Há milhares de anos, elas passaram a ajudar na criação dos netos. Isso liberou as filhas para reproduzirem mais vezes, garantindo a supremacia do homem no planeta.
Casa de avó é recanto de carinho, muito carinho. A ideia é praticamente um consenso para a maioria das pessoas. Entretanto, o que pouca gente sabe é que os cuidados e a atenção das vovós pode ter sido muito mais importante do que se imagina.
Pesquisadores da Universidade de Utah, nos Estados Unidos, pesquisam na tentativa de comprovar a “hipótese da avó”. É uma teoria existente desde 1997. Esta teoria defende que foi a presença das avós nas famílias que proporcionou uma situação favorável para que os seres humanos vivessem mais tempo do que os demais primatas.
“A função social da avó foi o primeiro passo para que nos tornássemos o que somos hoje”, defende a antropóloga Kristen Hawkes, uma das cientistas que propôs a tese há 15 anos.
De acordo com ela, o fato de adicionar os cuidados das avós ao grupo familiar foi o determinante para que a espécie humana conseguisse chegar ao tempo de vida humano atual.
Para se ter ideia da importância desse fato devemos pensar que, entre os primatas, as fêmeas de chimpanzés sobrevivem apenas mais 15 ou 16 anos após o início do período fértil (que acontece aos 13 anos). E as mulheres podem viver mais 60 anos após essa etapa, iniciada em torno dos 19 anos.
Famílias, aleitamento e desmame
De acordo com esta teoria, historicamente o aumento na expectativa de vida foi possível porque as matriarcas, a partir de um determinado ponto ainda impreciso no tempo, começaram a ajudar a alimentar os netos após o desmame.
Isso aliviou as mães, que puderam, então, interromper o aleitamento mais cedo e terem mais filhos em intervalos menores.
Quando os nossos ancestrais ainda viviam na floresta, após o desmame, os bebês encontravam opções de alimento por contra própria. “Quando a floresta começa a ficar mais escassa, eles migram para ambientes abertos, onde é mais difícil encontrar alimento”, explica Rosana Tidon, professora do Departamento de Genética e Morfologia da Universidade de Brasília (UnB).
As mães passaram, então, a gastar mais tempo e esforço para alimentar sua prole. Foi nesse momento que as avós surgiram como solução. Elas estavam por perto, já tinham passado da idade reprodutiva e passaram a atuar na alimentação dos netos. Nisso, elas liberaram suas filhas para terem mais filhos.
Além disso, as fêmeas ancestrais que viraram avós conseguiram passar adiante o patrimônio genético da longevidade para as gerações posteriores, o que contribuiu para que a expectativa de vida da espécie aumentasse.
Todos ganham
As duas ganham com isso: a mãe porque fica liberada para outras atividades e a avó porque, ao aumentar a capacidade de vida dos netos, acaba aumentando a sua própria aptidão de repassar as características da longevidade aos descendentes.
O outro fato maravilhoso, que tem ligação com este, e do qual falaremos depois, é que avós que se dedicam mais tempo aos netos têm menor incidência de doenças degenerativas da idade, como o Alzheimer! Aí são os netos cuidando dos avós!