Há pessoas que culpam a
tudo e a todos por seus infortúnios. Como se elas não fizessem parte do seu
próprio sistema.
Como, se essas pessoas
costumam ser sempre o centro de tudo? Não é um paradoxo? Elas têm sempre menos
do que merecem e o mundo todo lhes deve algo. São sempre injustiçadas. Enxergam
muito pouco ou quase nunca o outro. As dores do outro, as necessidades do outro,
a humanidade do outro, as limitações do outro. E não percebem que suas atitudes
interferem definitivamente em todo esse sistema. Mas não de forma imediata.
Essas pessoas são muito imediatistas e ansiosas. Talvez aí esteja uma das
chaves do problema: o imediatismo.
“Mas eu fui tão legal...eu
fiz isso, eu fiz aquilo...” e sem saber esperar o tempo próprio das coisas, sem
enxergar o outro, o fluxo de outros sistemas que não o seu, brigam, cobram,
chutam o balde. E ficam sós...e injustiçadas. Ei! As pessoas vão te decepcionar
algumas vezes. Mesmo as que te amam, as que você ama. E muitas vezes não é
porque deixaram de te amar. Simplesmente apenas porque são humanas e erram, por
egoísmo, sim, porque não pensaram em você...
Mas você não precisa
odiá-las pra sempre por isso. Olhar o mundo por várias perspectivas é uma
grande sacada da vida. “Eu não sou o umbigo do mundo!!!!” Que aprendizado! E
como é bom não sê-lo! Já fui uma dessas pessoas. Posso falar de cadeira.
Como deixei de ser? Não
sei, posso enumerar algumas hipóteses, mas principalmente apanhando muito da
vida, me revoltando, me sentindo só e injustiçada durante um bom tempo da minha
adolescência até sei lá quando da minha vida adulta. Mas fui aprendendo,
fazendo muita terapia, me conhecendo, apanhando mais da vida, mas nunca
desistindo. E acho que o mais importante: aprendendo com meus erros.
Avaliando as situações que
não saíram como eu gostaria, sob várias perspectivas, não só sob a minha. Nem
sempre imediatamente, às vezes muito tempo depois. Ninguém é obrigado a nada
comigo, muito menos a me amar.
Seja bacana, seja legal,
seja leal, olhe pro outro de verdade, se coloque no lugar dele. Plante e espere
seu jardim florescer. Mas cuide dele. Podem vir tempestades, intempéries,
pragas, mas não desista, cuide dele. Não tem errada. Se você cuidar, ele vai
florescer. Mas não culpe a chuva, as pragas, seja lá o que for. Elas existem e
não há nada que se possa fazer para evita-las.
Chore, lamente e é só
começar de novo, quantas vezes for preciso. Mas pare de culpar o mundo, a vida
é sua e o que você faz e como você age têm consequências. Seu mau humor tem
consequências, seu bom humor tem consequências, "seu bom dia" tem,
"seu não bom dia" tem.
Você não consegue ser
invisível e não influenciável como gostaria muitas vezes. Você está
interferindo o tempo todo no seu sistema. E por mais que se isole, você faz
parte de um sistema. Portanto, cuide do seu sistema, expanda sua rede, cuide da
sua imagem. Não no sentido falso, mas seja uma figura agradável, querida,
desejável, gentil, sempre que possível.
Pense nos outros que nunca
faltará quem pense e cuide de você quando você precisar. Interesse-se
verdadeiramente pelo outro, procure alguém só pra saber dele. E não seja
imediatista, esse retorno pode levar anos, uma vida inteira. Descubra o prazer,
a satisfação, a alegria genuína de fazer bem ao outro, de cuidar do outro. Isso
nos nutre muito e nos faz sentir muito bem com a gente mesmo. Isso nos constrói,
constrói nossa autoestima.
Saber-se capaz de melhorar
a vida do outro, ou pelo menos o dia de alguém. E geralmente nem é preciso
muito. Olhar para a dor alheia ajuda muito a nos humanizar e até a enfrentar
nossas próprias dores, que não terminam nunca, só com a vida. Aceite isso.