“Onde não há lei, não há liberdade”.
Graças a uma infecção de fígado, o Ocidente ganhou um dos
seus maiores filósofos políticos. Não no fígado dele mesmo, que fique claro:
Locke era médico por formação e boa parte do que escreveu surgiu em conversas
com um dos seus pacientes mais ilustres. Em 1666, Anthony Cooper, sofrendo de
dores constantes, buscou ajuda em Oxford, onde se impressionou com o tratamento
de Locke e o convenceu a se tornar seu médico particular.
Ocorre que Cooper
também era o Conde de Shatfesbury, um dos fundadores do Partido Whing, de
tendência liberal, que buscava reduzir o poder da nobreza na Inglaterra.
As ideias do paciente só aprofundaram um gosto que Locke
trazia do passado: o de refletir sobre o homem e a sociedade.
Desde a escola, tinha demonstrado interesse em estudar os
filósofos do seu tempo, preferindo Descartes aos gregos clássicos, e decidiu
cada vez mais se aproximar da filosofia. Apesar de apreciar o pensamento
cartesiano, Locke se tornaria um dos maiores símbolos da corrente oposta ao
racionalismo descrito pelo francês.
TÁBULA RASA
Com o Ensaio acerca do entendimento humano, Locke tornou-se
o principal representante do empirismo britânico e uma referência nos estudos
gnosiológicos. Nessa obra, combateu duramente a doutrina cartesiana segundo a
qual o ser humano possui ideias inatas. Ao contrário de Descartes, o filósofo
inglês defendia que nossa mente, no instante do nascimento, é como uma tábula
rasa.
O substantivo tábula significa “tábua” ou “placa de madeira”
ou de outro material; o adjetivo rasa quer dizer “plana, lisa”. Assim, a
expressão tábula rasa usada por Locke tem o significado de “tábua lisa”, na
qual nada foi escrito nem gravado. Ao nascer, nossa mente seria como um papel
em branco, sem nenhuma ideia previamente escrita.
Assim, Locke retomava a tese empirista segundo a qual nada
existe em nossa mente que não tenha origem nos sentidos. Para ele, as ideias
que possuímos são adquiridas ao longo da vida mediante a experiência sensível
imediata e seu processamento interno.
Para ele, o Estado tinha a missão de proteger direitos fundamentais
do homem, como a vida, a propriedade e a liberdade.
A autoridade do governo
deveria ser conferida por seus governados, que teriam o direito de modificar
seus representantes e até mesmo de derrubá-los caso seus direitos estivessem
sendo violados.
Em razão de suas ideias políticas – pois foi um adversário
ferrenho da tirania e do abuso de poder -, Locke é apontado por muitos
historiadores como o “pai do iluminismo”.
Seu pensamento exerceu profunda
influência na fundamentação ideológica da democracia liberal burguesa,
contribuindo para a difusão de valores iluministas como a tolerância religiosa,
o respeito pela liberdade individual, a expansão do sistema educacional e a
livre-iniciativa econômica.
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Contos e Crônicas
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