Possuímos dispositivos de algumas polegadas, pouco maiores que as palmas de nossas mãos, capazes de acessar, ao toque na tela, todo o produto intelectual humano de nossa história.
Indo conosco onde quer que formos, cada vez menores e mais poderosos, esses dispositivos nos fazem oniscientes em potencial.
Mas que uso estamos dando a esses artefatos mágicos?
Aliás, estamos usando ou sendo usados?
Muito já foi dito a respeito do que segue. Arrisco estar repetindo dezenas de outras reflexões, talvez com os mesmos argumentos, sendo, apenas mais-do-mesmo, mas ainda precisamos refletir muito a esse respeito. Assim, lá vamos nós outra vez.
Solidão é uma realidade muito foda! Solidão, esquecendo o conceito convencional, que leva a entender como "não ter ninguém", é um paraíso particular. Arriscando ser odiado, não consigo envolver outro termo diferente para exprimir o conceito. Solidão é estar sozinho, e estar sozinho, sempre que possível, é absolutamente necessário.
Solidão convida à reflexão, à meditação, ao pensamento profundo. Ao avesso dos livros, solidão é pensar pela própria cabeça.
Reflexão, a capacidade de olhar e olhar de forma profunda, de trazer para si, refletir... Reflexão se faz no escuro, em silêncio, sozinho...
Mas quem reflete, hoje em dia?! Quem consegue escuridão, quando as telinhas iluminadas dos celulares não se apagam nunca? Quando os PowerBanks garantem baterias inesgotáveis?
Quando sempre podemos habilitar economias de energia, a fim de que jamais se apaguem? A tecnologia nos privou da escuridão...
E o silêncio? Como ficar em silêncio, quando a televisão nunca se cala, quando há música tocando o tempo todo e as notificações dos nossos Apps ecoam na nossa cabeça, convidando ao update? A tecnologia nos priva, também, do silêncio...
Seguindo, como estar sozinhos? Como é possível estar só quando os Messengers e Whatsapps nos oferecem companhias full-time, quando os grupos não param, e as timelines nos alimentam?!
A tecnologia, por fim, nos tirou o direito de ficarmos sozinhos, a não ser que queiramos viver "em modo avião"...
Olha lá que bacana: estamos refletindo! Estamos espelhando a realidade nunca percebida na nossa fantasia, e pensando... Estamos trazendo à tona um problema, resultado da não-reflexão, resultado da não-solidão: não pensamos, e não pensando, não sabemos! E não sabendo, não conhecemos! E não conhecendo, não conhecemos a nós mesmos, e jamais olharemos p'ro lado! Se não olharmos p'ro lado, nunca seremos!
Queridos, precisamos estar sós. Precisamos olhar p'ra dentro de nós mesmos e buscar as perguntas, para podermos trabalhar nas respostas... Quem sou eu?! Do que gosto?! O quê não gosto?! O que sabia fazer?! Posso voltar?! O que não sei, mas gostaria?! Isso sou eu!
O desconhecido nos apavora! E se nos somos desconhecidos, obviamente temeremos estar sós, e nos afundaremos em semi-companhias, semi-relacionamentos, semi-relações...
Camaleões-sociais, que se camuflam, acuados, aos ambientes, apenas estando, nunca sendo... Consumindo, nas telinhas brilhantes, muitos dados e nada de informação.
Só se ama aquilo que se conhece, e profundamente, afinal, "o essencial é invisível aos olhos", como dizia Exupéry.
Estaremos condenados à triste solidão acompanhada enquanto não nos permitirmos a deliciosa solidão completa, que completa, que permite o autoconhecimento, que nos leva a apaixonarmo-nos por nós mesmos, a deliciosa experiência do saudável amor próprio, livre de soberba, repleto de constatação real de nossos tesouros e esgotos particulares, da verdade, adequando nosso entendimento à realidade...
"Ah, mas trabalho, filhos, casamento, contas e dívidas me consomem todo o tempo. Já não me cabe mais estar sozinho...". Muitos de nós apresentarão imediatamente essa escusa (e me perdoem a audácia de chamar tal constatação de "escusa").
Mas ouso questionar: a quantos programas de televisão você assistiu hoje? Quantos sagrados minutos você desperdiçou assistindo aquela "pegadinha" no YouTube?
Quantas maratonas de seriados pretende fazer no Netflix esse final de semana? Quantas fases passou, hoje, no CandyCrush? Quantas roladas de página deu no Instagram ou 9gag, p'ra ocupar a mente no momento do ócio...
Numa vida tão corrida e tão desgastante, jura que houveram minutos de ócio?! Não seria, então, mau aproveitamento, em vez da falta de tempo?!
Aprendamos, pois, a repensar, a fazer esforços mais consistentes no que realmente importa: a saúde. Mas saúde da alma, da mente, que hora ou outra nos convidará à saúde do corpo, afinal nos fará apaixonados por nós mesmos, e, conseqüentemente, muito mais apaixonados pelo mundo e pela vida, e mais capazes de amar, de dar amor, e mais merecedores de receber.
Reflitamos, olhemos para dentro, no escuro, no silêncio e na solidão, que seja no momento de fechar os olhos à noite, antes de dormir, na caminhada até a Padaria, até na ida ao banheiro (não, não é bizarro mencionar isso. Bizarro é pensar quantas vezes vamos acompanhados de nossos celulares... Isso, sim, é bizarro).
Reflitamos! Usemos a tecnologia para seu real propósito: melhorar nossas vidas. Por fim, reflitamos, e tudo terá muito mais cores, formas, tons, ritmos, cheiros e gostos. Vai por mim ;).
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