Ouvindo o tema de Cinema Paradiso, senti o peso de minhas dores. São muitas, são todas que nunca esperei sentir, que lutei minha vida inteira para não sentir, que cheguei a desistir de sentir para não senti-las.
A música tem esse poder em mim, abrir minhas comportas transbordantes, me fazendo cair diante de minha tristeza e chorá-las. De nada adianta a raiva com que tento ocultá-las. A raiva que sinto da dor e a raiva que sinto de mim por senti-las.
Não sou mais, há muito, o sonhador que fui grande parte da vida. Um amante de corpo e alma me deliciando com a vida, com os encontros e com as manhãs cheias de sol.
Hoje, não gosto mais das manhãs, sei o que pode vir depois delas. E não gosto. Gosto de acordar após o meio do dia, se possível bem depois, longe das manhãs. Sou entardecer, anoitecer, não manhãs. Há muito, nada nasce em mim.
A noite me fascina, o breu, o silêncio, o nada. Não há mais mistérios nas minhas noites, só descanso. Não há mais o que esperar das manhãs. Anoiteci.
________________________________________________________________________________________________________________________
_______________________________________________
SIM, EXISTEM VERDADES ABSOLUTAS
Edmir Saint-Clair
____________________________________________________