Está na cadeia — ou estava, com miliardários e banqueiros nunca se sabe — o Filantropus nada-erectus Kim Detcom, fundador da Megaupload, que abria generosamente "janelas para o futuro" e fazia a cultura tecnológica de ponta chegar aos necessitados. Um herói. Sua empresa em prol dos menos favorecidos contava com 150 milhões de usuários registrados e recebia 50 milhões de visitas diárias. Fraudou, por baixo, muito por baixo, os proprietários legítimos de direitos autorais em mais de 500 milhões de dólares. Sonhador emérito, guardava em casa apenas para uso pessoal mais de 30 carros de luxo, BMWs, Maseratis, um Cadillac cor-de-rosa, Ferraris, Bentleys, Rolls Royces... Como sua marca preferida era Mercedes, possuía apenas dez, tadinho do menino carente. Vendia publicidade no Mega. Afinal, uma graninha a mais para quem faz o bem pode ajudar outros pés-dechinelo. Não sei se o slogan da empresa (sede em Hong Kong...) era "Estamos abrindo mão de nossos direitos para que você, etc. etc...". É bom saber que, enquanto Wall Street assalta o mundo, contamos com pessoas capazes de sacrifícios de tal, hum, monta. Os anjos existem, lá e cá.
Compreende-se a facilidade com que o bravo Kim Detcom roubava com tamanha desfaçatez. Vivemos tempos de intensa liberdade, tanto em Guantânamo quanto na Síria, Egito, Bahrein...
Durante a ditadura militar no Brasil era comum explicação do tipo "caso isolado, não reflete a totalidade de...". Foi o que ouvimos da sanguinária Hillary "I’m coming" Clinton ao se desculpar, e como se desculpam!, pelo xixi coletivo que robocops norteamericanos despejaram sobre cadáveres ensanguentados em andrajos, no Afeganistão. Tragicômico ver o arquiladrão Karzai bancando o macho, com lengalenga sobre o abuso. Ele que bote uma burca e fuja, antes de aparecer pendurado num poste com genitais na boca. O bombardeio de urina reflete o que acontece diuturnamente nas frentes de batalha: vingança. Leiam "Guerra", de Sebastian Junger, sobre combates contra talibãs: poucos metros conquistados num pequeno vale custavam vidas americanas.
O soldado-símbolo da campanha afegã, Pat Tillman, recebeu proposta de milhões de dólares para atuar no futebol americano, mas preferiu ser voluntário naquele inferno. Já havia combatido no Iraque. Há um documentário chocante, de 2010, "Tillman, um herói sob medida", direção de Amir Bar-Lev, passando na HBO, no qual o irmão do soldado revela a opinião de Tillman, sobre a guerra iraquiana: "É ilegal". Também no livro de Jon Krakauer "Onde os homens conquistam a glória — A odisseia de um soldado americano no Iraque e no Afeganistão" o assunto é esmiuçado. Alguns detalhes: a farda, o capacete, o peitoral protetor e até o diário de Tillman foram destruídos por ordem de seus comandantes para alterar a verdade. Ele foi destroçado por rajadas de metralhadoras disparadas por seus companheiros no chamado "fogo amigo".
Montaram uma comemoração gigantesca, com desfiles de bandas, cheerleaders e discursos oportunistas. Logo depois das baboseiras proferidas por um político-pastor, "Pat voltará para nós com Jesus", o irmão mais novo de Tillman subiu ao púlpito com um copo de cerveja e, entre vários "fucks", mandou: "Pat não acreditava nisso e não vai voltar. Está morto".
Também estão mortas as campanhas americanas no Iraque e no Afeganistão, talvez porque eles estejam se preparando para a sonhada — que se converterá em outra catástrofe — guerra contra o Irã.
Enquanto isso, aqui, a população atônita repete a velha pergunta: "Quem julgará os juízes?", e estão roubando o entulho dos prédios que desabaram no Centro do Rio. Essa é a visão das "janelas para o futuro", doces e róseos profetas em causa própria.