Não
faz muito, escrevi sobre um novo seriado de TV, "O show de
Michael J. Fox", em que o ator interpreta um âncora de
televisão acometido do mal de Parkinson. Como se sabe, Fox era um
astro de Hollywood quando, aos 30 anos, se viu com a doença. Com o
tempo, trocou o cinema pela militância no parkinson. Criou uma
fundação para apoiar pesquisas, passa o ano viajando e dando
palestras, e servindo de exemplo às pessoas na sua condição. Há
pouco, decidiu retomar a carreira e, aos que se surpreenderam,
explicou: "Posso interpretar qualquer personagem --desde que ele
tenha parkinson".
Outro
ator, este brasileiro, com um currículo muito maior e também
portador da doença, Paulo José, também pode interpretar qualquer
personagem --mesmo que ele não tenha parkinson. Na verdade, Paulo
José, 76, não faz outra coisa desde que teve seu caso
diagnosticado, há 20 anos.
Seu
impressionante currículo nesse período inclui filmes, peças de
teatro, novelas e minisséries, como ator ou diretor --às vezes, as
duas coisas ao mesmo tempo--, e cursos como professor dessas
especialidades, além das dezenas de comerciais que dirigiu. Nos
intervalos, toca piano em casa, para exercitar a mão direita, e
segue o Flamengo pela TV. Ele não se submeteu.
Paulo
José não se vê como um super-homem. É apenas um homem que aceitou
a doença e aprendeu a tratá-la com respeito, mas sem reverência.
Ele continua no comando. "Na hora de trabalhar, não tenho
parkinson", diz em entrevistas. Outros com o mesmo problema
poderiam fazer como ele, se soubessem que não é impossível.
Agora
chegou a vez de Paulo José demonstrar isso aos olhos de milhões. Na
próxima novela de Manoel Carlos, "Em Família", a estrear
em janeiro, ele fará um personagem com parkinson. Viverá na tela o
mesmo e grande papel que interpreta na vida.