Nascido em Paris, em 1952, André Comte-Sponville é autor de uma obra filosófica descomplicada e bastante popular na França e fora dela, na qual ele transita por temas clássicos, como o amor e a felicidade, e as urgências da vida contemporânea. Em um de seus livros mais célebres, O Capitalismo É Moral?, o filósofo discute a relação, ou melhor, a falta de relação entre ética e economia. Montaigne, Espinoza e Epicuro estão entre as maiores influências do filósofo.
André Comte-Sponville já foi professor da Sorbonne, mas hoje dedica-se exclusivamente a seus livros e às palestras que ministra.
Aqui, uma pequena conversa com o filósofo.
Para ter a consciência tranquila, há muita gente disposta a pagar mais caro por produtos menos agressivos ao ambiente. A moral se tornou um argumento de venda?
É um pouco mais complexo que isso. O que eu digo é que a economia não é moral. Isso não quer dizer que a moral não tenha qualquer relação com a economia, mas que essa relação passa exclusivamente pela consciência dos indivíduos. A prostituição, por exemplo, é uma troca de ordem comercial. Isso não quer dizer que ela seja moralmente inocente. Por outro lado, se você compra produtos com o selo "Comércio Justo", sua moral intervém na economia. Mas então não é o mercado que é moral, é você. A mesma coisa acontece com a dita onda ecológica. Há aí um fenômeno de moda, é claro, mas há também um problema de verdade, que é moral: que planeta queremos deixar para nossos filhos? Que a ecologia tenha virado um argumento de venda para as empresas, isso não impede que ela seja também uma exigência moral para os indivíduos!
Se todos pudessem ter os hábitos de consumo de um europeu médio, o resultado seria desastroso para o meio ambiente. A desigualdade é necessária para a manutenção do planeta?
Não é a desigualdade que é necessária. Se todos os seres humanos tivessem, por exemplo, o mesmo nível de vida de um africano médio, o planeta estaria muito melhor. O que é incompatível com a sustentabilidade do planeta não é simplesmente a igualdade, mas a igualdade na abundância e no luxo. Então será preciso escolher, em algum momento, entre o luxo e a justiça, entre a abundância e a sobrevivência. Esse é o problema do desenvolvimento sustentável, sem dúvida a questão política mais importante da atualidade.
A felicidade é um tema recorrente em sua obra. No que a filosofia pode ajudar na busca por ela?
Em primeiro lugar, ajudando a compreender o que ela é. E o que é a felicidade? É o contrário da tristeza. É preciso partir daí. Ora, e o que é a tristeza? Todo período, para um indivíduo, no qual parece impossível sentir-se alegre. Levantamos de manhã e sabemos que não nos sentiremos felizes nem uma vez durante o dia, às vezes acreditamos até mesmo que não nos sentiremos felizes nunca mais... Aqueles que passaram por isso conhecem o peso do horror, do desgosto, do sofrimento. E eles sabem também, por oposição, que a felicidade existe. O que é a felicidade? Certamente não é uma alegria contínua e estável. Isso não existe, é somente um sonho que nos afasta da felicidade. A felicidade é o contrário da tristeza: sou feliz quando tenho a sensação de que a alegria é imediatamente possível, que pode aparecer de um momento a outro, que ela talvez já esteja aqui, claro que não de maneira permanente, mas com essa facilidade, essa espontaneidade, essa leveza que torna a vida agradável. A felicidade não é algo absoluto, mas como é bom!
E o que pode fazer as pessoas se sentirem felizes?
Nenhum aspecto externo é suficiente: nem o dinheiro, nem o sucesso, nem o poder, nem a família, nem mesmo o fato de ser amado por fulano ou beltrano. A miséria, por exemplo, pode ser suficiente para a tristeza, mas todos sabem que ser rico nunca foi suficiente para ser feliz. A felicidade depende de uma disposição interior. Qual? A que os antigos chamavam de "sabedoria", e que nós poderíamos chamar, de forma mais simplificada, amor à vida. E eu estou dizendo "amor à vida", feliz ou infeliz, e não à felicidade. Qualquer um é capaz de amar a felicidade. Mas, se é a felicidade que você ama, você só estará contente com a vida quando estiver feliz, e quanto mais você for feliz, maior será seu medo de não o ser mais. Por outro lado, se você ama a vida, você tem uma excelente razão para viver e para lutar, mesmo quando a felicidade não está lá.
Na sua opinião, quais são hoje as grandes questões contemporâneas que devem aparecer na filosofia?
A maioria das grandes questões filosóficas são mais eternas que contemporâneas: a questão do ser, a de Deus ou de sua inexistência, a vida, a morte, a liberdade, o amor, a moral, o conhecimento, o tempo, a justiça, o poder, o trabalho, a felicidade, a sabedoria... o suficiente para ocupar uma vida! O que não impede o interesse pelas questões atuais. Em primeiro lugar, porque essas questões eternas devem chegar, hoje, a respostas que convenham à nossa época. E também porque há novas questões que surgem e que é preciso enfrentar. As principais me parecem ser a do desenvolvimento sustentável, da bioética e da globalização (sobretudo no aspecto cultural). Além disso, é preciso repensar a questão política: levar em conta o fracasso do marxismo, sem desistir, no entanto, de transformar a sociedade.