Não quero saber se você dorme com outros.
Você é fiel a seus ideais?
Ou você trai suas convicções para levar vantagem na vida?
Pela primeira vez o Ministério Público Federal entrou na Justiça para cassar os mandatos de 13 deputados federais que trocaram recentemente de partido.
Acho isso uma palhaçada.
Não que eu ache lindo o troca-troca desembestado. Mas há tantos motivos mais sérios para cassar um deputado no Brasil do que ele pular para outra sigla com a qual se identifique mais!
Diante da promiscuidade na política brasileira, com alianças oportunistas entre partidos, nepotismo à vontade, corrupção premiada com cargos, figuras reabilitadas por encenações bizarras – como o aperto de mãos entre Lula e Maluf –, siglas que nada têm a ver com seu credo e legendas que traem as promessas a seus eleitores...diante de tudo isso, a decisão do procurador geral da República, Rodrigo Janot, de pedir a perda de mandato desses 13 “infiéis”, parece descabida e fundamentalista.
Segundo o MP, existem critérios para aceitar a infidelidade partidária. O compromisso do até que a morte nos separe funciona assim: se o político trocar por um partido que acabou de ser criado, pode. Se estiver sendo perseguido por seu próprio partido, também pode namorar outro.
Entendo que o cientista político e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Fábio Wanderley, diga que “o mais desejável”, para haver consistência no processo político, é que “o dono do mandato seja o partido”. Mas os partidos brasileiros se tornaram uma sopa de letrinhas que sambam ao sabor das vantagens eleitorais (ou até financeiras). Sou mais a visão de Emil Sobottka, cientista político e professor da PUC do Rio Grande do Sul: “A questão é que os partidos têm feito pouco para fortalecer a fidelidade tanto do eleitor quanto do político”.
Se um deputado se sente traído por seu próprio partido, o que faz então?
O que o procurador mais deseja controlar é que o deputado burle a lei partidária indo para uma nova sigla (justa causa de infidelidade) para depois se transferir de mala e cuia para uma sigla já consolidada. Eles chamam essa manobra de “escala”.
O troca-troca partidário é tão comum no Legislativo que só neste ano de 2013, 67 deputados federais e três senadores trocaram de legenda. Ninguém reclamou porque um dia é da caça e outro dia é do caçador. Uma hora você é traído, outra hora você rouba o político do partido adversário. Fica eles por eles, elas por elas.
Vários deputados na mira do procurador Janot dizem que sofriam perseguição em seus partidos. Uma espécie de assedio moral. Eram boicotados e jamais sairiam do lugar em que estavam. Entre eles, um aliado de Marina, Alfredo Sirkis, que ajudou a fundar o Partido Verde. “Permaneci no PV por 27 anos”. Depois da saída de Marina Silva, nas eleições de 2010, Sirkis teria começado a se sentir um indesejável entre os verdes. E, agora, dirigentes do PV teriam dito a Sirkis que a legenda não está mais a seu dispor para as eleições de 2014. Por isso, ele se filiou ao PSB do governador Eduardo Campos. Se a história é esta, manter fidelidade ao PV seria masoquismo.
No fim, tudo isso não dará em nada. Parece um factoide, destinado a desviar a atenção de questões realmente importantes. Os engravatados no Congresso – que um dia Lula, ainda fiel a seus ideais, chamou de “os 300 picaretas” – ganham excepcionalmente bem, mas, entre recessos e férias, não conseguem fazer uma reforma política que reabilite a confiança da população nos partidos políticos.
Para ser fiel às legendas, é preciso que os partidos mantenham um mínimo de coerência com seu programa. De que adianta jurar fidelidade se não dá para respeitar o parceiro, num país em que o próprio ex-presidente se considera uma “metamorfose ambulante”?