Evan Thompson da Universidade de British Columbia comprovou
a noção budista de anatta, ou não-“Eu”.
A neurociência tem se interessado pelo
budismo desde o fim da década de 1980, quando o Instituto Mind and Life foi
criado por Sua Santidade o Dalai Lama junto com uma equipe de cientistas. Os
resultados científicos que vieram desses primeiros estudos validaram o que os
monges já sabem há anos – se você treinar sua mente, você consegue mudar seu
cérebro. À medida que os neurocientistas começaram a estudar a mente, eles se
voltaram para aqueles que são mestres da mente.
Embora o Buda não tenha ensinado anatta para as pessoas
leigas – achando que poderia ser confuso demais – o conceito está centrado na
ideia de que não existe um “Eu” independente. A ideia de que somos a mesma
pessoa de um momento para o outro, de um ano para o outro, é uma ilusão.
Thompson afirma que “o cérebro e o corpo estão em um constante fluxo. Não há
nada que corresponda à sensação de que há um “Eu” que não muda”.
Se não há um “Eu”
independente, isso significa que não precisamos ficar levando tudo para o lado
pessoal.
É válido assistir um vídeo seu do passado ou ler algo que
você tenha escrito alguns anos atrás. Seus interesses, pontos de vista,
crenças, apegos, relacionamentos, etc., tudo mudou em algum sentido. Anatta não
significa que você não existe; significa apenas que você está constantemente
mudando, constantemente evoluindo, e tomando formas diferentes. Por que isso é
importante? O que importa se não há um “Você” ou um “Eu” sólido?
Dr. Rick Hanson, autor de “O cérebro e a felicidade” e “O
cérebro de Buda”, argumenta que, se não há um “Eu” independente, isso significa
que não precisamos ficar levando tudo para o lado pessoal. Ou seja, nossos
pensamentos internos são apenas pensamentos, e eles não nos definem. Eventos
externos são apenas eventos externos, e eles não estão acontecendo para nós,
pessoalmente. Ou, como diz Tara Brach, “nossos pensamentos são reais, mas não
verídicos”.
É uma tremenda libertação não nos identificarmos com nossos
pensamentos ou com uma ideia estabelecida do que somos. É então que conseguimos
crescer e mudar – com a ajuda da neuroplasticidade. Aí, então, há a esperança
de que podemos nos livrar dos nossos vícios ou maus hábitos (da mente e do
corpo), uma vez que, se não estamos presos às crenças auto limitantes que são
inerentes ao “Eu” independente, podemos nos orientar na direção de nos
tornarmos mais quem gostaríamos de ser.
A ideia de que somos
a mesma pessoa de um momento para o outro, de um ano para o outro, é uma
ilusão.
Enquanto a Ciência e o Pensamento do Oriente continuarem
andando juntos, é possível que mais estudos do século XXI deem respaldo a
ideias de 2.600 anos. Contudo, como disse Sua Santidade o Dalai Lama: “Imagine
que algo seja definitivamente provado por meio da investigação científica….
Imagine que esse fato seja incompatível com a teoria Budista. Não há dúvida de
que devemos aceitar o resultado da pesquisa científica”.
Ouvir um posicionamento pró ciência vindo de um líder
religioso é um alívio para muitos. No fim, budismo e neurociência parecem ter
objetivos similares: o que é essa coisa que chamamos de mente e como podemos
usá-la para nos tornarmos um pouco menos infelizes e um pouco mais felizes?
Talvez só 10% mais feliz, como escreveu Dan Harris.
Se não há um “Eu”
independente, é pelo menos minha intenção que meu “Eu” que sempre está mudando
seja equânime e, por que não, 10 por cento mais feliz. Não importa quem eu
seja.
Artigo traduzido do site Big Think