Nossa história é marcada pela ação antes mesmo da concepção,
quando os espermatozoides empreendem uma corrida desesperada em direção ao
óvulo com o objetivo de fecundá-lo. Ou seja, todos nós somos resultado desse
primeiro movimento
Nossa história é marcada pela ação antes mesmo da concepção,
quando os espermatozoides empreendem uma corrida desesperada em direção ao
óvulo com o objetivo de fecundá-lo. Ou seja, todos nós somos resultado desse
primeiro movimento – e ao longo da vida outros tantos pautam cada etapa do
desenvolvimento.
Abrimos e fechamos as pálpebras, movemos a língua para
pronunciar sons e nos fazermos entender, sorrimos, exibimos no rosto o que
sentimos, agitamos os braços, engatinhamos, andamos, pulamos, dançamos,
chutamos, digitamos, atiramos objetos para longe e os trazemos para perto.
Dentro do corpo o sangue corre, o ar entra e sai dos pulmões e os sinais
eletroquímicos transmitidos pelos neurônios estão em constante atividade,
acionando redes sinápticas e promovendo associações.
Também fora de nós nada parece estar parado. O ir e vir ao
nosso redor – e a necessidade constante de nos deslocarmos – associa-se à
energia vital, à busca da agregação. A tendência a simplesmente deixar-se
ficar, sem ligar-se a nada (sem mover-se em direção a nada), aproxima-se da
ideia de pulsão de morte, proposta por Freud.
Num outro plano, os movimentos (não por acaso chamados
assim) sociais, culturais e econômicos são transformadores e afetam a maneira
como as pessoas sentem, pensam e desejam.
Nessa íntima comunicação entre o
dentro e o fora, exemplos concretos ancoram ideias abstratas; sensações e ações
que parecem triviais como franzir a testa, segurar objetos macios ou ásperos ou
fazer sinal de positivo influenciam operações cognitivas complexas, julgamento
social, linguagem, percepção e raciocínio.
Quando observamos gestos, certas regiões cerebrais impedem a
transmissão de sinais do córtex pré-motor para os neurônios motores executores,
um mecanismo parcialmente inexistente em pessoas com ecopraxia (imitação
repetitiva de movimentos).
Quando nos curvamos diante de um paciente com essa
síndrome neurológica, ele também se curva – simplesmente imita o gesto, sem
saber por que o fez. O limiar entre a simulação interna e a atividade motora
concreta, porém, muitas vezes é reduzido também em pessoas saudáveis – como no
caso do bocejo, altamente contagiante. E sim, há movimento no bocejo, assim
como nas expressões faciais, no sorriso, no pensamento.
É dessa gama de movimentos,
mais ou menos sutis, intimamente conectados ao cérebro e à mente que trata esta
edição especial Corpo e cérebro em movimento.
Por mais quietos que estejamos –
como neste momento, lendo este texto – universos físicos e mentais se movem em
nós. Para dar continuidade a esse processo fascinante, basta continuar
deslizando os olhos linha após linha pela edição.
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