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DENTRO DE NÓS, A ALEGRIA – Ivan Martins

Seu sintoma mais bonito é nos jogar para fora, 
de encontro ao mundo e a nós mesmos.

A alegria vem de dentro ou de fora de nós? 
A pergunta me ocorre no meio de um bloco de carnaval, enquanto berro os versos imortais de Roberto Carlos, cantados em ritmo de samba: “Eu quero que você me aqueça neste inverno, e que tudo mais vá pro inferno”.

Estou contente, claro. Ao meu redor há um grupo de amigos e uma multidão ruidosa e colorida. Ainda assim, a resposta sobre a alegria me ilude. Meu coração sorri em resposta a essa festa ou acha nela apenas um eco do seu próprio e inesperado contentamento?

Embora simples, a pergunta não é trivial. Se sou capaz de achar em mim a alegria, a vida será uma.  Se ela precisa ser buscada fora, permanentemente, será outra, provavelmente pior.

Penso no amor, fonte permanente de júbilo e apreensão.

Quando ele nos é subtraído, instala-se em nós uma tristeza sem tamanho e sem fim, que tem o rosto de quem nos deixou. Ela vem de fora, nos é imposta pelas circunstâncias, mas torna-se parte de nós. Um luto encarnado.

Um milhão de carnavais seriam incapazes de iluminar a escuridão dessa noitese não houvesse, dentro de nós, alguma fonte própria de alegria. 

Nem estaríamos na rua, se não fosse por ela. Nem nos animaríamos a ver de perto a multidão. Ficaríamos em casa, esmagados por nossa tristeza, remoendo os detalhes do que não mais existe. 

Ao longe, ouviríamos a batucada, e ela nos pareceria remota e alheia.
Nossa alegria existe, entretanto. Por isso somos capazes de cantar e dançar quando o destino nos atinge.

Nossa alegria inata se manifesta como força e teimosia: ela nos põe de pé quando nem sairíamos da cama. Ele se expõe como esperança: acreditamos que o mundo nos trará algo melhor esta manhã; quem sabe esta noite; domingo, talvez. Ela nos torna sensível à beleza da mulher estranha, ao sorriso feliz do amigo, à conversa simpática de um vizinho, aos problemas do colega de trabalho. Nossa alegria cria interesse pelo mundo e nos faz perceber que ele também se interessa por nós.

Por mínima que seja, essa fonte de luz e energia é suficiente para dar a largada e começar do zero. Um dia depois do outro. Todos os dias em que seja necessário.

Quando se está por baixo, muito caído, não é fácil achar o interruptor da nossa alegria. A gente tem a sensação de que alegria se extinguiu e com ela o nosso desejo de transar e de viver, que costumam ser a mesma coisa. 

Mas a alegria está lá - feita de boas memórias, do amor que nos deram, do carinho que a gente deu aos outros. Existe como presença abstrata mas calorosa, que nos dirige aos outros, que nos faz olhar para fora. É isso a alegria: algo de dentro que nos leva ao mundo e nos permite o gozo e a reconhecimento de nós mesmos, no rosto do outro. Empatia e simpatia. Amor.


Se a alegria vem de dentro ou de fora? De dentro, claro. Mas seu sintoma mais bonito é nos jogar para fora, de encontro à música e à dança do mundo, ao encontro de nós mesmos.
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BONITAS, CHEIROSAS E SOZINHAS - Ivan Martins

Por que sobram tantas 
mulheres no fim da festa?

Estou me acostumando a ver mulheres sozinhas ao meu redor. Não apenas mulheres sentadas no cinema ou lendo num café, em paz com elas mesmas. Penso em mulheres sem companhia masculina, em situações em que elas gostariam de ser cortejadas, mas não são.

Outro dia fui a um casamento. Havia na festa muita gente avulsa. As mulheres dançavam e olhavam ao redor, procurando companhia. Eram mulheres bonitas, cheirosas e bem arrumadas, a maioria delas com menos de 30 anos. Sozinhas. Onde estavam os homens? Acompanhados, muitos. Bêbados e desinteressados, outros. Ou superados em números pela quantidade de mulheres disponíveis.

Eu me pergunto o que isso significa.

Festas de casamento eram bons lugares para arrumar namoro, ou pelo menos um rolo que valesse a pena. As pessoas costumam estar embriagadas e felizes. Mulher adulta não vai sem depilação a esse tipo de evento. Os homens já saem de casa mal intencionados. Mesmo que a família esteja olhando, pode rolar um romance gostosinho. Por que, então, tanta mulher atraente dando sopa inutilmente?

Às vezes eu tenho a impressão que o mecanismo que regula a oferta de sexo e afeto na nossa sociedade emperrou.

Obviamente há muito sexo e muito romance por aí, mas a quantidade de gente sobrando é alta – e não são apenas mulheres. Conheço homens bacanas que não transam há meses. Eles saem, frequentam, xavecam, mas não rola. Podem ser casos isolados, mas eu duvido. Da festa de casamento deve ter saído mais de um sujeito macambúzio e rejeitado. As mulheres, afinal, estão disponíveis, mas não para qualquer um.

Quando todos se tornam superficiais e exigentes, acho que as mulheres sofrem mais.

Elas estão em desvantagem nesse tipo de disputa. São mais tolerantes com a aparência e a idade dos homens. Sãos mais flexíveis em seus critérios sociais. Enquanto elas se deixam seduzir por caras interessantes, mesmo que não se encaixam nos padrões de aparência e sucesso, boa parte dos homens continua apegada a dois critérios de escolha rígidos: beleza e gostosura. As mulheres que melhor preenchem esses requisitos escolhem os homens que desejam, inclusive fora do padrão. As outras, se não tiverem muita personalidade, correm o risco de dançar sozinhas.

Não há uma solução óbvia para esse tipo de desencaixe.

Com sorte, seremos capazes de perceber, em algum momento da existência, que correr atrás de padrões que todo mundo quer é uma tolice. Cada um de nós é tão específico, tão diferente dos demais. É impossível que um único modelo de beleza, personalidade ou sensualidade sirva a todos. Uma pessoa que nos preencha é mil vezes mais difícil de encontrar que um bom sapato. Tem de encaixar temperamento, química corporal, ideias, grupo social, desejos para o futuro, neuroses.

Como pode aquela menina boba e bonita da televisão ser a mulher da vida de 50 milhões de homens? Como o sedutor da faculdade pode ser o cara certo para todas as mulheres ao redor dele? Isso, obviamente, não existe. Quem andar pela vida de olhos abertos vai notar: os encaixes são pessoais. Às vezes, tremendamente exóticos.

Coletivamente também se aprende.

Uma sociedade não produz desencaixes indefinidamente. Se muita gente começa a sobrar, alguma coisa está errada, com os valores ou com as relações sociais. O mundo já foi organizado de forma que servia, sobretudo, ao propósito dos homens. Hoje não é mais assim. 

Se as mulheres sentirem que a sociedade as está prejudicando, vão parar de cooperar. Isso não pode. Nós sabemos que nada neste mundo funciona sem as mulheres – sobretudo boas festas de casamento.

NOSSA TOCANTE PRECARIEDADE - Ivan Martins

É bonito perceber que precisamos 
de gente frágil como nós

Eu desisti da simplicidade das pessoas. Faz algum tempo, percebi que não há gente serena e bem resolvida. Não neste mundo. Somos, na verdade, uma massa confusa e dolorosa de emoções em busca de expressão e equilíbrio. Permanentemente. A paz que a gente exibe ou que nos mostram é pouco mais que uma fachada. Ela não dura e não resiste. Por baixo da superfície calma há um mar turbulento, em cada um de nós.

É isso que torna tão difícil viver com os outros, e tão desesperadamente necessário.

Sozinhos, nos perdemos nas nossas dores e angústias, sufocamos nos nossos medos. O outro oferece referência, prumo, consolo. Feito da mesma carne confusa e latejante, ele está fora de nós. Não nos enxerga exatamente. Intui, mas não sabe o que nos habita. E isso é bom. Escolhemos contar a ele, mas não tudo. Dizer tudo é impossível. Nem sabemos. Mesmo assim, ele recebe a nossa confusão na dele. Consola a nossa dor com a dor dele. Mistura sua confusão na nossa. Assim formamos um casal.

Não é assim que aparece nos filmes, mas essa enfermaria com dois doentes me parece, cada vez mais, uma justa definição do amor.

Às vezes, temos a impressão de ser malucos num mundo de pessoas perfeitamente racionais. Dentro de mim mora um tumulto, mas ele e ela são calmos e bem resolvidos. Mentira. A confusão é coletiva. O tumulto é universal. O mundo organizado ao nosso redor, com faróis que abrem e fecham, com filas que andam e catracas que giram, é apenas uma tentativa desesperada – e bem sucedida – de nos cercar de ordem e racionalidade. Na natureza original não tinha isso. Na nossa natureza humana também não.

Quando se ama alguém, quando se transpõe a distância imensa que separa um ser humano do outro, a gente começa a perceber que a nossa precariedade também está no outro, que a nossa ansiedade também vive nele, que a angústia que nos consome tem par na angústia dele. É uma tremenda lição de humanidade. Depois dela, o nosso amor se mistura com pena, mas não dele. De nós mesmos, de todos que somos assim frágeis e perdidos, que precisamos tanto do outro.

Se a gente assume que o outro é tão complicado quanto nós, as coisas não ficam mais fáceis, mas tornam-se mais densas e mais bonitas.
Em vez de acordar num comercial de margarina, onde tudo é perfeito mas nada é verdadeiro, a gente desperta enroscado num ser humano que teve sonhos terríveis e acordou assustado. De noite, a gente vai encontrar uma pessoa que está profundamente frustrada porque não sabe lidar com a agressividade da colega de trabalho. Quando ele fala com a mãe dele, quando ela fala com o pai dela ao telefone, fica triste invés de feliz. Acontece. As relações familiares de verdade são uma droga. É por isso que você está lá, para abraçar sua metade.

Esse é o momento em que a pessoa deixa de ser a personagem de uma história para os amigos e passa a ser um ser humano real, que ocupa a sua intimidade, com capacidade de alegrar e arrebentar com a sua vida.
Mas chegar a isso exige relacionamentos de verdade. É preciso ter confiança, milhagem, experiências comuns. Não adianta gostar de longe, não adianta transar de vez em quando. Não se entra no mundo dos outros apenas batendo na porta. Tem de estar lá quando chove e quando faz sol. Tem de estar lá. Ponto.

Muitos preferem não se envolver. Acham melhor ficar na superfície dos casos, onde todo mundo é simples, perfeito, bacana. Onde só há novidades e nenhum problema. É legal, mas também tem preço. Se despertar angustiada, uma pessoa assim vai estar sozinha – mesmo que durma alguém ao lado dela. Alguém que ela não pode chamar, abraçar, em quem não pode confiar.

Alguém que, na verdade, já deveria estar dentro de um táxi há duas horas.

MENTE MODERNA, CORAÇÃO CARETA - Ivan Martins

Nossas emoções nem sempre combinam com as nossas ideias

Nem sempre nossas convicções andam juntas com as nossas emoções. É comum que a gente pense uma coisa e sinta outra. Ou defenda em teoria coisas que não conseguimos praticar. O ideal seria que dentro de nós valores e emoções andassem coladinhos, mas nem sempre acontece. Vira e mexe a gente se pega em contradição com a gente mesmo: achando uma coisa e fazendo outra; desejando diferente do que acha bonito.

Outro dia, conversando com uma amiga, ela comentou que aquilo que diz sobre sexo e fidelidade não tem muito a ver com a vida que ela realmente leva. O discurso dela é muito liberal, mas a realidade dela é bem careta. Uma coisa são as convicções dela sobre o que é certo nesse terreno, outra são as atitudes que ela tem vontade de tomar. As duas coisas não batem, e ela se sente uma fraude.

Acho que esse tipo de coisa acontece todo dia, com muita gente. Coerência é uma mercadoria que nem sempre está disponível quando o assunto envolve sentimentos.

No passado, quando a sociedade inteira era mais ou menos moralista, as pessoas faziam sexo por impulso, enganavam seus parceiros e traiam suas mais profundas convicções. Corriam riscos graves e sofriam ao fazê-lo. Agora, quando a maioria tornou-se liberal, muitas pessoas violam suas próprias crenças e levam vidas sexuais e afetivas que seus avós aprovariam. Não é engraçado?

O que há de comum e ingovernável nos dois casos é o desejo. Às vezes queremos transgredir, outras vezes temos necessidade de nos adequar. A beleza do tempo em que vivemos é que ele permite as duas coisas. Todas as coisas, na verdade. A menina que quer namorar meninas e experimentar os prazeres da transgressão, pode. Assim como a garota ou garoto que sonha com o grande amor e o casamento na igreja: também pode.

Além de bonita, essa liberdade é benigna. Pense nos milhões que viviam em sofrimento no passado, quando não se podia fazer nada que o padre não abençoasse. Imagine os milhões que sofreriam agora se todos fossem forçados a agir como “modernos”. Não dá. O espírito humano é avesso a esse tipo de uniformidade. As pessoas são diferentes entre si. Desejam e necessitam coisas diferentes. O papel da sociedade é respeitar - e impedir, vigorosamente, que os desejos sejam satisfeitos por meio de violência física ou qualquer outra espécie de coerção. O resto é interferência indevida.

Mas isso não resolve o desconforto da minha amiga.

Ela tem toda a liberdade do mundo, mas não tem vocação para exercê-la. Acontece com muita gente. O ambiente ao nosso redor ajuda a desenvolver ideias e a moldar nossos valores. Depois espera que atuemos de acordo. Mas, quando se trata de questões íntimas, nem sempre é possível. A pessoa pode ser intelectualmente a favor do sexo livre, da bissexualidade e do poliamor, mas, na hora de transar com alguém que não seja seu parceiro ou parceira, vacila, treme e broxa. Acontece o tempo inteiro. A cabeça está num lugar, o sentimento está em outro. O intelecto é livre, mas a consciência está presa a certas formas de viver. O que se faz?

Quem sente essa contradição como sofrimento pode buscar ajuda. Analistas são ótimos em identificar a causa das fissuras entre pensamento e sentimento. Um bom profissional pode ajudar a colocar as coisas em sintonia. Mas muitas pessoas não sentem a contradição como um problema. Estão em paz com a colisão de sentimentos e ideias. Sentem-se felizes com aquilo que são e sentem. Não me parece que haja nada de errado nisso.

Quando eu era criança, nos anos 60, teve início uma onda quase revolucionária que tinha a intenção de libertar todo mundo para os prazeres do sexo. As proibições eram muitas e aos poucos foram sendo derrubadas. Cinquenta anos depois, nós ainda vivemos sob os efeitos dessa borrasca salutar de permissividade.

O que a atual geração acrescentou de original a ela foi a percepção de que nem todos querem ser libertados. Muitos aplaudem a revolução sexual e até lutam por ela, mas preferem, pessoalmente, viver de maneira recatada. Mantêm relações monogâmicas desde cedo, casam-se por volta dos 20 anos e têm filhos. Ou ficam solteiros, mas sempre com um namoro de cada vez, comportadamente. Parecem viver tão felizes – ou mais – do que aqueles que estão na vida louca. Apenas de maneira diferente.

Deitados no divã do analista, talvez os comportados confessem fantasias que fariam corar o Marquês de Sade. Mas, e daí? Todos têm fantasias inconfessáveis. Elas não desqualificam ninguém. 

Hoje em dia podemos sonhar com tudo, até com a possibilidade de sermos caretas. Sem culpa.  

POR QUE OS HOMENS MENTEM? - Ivan Martins

Talvez porque muitas mulheres 
gostem de ouvir mentiras.

Outro dia uma moça me perguntou, no meio de uma festa, por que os homens “mentem tanto”. Achei a pergunta agressiva, mas resolvi discutir com ela da forma mais objetiva possível, para entender.

Pedi que ela me contasse sobre a mentira que a incomodava, e a resposta veio na forma de uma história bastante comum: no começo, o sujeito fala e se comporta como um homem totalmente apaixonado. Uma semana depois, ele nem atende mais o telefone. “É isso que eu chamo de mentira”, ela resumiu.

A moça estava obviamente ferida, e tinha suas razões. Na história dela, do ponto de vista dela, houve uma mentira. Ela acreditou em sentimentos que não existiam ou que deixaram de existir em tempo recorde. Tinha o direito de estar indignada.

Admitido esse fato, a situação que ela conta tem nuances – e essas merecem ser discutidas tanto quando a suposta vocação masculina para a mentira, que eu acho um tema pertinente na relação entre homens e mulheres.

Quando se considera a distorção amorosa, é possível que a moça não tenha sido assim tão enganada. Ela pode ter levado uma cantada banal e recebido um grau de atenção protocolar, mas, movida pelos seus próprios sentimentos, acreditou estar sendo intensamente cortejada. 

É muito comum que, nessas situações, a pessoa que se sente enganada apresente como “evidências” frases e atitudes do outro que, vistas por alguém de fora, não pareçam evidência de coisa alguma além de um triste auto-engano. Essas coisas acontecem.A primeira nuance no caso da moça é adistorção amorosa.

Esse é o nome que eu dou ao estado de confusão mental em que a gente se encontra quando está muito interessado por alguém. Basta a pessoa nos olhar, basta falar conosco para que a gente acredite – com todas as forças, e nenhuma justificativa – que nossos sentimentos são correspondidos. É patético, mas é humano. A gente deseja tanto que enxerga apenas aquilo que quer ver.

Outra nuance importante na história da moça diz respeito ao papel de homens e mulheres no jogo de sedução.

As mulheres ainda não são responsáveis por tomar a iniciativa. Muitas fazem isso, mas, normalmente, ainda cabe aos homens o ônus de vencer a própria timidez e avançar com elegância os vários sinais colocados entre ele e o seu desejo. As meninas ficam lá, lindas e passivas, enquanto os caras se empenham em parecer engraçados, inteligentes, sensuais... Não pensem que é fácil.

É natural que quem está nessa posição de vendedor de si mesmo fale demais. E nem sempre diga a verdade. Cada sujeito que está por aí já descobriu, em algum momento da vida, qual é o papo dele que cola com as mulheres. Para alguns, será aquela conversa agressiva de macho questionador e indiferente, que deixa as garotas inseguras. Para outros, funciona uma postura mais contida, quase tímida, que demonstra os sentimentos menos pelas palavras e mais pelos olhares.

Há tipos diferentes de atitudes masculinas de sedução, mas a mais comum costuma ser o ataque direto e sem tréguas ao ego da moça. O cara diz que ela é a mais linda do mundo. Jura que quando olhou para ela percebeu que o tempo tinha parado. Sugere, de todas as formas possíveis, que se ficar com ela será o homem mais feliz do planeta. Às vezes o sujeito garante, meia hora depois de conhecer a moça, que ela é a mulher da vida dele. Oferece, nas palavras imortais de um amigo meu, “casa, comida & roupa lavada”.

Que mulher resiste a esse tipo de avalanche? Mas, ao mesmo tempo, que mulher com mais de 20 anos não sabe que esses exageros não passam de fogos de artifício?

Esse é o contexto, eu acho, para localizar a queixa da moça no mundo real.

No dia em que as mulheres tiverem de assumir o papel dos homens no jogo da conquista, talvez descubram que não é fácil ser ao mesmo tempo sedutor e verdadeiro. Talvez elas percebam que é muito difícil, para a maioria dos seres humanos, evitar dizer coisas que o outro deseja ouvir. Precisa ter muito integridade para estar carente diante de uma mulher bonita e não usar as palavras que provavelmente o levarão para dentro do quarto dela – mesmo sabendo, lá no fundo, que você talvez não devesse.

Os homens sabem que as mulheres costumam ser mais sentimentais do que eles e (até inconscientemente), procuram agradá-las. Depois somem, muitas vezes por vergonha. As mulheres, do lado delas, sabem que os caras têm urgência em transar e, às vezes, fingem ser mais safadas e menos românticas do que realmente são. No dia seguinte, sentem vergonha ou cobram do sujeito atenções que não estavam no contrato invisível firmado na noite anterior.

Para evitar esses desencontros, melhor seria tratar as coisas pelos seus verdadeiros nomes.

Um homem que está com tesão não deveria esconder o seu desejo por trás de uma embalagem de romantismo. As mulheres, ouvindo a verdade, poderiam escolher se querem ou não – e muitas diriam sim, porque sexo desencanado também é bom. Num mundo assim, menos mulheres se sentiriam enganadas e um número menor de caras faria papel de mentiroso. E a moça da festa talvez não estivesse com tanta raiva.

A VIDA REAL É MELHOR - Ivan Martins

As nossas relações não precisam 
se parecer com o que se vê nas telas

No último fim de semana, sem que eu tivesse planejado, assisti a dois filmes românticos. Estava na sala, liguei a televisão e apareceu um deles. Fiquei e vi. No dia seguinte, em outro horário, deparei com o segundo. Também fui fisgado. Ambos eram bonitos, sensíveis, envolventes. Ambos capazes de me deixar melancólico e intrigado. Pensei: que diabo nos acomete quando vemos esse tipo de filme? As pessoas se beijam, as pessoas se apaixonam, as pessoas se deixam e choram – e conosco, vendo aquilo tudo, acontece o quê?
Não sei. Ao menos não exatamente.

Descobri o sentimento sem nome provocado pelos filmes aos 11 anos de idade, vendo Melody – quando brota o amor. A história dos adolescentes que fogem da escola para se casar me pôs em transe. Saí do cinema apaixonado pela personagem – a Melody do título – e, pela primeira vez na vida, tomado por uma sensação de melancolia do qual não desejava me livrar. Talvez tenha sido minha primeira emoção romântica inteiramente consciente – a mesma que, passadas várias décadas, e em circunstâncias diferentes, ainda me aflige no escuro do cinema ou na frente da televisão. Sem que eu saiba o que ela significa.

Os dois filmes que eu vi no fim de semana nada têm de especial. Ao entardecer conta a história de um amor que se consuma numa noite e se estende na forma de lembrança pela vida inteira. Em busca do amor narra o encontro entre duas pessoas de mundos diferentes, que parecem destinadas uma a outra desde o primeiro momento. São dois mitos poderosos - o amor inesperado e o amor eterno – cujos efeitos transbordam da televisão, encharcam os nossos pés e, de forma insidiosa, entram na nossa vida.

Eu me pergunto, essencialmente, se esses filmes adocicados ou arrebatadores descrevem as nossas verdadeiras emoções, (e por isso nos afetam tão profundamente), ou se eles nos contam, de maneira idealizada, como a nossa vida romântica deveria ser (e na vida real nunca é!) e por isso nos fazem sentir tão exaltados e tristes. Enquanto o garoto de 11 anos ainda reúne coragem para simplesmente falar com a menina de quem ele gosta, o filme diz a ele que é hora de amar, fugir e casar contra a vontade dos adultos. Não é à toa que a vida dele parece mesquinha e melancólica. Menor.

O psiquiatra Jurandir Freire Costa escreveu, num livro maravilhoso e difícil chamado Sem fraude e sem favor – estudos sobre o amor romântico, que “o amor é uma crença emocional e, como toda crença, pode ser mantida, alterada, dispensada, trocada, melhorada, piorada ou abolida”. Contra a ideia de um amor natural, eterno e universal, ele propõe um amor cultural. “O amor”, diz ele, “foi inventado como o fogo, a roda, o casamento, a medicina, o fabrico do pão, a arte erótica chinesa, o computador, o cuidado com o próximo, as heresias, a democracia, o nazismo, os deuses e as diversas imagens do universo”.

Seguindo a lógica do Jurandir, o que os filmes fazem é recontar, diante da sua audiência emocionada, as lendas correntes do amor romântico. Eles realimentam um mito que fomos ensinados a admirar e a desejar para as nossas próprias vidas, com consequências potencialmente destrutivas. Se o amor é aquele arrebatamento tempestuoso de um filme, ou o sentimento pétreo e permanente do outro, que nome dar (e, sobretudo, que valor dar) à sensação fugidia e cheia de dúvidas que me liga à Fulana ou ao Sicrano? O que eu sinto seria amor de verdade ou não passa de mera cópia pirata? Nos filmes, afinal, o amor é grandioso, pleno de certeza, permanente...

Este parece ser um dos casos em que a arte não nos prepara para lidar com a vida. Para entender o amor de verdade, na forma possível que ele toma na existência de cada um de nós, talvez seja preciso se livrar da grandiosidade. O romantismo pode ser uma prisão cheia de filmes e músicas, no interior da qual as pessoas adoecem –ou envelhecem - esperando por algo que não existe. Fujamos disso.

A vida real é melhor. Nela, apesar da precariedade da incerteza, tudo pode ser refeito, recomeçado. Os personagens dos filmes são prisioneiros de roteiros que não constrangem a nossa vida de verdade. Nós podemos nos mudar para o Rio, pintar os cabelos de vermelho, escrever um blog ou passear na chuva, com ou sem cachorro. Ao nosso redor, milhões de pessoas partilham as mesmas calçadas e os mesmos desejos por afeto, sexo, companheirismo. Tem aí material suficiente para bilhões de relações humanas. Eles podem não ser tão perfeitos quanto nos filmes. Podem não durar tanto e nem ter tantas estrelas no céu. Talvez nem sejam amor. Mas elas existem e isso faz toda a diferença.
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AMAR NÃO É PARA TODOS - Ivan Martins

Tem gente que ainda não aprendeu como se faz

O filósofo e escritor francês Albert Camus disse uma vez que o único tema filosófico que valia a pena era o suicídio. Às vezes, por outras razões, me ocorre que o único tema relevante sobre os relacionamentos cabe numa única pergunta: você é capaz de amar alguém que retribua os seus sentimentos?

A resposta automática a essa pergunta, em quase 100% dos casos, é afirmativa. “Claro que sim”. Mas, espere um pouco. Aproveite o momento solitário em frente desta tela e considere, sem risco de ser descoberto: você já gostou de alguém a ponto de deixar algo de lado por ele ou por ela? Já se percebeu duradouramente conectado a outro ser humano, de forma que ele deixasse de ser um estranho? Já sentiu que vida de alguém o preocupava – e o atingia - quase como se fosse a sua própria vida?

Quem consegue dizer sim a isso tudo e não está numa relação imaginária – ou platônica – com a pessoa do andar de cima, parabéns. Ao contrário do que diz a lenda, esse negócio de amor não é para todo mundo.

Se houvesse um teste emocional capaz de medir nossas emoções, acredito que ele mostraria que boa parte da humanidade não consegue estabelecer relações românticas profundas e duradouras.

Penso no sentimento geral de que é bom estar na companhia da sua pessoa, em vez de estar com qualquer outra. Penso em passar um dia, uma semana, um mês, sem cogitar em cair fora. Imagino um período, qualquer que ele seja, sem que os sentimentos e as sensações se voltem para fora da relação, em busca de horizontes que não estão lá. Quando eu falo em amor, penso em satisfação, ainda que temporária.

Quem passa no teste? Não muitos, imagino. O que nos leva de volta ao primeiro parágrafo e à capacidade de amar, que raramente é confrontada.
Por alguma razão inexplicável, estamos acostumados a atribuir o sucesso ou fracasso dos nossos relacionamentos apenas aos outros. Ela não me quer, não corresponde meus sentimentos, não é constante. Ou talvez seja algo na atitude dele, na maneira como fala, toma sopa ou ganha a vida que fez com que eu me afastasse. Em poucas palavras, nossos sentimentos parecem depender apenas do que o outro faz ou é, não de nós.

Isso acontece desde o início.

Aos 13 ou 14 anos, quando nos apaixonamos pela primeira vez, a “causa” da paixão é o outro. Sua beleza, seu comportamento, seu sorriso. Achamos que vem tudo de fora. Nem reparamos na elaboração interna do nosso sentimento. Não perguntamos o quê, na nossa personalidade, faz o outro tão atraente. Damos de barato que aquela pessoa é responsável pelo que sentimos, embora os sentimentos emanem de nós.

Essa exteriorização prossegue pelo resto da vida.

Quando as coisas não dão certo – no casamento, no namoro, no caso – rapidamente culpamos o outro e partimos para a reposição, sem investigar nossos sentimentos. Trata-se apenas de procurar com afinco até encontrar a pessoa certa. Mas existe pessoa certa para quem não consegue transpor a barreira de si mesmo e criar uma conexão duradoura com o outro?
Temo que não.

Minha impressão é que aprender a amar é trabalho para a vida inteira. Exige abrir mão do egoísmo, que é imenso. Supõe a capacidade de se encantar com aquilo que não é apenas um reflexo de nós. É essencial, sobretudo nos homens, superar o fascínio boçal pela aparência, que em muitos casos funciona como um sinal de trânsito indicando o caminho para a pessoa errada.

Ao final, como tantas outras coisas na vida, também essa precisa de tempo e de atenção. Tempo para se conhecer e perceber suas próprias dificuldades. Atenção para não se perder em falsas questões. No frigir dos bolinhos, o problema não deve ser apenas a imperfeição do outro, que existe e é imensa.

O problema talvez seja a sua, a minha, a nossa incapacidade de superá-la. 
De amar, apesar dela.

SEXO E SENTIMENTO - Ivan Martins

Nosso prazer está ligado ao desejo por amor, 
mesmo que a gente não perceba

Sexo casual é uma experiência que boa parte da humanidade desconhece. Quando se conversa sobre o assunto, é fácil perceber que, na maior parte das vezes, aquilo que se chama de sexo recreativo ou casual merece outro nome.

Pode ser sexo aproximativo, por ser a maneira natural de expressar carinho e curiosidade por outra pessoa. Pode se sexo investigativo, porque é uma forma de saber mais sobre nossa afinidade com o outro. Às vezes é sexo equivocado, porque a pessoa parecia bacana. Frequentemente se faz sexo utilitário, porque aquele quarto em silêncio assusta.
Quando foi a última vez que você, leitor ou leitora, transou por simples desejo, sem expectativa emocional, razoavelmente sóbrio ou sóbria? Ou, posto de outra forma, quando você fez sexo com um completo estranho, com base apenas em atração física e circunstâncias? As duas coisas acontecem, mas constituem o padrão de poucos.

Para a maioria de nós, levar alguém para a cama é um ato emocional. O sexo é precedido de anseios afetivos e está encharcado de sentimentos.
Faz parte da sexualidade humana fantasiar sobre a mulher de corpo perfeito ou sobre o estranho de porte viril. Quantas vezes essas fantasias se realizam? A possibilidade existe, mas podemos atravessar a existência sem exercê-la. Na vida real, tiramos a roupa diante de gente que nos toca emocionalmente e se deixa tocar por nós. O desejo passa pelo filtro dos sentimentos, tanto quanto os sentimentos atravessam o filtro do desejo. Como separá-los?

As pessoas mais felizes nem tentam fazer a distinção. Percebem o sexo como uma busca prazerosa por níveis elevados de emoção. Se o ato de transar nos deixa emocionalmente indiferentes, tendemos a descartar o parceiro. A experiência simplesmente se esgota. Quando achamos o sexo bom, os motivos são emocionais. Ele ou ela nos deixa à vontade, nos excita, desperta o melhor ou o pior de nós na cama. Nos faz sentir melhor, enfim. Por isso nos vinculamos, por isso queremos mais. Acontece quando a recompensa emocional do sexo aumenta.

Chamam isso de romantismo. É apenas a descrição precisa dos fatos. Não significa que sexo não seja possível sem amor. Significa que nosso prazer está ligado ao desejo por amor. O sexo é uma celebração, outra vezes uma busca, muitas vezes uma fuga. Do amor. Existe sexo puro, animal, como se feito por bichos? Não sei. Acho que não. Mesmo os momentos intensamente físicos são amparados pelo conforto e a segurança dos afetos. Na ausência deles, instala-se um vazio assustador. É quando as pessoas vestem a roupa, se despedem e voltam para casa.


Perceber que o amor está por toda parte, como o desejo, não muda a forma como a gente vive. Nossa liberdade é soberana. Fazemos com nosso corpo o que achamos melhor. É nosso direito inalienável. Mas talvez seja bom descartar ilusões, como que seja possível separar sentimentos e comportamento sexual. Não é. O sexo nos dará prazer, nos machucará ou nos encherá de alegria ao sabor de nossos sentimentos. Sem eles, não acontece nada. Quando acontece, a gente nem gosta de lembrar.


AMOR NÃO SE IMPROVISA - Ivan Martins


Só damos aos outros aquilo que 
andamos recebendo a vida inteira

Uma das minhas vizinhas de prédio gosta de me lembrar quanto pareço feliz desde que me casei. A gente se encontra no elevador, e ela, invariavelmente, observa que continuo com o sorriso dos homens apaixonados. Eu rio, embaraçado e contente, e conversamos um pouquinho. Além de gentil e afetuosa, minha vizinha é romântica.

Ela perdeu o marido há pouco tempo, depois de um casamento de 30 anos, e projeta nas pessoas ao redor um pouco da felicidade que viveu. Ao agir assim, de maneira tão doce, ela me lembra que as pessoas dão ao mundo aquilo que receberam. Pode ser amor e gentileza, pode ser o contrário.

Isso é muito claro quando a gente entra na intimidade de um relacionamento. Em pouco tempo, começamos a perceber do que a outra pessoa é feita. Ou, melhor dizendo, de que tipo de experiência amorosa ela é constituída. Pode ser de um amor tranquilo e seguro, que resulta num tipo de gente. Pode ser de um amor escasso e algo desesperado, que dá outro tipo de ser humano. Pode ser - na pior das hipóteses - da falta de amor (ou da percepção da falta de amor, que dá na mesma). Dela resulta uma gente arisca, dura, refratária aos próprios sentimentos e aos dos outros.

A experiência universal sugere que a gente não escolhe por que tipo de pessoa se apaixonará. Quando se dá conta, já aconteceu - e estamos envolvidos, até o pescoço, com alguém que pode ser muito difícil de amar, por ter as piores experiências no assunto. Nenhum de nós tem currículo perfeito nesse tema. Posta no divã de um analista, a maioria revelaria buracos enormes na sua biografia afetiva.

Alguns, porém, têm traumas mais visíveis, rombos escancarados que se traduzem, sobretudo, na falta de naturalidade quando se trata de afeto. Gostar para eles é difícil, doloroso, complicado. Receber o sentimento do outro também. O cotidiano da relação, que exige a troca de sentimentos simples, fica truncado. É como se as pessoas falassem, afetivamente, línguas diferentes. Elas não se compreendem, porque a uma delas (ou às duas) falta o vocabulário essencial do amor.

Talvez, a muitos, isso pareça abstrato. Para mim, é muito concreto.

Tendo vivido e convivido com pessoas muito diferentes, me é claro como a experiência amorosa (familiar e romântica) produz diferentes atitudes diante do amor - e como essas atitudes são modificadas pelas experiências da vida adulta.

Quando começamos a nos relacionar eroticamente, somos adolescentes. Levamos para os braços do outro, quase intactas, nossas questões infantis e familiares.

À medida que a gente cresce e vai tendo outras experiências, os sentimentos evoluem. Ninguém está pronto e acabado aos 20 ou aos 40 anos. Nem aos 70, acho.

A impressão de não ser a criança mais amada do mundo pode diminuir ou aumentar nos primeiros envolvimentos. A sensação adolescente de ser o centro das atenções (ou de ser rejeitado pelo mundo) pode ser negada ou confirmada por um grande amor.

O medo e a insegurança podem ser ampliados numa sequência de relações instáveis, ou reduzidos por um relacionamento intenso, seguro e duradouro. A vida não para de nos formar. Quem a gente escolhe para estar a nosso lado tem papel fundamental nessa formação.

Por isso tudo, a atitude da minha vizinha me parece tão bonita. Ela sabe, por ter vivido, que as pessoas se transformam pela experiência do amor. Divulga esse evangelho de uma forma discreta e efetiva.

Na última vez em que me disse que eu parecia feliz, eu acabara de ter uma briga estúpida e desnecessária com minha mulher.

A conversa no elevador, na saída para trabalho, me ajudou a lembrar quanto gosto e quanto essa relação é importante para mim. Horas depois, peguei o telefone e liguei para pedir desculpas.

Talvez fizesse isso de qualquer maneira, mas gosto de pensar que minha vizinha me ajudou a lembrar que fazer as pazes era urgente e necessário.
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DÁ PRA PERDOAR? - Ivan Martins

O perdão é uma espécie de botão de reiniciar 
que permite aos casais recomeçar todos os dias

Acho que foi a Miriam Palma, amiga desde os tempos do cursinho, quem me contou que, dentro de 10 anos, todas as fotos de nós mesmos que hoje nos parecem feias ficarão bonitas. É só uma questão de tempo para que a beleza apareça. Nosso olhar precisa mudar.

O mesmo se aplica, me parece, à questão muito mais grave do ressentimento e do perdão. As coisas que hoje nos parecem inaceitáveis, e, por decorrência, imperdoáveis, com o passar do tempo talvez se mostrem verdadeiramente irrelevantes. Nem é preciso esperar 10 anos. Talvez cinco bastem. Ou mesmo 12 meses. Nosso olhar só tem de mudar.

Estou falando, claro, da relação entre duas pessoas, das coisas que acontecem no interior dos casais. Imagino pessoas que se amam ou se gostam – ou têm pelo menos a lembrança desse sentimento. Essas relações nos são tão caras e tão próximas que, nelas, o ato de perdoar é essencial. Talvez seja o gesto mais necessário e o mais frequente de quem partilha a vida com alguém.

Perdoar é como apertar um inesgotável botão de reiniciar: foi ruim ontem à noite, dormimos com raiva um do outro, esta manhã reiniciamos. A conversa foi muito dura, agora estamos mais calmos, que tal reiniciar? Eu fiz algo que a magoou, você reagiu com brutalidade, reiniciemos, por favor.

Estar com alguém, viver com alguém, é sinônimo de afrontar e ser afrontado. A cada dia, quase a cada momento. Os nossos egos, as nossas suscetibilidades tornam difícil o outro se mover ao nosso lado sem que nos incomode. Ele precisa ser imensamente atento, ou infinitamente delicado, para não causar nenhum atrito. Mas então, coitado, não seria humano. Seria alguém apenas tentando nos satisfazer – e rapidamente nos encheria de tédio.

Seres humanos inteiros, à vontade no mundo, disputam espaço mesmo com aqueles que amam. As pessoas se esbarram, se batem – no sentido figurado da palavra, por favor – e dessa refrega permanente, imperceptível para quem olha de fora, emerge a relação propriamente dita. Ela é o resultado de uma disputa constante e de uma colaboração incessante. Por isso é intensa e contraditória, por isso é viva – e por isso necessita, desesperadamente, do mecanismo apaziguador do perdão.

Somos terrivelmente exigentes com as pessoas que dividem a vida íntima conosco. Os nossos chefes, os nossos colegas, os nossos amigos gozam de uma tremenda margem de tolerância. A peguete, o bonitão que aparece de vez em quando, esses gozam de crédito para errar. Mas a namorada e o marido, aqueles que fazem parte da nossa vida, não. Esses não podem pisar fora da linha. Somos vigilantes e intolerantes com eles. Insuportavelmente intolerantes. Por isso é tão essencial que perdoemos - porque os estamos julgando e condenando a cada par de minutos, de uma forma que não fazemos com os demais.

Bem, às vezes as pessoas próximas nos fazem coisas graves. Elas nos machucam e traem a nossa confiança. Às vezes nos enganam. Às vezes se enganam. O resultado é sempre péssimo e quase sempre é impossível perdoar – na hora. Mas o tempo e o convívio com os nossos sentimentos produzem mudanças. Depois de um tempo de afastamento, depois de um período intenso de saudades e de considerações, podemos estar prontos a entender – desde que o orgulho ou nosso senso moral não se interponham. É preciso ter feito certas coisas na vida para entender porque os outros as fazem. Quem nunca andou no lado errado da calçada acha que a virtude é simples. Não é.
Minha impressão é que para perdoar quem nos magoa precisamos de duas coisas – uma sólida conexão afetiva e alegria.

A conexão faz com que o outro também sinta o que nos passa. Se eu estou morrendo e a criatura está lá, morta de rir, se esbaldando, não há o que perdoar – é mais o caso de esquecer. Mas em geral não é assim. Quando as pessoas se gostam, a dor as liga. O sentimento de falta é mútuo. Quem magoou quer voltar. A saudades dói, como dizia a velha música sertaneja. Então, por que não perdoar e reiniciar?

Outras vezes, em casos mais difíceis e demorados, é a alegria que nos faz perdoar. Ela permite que a nossa vida avance, permite que a gente recomece com outras pessoas, faz com aquele sentimento de mágoa seja varrido, lavado, esquecido entre as novas sensações de prazer e de carinho, senão de amor. Enquanto a gente rola na cama insone de raiva, enquanto o ressentimento ainda queima, é impossível perdoar. Mas, se a nossa vida anda, se a gente experimenta a alegria, vai se esquecendo daquilo que nos fazia tremer de indignação ou de tristeza. Então a mágoa passa e a gente perdoa sem perceber. Aí, quem sabe, na próxima curva da estrada aquela mesma pessoa, indultada pelo nosso perdão, reaparece para nos fazer feliz.
Alguém perguntará, racionalmente, qual a importância de perdoar depois de tanto tempo, quando aquilo que doía nem dói mais, e quando a chance de cruzar o outro na nossa estrada é cada dia mais remota. Eu diria que a importância é enorme, por algumas razões.

Não se deve andar pela vida levando mágoas desnecessárias. Quem perdoa descarrega um fardo e anda mais leve, porque deixou a dor para trás. Quem perdoa também resgata, recupera pedaços de si que estavam ligados àquele que não poderia ser lembrado. Nesse sentido, perdoar permite retomar a posse de seus próprios sentimentos e memórias. Às vezes, com sorte, esse perdão abra as portas para a recuperação das pessoas na nossa vida, de um novo jeito.

Uma vez, faz algum tempo, eu almoçava com uma amiga e falamos de uma pessoa comum, muito importante para mim. Ao longo da conversa, sem que me desse conta, comecei a falar dela de uma forma enternecida e alegre, como há muito não falava. Ao fazer isso, ao me permitir lembrar, de alguma forma ficou claro o buraco que aquela mulher deixara na minha vida. Dias depois, por essa porta entreaberta, entrou um sonho, o primeiro em anos em que não havia conflitos ou brigas, apenas afeto e intimidade. Foi como um resgate.

Foi como olhar para uma foto que me parecia horrível e perceber o quanto havia de beleza nela. Foram precisos quase 10 anos, mas o meu olhar, finalmente, mudara. No lugar da dor e do ressentimento, havia apenas um suave perdão.

CONTE COMIGO - Ivan Martins

Um poema de Mario Benedetti celebra 
o amor que não se esgota em festas

Outro dia, em circunstâncias suaves e domésticas, lembrei de um poema do Mario Benedetti que costumava me comover até os ossos. Chama-se Hagamos un trato - Façamos um trato, em português – e fala dos sentimentos de um homem por uma militante política, que ele chama de compañera.

Em linguagem simples e direta, o poema diz, essencialmente, que ela pode contar com ele “não até dois ou até dez”, mas contar com ele, em qualquer circunstância. É um poema de amor que expressa um compromisso político. Ou talvez seja um poema épico suavizado por um toque de amor. Não sei. Vocês leiam e me digam.

Mas é evidente, para mim, que qualquer que tenham sido as intenções do Benedetti, seu poema resume uma verdade essencial: afeto é compromisso. Os problemas do outro passam a ser parte dos meus problemas, minhas dores são em alguma medida as dores dele. Eu cuido dele e ele cuida de mim. Não deixei de ser eu, ele tampouco deixou de ser ele, mas há um sentimento que nos vincula e nos torna responsáveis um pelo outro. Voluntariamente. Talvez temporariamente. Mas, enquanto estivemos ligados, será assim.
Se isso parece consistir um fardo, não é. Dividir é bom. Cuidar também é bom. Andamos tão acostumados a pensar de forma egoísta que a ideia de ser responsável pelo outro nos apavora. Temos medo também de depender da atenção e dos cuidados alheios. Mas tem sido assim por alguns milênios e acho bom que continue. Somos indivíduos, inescapavelmente, mas algo em nós anseia por ligar-se e partilhar de uma forma que não seja superficial ou declaradamente provisória. Quando isso acontece, nos sentimos parte de algo maior que o mercado ou as redes sociais. E há um profundo conforto nisso.

Talvez essa seja o sentido atual do “conte comigo” de Benedetti. Ele expressa uma forma de amor que não está na moda. É algo que se manifesta não apenas como partilha de prazer e hedonismo, mas como potencial de sacrifício. O poema nos lembra que não estamos nessa apenas pelo riso e pela noite inesquecível. Às vezes será inevitável sofrer, fazer coisas chatas, deixar de lado vontades e interesses imediatos. Às vezes será necessário abrir mão. Seremos capazes? Espero que sim.

Quando li Hagamos un trato pela primeira vez, por volta de 1995, ele me pareceu uma promessa de amor em meio à guerra. Benedetti, afinal, era um homem de esquerda. Fora exilado pela ditadura militar em seu país, o Uruguai, e sempre voltara seu arsenal de palavras contra ela. Hoje, com outros olhos, o poema me sugere outros sentimentos, que vão além do contexto político.

A palavra compañera, que abre o primeiro verso, tem, para mim, um significado menos militante do que afetivo. Companheira é quem ama, quem fica, quem faz parte. Não se aplica a meteoros cintilantes.

O poema, que antes me parecia tão somente romântico, hoje me comove por sua austeridade. Evoca uma promessa de fidelidade que vai além da exclusividade sexual ou sentimental. “Conta comigo” sugere sentimentos e laços profundos, assim como pessoas capazes de sacrifícios e cuidados. Não é a leveza de sentimentos ou a combustão instantânea que estação recomenda, mas me parece aquilo que muitos querem e precisam. Senão hoje, certamente amanhã, quando seremos um pouco melhores e mais sábios.

OS CÓDIGOS DO AFETO - Ivan Martins

Casais fazem coisas estranhas para mostrar que gostam

Tem gente que mia, tem gente que ronrona, tem gente que arrulha, como fazem as pombas. Intimidade tem dessas coisas. Quando você percebe, já está fazendo barulhinhos para o seu amor. Ao telefone, quando ela entra em casa, na cama. Muito antes disso, claro, já vieram os apelidos. Constrangedores, embaraços, irreveláveis. Neste particular, felizmente, nada tenho a declarar. Assim como o Romário, que nunca broxou, eu jamais chamei alguém de Jujubinha, ou coisa que o valha.

Vocês riem, mas eu me pergunto o que essas pequenas esquisitices revelam sobre nossas necessidades afetivas.

Uma delas, que me parece óbvia, é o brutal desejo de exclusividade. Não basta morar com a Joana e transar com ela três, quatro, cinco vezes por semana. Não basta sentar de mão dada com o João no cinema, escolher a camisa que ele vai usar no casamento, ouvi-lo desafinar em falsete embaixo do chuveiro.

A gente inventa um nome que é só nosso, um ruído que só a gente faz, uma intimidade que ninguém nuca teve ou terá com ele ou com ela. Nossos apelidos expressam a vontade de construir um mundo único, onde só caibam dois, onde tudo comece do zero, inclusive o nome de batismo e os balbucios.

Os pequenos jogos de casal também sugerem, para mim, o quanto a gente precisa de reafirmações de carinho. As formas normais de tratamento não são suficientes e os rituais comuns da vida adulta não dão conta. Escondidos, longe dos outros, inventamos maneiras ainda mais meigas de chamar um ao outro.

Sem planejamento e sem vergonha, recorremos a jeitos de falar e de nos comportar que explicitam os nossos sentimentos de um jeito meloso e ridículo, mas que sinaliza, para a outra metade, que estamos nessa com ela, unidos pelo mesmo sentimento. A gente não age como tolo apaixonado para qualquer um.

Para quem olha de fora, esse tipo de comportamento, além de cômico, tem outro traço evidente: ele parece infantil.

Adultos que se chamam de Bubinho e Bubinha estão agindo como crianças que aprendem a falar. Parece uma brincadeira, uma farsa destituída de desejo adulto. Afinal, nada menos erótico que bancar a criança, certo? Na verdade, errado.

Em 1905, o famoso médico austríaco Sigmund Freud escreveu que o erotismo dos adultos começa lá atrás, na infância, e está condenado a carregar sentimentos e memórias infantis. Logo, aquilo que você enxerga como gestos infantilóides na relação dos outros podem ser preliminares que eles inventaram para fazer sexo selvagem. A gente nunca sabe o que acontece na intimidade alheia.

Dito isso tudo, não se sinta mal se você, assim como eu, nunca teve alguém que coaxasse como perereca apaixonada para você. Há outras formas de mostrar amor, desejo e intimidade.

Se a gente estudasse os gestos de qualquer da relação perceberia que eles estão repletos de códigos privados. O tom de voz, a maneira de olhar, tocar ou não tocar os cabelos dela.

Cada uma dessas atitudes sinaliza uma disposição de espírito em relação ao outro. Passamos recados o tempo inteiro, com o nosso corpo inteiro, e não apenas com a voz. Dizemos “gosto e desejo” (ou o contrário disso) 50 vezes por dia. Talvez mais.

Se você não a chama de Totinha, nem ela chama você de Totão, procure em volta no dia-a-dia: vocês devem ter outras formas ainda mais secretas de reafirmar a intimidade.
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