Namorados há três verões, Rafael, de 25 anos, e Renata, de 23, aprenderam a amar se amando, e aprenderam a viver vivendo – sem se indagarem se sabem ou não amar e viver. Saudáveis e belos, amam alheios às uniões para toda a vida e vivem como se fossem eternos. A graça com que amam e a alegre leveza em que vivem sugerem que a intuição e o instinto são ingênuas. Em que, pergunto, preocupação e sisudez ajudam a ser feliz? Quem ama não teme.
Produtores de eventos, vivem a aventura do ofício dos novos tempos: trabalho fortuito, calendário variável, horário aleatório, ganhos incertos. Com o prazer antes da certeza, juntaram as economias e foram passar em Paris uns dias de verão. Do mini-hotel junto ao metrô, saíam a bater perna de mãos dadas, ler em cafés, comer em bistrô e pâtisserie, dormir no colo em banco de parque. Criativo, e quem sabe para espantar o tédio, Rafael propõe a lúdica façanha: um surpreender o outro com um presente. Suscetível, Renata se aflige, mas não recua. Duas horas depois se encontrariam no Le Club des 5 para jantar.
Ansiosa, ela chega antes, presente à mão, e senta-se à mesa. Tímida, aceita o menu, mas não o abre. A cada passada do garçom, vira o rosto. Enfim, ele chega. Entre risos e beijos, ganha a Lacoste azul, e lhe dá fina corrente de ouro com minúsculo brilhante – pedindo que o deixe no corpo como tatuagem. Declaram-se amor, jantam entre olhares apaixonados e três garrafas de vinho. Ao saírem, na Rue des Batignolles, ele pôs os fones do iPod no seu ouvido e no dela. Alegres, dançam de mãos dadas nas praças Lobligeois, Genéral Catroux, Saint-Augustin, Madeleine e, três quilômetros e 10 minutos depois, chegam suados e felizes a La Concorde. Bailam em círculo, olhos girando da Champs-Elysées a Tulheries, do Sena à Madeleine, enquanto as luzes de Paris se fundem com o brilho das estrelas na noite quente de verão.
Dançando, ele procura algo no bolso lateral da bermuda.
No fone, Tom Jobim: “Where is the paradise/ I’ve made for you/ Where is the green/ And where is the blue/ Where is the house/ I’ve made for you”.
Ele dobra o corpo, ela adivinha e cala, comovida.
Ele tira a caixinha e, antes que abra, ela chora. Ele diz que a ama, ela o abraça entre lágrimas: “Onde está o paraíso/ Que fiz para você?/ Onde está o verde?/ E onde está o azul?/Onde está a casa/ Que fiz para você?”.
Trocam alianças, ela aos prantos, beijam-se. Ouvindo Tom, contemplam Paris da Place de La Concorde, agora para eles, place de l’amour.
O dia clareava quando, marido e mulher, voltaram ao hotel junto ao metrô.