Estudo indica que
alcoolismo
aumenta em três vezes o risco de demência
aumenta em três vezes o risco de demência
O consumo crônico e em
excesso do álcool não faz mal apenas ao fígado, mas também ao cérebro, revela
estudo publicado esta semana na revista “Lancet Public Health”.
Os resultados
indicam que o abuso de bebidas alcoólicas está associado com risco três vezes
maior de demência, tornando o alcoolismo no principal fator para o declínio
cognitivo que pode ser controlado pela alteração no estilo de vida. Por esse
motivo, os pesquisadores sugerem a implementação de políticas para o
diagnóstico e o tratamento precoce dessa parcela da população para reduzir
casos futuros da doença.
— O vínculo entre a
demência e desordens no uso do álcool precisa de mais estudos, mas
provavelmente é resultado de danos estruturais e funcionais permanentes no
cérebro decorrentes da bebida — apontou Michaël Schwarzinger, pesquisador da
Rede Interdisciplinar de Economia da Saúde da França e autor principal do
estudo. — As desordens do uso do álcool também aumentam os riscos de pressão
alta, diabetes, derrame, fibrilação atrial e insuficiência cardíaca, que podem,
por sua vez, aumentar o risco de demência vascular.
Por fim, a bebida em
excesso está associada com o tabaco, a depressão e a baixa escolaridade, que
também são fatores de risco para a demência.
Na pesquisa, os cientistas
consideraram os 57.353 casos de demência precoce — em indivíduos com menos de
65 anos — diagnosticados pelo sistema de saúde público francês entre 2008 e
2013. Deles, 39% foram atribuídos a danos cerebrais relacionados com o consumo
do álcool. Além disso, 18% dos pacientes sofriam de alcoolismo. No total, as
desordens relacionadas ao uso do álcool estão associadas a um risco três vezes
maior de desenvolvimento da demência.
Os pesquisadores ressaltam
ainda que o alcoolismo está associado com todos os outros fatores de risco
independentes para o desenvolvimento da demência, como fumo, pressão alta,
diabetes, baixos níveis de escolaridade, depressão e perda de audição.
A
definição de consumo crônico e em excesso do álcool seguiu recomendações da
Organização Mundial da Saúde, que classifica a desordem com o consumo diário de
mais de 60 gramas de álcool para homens — cerca de seis drinques — e de mais de
40 gramas para mulheres — cerca de quatro drinques.
— Nossas descobertas
sugerem que o peso da demência atribuída a desordens no uso do álcool é muito
maior do que se pensava, apontando que o abuso da bebida deve ser considerado
como um grande fator de risco para todos os tipos de demência — comentou
Schwarzinger. — Várias medidas são necessárias, como a redução da
disponibilidade das bebidas, o aumento dos impostos e a proibição da
publicidade do álcool, junto com o diagnóstico e o tratamento precoce do
alcoolismo.
CONTROVÉRSIA
SOBRE CONSUMO MODERADO
A relação entre o consumo
de álcool e o declínio cognitivo é tema controverso entre os cientistas.
Estudos anteriores já haviam indicado que o abuso da bebida aumentava o risco
de demência, mas não tanto quanto o apontado pela pesquisa francesa. Por outro
lado, outros estudos indicam que o consumo moderado de vinho tinto pode
prevenir a demência.
— À primeira vista, os
resultados podem parecer inconsistentes com outros estudos, incluindo alguns
que se tornara, notícia recentemente, de que o consumo moderado do álcool está
associado com uma melhor “saúde cognitiva” — analisou Matt Field, professor da
Universidade de Liverpool não envolvido na pesquisa. — Mas esses resultados podem
ser conciliados porque existe uma grande diferença entre consumo leve e
moderado e o alcoolismo.
Contudo, Sara Imarisio,
diretora de pesquisas no instituto Alzheimer’s Research, no Reino Unido, alerta
que existem estudos apontando que até mesmo o consumo moderado pode ter um
impacto negativo na saúde do cérebro.
— As pessoas não devem
ficar com a impressão que apenas beber até ser hospitalizado carrega o risco —
destacou Sara. — Apesar de não existir uma forma de prevenir completamente a demência,
as melhores evidências atuais indicam que assim como cortar a bebida, estar
fisicamente e mentalmente ativo, comer uma dieta saudável e balanceada, não
fumar e manter o peso, o colesterol e a pressão em dia são bons caminhos para
garantir a saúde do cérebro com a idade.
Para Robert Howard,
pesquisador da Universidade College London, o mais surpreendente do estudo “foi
o longo tempo que levamos para reconhecer que o abuso e a dependência do álcool
são fatores de risco potentes para o desenvolvimento da demência”.
— Nós sabemos há tempos
que o álcool é neurotóxico, que a deficiência de tiamina nos alcoólatras
prejudica a memória, que condições relacionadas ao álcool, como cirrose e
epilepsia, podem danificar o cérebro e que o dano vascular cerebral é acelerado
pelo álcool — comentou Howard.
— Surpreendentemente, tradicionalmente nós não
consideramos o álcool e seu abuso como um fator de risco importante para a
demência e estávamos claramente errados nisso.
_______________