O dilema do
porco-espinho é uma metáfora criada pelo filósofo alemão Arthur Schopenhauer
(1788-1860) para ilustrar o problema da convivência humana. Schopenhauer expôs
esse conceito em forma de parábola na sua obra Parerga und Paralipomena,
publicada em 1851, onde reuniu várias de suas polêmicas anotações filosóficas.
O dilema do porco-espinho é apenas um parágrafo que surge no Volume II desta
obra, no entanto, tornou-se um conto popular citado até mesmo por Sigmund
Freud, o pai da psicanálise.
No livro
Schopenhauer e os anos mais selvagens da filosofia, de Rüdiger Safranski, o
autor sugere que Schopenhauer inspirou-se em uma escalada ocorrida quando o
filósofo tinha apenas 16 anos:
Finalmente,
em 30 de julho de 1804 — quando a grande viagem já se aproxima de seu fim —
chega a escalada da montanha Schneekopp [o Pico da Neve] na Silésia, então
alemã, hoje na Polônia. A jornada leva dois dias. Arthur pernoitou com seu guia
em uma cabana construída em um planalto intermediário, no sopé do cume mais
alto da montanha. “Entramos em uma peça única cheia de pastores embriagados.
[…] Era insuportável; sua quentura animalesca […] produzia um calor candente”.
A “quentura animalesca” dos homens amontoados naquele espaço exíguo — foi daqui
que Schopenhauer tirou sua metáfora posterior dos porcos-espinho que se
empurravam uns contra os outros para se defenderem do frio e do medo.(
SAFRANSKI, 211, pg. 99)
O dilema do
porco-espinho
Um número de
porcos-espinho se amontoaram buscando calor em um dia frio de inverno; mas,
quando começaram a se machucar com seus espinhos, foram obrigados a se
afastarem. No entanto, o frio fazia com que voltassem a se reunir, porém, se
afastavam novamente. Depois de várias tentativas, perceberam que poderiam
manter certa distância uns dos outros sem se dispersarem.
Do mesmo
modo, as necessidades sociais, a solidão e a monotonia impulsionam os “homens
porcos-espinho” a se reunirem, apenas para se repelirem devido às inúmeras
características espinhosas e desagradáveis de suas naturezas. A distância
moderada que os homens finalmente descobrem é a condição necessária para que a
convivência seja tolerada; é o código de cortesia e boas maneiras. Aqueles que
transgridem esse código são duramente advertidos, como se diz na Inglaterra:
keep your distance! Com esse arranjo, a necessidade mútua de calor é apenas
parcialmente satisfeita, mas pelo menos não se machucam.
Um homem que
possui algum calor em si mesmo prefere permanecer afastado, assim ele não
precisa ferir outras pessoas e também não é ferido.
Por Alfredo
Carneiro
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