Nosso desenvolvimento emocional não acontece no mesmo tempo que nosso desenvolvimento intelectual.
Podemos assim ser muito “adultos” quanto aos compromissos concretos de nossas vidas, mas o modo como lidamos com as adversidades pode ser muito distante, defasado, e até incoerente diante de tantos conhecimentos que já conquistamos.
É como se estivéssemos estacionados em alguns pedidos lá de quando éramos crianças, e que secretamente ainda aguardássemos alguém vir supri-los. E é tão secreto, antigo, que nem percebemos mais sua presença.
Ficamos tão surdos a estes pedidos, porque o tempo da vida solicita nossa ação, que já nem identificamos que nossos sofrimentos muitas vezes nascem deles.
O modo como essa carência se manifesta só se torna visível para os outros, e na nossa imensa cegueira, ficamos reativos: seja na rebeldia constante, seja na vitimação, na autossuficiência ou na indiferença. A questão é que nossa reatividade atrai a reatividade do outro, e assim, a criança de cá convida a criança do outro, e nos vemos em situações de difícil solução.
Queremos que algum adulto venha resolver o que “estamos crianças” para lidar. Por isso queremos que os entes queridos “tomem partido”, sejam juízes, que haja punição e premiação, que haja o culpado e o inocente, e assim, dissensões familiares e/ou profissionais vão tomando dimensões desproporcionais aos fatos que seriam tão simples de resolver.
Adultos acolhem, adultos administram, adultos criam estratégias de ação, adultos relevam e tem visão de alcance.
Crianças querem ser acolhidas, sentem-se rejeitadas, ficam assustadas com o tamanho dos problemas, não vêem saídas, crianças não cedem porque não querem perder, e sua visão ainda se restringe somente ao imediato. Onde Costumamos habitar quando as crises chegam?
Fixarmo-nos em comportamentos de criança é considerar que nossa alma ainda não tem força o suficiente para se apropriar da vida adulta e, portanto, nos recusamos a empunhar os movimentos necessários que a vida, e até nós mesmos, esperamos de nós. Já que não somos nós quem tem de agir, fazemos muitas cobranças veladas ou não, a respeito do comportamento dos outros.
Não raro, tornamo-nos tão exigentes que o amor dos outros não consegue nos alcançar, pois só autorizamos o afeto chegar se for do jeito como desejamos.
Jeito esse que não se atualizou no tempo e tomou uma forma cristalizada, detalhada e tão especifica, que adulto nenhum consegue adivinhar. É preciso nos libertar de tantas exigências...
E para tal, o primeiro passo é estancar a exigência para com os outros e refletir um pouco, sozinho.
É que estas expectativas que queríamos que tivessem sido atendidas durante a nossa infância, agora precisam da nossa atenção, do nosso olhar. É como se agora, já adultos, fortalecidos, pudéssemos olhar para nós mesmos e dizer: “antes eu não pude, mas agora eu posso ver você”, “eu estou aqui para você”, “o que você quer de mim?” o que eu posso fazer por você?”
E quando isto for possível pra nós, essa exigência tenderá a diminuir, pois este cuidado consigo mesmo traz saciedade emocional, trás serenidade ao desespero de ser visto, ouvido, atendido, e a paz no coração já pode chegar.
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