Não vou ao Sambódromo no dia do Desfile das Campeãs, um dos programas que sempre amei fazer.
Não vou porque não estou no mood, não há clima para mais carnaval nessa cidade enlutada, sofrida, violentíssima, que, ainda por cima, acaba de passar às mãos dos milicos. Morro de medo de milico. Sou da geração 1968, ora pois. Quem tem, tem medo.
A situação ficou mesmo insustentável, o presidente-vampiro vai mal das pernas, não consegue aprovar nem aumento geral de salário, o que dirá reforma da Previdência, então pegar o apito e convocar o general da vez foi o que encontrou pra ver se distrai o pessoal e consegue melhorar um tantinho sua imagem tão avacalhada no carnaval ( o termo é vulgar, mas, infelizmente, nada mais apropriado para o momento, né, não?).
Não quero ir ao Sambódromo nas Campeãs – de longe meu desfile predileto em outros carnavais – também porque não concordo com o resultado da apuração. Estou com a Beija Flor entalada no gogó e não apenas porque quase, por um triz e aqueles décimos que nenhum leigo entende, a minha Mangueira não desfila entre as Campeãs. É mais do que isso e tem a ver com a bandidagem de seu patrono, contraventor cujo menor crime é ser bicheiro. Nessa altura do nosso campeonato, aquele samba bonito, de refrão provocador, somados ao fato de a Beija Flor ter sido a última escola a desfilar, só podia mesmo dar no que deu: o povo atrás cantando e exaltando.
Uma pena que esse mesmo povo não tenha ganas de sair em bando para cercar, por exemplo, o Piranhão, ali ao lado do Sambódromo, onde o prefeito dá expediente quando não está flanando pelo mundo e pregando a palavra do seu evangelho às custas da dinheirama que os cariocas pagam de impostos. Infelizmente, ninguém correu atrás da Mangueira, que escancarou o Judas que nos governa – e o ofereceu, inclusive, à malhação geral.
Uma pena que não se inspirem nas ratazanas da comissão de frente e façam de um tudo para acabar com elas: de veneno a revolução.
Não vou ao Sambódromo amanhã porque simplesmente não há motivo pra cantar nem pra sambar. O Rio agoniza. O Brasil é doente terminal.
Vou me recolher com a Quaresma e rezar para esse pesadelo acabar.
Quem sabe me animo no Carnaval que vem?
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