O intelecto humano, quando se agarra a uma convicção (ou por acreditar realmente nela ou só porque o agrada), tudo arrasta para seu apoio e concordância. E ainda não observa a força das instâncias contrárias, desprezando-as, ou, recorrendo a distinções, as colocando à parte e rejeitando, causando um grande e pernicioso prejuízo a verdade.
Graças a isso, a autoridade daquelas primeiras afirmações permanece inviolada. E bem se houve aquele que, ante um quadro pendurado no templo, como ex-voto dos que se salvaram dos perigos de um naufrágio, instado a dizer se ainda se recusava a aí reconhecer a providência dos deuses, indagou por sua vez: “E onde estão pintados aqueles que, a despeito do seu voto, pereceram?”
Essa é a base de praticamente toda a superstição, trate-se de astrologia, interpretação de sonhos e que tais: encantados, os homens, com tal sorte de quimeras, marcam os eventos em que a predição se cumpre; quando falha - o que é bem mais freqüente —, negligenciam-nos e passam adiante. Esse mal se insinua de maneira muito mais sutil na filosofia e nas ciências.
Nestas, o raciocínio inicial a tudo impregna e reduz o que segue. Até quando parece mais firme e aceitável.
Mais ainda: mesmo não estando presentes essa complacência e falta de fundamento a que nos referimos, o intelecto humano tem o erro peculiar e perpétuo de mais se apegar e excitar pelos eventos afirmativos que pelos negativos, quando deveria ser rigorosa e sistematicamente atenta a ambos.
Vamos mais longe: na constituição de todo axioma verdadeiro, têm mais força as instâncias negativas.
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onde somos levados a refletir sobre racismo, preconceito, solidão, amizade, descobertas e experiências de criança, de adolescente e, por fim, de um jovem adulto. A relação com cotidiano do bairro.
Clipper, Pizzaria Guanabara, BB Lanches, Jobi, Bracarense e outros lugares típicos do Leblon são os palcos dessas histórias.
Contos do Leblon
Edmir Saint-Clair