Eram
duas amigas – uma feia, outra bonita. Amigas mesmo, desde pequenas.
E também, desde pequenas, com aquelas características: uma feia, a
outra bonita. Há uma crença de que nas diferentes idades a beleza
se alterna com a feiúra (bebê bonito, criança feia, adulto bonito
ou, ao contrário, bebê feio, criança bonita, adulto feio), mas no
caso delas isso não aconteceu. Houve uma coerência. A feia foi feia
sempre. Muito magra, de cabelos pretos, sobrancelhas grossas demais,
quase formando um urubu que lhe sobrevoasse os olhos, nariz grande,
boca como um traço. E a outra era o oposto. Sempre bonita, desde
bebê. Cabelos castanhos claros, com um toque de cobre que cintilava
ao sol. O rosto de um oval perfeito. Olhos quase negros contrastando
com uma pele clara, sem qualquer sinal, e lábios grossos e vermelhos
que pareciam desenhados com lápis de cor.
Brincavam
juntas, desde muito pequenas, pois eram vizinhas. Era interessante
vê-las de mãos dadas, correndo pela grama, subindo e descendo dos
bancos, com seus vestidos rodados, a menina feia e a menina bonita.
Numa, o que primeiro chamavam a atenção eram as sobrancelhas
cerradas, que lhe pesavam a fisionomia. Na outra, a leveza dos
cabelos avermelhados, flutuando.
O
tempo passou. Elas cresceram. Sempre assim, uma feia, a outra bonita.
E amigas. Sempre amigas. Presentes em todos os acontecimentos
importantes da vida de cada uma. Não posso dizer que foram ao
casamento de uma e outra porque uma delas, a bonita, nunca se casou.
Mas teve grandes paixões. E um filho. A feia se casou duas vezes e
teve três filhos, duas meninas e um menino. E o tempo continuou
passando.
Até
que um dia – de repente, de uma hora para outra – envelheceram.
Parece mentira, mas as pessoas envelhecem assim. Principalmente as
mulheres. Um dia, você acorda e vê uma nova marca no seu rosto. Não
estava ontem, você tem certeza. Mas hoje está. Com elas, não foi
diferente.
Uma
tarde, tendo ido ao Centro da cidade para fazer compras, as duas
amigas decidiram tomar um chá na Confeitaria Colombo. E foi ali,
sentadas diante de um daqueles espelhos centenários, que as duas de
repente se olharam e viram que tinham envelhecido. Lá estavam. Duas
senhoras. E, incrível, na velhice, tinham ficado parecidas.
Continuaram se olhando em silêncio por alguns segundos. “A idade
nivela tudo, iguala feias e bonitas”, pensou uma delas. E a outra,
como se lesse seus pensamentos, completou:
– A
velhice é democrática.