“A morte não é nada
para nós”
Durante escavações em sítios arqueológicos gregos e romanos,
foram encontrados várias estatuetas de Epicuro. Era normal que os intelectuais
da época guardassem estátuas de filósofos, mas o que chamou a atenção é que as
de Epicuro estavam presentes até nas casas humildes. Os seguidores do filósofo,
acreditavam que contemplar seu rosto aquietava o espírito.
Epicuro nasceu cerca de 341 a.C. no Egeu, na ilha de Samos,
que também foi berço de Pitágoras. Ele serviu o exército ateniense por dois
anos, depois se dedicou a estudar e lecionar filosofia. Ele teve uma
experiência inicial, na qual os filósofos às vezes se viam, quando foi expulso
da cidade de Mytilene, na ilha de Lesbos. Epicuro viveu durante a época
inquieta da história grega, no final do quarto século e começo do terceiro
século a.C., quando as cidades-estado gregas estavam sob o açoite do império
macedônico.
Então, ele e um punhado de amigos juntaram seus recursos e
compraram uma casa na periferia de Atenas, perto de um rio, em meio às
oliveiras, e fundaram uma comunidade filosófica que chamaram “O Jardim”. Uma
placa acima da entrada do O Jardim dizia : “Estranhos, aqui vocês podem se
demorar; aqui, nosso maior bem é o prazer”.
Epicuro adorava comparar seu pensamento à medicina.
Proclamava-se um terapeuta do espírito, médico das almas e cirurgião das
paixões. O Jardim, acolhia mulheres, escravos e até mesmo prostitutas para suas
“consultas”.
Como Aristóteles, acreditava que o maior objetivo da vida
era a felicidade. Mas ia além. Achava que a dificuldade em atingi-la estava no
medo que sentimentos da morte. Epicuro se propôs a resolver o impasse: se a
morte é o fim das sensações, ela não pode ser fisicamente dolorosa, e, se é o
fim da consciência, não pode causar dor emocional.
Epicuro estava convencido que não havia vida após a morte,
onde podemos ser reprendidos por uma vida de prazer. Uma parte importante de
sua filosofia era o estudo da física, particularmente da astrofísica. Epicuro
seguia Demócrito, o filósofo do quinto século, conhecido como o “filósofo
risonho”, afirmando a física atômica : o universo é uma coleção de átomos
girando segundo leis mecânicas, e quando os humanos morrem, nós simplesmente
dos dissolvemos de volta a esse ensopado de átomos.
No entanto, enquanto
estamos vivos, através de uma destino incrivelmente bem, temos consciência e
razão, e livre arbítrio, e isso significa que temos tudo que precisamos para
seguirmos uma vida de felicidade e prazer.
Epicuro nos diz que só passamos alguns anos nesse planeta,
antes de desaparecermos, e enquanto estamos aqui não há nada que tenhamos que
fazer. Não há mandamentos que temos que seguir. Podemos optar por nos
divertirmos, em vez de encontrar motivos para sermos infelizes. Podemos fazer a
escolha radical da felicidade. Ele escreveu :
“Por prazer, nós queremos dizer ausência de dor no corpo, e
pertubação na alma. Não é uma sucessão de bebedeiras ou festividades, nem amor
sexual, nem o prazer do peixe e outra iguarias de uma mesa luxuosa, que
produzem uma vida agradável; é a razão sóbria, a busca de base para cada coisa
que escolher evitar, e o banimento das crenças, através da quais as maiores
pertubações se apossam da alma”.
Os epicuristas captaram o quanto somos péssimos em sermos
felizes e o quanto somos talentosos para arranjar motivos para sermos
infelizes.
De todos os meios granjeados pela sabedoria para garantir a
felicidade ao longo da vida, Epicuro diz “de longe, o mais importante é a
aquisição de amigos”. Para ele isso era muito mais importante do que o amor
sexual, que leva ao ciúmes e todos os tipos de distúrbios emocionais; ou
família; ou o Estado. Os epicuristas rejeitavam a cidade-estado corrupta e
faziam suas pequenas sociedades de amigos.
Segundo as palavras de um ditado epicurista: ” Por que você
fica adianto sua alegria ? “. Ou podemos dizer que não conseguimos ser felizes
por causa do passado. Não podemos ser felizes porque sofremos bullying no
colégio, ou nossos pais foram maus para nós. Mas o autor do bullying ainda está
aqui, provocando você, hoje ? Seus pais ainda controlam sua vida? Não são eles
que estão sendo maus com você, no presente: é você mesmo. Você que está se
fazendo infeliz.
Então, por que não se dar uma chance e se permitir ser feliz ?
De que adianta ficar arrastando sofrimentos que já passaram, de ser infeliz
agora, só porque foi infeliz antes ?
Ou podemos arruinar nossa felicidade com ansiedades quanto
ao futuro. “E se eu fracassar ? E se minha esposa me deixar ? E se eu cair
doente ? E se eu morrer ?. Os epicuristas olham para esses “e se” e sacodem os
ombros. E daí, se acontecer ? Por que estragar o presente se preocupando com
possíveis futuros?
Se algo ruim nos acontecer no futuro, a filosofia nos dá
meios para lidar com isso, e se nós morrermos, deixamos de existir, portanto,
isso realmente não é problema.
Superado todos esses medos, podemos dai sim ser felizes.
Epicuro morreu aos 72 anos. Não sabemos se ele estava completamente destemido
em relação ao juízo final, mas, em uma de suas últimas cartas, comemorou a vida
doce, feliz e sempre digna de ser vivida.
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