A ciência parece bater o martelo sobre essa antiga discussão: castigos físicos não educam.
Pesquisas diversas mostram uma ligação direta entre as formas de punição e problemas na vida adulta, como depressão, ansiedade e vícios.
Para chegar a essa conclusão, os métodos mais utilizados por esses estudos foram os prospectivos, em que crianças com níveis de agressão são analisadas e, posteriormente, observadas, com base na progressão do comportamento.
Um dos estudos que se destaca é o dos canadenses Ron Ensom e Joan Durrant, da Universidade de Manitoba e do Hospital Infantil de Eastern Ontario, respectivamente. Os cientistas analisaram 36 mil pessoas durante 20 anos. Conclusão: nenhuma punição física tem efeito positivo – a maior parte tem, na verdade, efeitos negativos.
No que diz respeito às palmadas, os melhores estudos foram feitos nos Estados Unidos e indicam o que todos já sabem: que as crianças menores – de dois a cinco anos – são as que mais sofrem tais castigos. “Nos EUA, quase todas as crianças da pré-escola levaram palmada”, conta Ensom. “Provavelmente porque são ativas e inquisitivas, e têm compreensão limitada de perigo ou das necessidades dos outros”.
A opção correta seria, então, utilizar da disciplina positiva, que é o uso da autoridade, mas sem violência. Segundo George Holden, da Universidade Metodista do Sul, em Dallas, Texas, nos EUA, bater na criança só a ensina a usar a agressão. “Alguns pais batem em crianças mais velhas, talvez 10%, e alguns continuam a usar o castigo corporal em adolescentes”, explica Holden.
Quem apanha mais?
O brasileiro apanha muito na infância ou na adolescência, mas os americanos apanham mais, segundo pesquisa de 2010, realizada com 4.025 pessoas com mais de 16 anos em 11 capitais do país.
Ela revelou que 70,5% sofreram alguma forma de castigo físico quando jovens. Nos EUA, a porcentagem passa dos 90% – e fica em torno dos 10% na Suécia, segundo o cientista social Renato Alves, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (USP).
O tema é polêmico e diz respeito não só à área dos direitos individuais mas também da intromissão do Estado na vida privada. Existem pais que defendem o direito de disciplinarem seus filhos da maneira que bem entenderem. Mas defensores dos direitos humanos não sustentam de completo essa atitude. E, claro, há o fato de o Brasil ser signatário da Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança.
Dos brasileiros que afirmaram ter apanhado, 42% dizem ter apanhado pouco e 11,4% levavam tapa quase todos os dias. O mais comum era levar palmada (40,1%), apanhar de chinelo (54,4%) ou de cinto (47,3%). Só uma minoria corria riscos maiores ao apanhar de pau ou objetos semelhantes (12,2%). Os percentuais passam de 100% porque os pais variavam a forma de castigar seus pupilos.
Por Luan Galani