“Desde que me cansei de procurar, aprendi a encontrar; Desde que o vento começou a soprar-me na face, velejo com todos os ventos.” (Nietzsche)
A semana passou dolorosa na região da cervical, abalando minhas estruturas – emocional e física. Uma cartela de antiinflamatório depois, ainda sinto dores principalmente ao me virar na cama ou tentar as habituais torções na aula de ioga.
Há algumas semanas, tirando uns dias de férias, estive nas mãos de uma massoterapeuta que me alertou: sua cervical necessita de cuidados.
Há algumas semanas, tirando uns dias de férias, estive nas mãos de uma massoterapeuta que me alertou: sua cervical necessita de cuidados.
Demanda cuidado permanente para acabar com aquelas dores de cabeça que eu não sabia de onde vinham e evitar consequencias mais sérias no futuro – seja lá o que isso quer dizer. Tudo fruto de uma rigidez que tomou conta dessa região castigada por anos diante do computador e toda sorte de experimentações corporais – das pesadas aulas de ginástica localizada à Ashtanga.
Mas não é só isso: a cervical carrega quase tudo. A consciência e a inconsciência, as emoções, a culpa, o medo, a raiva, a frustração, a histeria, a inércia, o excesso de esforço. Carrega tudo o que nos vai pela cabeça e todas as preocupações de uma rotina diária – e de uma vida inteira.
Percebi que a dor se acentua quando viro o pescoço para os lados, tentando realizar o simples gesto de dizer não com a cabeça. Parece simples, mas dizer sim é muito mais fácil. O travamento no pescoço dificulta o não, tão difícil no dia a dia – e na vida.
Dizer não tem sido tema frequente no meu processo de autoconhecimento. É no mínimo curioso e simbólico que exatamente enquanto discuto a capacidade – e a necessidade vital – de dizer não na hora certa, a região responsável por comandar esse simples gesto se trave completamente.
Dizer não tem sido tema frequente no meu processo de autoconhecimento. É no mínimo curioso e simbólico que exatamente enquanto discuto a capacidade – e a necessidade vital – de dizer não na hora certa, a região responsável por comandar esse simples gesto se trave completamente.
O travamento marca o momento em que decido exercitar o Não. Porque dizer não quando se quer dizer não – ainda que seja difícil – é manter a coerência em dia com o que se sente. Basta perceber como tudo muda na vida de uma criança no momento em que ela descobre que é capaz de dizer não. Liberdade!
Você já reparou como se diz o Sim – o gesto, em si? Dizer sim é abaixar a cabeça, repetindo o ancestral gestual dos rituais religiosos…uma espécie de servidão e conformismo.
O gestual do Sim é submissão, uma entrega representada pela postura curva de quem consente. Em que momento da nossa história isso virou consenso – o gesto de dizer sim, o de dizer não, me atiça a curiosidade.
O gestual do Sim é submissão, uma entrega representada pela postura curva de quem consente. Em que momento da nossa história isso virou consenso – o gesto de dizer sim, o de dizer não, me atiça a curiosidade.
O fato é que dizer não depende da postura altiva e de um esforço extra que, no meu caso, está dolorido. A dor física irá passar, claro, mas o desafio que permanece é ajustar a trava interna – aquela espécie de Poliana que habita secretamente cada um de nós – e que privilegia o Sim no lugar do Não.