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DESCUBRA AS MENTIRAS QUE O SEU CÉREBRO CONTA PARA VOCÊ

Você não toma as próprias decisões -

e boa parte do que vê não é real.

É apenas uma ilusão criada pelo seu cérebro,

que passa pelo menos 4 horas por dia enganando você.

Conheça os truques que ele aplica - e saiba o que realmente acontece dentro da mente.

 Você fica cego 4 horas por dia. Já foi enganado por um rótulo nesta semana. Tem preconceitos sobre todos os assuntos (por mais que ache que não). Toma decisões irracionais, que vão contra os seus interesses. Você não está no controle da própria mente. Mas não se preocupe: você é normal. Não é maluco e possui um cérebro perfeito, como o de qualquer outra pessoa. Só que ele inventa coisas para iludir você. Não é por mal. É só uma maneira de economizar energia.

O cérebro humano é o objeto mais complexo do Universo. Tem 100 bilhões de neurônios, que podem formar 100 trilhões de conexões. Se fosse possível criar um computador com o mesmo número de circuitos do cérebro, ele consumiria uma quantidade absurda de eletricidade: 60 milhões de watts por hora, segundo uma estimativa de cientistas da Universidade Stanford. É o equivalente a quatro usinas de Itaipu trabalhando simultaneamente. Mas o cérebro humano gasta pouquíssima energia - 20 watts, menos que uma lâmpada. E mesmo assim consegue fazer coisas extremamente sofisticadas, de que nenhum computador é capaz.

 Só que isso tem um preço. O seu cérebro não consegue analisar as situações de forma completamente racional, avaliando todas as variáveis envolvidas em cada caso. Para fazer isso, ele precisaria de ainda mais circuitos - e muito mais energia. Mas, ao longo da evolução, a natureza encontrou uma solução: o cérebro pode mentir para seu dono. Sim, mentir. Descartar informações, manipular raciocínios e até inventar coisas que não existem. Dessa forma, é possível simplificar a realidade - e reduzir drasticamente o nível de processamento exigido dos neurônios. "São efeitos colaterais do funcionamento normal do cérebro", diz Suzana Herculano-Houzel, neurocientista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

 Tudo começa pela visão. Você não percebe, mas o cérebro edita o que você vê. Das 16 horas por dia que uma pessoa passa acordada, em média, 4 horas são preenchidas por imagens "artificiais" - que não foram captadas pelos olhos, e sim criadas pelo cérebro.

 O olho humano só capta imagens com clareza em uma pequena parte, a fóvea, que tem 1 milímetro de diâmetro e fica no centro da retina. Então, para compor a linda imagem que você está vendo agora, os seus olhos estão constantemente em movimento. Eles focam determinado ponto e depois pulam para o ponto seguinte. Cada um desses saltos tem duração de 0,2 segundo. Quer comprovar isso na prática? Na próxima vez em que você estiver conversando com uma pessoa, preste atenção nos olhos dela. Você irá perceber que eles se movimentam o tempo todo para escanear vários pontos do seu rosto.

 O problema é que a cada pulo desses, enquanto os olhos estão se movendo para a próxima posição, o cérebro deixa de receber informação visual por 0,1 segundo. Durante esse tempo, você está cego. E, como nossos olhos fazem pelo menos 150 mil pulos todos os dias, o resultado são 4 horas diárias de cegueira involuntária. Você não percebe isso porque o cérebro preenche esses momentos com imagens artificiais, que dão a sensação de movimento contínuo. Mas que, na prática, você não viu.

 Tem mais: o que você enxerga não é o que está acontecendo - e sim o que vai acontecer no futuro. É sério. Isso acontece porque a informação captada pelos olhos não é processada imediatamente. Ela tem de passar pelo nervo óptico e só depois chega ao cérebro. O processo leva frações de segundo, e você não pode esperar - um atraso na visão pode fazer com que você seja atropelado ao atravessar a rua, por exemplo. Então, o que faz o cérebro? Inventa. Analisa os movimentos de todas as coisas e fabrica uma imagem que não é real, contendo a posição em que cada coisa deverá estar 0,2 segundo no futuro. Você não vê o que está acontecendo agora, e sim uma estimativa do que irá acontecer daqui a 0,2 segundo.

 As mentiras invadem a razão

Com R$ 1,10, você pode comprar um café e uma bala. O café custa R$ 1 a mais do que a bala. Quanto custa a bala? Responda rápido. Dez centavos, certo? Errado. Você acaba de ser enganado pelo próprio cérebro. Mas não está sozinho - mais da metade dos estudantes de universidades prestigiadas como Harvard, MIT e Princeton responderam a essa mesma pergunta e também erraram (entre alunos de instituições menos badaladas, o índice de erro é ainda maior, cerca de 80%). Essa charada é um dos exemplos citados no livro Thinking, Fast and Slow (Pensando, Rápido e Devagar, ainda sem versão em português), do psicólogo israelense Daniel Kahneman, que ganhou o Prêmio Nobel de Economia por suas pesquisas sobre o comportamento humano.

 Para Kahneman, o cérebro tem dois tipos de pensamento. O primeiro é rápido e intuitivo e confia na experiência, na memória e nos sentimentos para tomar decisões. O segundo é lento e analítico - e serve como uma espécie de guardião do primeiro.

Se estamos decidindo sobre o que comer, podemos ficar em dúvida entre um sanduíche e um prato de feijão. Mas por que essas duas opções, justo elas, surgiram como as alternativas válidas para o momento? Por que você não considerou um bacalhau com batatas? Por que não um sorvete de abacaxi? Porque o seu pensamento intuitivo já estava inclinado para optar pelo sanduba ou pelo feijão e restringiu previamente as escolhas antes mesmo que você se desse conta de que estava chegando a hora de almoçar.

Do contrário, passaríamos horas avaliando todas as possíveis opções de refeição - e morreríamos de fome. Se o pensamento intuitivo não existisse, seria extremamente difícil escolher uma roupa ou responder a perguntas banais, do tipo "como você está?" ou "gostou do filme?". De certa forma, o pensamento intuitivo é o que nos diferencia dos robôs. E é ele que permite ao cérebro processar informações na velocidade necessária. "Ele é mais influente. É o autor secreto de muitas decisões e julgamentos que você faz", explica Kahneman no livro. Foi o pensamento intuitivo que apontou os dez centavos como resposta para o enigma do café. Só que ele mentiu para você. A resposta certa é R$ 0,05. Se a bala custasse R$ 0,10, o café custaria R$ 1,10 - e o total daria R$ 1,20.

 Esse duelo entre os dois tipos de pensamento, o rápido-intuitivo e o lento-analítico, também tem uma explicação evolutiva. O córtex pré-frontal, região do cérebro responsável pelo processamento lógico, surgiu relativamente tarde na evolução da espécie humana - já as emoções e os instintos estavam com nossos ancestrais há muito mais tempo. Por isso elas são tão fortes e nos influenciam tanto. "A filosofia considera o ser humano um animal racional. Mas o que sabemos é que apenas em certas circunstâncias e à custa de muito esforço conseguimos ser racionais", afirma Vitor Haase, médico e professor de psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

 O pensamento intuitivo está sempre presente, até nas situações em que a racionalidade é supremamente importante. Um estudo de pesquisadores das universidades de Ben Gurion, em Israel, e Columbia, nos EUA, analisou o comportamento de juízes que deveriam decidir sobre a liberdade condicional de presos (um processo rápido, que leva 6 minutos). Em média, somente 35% dos condenados ganhavam a condicional. Mas os cientistas perceberam que os juízes eram muito mais benevolentes depois de comer. Quando eles tinham acabado de fazer uma refeição, a taxa de aprovação subia para 65%. Com o passar do tempo, a fome vinha chegando, e a concessão de liberdade condicional ia caindo. Minutos antes do próximo lanche, o índice de aprovação era quase zero.

 Decidir sobre liberdade condicional e julgar a própria felicidade são tarefas complexas. Para avaliar todas as variáveis envolvidas, muitas delas subjetivas, o cérebro tenderia a ficar sobrecarregado. Por isso, ele usa atalhos. "Os nossos problemas são resolvidos no piloto automático, através de soluções que a cultura já embutiu no nosso cérebro", diz Haase.

 Estudos têm revelado outra distorção: toda pessoa sempre tende ao otimismo, mesmo quando não há motivos para isso. A pesquisadora Tali Sharot, da University College London, gravou a atividade cerebral de voluntários enquanto eles imaginavam situações banais - como tirar uma carteira de identidade. Ela também pediu que os voluntários pensassem em coisas do passado. Os testes mostraram que as mesmas estruturas cerebrais são ativadas para recordar o passado e imaginar o futuro. Só que, ao imaginar o futuro, os voluntários criavam cenários magníficos - era o cérebro tentando colorir os eventos sem graça. "Cerca de 80% das pessoas têm tendência ao otimismo, algumas mais do que outras", diz ela. Para Tali, autora do livro Optimism Bias (O Viés do Otimismo, ainda sem versão em português), o otimismo é sempre mais comum que o pessimismo - seja qual for a faixa etária ou o grupo socioeconômico da pessoa. Assim, nunca acreditamos que algo vá dar errado - mesmo quando o mais racional seria pensar que sim. "As taxas de divórcio, por exemplo, chegam a 40%, 50%. Mas as pessoas que estão para casar sempre estimam suas chances de separação em o%", exemplifica Tali. Segundo ela, a inclinação natural ao otimismo também é um dos fatores que levaram à crise econômica global de 2008. "As pessoas achavam que o mercado continuaria subindo cada vez mais e ignoraram as evidências contrárias", afirma.

 Ele está no controle

As manipulações criadas pelo cérebro afetam até a capacidade mais essencial do ser humano: tomar as próprias decisões. Quando você decide alguma coisa, na verdade o cérebro já decidiu - com uma antecedência que pode chegar a 10 segundos. Uma experiência feita no Centro Bernstein de Neurociência Computacional, em Berlim, comprovou que as nossas escolhas são resolvidas pelo cérebro antes mesmo de chegarem à consciência. Voluntários foram colocados em frente a uma tela na qual era exibida uma sequência aleatória de letras. O voluntário tinha que escolher uma das letras e apertar um botão sempre que ela aparecesse. Os cientistas monitoraram o cérebro dos participantes durante o experimento. E chegaram a uma descoberta impressionante: 10 segundos antes de os voluntários escolherem uma letra, sinais elétricos correspondentes a essa decisão já apareciam nos córtices frontopolar e medial, as regiões do cérebro ligadas à tomada de decisões. Cinco segundos antes de o voluntário apertar o botão, o cérebro ativava os córtices motores, que controlam os movimentos do corpo. Isso significa que, 10 segundos antes de você fazer conscientemente uma escolha, o seu cérebro já tomou a decisão para você - e até já começou a mexer a sua mão.

 "O indivíduo não é livre para escolher", afirma Renato Zamora Flores, professor de genética do comportamento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O cérebro restringe previamente as suas possíveis opções e, pior ainda, escolhe uma delas antes mesmo que você se dê conta. É possível lutar contra isso. Lembra-se daquele outro tipo de pensamento, o lento-analítico? Basta colocá-lo em ação. E isso você consegue tendo calma, refletindo sobre as coisas e duvidando das suas escolhas e opiniões.

 Os truques do cérebro são poderosos, mas não invencíveis. Agora que você sabe como funcionam, está muito mais preparado para lidar com eles - e se tornar realmente livre para tomar as próprias decisões.

por Alexandre de Santi; Colaboradores: Bianca Carneiro e Cristine Kist

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POR QUE A GENTE GOSTA DE QUEM NOS FAZ RIR? - Suzana Herculano-Houzel

Graças a risadas, o cérebro libera opioides

Ter oportunidades para rir ao longo do dia pode parecer um bônus, uma pausa bem-vinda no meio de um dia de afazeres. Mas um corpo crescente de evidências indicam que o que leva ao riso faz muito mais do que divertir: reduz o estresse, melhora a capacidade do corpo de combater infecções –e ainda promove laços afetivos entre todos os que compartilham a risada.

Um estudo finlandês recém publicado no "Journal of Neuroscience" mediu a liberação de opioides pelo cérebro de voluntários após estes terem passado 30 minutos assistindo com dois amigos próximos a uma compilação de cenas de comédia, e comparou o nível de opioides com aquele nos mesmos voluntários após 30 minutos de silêncio, sozinhos em um quarto.

Os opioides mais famosos são morfina e heroína, conhecidos pelas sensações de analgesia, relaxamento e prazer que causam –e que tão rapidamente levam ao vício, se intensos e frequentes demais. Se tais substâncias funcionam, no entanto, é justamente porque existem opioides internos, produzidos pelo próprio cérebro, e que provavelmente levam a efeitos semelhantes, ainda que mais brandos.

De fato, hoje se sabe que o efeito placebo, a melhora no bem-estar e redução da dor que acontecem só de se acreditar que se recebeu tratamento (quando o remédio na verdade era apenas água, farinha ou glóbulos de homeopatia sem qualquer princípio ativo), depende da capacidade do cérebro de produzir seus próprios opioides.

Ser acariciado ou abraçado por quem se gosta é uma maneira certeira de fazer o cérebro liberar seus próprios opioides –mas que só tem efeito sobre as duas pessoas envolvidas. 

Segundo o estudo finlandês, rir em grupo também funciona, e aparentemente surte efeitos no cérebro de todos os envolvidos: a liberação de opioides endógenos aumenta nas partes do cérebro que levam ao bem-estar e ao prazer, e junto com isso vêm não só sensações agradáveis de diversão como também de calma e paz interna. 

Quanto mais intensas as risadas, mais forte é a ativação do cérebro por seus próprios opioides –e mais intensas as sensações positivas.

De quebra, fica no cérebro um registro da associação entre a companhia do momento e o resultado prazeroso. E assim quem riu conosco, ou nos fez rir, ganha valor especial para nosso cérebro.

Não é à toa que gostamos tanto dos nossos amigos e parceiros bem-humorados, e preferimos sua companhia à de qualquer outra pessoa. Rir faz bem ao cérebro –e ele lembra com carinho especial de quem nos levou ao riso.
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CÉREBRO COMPORTA NO MÁXIMO 150 AMIGOS, DIZ ESTUDO.

Ter amigos só traz benefícios. Quanto mais, melhor. Mas há um limite. Um estudo feito na Universidade de Oxford comparou o tamanho do cérebro humano, mais precisamente do neocórtex (área responsável pelo pensamento consciente), com o de outros primatas. 

Ele cruzou essas informações com dados sobre a organização social de cada uma das espécies ao longo do tempo. E chegou a uma conclusão reveladora: 150 é o máximo de amigos que uma pessoa consegue ter ao mesmo tempo.
Para que você mantenha uma amizade com alguém, precisa memorizar informações sobre aquela pessoa (desde o nome até detalhes da personalidade dela), que serão acionadas quando vocês interagirem. Por algum motivo, o cérebro não comporta dados sobre mais de 150 pessoas. Os relacionamentos que extrapolam esse número são inevitavelmente mais casuais. Não são amizade. 

Outros pesquisadores foram além e constataram que, dentro desse grupo de 150, há uma série de círculos concêntricos de amizade: 5, 15, 50 e 150 pessoas, cada um com características diferentes.

O curioso é que esses círculos já haviam sido mencionados por filósofos como Confúcio, Platão e Aristóteles – e também estão presentes em várias formas de organização humana. Na Antiguidade clássica, 5 já era considerado o número máximo de amigos íntimos que alguém poderia ter. Tirando o futebol, 12 a 15 pessoas é a quantidade de jogadores na maioria dos esportes coletivos.

Cinquenta é o número médio de pessoas nos acampamentos de caça em comunidades primitivas (como os aborígenes da Austrália, por exemplo). Cento e cinquenta é o tamanho médio dos grupos do período neolítico, dos clãs da sociedade pré-industrial, das menores cidades inglesas no século 11 e, até hoje, de comunidades camponesas tradicionais como os amish (que dividem uma comunidade em duas quando ela ultrapassa as 150 pessoas). 

Os 150 podem, inclusive, ser a chave do sucesso profissional. Como no caso da Gore-Tex, uma empresa têxtil americana que se divide (e abre uma nova sucursal) cada vez que seu número de funcionários passa de 150 pessoas. A vantagem disso é que todos os empregados se conhecem, têm relações amistosas e cooperam melhor.

 “As coisas ficavam confusas quando havia mais de 150 pessoas”, explicou o fundador da empresa, William Gore, numa entrevista concedida alguns anos antes de morrer, em 1986. E a aposta nesse modelo de organização deu certo. A Gore-Tex virou uma multinacional com US$ 2,5 bilhões de faturamento anual – e é apontada pela revista Fortune como um dos 100 melhores lugares para trabalhar desde que esse ranking começou a ser compilado, em 1984.
Mas, mesmo com tantos exemplos práticos, ninguém sabe explicar por que nosso limite de amizades é de 150 pessoas. Para os cientistas, foi como o cérebro conseguiu construir e administrar o que viria a se tornar, ao longo do tempo, o bem mais importante da espécie humana: a rede social.

Amizade, um círculo finito.
O cérebro comporta no máximo 150 amigos, divididos em grupos:

Íntimos
5 amigos – São os íntimos, com quem você mais fala – e não hesitaria em ligar de madrugada ou pedir dinheiro emprestado. Para Aristóteles, 5 era o número máximo de amigos verdadeiros.

Grupo de empatia
15 amigos – São pessoas bastante importantes para você – se alguma delas morresse amanhã, você ficaria muito triste. Este grupo pode incluir gente do trabalho ou amigos de amigos.

Número típico
50 amigos – É o número de amizades mantidas pela maioria das pessoas, e também o tamanho médio dos agrupamentos humanos primitivos (como bandos de caça).

Limite
150 amigos – Máximo que o cérebro consegue administrar ao mesmo tempo. São as pessoas cujos nomes, rostos e características você consegue memorizar e acionar caso seja necessário.
Fonte: BBC Brasil
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FALTA DE HORAS DE DESCANSO FAZ COM QUE NOSSA MELANCOLIA SE TORNE RAIVA OU DEPRESSÃO - Joke J. Hermsen

A Filósofa holandesa Joke J. Hermsen afirma que a epidemia de depressão que assola o mundo, juntamente com o medo, ajuda a explicar a ascensão da extrema direita
Joke J. Hermsen (Middenmeer, Holanda, 1961), doutora em Filosofia e especialista na vida e na obra das filósofas Hannah Arendt e Lou Andreas-Salomé, analisa em seu último livro – La Melancolía en Tiempos de Incertidumbre – um sentimento humano que, diz ela, explica em parte a ascensão da extrema direita. 

Defende que a epidemia de depressão que assola o mundo se deve ao fato de que não soubemos deter a melancolia em sua versão insana, o que leva o ser humano a cair no lado escuro, na ira e no medo.

Pergunta. De que maneira os políticos influenciam em nossa melancolia?

Resposta. Neste momento temos muitos políticos que semeiam mais o medo do que a esperança. E isso é perigoso. Nossa melancolia precisa de esperança, de amor, de luz, de amizade... e quando a cercamos de medo corremos o risco de transformá-la em depressão. A responsabilidade desses políticos é grande. Existe o perigo, como dizia Hannah Arendt, de cair de novo em um sistema totalitário. Nunca devemos pensar que isso não vai acontecer conosco.

P. E o que podemos fazer para ir nessa direção?

R. Apontar a responsabilidade desses políticos. Tudo o que podemos fazer é criticá-los e fazer propostas esperançosas. Todos nós sofremos de fadiga parlamentar, não acreditamos mais em nossa democracia. Não acreditamos mais que os políticos vão consertar as coisas, temos que inventar outros instrumentos. E o que eu proponho são comitês de cidadãos. Pessoas escolhidas de modo rotativo por sorteio que tenham dias pagos por todos para se informar, debater e tomar decisões. A principal vantagem é que as pessoas se sentiriam mais responsáveis e representadas. Sentiriam de novo sua liberdade política, porque não devemos esquecer que também somos seres políticos. Temos que repensar nossa democracia, experimentar. Não temos nada a perder.

P. A senhora diz que a dificuldade que temos hoje para encontrar a calma é uma das causas da epidemia de depressão no Ocidente.

R. Tento readaptar a distinção feita por Aristóteles entre a melancolia criativa e solidária, a melancolia zen e a melancolia que se transforma em uma depressão muito séria, uma melancolia insana. Existem várias causas para essa evolução; uma delas é a falta de esperança que torna a melancolia cada vez mais escura e que faz com que nos sintamos ameaçados. E outra é a falta de horas de descanso, de calma, de ataraxia, que faz com que nossa melancolia se transforme em cólera ou em medo, em depressão. E este é um problema generalizado.

“Quando crescemos, é importante reaprender a
 ser aquela criança que fomos, 
que se sentia una com o mundo”

P. Outra causa de nossa melancolia, como a senhora diz, está na nostalgia que sentimos por nossos primeiros anos de vida, de que não nos lembramos porque não tínhamos desenvolvido a linguagem.

R. Escrevi minha tese em parte sobre Lou Andreas-Salomé, que descobri através de Nietzsche. Ela elaborou a ideia de que durante a primeira infância temos a impressão de sermos unos, uma unidade com tudo o que nos rodeia. As crianças dizem sempre nós, nunca eu. Se você se olhar no espelho com um bebê nos braços, ele não verá diferenças entre ambos. Nascemos em algo que nos transcende. Por isso é tão importante quando crescemos e nos tornamos esse eu, ou esse ego completamente angustiado, reaprender a ser aquela criança que fomos, que era mais do que apenas ela mesma. É uma forma de pensar sobre a transcendência do eu para o nós. Sempre sentiremos melancolia por aquela criança que fomos, por esse nós.

P. Em que momento começou a falar sobre depressão?

R. Em praticamente todas as culturas encontramos esse estado de alma melancólico ao qual cantamos descrito na poesia, na literatura, na arte... Mas a partir de Freud passou a se chamar depressão. E o que lamento é que percamos o lado positivo da melancolia. A melancolia não é alegria nem tristeza, é algo que combina essas duas sensações. Quando queremos alcançar uma verdade profunda, precisamos das ambivalências, elas nos aproximam melhor da verdade de nossa existência como seres humanos. A condição humana se desenvolve em uma ambivalência maior do que supomos nesses momentos. Mas suportamos cada vez menos as ambivalências. Quando vemos no cinema que todo mundo chora ou todo mundo ri... Pode ser muito divertido, mas existe algo no fundo da alma que não se comove. Muitas vezes o que nos chega realmente é algo melancólico, uma tristeza que sorri ou uma alegria por estar triste.

“Sofremos de fadiga parlamentar. 
Proponho criar comitês de cidadãos, 
pessoas escolhidas de modo rotativo por sorteio”

P. A senhora acredita que para tratar a atual epidemia de depressão o mundo precisa de uma aproximação às pessoas afetadas que integre o tratamento filosófico. Pode explicar melhor?

R. Não proponho isso como remédio. Quero ir mais longe. Nosso estado de alma é melancólico porque estamos conscientes de nossas perdas, estamos conscientes de que um dia morreremos e estamos conscientes dos anos e de tudo o que vamos deixando para trás. E o que é importante é que criemos horizontes de esperança em torno dessas nuvens, à sombra da melancolia. A melancolia precisa de esperança, amor, música, amizade, luz, dança... para não se tornar escura. Não é uma terapia, o que proponho é que percebamos que necessitamos, além da calma, também do amor. Não apenas com relacionamentos românticos, também o amor mundi, o amor pelo mundo mencionado por Hannah Arendt. Que nos sintamos em comunhão com o mundo e que sintamos esse amor compartilhado com ele. Necessitamo-nos mutuamente.

P. As pessoas com depressão são párias do sistema neoliberal?

R. Sim, elas são. O neoliberalismo é quem as deixa doentes. O que é necessário para que a melancolia seja saudável? Descanso, e no capitalismo isso não existe. O sistema faz com que as pessoas fiquem deprimidas e, além disso, essas pessoas não são cuidadas. Ele as afasta. A terapia que proponho não custa dinheiro, mas tempo, entretanto o tempo se tornou o produto de luxo por excelência.
Fonte: El País – por CARMEN PÉREZ-LANZAC
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MELATONINA: O HORMÔNIO DO SONO E DA JUVENTUDE

A melatonina sempre despertou muito interesse no meio científico. Além de ser responsável pelos nossos ciclos de sono e vigília, ela também é a chave para o funcionamento do nosso relógio biológico. Na verdade, para muitas pessoas é aqui que se encontraria o tão buscado segredo para impedir o envelhecimento, para frear a deterioração e atingir idades mais avançadas gozando de um melhor estado físico e psicológico.

Uma coisa dessas pode parecer à primeira vista pouco mais que uma quimera, uma coisa impossível. No entanto, o neuroendocrinologista Walter Perpaoli nos explica no seu livro “O milagre da melatonina” que suas pesquisas no departamento de Medicina da Universidade de Richmond (Virgínia) estão apresentando bons resultados em nível laboratorial.

“A melatonina é o hormônio da serenidade,
do equilíbrio interno e da juventude.”
-Walter Pierpaoli-

Vale dizer que ainda precisaremos esperar algumas décadas para obter resultados mais conclusivos, mas isso não impediu que desde então a febre pela melatonina aumentasse ainda mais desde que as indústrias farmacêuticas enxergaram nela uma mina de ouro. Sabe-se que nos Estados Unidos, por exemplo, chegam a ser produzidos mais de 20.000 frascos de melatonina sintética por dia.

Muitas das pessoas que a consomem não o fazem apenas para regular um pouco melhor seus ciclos de sono. Foi demonstrado que a melatonina diminui na puberdade e que na chegada dos 40 anos nosso corpo reduz sua síntese de forma bastante drástica. Portanto, o segredo para conservar um pouco mais a nossa juventude estaria – aparentemente – em repor esse déficit de melatonina.

No entanto, os benefícios desse hormônio vão muito além de impedir o aparecimento de uma ou outra ruga ou dos cabelos brancos, já que seu papel na nossa saúde e no equilíbrio psicológico é simplesmente incrível.

O que é a melatonina?

A melatonina ou o N-acetil-5-metoxitriptamina é um hormônio sintetizado a partir do triptofano que é produzido na glândula pineal. Ao mesmo tempo, é interessante saber que não são apenas as pessoas e os animais que possuem esse sofisticado e precioso elemento biológico, já que ele também está presente nas bactérias, nos fungos e em algumas algas. É, por assim dizer, o segredo da vida.

Por outro lado, e para que a melatonina possa ser produzida normalmente, o corpo precisa receber os diferentes padrões de luz e sombra que ocorrem ao longo do dia. Essa combinação entre o estímulo luminoso que chega pela retina, os pinealócitos na glândula pineal e o núcleo supraquiasmático do hipotálamo são os elementos que orquestram a síntese.

Sabe-se, por exemplo, que por volta das 20 horas nosso nível de melatonina começa a subir. Ele vai aumentar de forma progressiva até mais ou menos 3 horas da manhã, momento em que nossa temperatura corporal costuma ser mais baixa. É o que os cientistas chamam de “tempo biológico zero”. A partir desse momento, o nível de melatonina decai de novo.

Como curiosidade, vale dizer que se conseguiu isolar a melatonina da glândula pineal há pouco tempo. Foi em 1958 que se descobriu a importância desse hormônio no nosso ritmo circadiano. Desde então, a ciência tem se aprofundado ainda mais, estudando seu papel na depressão, na obesidade e nas doenças neurodegenerativas.

Qual é a sua relação com o sono?

Patrícia tem 52 anos e há alguns meses tem sofrido de insônia. Como a maioria de nós já ouviu e leu em várias fontes, “a melatonina nos ajuda a dormir”. Assim, sem pensar, vamos à farmácia e compramos um frasco para ver como isso funciona. Não é preciso receita médica para comprar melatonina, fazer isso nas farmácias é simples, econômico e à primeira vista parece ser o “remédio perfeito”.

No entanto… Será que é mesmo verdade que a melatonina pode nos ajudar a acabar com a insônia?

Bem, é importante entender que a melatonina, na realidade, induz ao sono, mas não nos mantém nesse estado.  Ou seja, quando Patrícia tomar sua primeira cápsula de melatonina às 23 horas é muito provável que ela durma, mas certamente vai acordar após algumas horas.

Os suplementos de melatonina na realidade podem ser muito úteis para lidar com as mudanças de fuso horário, assim como para nos ajudar com aqueles turnos de trabalho em que frequentemente não temos outra opção senão dormir de dia para trabalhar à noite.

Também é muito eficaz para pessoas com déficits visuais.

Além disso, foi demonstrado que também é útil para reduzir a dor associada a diferentes tipos de dores de cabeça.

Paralelamente, vale levar em consideração outro aspecto importante sobre esses suplementos de melatonina. Geralmente cada comprimido contém entre 3 e 10 miligramas de melatonina, quando na realidade nosso organismo já reage com meio miligrama.

Regular a melatonina para dormir bem.

Os únicos estudos que apoiam a eficiência do uso da melatonina sintética para tratar da insônia o fazem quando a pessoa sofre do que se conhece como síndrome do atraso das fases do sono (SAFS). Trata-se de um transtorno no ritmo circadiano que provoca insônia, mudanças de temperatura, problemas hormonais e de atenção.

A melatonina nas pessoas que sofrem de estresse.

A melatonina pode ser uma bênção para pessoas que costumam levar uma vida com alto nível de estresse e que, além disso, devido ao trabalho, são obrigadas a passar muitas horas em ambientes onde há apenas luz artificial. Vamos pensar por exemplo nos médicos, nas enfermeiras, nos auxiliares de enfermagem ou em qualquer operário que trabalhe durante longos turnos, perdendo a noção do dia ou da noite.

Há muitas pessoas que, devido à pressão do trabalho acabam dormindo muito pouco e comendo mal. Esse estilo de vida provoca uma queda preocupante do nível de melatonina. Com isso, surge o risco de depressão e de outras doenças associadas.

Ao mesmo tempo, uma pequena quantidade de melatonina liberada no nosso corpo faz com que nosso ritmo circadiano se altere ainda mais. O sistema imunológico se enfraquece e passamos a não ter mais um dos melhores antioxidantes biológicos que possuímos, que é capaz de reparar o dano celular e frear o envelhecimento precoce.
Estresse do dia a dia

Se nos encontramos em alguma dessas situações, é vital consultar um médico sobre a pertinência de utilizar a melatonina sintética ou se é melhor a nos limitarmos a melhorar nossa dieta e ajustar um pouco melhor nosso estilo de vida.

Melatonina contra o envelhecimento e os processos degenerativos

Assim como afirmamos no início do artigo, à medida que vamos nos tornando mais velhos, a melatonina para de ser produzida na mesma quantidade. No entanto, essa baixa não se traduz apenas em uma produção noturna um pouco mais deficiente ou em abrir caminho a um envelhecimento progressivo.

Há um dado que não podemos menosprezar: esse hormônio também sincroniza os ritmos dos nossos neurotransmissores cerebrais. Assim, o que experimentamos ao longo do tempo é uma perda das nossas capacidades cognitivas, como a atenção ou a memória.

Paralelamente, a falta de melatonina contribui para o aparecimento de algumas doenças como o Alzheimer ou o Parkinson.

Isso explica o fato de muitos profissionais da saúde recomendarem aos seus pacientes com mais de 55 anos o consumo de complementos à base de melatonina com o objetivo de prevenir – e até mesmo reverter – o processo neurodegenerativo associado ao dano mitocondrial que a queda da melatonina provoca.

Esse é um dado interessante que é conveniente considerar.

Como podemos melhorar nossos níveis de melatonina de maneira natural?

É muito provável que, após ler todos esses benefícios associados à melatonina, nossa primeira reação seja ir até uma farmácia e comprar um frasco. Devemos ressaltar que isso não é recomendado. São os médicos que devem recomendar ou não o uso da melatonina, assim como a dose e o intervalo da administração. Não podemos nos esquecer de que cada pessoa precisa de uma dose específica e é só assim que poderemos perceber sua eficiência.

Portanto, e antes de se automedicar, sempre está nas nossas mãos estimular a produção de melatonina de maneira natural através de algumas simples estratégias.

Na medida do possível, e se nossas obrigações diárias permitirem, é bom viver em harmonia com os ciclos de luz. Um erro que a maioria das pessoas comete é deixar as noites sobrecarregadas com a luz artificial dos aparelhos eletrônicos, como o computador, o tablet, o celular… Tudo isso afeta a nossa glândula pineal.

Ao mesmo tempo, é importante que nossa dieta seja rica em um tipo de aminoácido muito especial: o triptofano. Graças a ele sintetizaremos quantidades adequadas de melatonina e também de serotonina.

Esses são alguns dos alimentos: 
A gema do ovo.
Banana, abacaxi, abacate e ameixa.
O chocolate amargo é bom para elevar o nível de triptofano para sintetizar melatonina de forma neutra.
Alga spirulina.
Agrião, espinafre, beterraba, cenoura, aipo, alfafa, brócolis, tâmaras.
Oleaginosas (amêndoas, nozes, pistache, castanha de caju…).
Sementes (gergelim, abóbora, girassol).
Cereais integrais.
Levedura de cerveja.
Leguminosas (grão-de-bico, lentilha, feijão, soja…)
Chocolate produz melatonina

Para concluir, assim como vimos, a melatonina é muito mais que um hormônio que regula nosso ciclo de sono e vigília. Também é a molécula da juventude, do bem-estar psicológico e, por sua vez, a ponte que nos une aos ritmos naturais do nosso planeta para viver em sintonia com ele.
Um aspecto da vida que aparentemente estamos esquecendo.

Referências bibliográficas: 
Lewis, Alan (1999). Melatonin and the Biological Clock. McGraw-Hill 
Pierpaoli, Walter (1996) El milagro de la melatonina. Barcelona: Unrano 
Buscemi N, Vandermeer B, Pandya R, Hooton N (2004), Melatonin for treatment of sleep disorders. McGraw-Hill
Turek FW, Gillette MU (2004). Melatonin, sleep, and circadian rhythms. Lancet

OS EFEITOS SAUDÁVEIS DE MOMENTOS DE SOLIDÃO E SILÊNCIO?

Não é nenhuma contradição: os momentos de solidão, de silêncio e desconexão são necessários para motivar o nosso impulso vital com mais autenticidade. É como pressionar um botão de reinicialização onde cada peça se encaixa com mais sentido, onde encontramos a clareza mental para entender melhor as pessoas, para colocar filtros, definir prioridades e objetivos pessoais.

Miles Davis foi um tos trompetistas e compositores de jazz mais conhecidos da história. Uma vez, quando alguns músicos jovens pediram conselhos a ele sobre como conseguir seu nível de maestria e originalidade, Davis lhes deu uma resposta que eles nunca mais iriam esquecer: “Se não existissem os silêncios, a música não seria o que é.”

“O valor de um homem é medido
pela quantidade de solidão que ele consegue suportar”
-Friedrich Nietzsche-

Ele também lhes indicou que a vida é como uma partitura, onde se pode encontrar o ritmo combinando momentos de atividade com momentos de solidão, silêncio e reflexão. Somente assim podemos encontrar a inspiração e a melodia escondida dentro de nós, que não poderíamos ouvir de outra forma.

É, sem dúvida, um conselho sábio e óbvio. No entanto, por mais lógico que possa parecer, nem sempre o colocamos em prática de forma eficaz. Em nosso mundo atual, por mais curioso que pareça, existe em maior grau um tipo de solidão camuflada e às vezes patológica, sobre a qual nem sempre ouvimos falar.

Nos referimos àquela em que desaparecemos na hiperatividade (buscando uma falsa hiperprodutividade) e na hiperestimulação. Nós passamos o dia trabalhando, conectados às tecnologias, fazendo coisas, cumprindo objetivos, satisfazendo os outros, envoltos no ruído das nossas cidades. E, no entanto, este rumor incessante e essa atividade imparável nem sempre valem as preocupações que nos geram ou o tempo que nos roubam.

Se a isso acrescentarmos o fato de que às vezes nossos relacionamentos nos trazem mais solidão do que felicidade, vamos entender por que cada ano aumentam as taxas de depressão e outros tipos de transtornos de saúde que não podemos negligenciar…

Os momentos de solidão são benéficos para o nosso cérebro

Em primeiro lugar, devemos destacar um fato importante. A solidão que nos beneficia e que se reverte para a nossa saúde física e psicológica é aquela que combina os momentos de solidão e isolamento com a conexão posterior com o mundo, com seu som, sua forma, suas cores e riquezas sensoriais e, acima de tudo, com relações sociais significativas, seja com amigos, com o parceiro, com a família, com colegas de trabalho…

O ser humano não está preparado para viver em completo e permanente isolamento. Um exemplo impressionante é, sem dúvida, a câmara anecoica dos Laboratórios Orfield, em Minneapolis, nos Estados Unidos. É um espaço onde diversas empresas estudam o som de seus produtos: telefones, motocicletas, máquinas de lavar roupa… É uma sala ultra-silenciosa onde 99,99% do ruído é absorvido pelas paredes de aço e fibra de vidro, e onde costumam ser realizados inúmeros experimentos psicológicos.
câmara anecoica

Verificou-se que, em média, ninguém conseguiu estar na câmara anecoica por mais de meia hora. As pessoas muitas vezes saem desesperadas e entram em pânico por não poder resistir a um silêncio tão oco, sufocante e vazio.

Neste espaço, a quietude é tão extrema que é comum ouvir os sons do coração ou a nossa própria circulação sanguínea. Algo para o qual o cérebro não está preparado, algo que vai contra a nossa natureza, a nossa programação genética: afinal, somos seres sociais que precisam se conectar com seu ambiente mais próximo, e quando não temos nenhum estímulo, simplesmente entramos em pânico.

Por outro lado, enquanto o isolamento total afeta o nosso equilíbrio psicológico, o ocasional e delimitado no tempo o beneficia. Os cientistas nos dizem que os momentos de solidão bem distribuídos ao longo do dia são como “descargas elétricas” capazes de nos reiniciar, de nos permitir recuperar energia, o sentido e a inspiração.

Programe seus momentos de solidão para melhorar a saúde

Vivemos em uma sociedade que adora a independência, mas que no entanto está cada vez mais alienada, sobrecarregada e acelerada. O avanço das novas tecnologias facilita que estejamos mais conectados do que nunca. Nossas cidades estão cada vez mais superpopuladas.

Além disso, estamos cada vez mais cercados por luz artificial, somos menos ativos fisicamente porque temos a oportunidade de fazer muitas coisas sem pedir mais pulsações para o nosso coração.

Os médicos, neurologistas e psicólogos nos dizem que nossos cérebros estão se “conectando” de forma muito diferente de como se conectavam há 100 anos. Recebemos tantos estímulos ao longo do dia e por tantas frentes que é quase “vital” que gerenciemos um pouco melhor todo esse caos sensorial. Necessitamos de calma, necessitamos de silêncio e de solidão de vez em quando para integrar toda essa corrente de informações. O objetivo não é outro senão encontrar um sentido.

No entanto, há quem não saiba e, pior, há quem sinta um medo quase atávico de permanecer um dia consigo mesmo em solidão para conversar, para refletir. Esse encontro pode ser quase tão aterrador como ficar meia hora na câmara anecoica dos Laboratórios Orfield.

Porque assim como nesse espaço pode-se ouvir os sons do próprio corpo, os momentos de solidão em lugares mais confortáveis podem trazer o vazio do próprio ser, os medos, as angústias, os nós dos assuntos pendentes e a nudez de uma infelicidade não reconhecida.

Vamos ser corajosos, vamos programar alguns momentos de solidão para que possamos tomar um café com nós mesmos e deixar que a mente se aclare, que as marés de preocupação se acalmem para ver as nossas verdadeiras necessidades. Vamos tornar a solidão escolhida e pontual o nosso autêntico bálsamo.
Fonte: A mente é maravilhosa

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