Todo mundo hoje quer saber onde está Amarildo. Mas
também quero saber onde foram parar 40% dos gastos municipais com Educação,
desviados por corrupção e incompetência de prefeitos e assessores. Explicando
melhor: um estudo de técnicos da Secretaria do Tesouro mostrou que quase metade
dos recursos liberados para valorizar professores e equipar escolas não chegou
a seu destino. Vamos entender o drama: dos R$ 55 bilhões destinados ao ensino
nos municípios, R$ 22 bilhões foram desperdiçados.
Onde estão os bilhões da Educação? Enterrados na vala
comum das fraudes e do roubo da verba pública? Onde está o cemitério
clandestino da grana que, no fim das contas, sai de nosso bolso em forma de
impostos e se destina a um fim nobre? Por que o governo da presidente Dilma
Rousseff e os parlamentares não se indignam com esse escândalo que mina nosso
desenvolvimento humano e prejudica o resultado do Fundeb - um fundo criado em
2006 para desenvolver a educação básica e valorizar os educadores? Dos 180
municípios fiscalizados entre 2011 e 2012 por técnicos e analistas, mais de 70%
apresentaram irregularidades de todo tipo. Licitações simuladas. Falhas de
execução de contratos. Despesas incompatíveis com os objetivos do programa.
Saques suspeitos na boca do caixa, logo antes de o
prefeito tomar posse. Superfaturamento. Depósito do dinheiro em aplicações
financeiras. Remuneração de professores abaixo do piso nacional do magistério.
Essa auditoria tem o aval da Controladoria-Geral da União.
A sensação é que os ratos proliferam sem controle entre
os políticos. Precisamos de uma multidão de fiscais - e que esses fiscais sejam
honestos. Os impostos não param de subir, sob pretexto de melhorar serviços
essenciais. Quando a presidente Dilma, aconselhada por Sua Eminência Lula,
sugerir a reedição da CPMF para a Saúde e talvez para a Educação, primeiro os
contribuintes brasileiros terão de se insurgir com faixas imensas: "Onde
foram parar nossos impostos?", "Tapem os ralos de nosso
dinheiro!" "Moralizem as contas públicas!" Nas duas últimas
décadas, de 1991 a 2010, tivemos conquistas imensas no número de crianças na
escola. Hoje, estão matriculados no ensino fundamental 98% das crianças e dos
adolescentes entre 7 e 14 anos. É um avanço elogiável. Não foi de graça. A
Educação se tornou oficialmente uma bandeira dos governos e passamos a pagar
mais impostos. A arrecadação aumentou de 24% do PIB, no início da década de
1990, para 36%, em 2013. Já está claro, porém, que números, sozinhos, não
ajudarão o Brasil a entrar no clube dos países desenvolvidos. Terminar o ensino
fundamental sem saber ler direito nem fazer conta é uma enganação.
É muito difícil falar em desenvolvimento humano sem
falar em qualidade da educação", disse ao jornal O Globo Priscila Cruz,
diretora do Todos pela Educação, ONG que reúne empresários e educadores.
"Não queremos voltar à situação em que só uma minoria estava na escola e
aprendia. Agora a maioria está e não aprende." Nossa tentação é ser
otimista. Melhoram os indicadores de renda, a quase universalização do ensino é
um fato. Ótimo. Mas tudo vai devagar demais. Mais da metade dos brasileiros de
18 a 24 anos não tem o ensino médio. Vale repetir: estamos no ano 2013, e quase
60% de nossos 22,5 milhões de jovens adultos, no auge de sua capacidade, só
terminaram o ensino fundamental. Isso significa que 13,2 milhões de jovens (um
número bem superior à população inteira da Bélgica) têm apenas noções básicas
de português, matemática, história, geografia e ciência, além de uma imensa
dificuldade para entender o mundo e se integrar ao mercado de trabalho.
Com as ruas tomadas por protestos de jovens, nosso
Congresso volta do "recesso branco" de julho com ideias incendiárias:
criar mais tribunais, inchar a máquina do Estado e promover uma reforma
eleitoral que diminua as punições a partidos e candidatos e derrube restrições
às doações. Perderam definitivamente a noção de tudo. Deputados e senadores
voltaram das férias já enforcando quinta e sexta, porque ninguém é de ferro.
"A gente quer voltar já voltando", disse o vice-presidente da Câmara,
André Vargas. "Um ou dois dias não fazem diferença." Então tá.
Por essas e outras, não entendo por que pesquisadores
de vários países virão ao Rio de Janeiro no dia 6 de agosto para o Congresso de
Múmias, no Museu Nacional. São esperados mais de 100 especialistas, envolvidos
no estudo de corpos mumificados, no primeiro evento do tipo realizado no
Brasil. Erraram de sede. O Congresso de Múmias fica em Brasília.