástica para melhorar a imagem nas redes sociais.
A Academia Americana de Cirurgia Facial e Reconstrutiva fez uma pesquisa entre 752 cirurgiões associados a ela. Constatou um aumento de 31% nesse tipo de demanda. É uma tendência que se repete em vários países. Na Índia, por exemplo. No Brasil, campeão mundial em número de cirurgias plásticas realizadas, não poderia ser diferente.
Nunca as pessoas olharam tanto para si mesmas. Ou melhor: nunca olharam tanto para o próprio umbigo e para a própria casca. Postam fotos feitas em todos os ângulos e nas mais diversas situações com mais frequência do que olham no espelho.
Características físicas que antes não incomodavam ou incomodavam pouco passaram a ser vistas como algo a ser consertado, aperfeiçoado, enquadrado nos padrões. Tudo com a esperança de agradar mais, receber mais “curtir”, mais pios, mais isso e mais aquilo. É uma necessidade emocional. Todos querem se sentir queridos e aceitos, mas a saída fácil parece ser entrar na faca.
Um reclama do queixo pequeno. Outra do colo envelhecido, das mãos manchadas, do abdome flácido. Não há limites para a severidade autoimposta. O alvo preferencial das reclamações é o nariz. Por estar no centro da face e ser estático, o nariz personaliza o rosto.
“Não existem pessoas feias com nariz bonito”, diz o cirurgião plástico Volney Pitombo. Se tem nariz bonito, é bonita”. Pitombo é um dos mais respeitados especialistas em rinoplastia no Brasil. Realizou mais de 5 mil cirurgias desse tipo, inclusive em celebridades como Débora Bloch, Murilo Benício e Angela Vieira.
Talvez Pitombo tenha razão, mas outro fenômeno (o das pessoas bonitas que quiseram ficar mais bonitas e acabaram deformadas), não pode ser menosprezado. “Nariz é a operação que exige mais concentração, experiência e técnica do cirurgião”, diz Pitombo. “Desastres ocorrem quando o profissional adota uma técnica excessivamente redutora. A cirurgia fica literalmente na cara”, diz.
O resultado é aquele nariz infantilizado, no estilo Barbie, tão em voga nos anos 60 e 70. O nariz não foi feito para ser tratado com agressividade. Dá errado. A rinoplastia atual é estruturada. Em vez de retirar osso e cartilagem, os cirurgiões chegam a adicioná-la para modelar o nariz.
Eles fazem pequenos ajustes para harmonizá-lo com o rosto. “Um nariz mestiço com a forma larga pode ser suavizado, se esse for o desejo do paciente, mas tentar arrebitá-lo ou deixá-lo fininho é algo inaceitável”, diz Pitombo. As fotos de Michael Jackson antes e depois das inúmeras plásticas não deixam dúvidas sobre isso.
Os mais jovens cismam que o nariz é grande ou largo demais. Querem consertá-lo e postar a novidade nas redes sociais antes mesmo de ver o resultado final. Não faz muito tempo, Pitombo operou uma jovem e, poucas horas depois, ainda no quarto, ela estava postando fotos “do novo nariz” no Facebook. Antes mesmo de retirar o curativo.
De tanto se olhar e espiar os outros nas redes sociais, os mais velhos passaram a se incomodar ainda mais com o envelhecimento. Reclamam de um fato da vida. Na faixa dos 30 ou 40 anos, a ponta do nariz realmente começa a mudar. Fica um pouco mais caída. É possível retocá-la e, com isso, ganhar um aspecto mais jovem.
Essa é uma decisão muito particular, mas antes de se submeter a uma cirurgia é preciso tomar vários cuidados. Os primeiros são de ordem prática:
• Escolher um profissional com título de especialista emitido pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica
• Avaliar a experiência dele. Nem todo cirurgião plástico é bem-sucedido em rinoplastias. Mexer no nariz exige um treinamento especial
• Ter certeza de que está consciente e bem informado sobre o tipo de anestesia, os riscos da cirurgia e as complicações que podem surgir no pós-operatório
• Só operar em locais seguros, com centro cirúrgico autorizado pela Vigilância Sanitária e equipamentos necessários para socorrê-lo em qualquer emergência.
Nenhum desses é o cuidado principal. O essencial é avaliar a real motivação por trás da operação. A motivação precisa ser genuína. Vir de dentro para fora. Não de fora para dentro. Não deixe que as pressões, os modismos e os padrões de beleza roubem sua identidade.
Ninguém terá a nobreza de Kate Middleton se encomendar um nariz como o dela – algo que virou moda nos consultórios. Não tente copiar a sensualidade de Scarlett Johansson. Ela não está no nariz, ainda que ele tenha sido retocado. Não está nos lábios, nem no umbigo, nem no dedo mindinho. Está em algum ponto insondável, mas escandalosamente perceptível. É dela e só dela. Certamente você tem a sua. De outro jeito, com outra intensidade, mas em você.
“O nariz perfeito é o da própria pessoa”, diz Pitombo. Quando opera, o objetivo dele é atingir a naturalidade máxima.“Todo o meu esforço é para que as pessoas que convivem com o paciente notem o benefício sem detectar a plástica. Quando isso acontece, o sentimento é de ter realizado uma obra-prima. Coisa de Michelangelo”, diz.
Obra-prima é você. De carne, osso, com imperfeições, com correções ou sem elas. Seja o que quiser, de forma consciente. Seja, sobretudo, você.