Estimulado pela generosidade de alguns amigos, pensei em me candidatar à sucessão do querido Luiz Paulo Horta na Academia Brasileira de Letras. Sei que haveria pessoas mais credenciadas para exercer o privilégio de substituir um dos jornalistas mais cultos de sua geração e alguém que não só pregava como encarnava as virtudes do cristianismo. Era, porém, o que o acaso me oferecia. Nos tempos em que vigoravam o sectarismo ideológico e o preconceito, a ABL era tida por parte dos intelectuais de esquerda como uma instituição “reacionária”, de “direita”. A favor dessa crença havia a presença imortal do general Aurélio de Lira Tavares, membro da Junta Militar que governou o país por alguns meses nos anos de chumbo. Como tomar chá ao lado de “Adelita”, seu nome artístico? perguntava-se, sem considerar que a Casa abrigava também o contrário, sem contar a maioria liberal.
Assim, funcionando como contraponto, havia o caso do comunista Jorge Amado em 1961, do esquerdista João Cabral de Melo Neto em plena efervescência revolucionária de 1968, e de Dias Gomes (do Partidão e cuja cadeira viria a ser ocupada mais tarde por Paulo Coelho), em 1991. Hoje, além de manter essa opção pela pluralidade (“a Academia não tem ideologia”, afirma seu ex-presidente Marcos Vinicios Vilaça), a instituição deixou a torre de marfim e se abriu para a sociedade, recebendo artistas, intelectuais, sambistas. Foi vista até desfilando no carnaval pela Mangueira.
De qualquer maneira, antes de me decidir, comecei uma sondagem para saber se e como seria recebido pela Casa de Machado de Assis, patrono da cadeira que Luiz Paulo ocupou. Que chances eu realmente teria, quais eram as tendências e quem eram os concorrentes. Esbarrei então com observações que agiram em mim como delicadas objeções. A primeira foi que a “prévia” apontava para um empate técnico entre meu nome e o do romancista Antonio Torres, levando a uma disputa polarizada que iria “dividir amigos”. Outro argumento contra é que a Academia, embora seja de “Letras”, não apenas de literatura, preferiria eleger um ficcionista, e a hora seria de Torres, que concorre pela terceira vez. E por quem tenho grande estima.
Na verdade, é provável que tudo isso seja mera desculpa para uma preguiçosa e pouco democrática incompetência para fazer campanha para disputar votos. Tem gente que só compete para ganhar. Já eu queria ganhar sem competir. “É, assim não dá”, me disse um dos mentores de minha candidatura, desejando que eu tenha aprendido pelo menos a lição de que na ABL a humildade é melhor cabo eleitoral do que a soberba.