Sônia
era fumante. Fumante inveterada. Três maços por dia era o exigido
pelo corpo. Menos que isso e lá vinham as dores de cabeça, o mau
humor e a impaciência. Dizia a todos que amava os filhos e o marido,
mas que o cigarro era sua razão de viver. A família não apoiava,
aliás, recriminava, e muito. Mas de nada adiantavam as reclamações.
Os três a conheceram fumante e, no fim, era melhor ela feliz com do
que irritada sem. Porque Sônia irritada era do tipo que magoava o
próximo. Uns diziam que ela só entraria no céu com um cigarro
aceso na mão, senão ia sobrar até pra Deus.
Certo
dia, saindo do trabalho, ia caminhando pela calçada até o ponto de
ônibus quando, de repente, um gol preto, cuspindo três pessoas
encapuzadas, para em sua frente. Os três gritam: "Sequestro,
sequestro".
Desesperada,
obedeceu as ordens e entrou no carro. Tentou falar alguma coisa, mas
foi interrompida pelos gritos de "cala a boca" dos
sequestradores. Encapuzada, depois de algum tempo com o carro em
movimento, engoliu o choro e pensou: "Meu Deus do céu, preciso
de um cigarro. Não de um celular, não da policia, não da porra do
Batman, mas de um cigarro." E, pior ainda, quanto tempo duraria
essa confusão toda? Não, mesmo que durasse meses, sequestrador que
é sequestrador fuma. No cinema, todo mundo que é mau fuma. Ficou
mais tranquila. Na certa, chegando no cativeiro, dariam a ela comida,
que facilmente poderia ser trocada por cigarro, como naqueles filmes
americanos de cadeia.
Começou
a imaginar todo o mercado negro de cigarros que iniciaria com os
sequestradores. Por alguns momentos chegou a pensar até na venda do
corpo, mas esse pensamento logo sumiu. Muito cedo para se pensar
nessa possibilidade. Pensou, então, na família. No primeiro
contato, avisaria que estava bem e que pagassem logo o resgate. Mas
foi nesse momento que a ficha caiu e alguns pensamentos ruins tomaram
conta de sua mente. E se eles a torturassem? Imaginou um poço, e ela
lá embaixo, implorando por um cigarro, até que uma alma caridosa
lhe atirasse um cigarro... Mas apagado. "Socorro, me tirem
daqui!" Podia ouvir até o barulhinho das pedras batendo e ela,
de cócoras, tentando fazer fogo sobre o cigarro.
O
carro parou. Sônia ia dar um grito de desespero quando ouviu a voz
do marido.
-
Sônia, isso vai ser rápido. Só alguns dias.
-
Jonas? - Falou, titubeante.
O
capuz foi retirado. Conseguiu, então, ver os filhos e o marido
fantasiados de sequestradores, já sem os capuzes. A luz do sol
machucou seus olhos, mas não o suficiente para impedi-la de ver o
que dizia a placa em frente a uma casa simples, com aparência de
casa no campo:
"CASA
DE RECUPERAÇÃO PARA FUMANTES"
-
Nãããããããããããããooooooo!!!!!!
Preferia
ter sido sequestrada.